Sinto em mim um calafrio
Como se fosse febre mas não é
E acabo me confundindo
Observador e cena ao mesmo tempo
Um gosto inusitado de mistura
Invadem o meu ser sem licença
E chorar pode ser o único recurso...
Vejo cada objeto de mim um pedaço
E a imobilidade mórbida me pertence
Estou vivo e ao mesmo tempo morto
Ou ainda não vivo como os objetos
Sou como uma natureza-morta
Que um velho pintor em desespero
Acabou esquecendo de terminar...
A solidão das ruas mais cheias
São como as minhas próprias veias
E cada drama que acontece pulsação
Para um coração cansado de medos
E eu juro que desconheço
Se no próximo instante teremos
A vida ou a morte cumprindo seu papel...
Os cães passeiam sobre a minha pele
Os mendigos desenham nela tatuagens
Cada uma delas é mais uma história
Daquilo que poderia ter sido belo e não foi
Do amor que poderia ter sido bom
Mas que acabou não sendo
E o livro da vida acabou sendo rasgado...
Cada folha morta é mais um dia
Cada bocado de lixo mais um enredo
Cada janela aberta mais uma aflição
E as portas escancaradas bocas gritando
Apenas mais alguns pedidos de socorro
Que nunca serão atendidos
Porque a maldade sufoca o próprio ar...
Sinto em mim um calafrio
Como se fosse febre mas não é...
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