quinta-feira, 20 de junho de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 272

Onde está a chave? Onde está? A chave que abre a cela que eu mesmo construí e ainda caprichei em sua insensível porta? Cadê o meu indulto? Cadê? Para o crime que não cometi que foi apenas ter nascido? Quem apagou a luz? Quem apagou? Quem apertou o botão e me deixou sozinho? O dia já chegou? Está aí? Foi essa cegueira triste que me enganou e não vi? Eu perdi minhas asas? Eu perdi? Será que a ferrugem do tempo acabou com elas? Alguém viu aí minha coragem? Alguém viu? É a coragem para enfrentar a morte em cada instante? Onde está a chave? Onde está?


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Esperar que o ônibus passe pelo ponto, esperar que o trem chegue na estação, que o barco venha logo para o cais. Esperar o tempo certo. Esperar que a fruta amadureça, esperar que a noite venha para descansar, que o sol chegue logo para iluminar. Esperar a hora exata. Andar e esperar que o sonho se torne verdade, que a mentira logo se atrapalhe, esperar em silêncio a hora de gritar. Esperar que a moda passe logo, que a maldade se canse e vá embora, que as novas cores surpreendam o dia. Esperar sim, por que não? Esperar que a piada termine para o riso vir, aguardar que a notícia boa seja um alívio, que o tempo seja menos cruel. Esperar a hora correta e não ligar mais para o cansaço...


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Jogo pedras na água como quem tenta conseguir voar. A água acaba imitando o céu e isso é tão bonito. Imagino seu sono nesta hora. Ela deve estar tão bonita como nunca mais vi. Respiro com a sofreguidão de quem correu muito. Não corri grandes distâncias, mas corri através do tempo, certamente. Tento alcançar alguma perfeição como um menino que faz barquinhos de papel ou como quem tenta sorrir para o espelho. Às vezes nem eu mesmo sei porque estou vivo, só sei que enquanto puder, permanecerei por aqui mesmo...


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Enganou-se e muito. Pensando que toda essa grana acumulada poderia ser gasta antes da morte. E que a mesma grana poderia ser garantia de felicidade para aqueles que deixou por aí. Enganou-se e muito. Achando que a roupa fosse mais importante que o corpo. E que na mansão existisse mais alegria do que no barraco. Enganou-se e muito. Achando que toda riqueza poderia lhe trazer mais contentamento do que o que fosse mais simples. Confundiu cultura com sabedoria. Enganou-se e muito. Acabou dando com a cara na parede confundindo amor com interesse. Não percebeu que se destaque no meio das pessoas pode ser motivo de vergonha. Enganou-se e muito. Pensando que a sua fama seria eterna. E que a morte esquecerá de olhar seu nome na lista. Enganou-se e muito...


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Cada lance tem seu perigo, cada história tem seu final. Eu estava aqui, agora estou ali. Cada verso tem sua rima, cada fevereiro tem seu carnaval. Eu estava voando, agora eu caí. Cada sol tem seu calor, cada chuva pode virar temporal. Eu me achei, eu me perdi. Cada flor se abriu agora, cada desejo tem seu funeral. Eu fui testemunha, eu nem vi. Cada dia tem seu bem, cada dia tem seu mal. Eu sei de tudo, mas nem compreendi. Cada carpideira tem seu choro, cada noite o seu bacurau. Eu estava gozando, agora sofri. Cada plano tem seu risco, cada encontro tem seu tchau. Eu estava aqui, agora estou ali...


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Até a hora que chegue a ideia, devo esperar? Inspiração, o próximo verso tem pressa e isso acaba me incomodando. Filas aborrecem sonhos, isto está mais do que provado. Cada frase de efeito esquece o caminho e vai parar no lugar errado. Quantos poetas perderam poemas magníficos pelo esquecimento? Muitos heróis desistiram de suas batalhas e os pássaros pousaram nos galhos para não mais voar. Alguns amores tinha seu prazo de validade mesmo parecendo que não eram. Até que chegue a ideia, devo esperar?


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Todo poeta tem um quê de insanidade, não se engane com isso. Até os mais comportados, aqueles que só falam de amor, gritam para o espelho quando sozinhos no banheiro. Os mais sérios fazem doer os músculos da face para conter seus risos. Tudo é aparente e assim será. O malvado tem medo do mal que cultiva. Os soldados são meros humanos sob seus uniformes. Muitos ricos não passam de miseráveis camuflados. Todo algoz tem seu tempo de condenado. E todo predador acaba virando presa. Toda insanidade acompanha o poeta. Bem feito, quem mandou chamá-la?

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