terça-feira, 11 de junho de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 268

Dias acabados, acabados estão. A luz acabou lá na sala, a água secou do cano, o morto foi e nem se despediu. Toda metade também é um final, não é a continuação, nunca se é o mesmo. A traição perdoada não será mais confiança, os senões acabam marcando sempre. Toda cicatriz é uma lembrança que dói sem dor alguma. A fome e a sede, estas sim, acabam qualquer dia desses...


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Eu peguei meu bandolim, virei menestrel. Sem Idade Média, não estou lá e se estive algum dia, não me lembro. Não cantei para a donzela de longas tranças louras, agora não temos quase donzelas, tranças louras, então nem pensar. Não fui recebido em castelos, a urbanidade encolheu todos eles. Nem os nobres me pagaram para que eu cantasse ou contasse histórias, agora os ricos são apenas burgueses com sua canalhice. Tão pouco fiz sucesso nas feiras, seu barulho agora é infernal, o vendedor de peixe e o vendedor de batatas e bananas gritam mais do que eu. Eu peguei meu bandolim, mas não virei menestrel, acabei devolvendo-o para as nuvens...


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Meu relógio parou... E o pior disso é que esqueci como lemos os ponteiros. Nos dias de hoje, mais do que nunca, pensar pode ser, digamos, perigoso. Temos que viver atrasados, para pelo menos darmos a desculpa, pelo que jogamos fora por bobagens. Somos o contrassenso, isso sim, nessa busca que não cessa de uma felicidade que nos deixa apenas tristes. Matamos a ternura, rimos sem motivo real. Somos carpideiras que acha tudo engraçado. Nossos relógios pararam... Foi a bateria que veio com defeito...


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Aflitos para o nada, aflitos pelo nada. Queremos imortalizar tudo que é vão. A verdadeira destruição chega em alguns cliques. Nem um grito será escutado. Todas as águas estão indecisas e mesmo prisioneiras acabam escapando. Não queremos mais a presença daquilo que queríamos um dia. E conspiramos para a total solidão. Esta é nossa meta. Aflitos com nada, aflitos por nada...


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Nem sempre lembrados. Nem sempre esquecidos. O tempo é que decide o fato, não os detalhes. Estes se confundem num vidro embaçado. Assim somos, assim não somos. Toda a materialidade é frágil, todo movimento é duvidoso. Contar nos dedos é uma inutilidade como outra qualquer. Toda parede já veio fadada a ser apenas uma ruína. Todo gosto desaparece depois de engolido. Todos somos inocentes, a memória veio com defeito de fábrica. Mesmo toda tentativa acaba sendo superada. Nem sempre lembrados. Nem sempre esquecidos...


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No momento da colisão, foi evitado. O último suspiro acabou não sendo. Não vimos que sobrou algum gole. Existia mais uma garrafa na geladeira. O pulo no abismo acabou falhando. Falta mais um pouco para a noite chegar ou para o dia nascer. Tanto faz. Eterna dúvida. Sublime engano. Tenhamos apenas cuidado.


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Sua bolsa parecia com uma caixa quase de Pandora. Como centenas de outras. (Uma pausa para o riso pela originalidade). Seu caminho era apenas mais um. O excepcional acaba perdendo o gosto. (Nem sempre o comum é o culpado pelo erro). Toda novidade traz a sua condenação no bolso. É apenas uma amenidade nosso engano. (Querer o impossível também é um querer). Repete-se a aventura e não é dada conta disso. Algum sorriso pode ser o maior dos prêmios. (Nossa curiosidade nos leva até estrelas extintas). Será que nessa bolsa tem algum doce para me dar?

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