terça-feira, 18 de junho de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 270

Toda fogueira apaga, toda estrela perde o brilho, todo vidro quebra, todo sonho não realizado acaba magoando, toda mentira vai ao chão, toda mocidade passa, toda velhice chega, todos os prédios desabam, todos os espelhos ficam embaçados, toda piada perde a graça, o tesão depois de satisfeito vira nojo, todo vento joga folhas ao chão, toda a rua tem sua hora de ficar deserta, a fome acaba afligindo, a sede quando está é uma tortura, todo amor quando parte nem sequer diz adeus...


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As paredes não têm somente ouvidos, possuem olhos também. Testemunhas paradas do movimento que se transforma cotidiano. Mesmo no abandono ele existe. O tempo dança em sua frente, até mesmo em grandes quedas. Não nos esqueçamos disto. Mesmo com falha memória que possuímos. As paredes não possuem somente ouvidos, possuem a memória indissolúvel. Mesmo quando não há marcas evidentes, testemunham crimes. Alguns banais, outros nem tanto. São paredes e mesmo que sua tinta esmoreça, a matéria acaba sendo mais que eterna...


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Talvez um dia a fatalidade nos visite, sua visita é quase sempre surpresa. Como uma guerra que ninguém esperava e acabou passando na televisão. O coração explodiu qual bomba e nem era noite de São João. Uma surpresa como o carro do ovo que passa e eu não tenho nenhum dinheiro. Um fato inédito mais do que esperado. Talvez eu viva mais um dia do que o previsto e queira comemorar essa façanha com tudo que se tem direito...


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Não sei se me matarei amanhã ou agora. Vai depender de circunstâncias que ainda não possuo noção. Se me matarei amanhã, possuo ainda algum tempo. Tempo para procurar alguma roupa azul, pelo menos para parecer com o velho terninho de tempos antigos. Poderei tentar escutar alguma coisa engraçada para rir mais um pouco, assim como todas as vezes que usei esse artifício para me desesperar um pouco menos. Gastarei um pouco do velho sono já que amanhã talvez desfrute de algum quase mais eterno. Agora, se me matarei agora, não é mais chance para isso. Continuarei apenas escrevendo coisas quase sem nexo, para morrer não se precisa falecer, isso é apenas um detalhe. Os instantes morrem por mim...


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Vários codinomes. Todas as redes nos obrigam. O que está na moda. O ridículo passa desapercebido, é louvado, depois é assassinado com dolo. Engolimos letras no café da manhã. Como burgueses que não somos engolem suas pílulas. Várias poses. Cadáveres de aparelhos baratos com baterias passageiras. Tantas imagens e poucas ocasiões. Somos uma eterna lembrança esquecida. Um nada mais bem legal. Seremos aceitos em algum céu pelo inferno ter nos recusado. Não temos medo, somos ele e nem notamos. Vários codinomes que o tempo mesmo deleta...


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Quero ser lembrado por minha teimosia. De planos infalíveis que nunca deram certo e de tocaias em que eu acabei sendo o alvejado. Quero ser lembrado por minha alegria. Mesmo que esta tenha sido apenas um esforço de empurrar o carro que enguiçou e mesmo que tenha comemorado aquele carnaval que acabou chovendo. Quero ser lembrado porque não suportei o silêncio. Usando todas as palavras ao meu alcance visitei todas as terras e me aproveitei de alguns delírios que só eu mesmo pude perceber. Quero ser lembrado mesmo que o esquecimento tente cumprir seu papel. Pensando bem, me esqueça...


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Não precisa bater e me chamar, entre logo. Tenho necessidade dessa carinha tão linda e tão cínica. Não percebes que a minha pressa é mais rápida do que a velocidade da luz? Estou mergulhado em meu desespero mais do que se estivesse dando um mergulho na Fossa das Marianas... Não precisa perguntar se quero, tire a roupa logo. Meu tesão estético quase sempre domina o ar do quarto. Não precisaria elogiá-la com sinceridade porque estou pagando, mas vou fazê-lo. É linda, sim, é linda! Como algumas flores que incultas mesmo assim permanecem por toda eternidade em quintais que dispensam cuidados. Não precisa dizer adeus, eu ligo depois...

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