domingo, 30 de junho de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 274

Tive uma ideia inusitada

(Talvez até genial, quem sabe?):

Vou me imitar

(Até eu mesmo acreditar nisso...)

Só que com o tempo invertido

(Quer saber? Eu explico...)

Cada dia um pouco mais novo

(Até que caiba de novo de onde vim...)...


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O tempo?

O tempo é aquele cigarro

Que eu acendi

E que acabei esquecendo

No meu cinzeiro...

O tempo?

Ah, o tempo...


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Não somos tristes, apenas estamos. Não somos alegres, apenas estamos. Nesse eterno movimento de dias de sol e dias de chuva, no mesmo lugar. Grande engano, não é o espaço que nos domina, sim o tempo. Mesmo sem percebermos dessa verdade. Não somos maus, apenas surgem maldades de nós. Não somos inteligentes, nossa tolice sabe disfarçar da melhor forma possível. Só sabemos perdoar-nos e continuamos no mesmo ciclo de erros sucessivos. E o carrossel da vida não para...


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Não me importo com domingos de chuva, sabe? Aqui neste meu canto até gosto de relembrar alguns com sóis. Antigos carnavais que cumpriram sua exata tarefa. Chuvas de confetes e serpentinas. Fantasias que agora não existem mais. Não me importo com domingos de chuva, sabe? Para o menino que continuo sendo isso não faz diferença alguma...


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Numa corrida só, caí no chão, ralei o joelho, quase quebrei meus óculos. Quis subir aos céus em pipas que se recolheram do ar quando começou a anoitecer. Numa corrida só, gastei todo o meu tempo, não fiz tudo aquilo que queria, só fiz o que o destino me obrigou. Nunca corrida, só apenas uma. É que eu acabei me esquecendo que tinha asas...


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Talvez o Ford 36 ainda ande pelas mesmas ruas, só não consigo mais olhá-lo como antes. Sob o asfalto triste, desgastado e sem graça está o mesmo barro de dias chuvosos que olhei tantas vezes antes. Talvez minha eternidade seja maior do que penso, meu caro Ford 36...


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Bem vindo, nada! Você não me feriu nunca, nunca, nunca! Apenas cumpriu seu papel... Bem vinda, desilusão! Você apontou-me espinhos! As rosas sim, estas permaneceram silenciosas, esperando ferir-me... Bem vinda, solidão! Você sempre acompanhou-me sempre! Não quis me fazer tocaia alguma. Nunca me decepcionou mostrando quem é...

sábado, 29 de junho de 2024

Carliniana L ( Insolitum Scaena )

Enquanto o sol nasce repetindo mesmos atos

Acabo me entristecendo com solenes alegrias

Os pães estão pendurados na parede da cozinha...


A ninfeta da Zona Oeste dorme placidamente

Enquanto um fio de baba escorre lindamente...


Não deveríamos ter enxergado coisa alguma

Para não aumentarmos nossas dívidas atuais

Expressas em boletos vindos pelo ar malvado...


Cada centímetro de seu corpo vale uma moeda

Mas tudo mudando de forma tão repentina...


Será que amores também possuem fogueiras?

Tudo neste mundo é apenas mais um ritual

E mesmo assim não somos bons com as bulas...


Nós não passamos de animais bem adestrados

Falando palavras censuradas e abanando a cauda...


Desculpem-me gregos e troianos e outros afins

Mas até o que não foi falado também foi dito

Nunca mais seremos aquilo que nunca fomos...


Todo dia ensolarado mostra que a chuva não veio

E cada poema é apenas códigos bem arrumados...


Nunca mais andei mais como andei antes

E mesmo assim minha imaginação leva longe

Como o mesmo lilás que vesti tantas vezes...


A felicidade ficou lá para trás no caminho

E aquilo que desejamos não queremos mais...


Todo insólito merece pelo menos ser notado

Até as ervas daninhas dão pequenas flores

Aviões passam pelo alto e riscam os céus...

sexta-feira, 28 de junho de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 273

Viver não é respirar apenas

Viver sempre foi bem mais que isso

Penas são enfeites

Asas são mais que isso...

Lutar não é competir apenas

Lutar sempre foi bem mais que isso

Batalhas são dias

Vitórias são mais que isso...

Amar não é querer apenas

Amar sempre foi bem mais que isso

O querer é a proximidade

A saudade é bem mais poderosa...


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Procurei palavras para me calar, de forma concreta, de forma definitiva. Faltaram-me termos, cores fugiram de minha aquarela. Todas estavam usadas, mais que usadas, disso tenho certeza. Procurei sentimentos diversos do que eu tinha, talvez meio estranhos, inéditos talvez. Estavam em falta no mercado. Não haviam nas lojas, tão pouco os achei na internet. E os sonhos? Estes então me cansaram muito, pelas corridas que dei, tantos suspiros e tantos desenhos nas nuvens mais claras que arranjei...


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Não fale,

Bebemore,

Nem tudo está perdido,

Apenas tornaram-se lembranças...

Não chore,

Force o sorriso,

Até que a mentira se verdadeire,

Como tantas outras...


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Molhar as pontas dos dedos para tirar cinzas que caíram erradas. Ir contra o vento para com fósforos acender cigarros. Ficar no mais absoluto dos silêncios quando deveria gritar. Contar mentalmente os passos que não deu e que nunca mais dará. Escutar mentalmente algumas velhas canções há muito sepultadas. Dançar somente com os olhos enquanto mascara sua dor constante. Andar em ruas imaginárias pensando e sorrindo pelo amor que não virá nunca mais...


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Serve, não serve,

Todos os ângulos inusitados,

O costume entorta a boca,

A paixão vicia a alma,

O perdão acalma ventos,

Queremos dançar na avenida,

Ternura queremos até doer,

Serve, não serve...


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Tudo foi bem mais simples, por isso mesmo, mais complicado. Se haviam gemidos e outras carícias, nunca mais iremos saber. A possibilidade escreveu manuais agora perdidos. As manhãs matam os sonhos das noites passadas. Espero sentado em berço nada esplêndido por refrescos mornos um tanto aguados e sem açúcar.


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Use as cartas que têm na manga - não poupe-as

Dê o sorriso que ainda resta - não o esconda

Transforme sua covardia em coragem - isso faz parte

Não coma no prato que cuspiu - isso é muito feio

Deixe em paz todas as suas feridas - elas podem acordar...

quinta-feira, 27 de junho de 2024

O Monstro Sem Lagoa

O monstro hoje não precisa mais de lagoa,

Nem pra se esconder, pra se ocultar,

Ele passeia nas ruas tranquilo pelas ruas,

Ele quer se exibir, quer se mostrar...


Agora só usa roupa da moda, roupa de grife,

Tem cartão de crédito, usa crachá,

É bom e cumpridor de seus horários,

Tem seus compromissos, não pode nunca faltar...


Ele possui todas as suas redes sociais,

É lá que coloca seus sucessos, tudo que há,

Suas viagens que realizou nas férias,

Reuniões de família, datas pra comemorar...


Não aparece mais em antigos filmes,

Filmes que davam medo, de apavorar,

Vai sempre em todas as baladas que pode,

É fã de fast-food, de delivery, de open bar...


É muito religioso, mas não é solidário,

Tem medo da morte, não quer nem comentar,

Seu plano funerário está sempre em dia,

Nunca saberemos quando se precisar...


O monstro toma remédio pro seu tesão,

É o mais infalível, é o melhor que há,

Precisa impressionar as mulheres,

Se o seu carro do ano não impressionar...


O monstro hoje não precisa mais de lagoa,

Nem pra se esconder, pra se ocultar,

Ele agora tem seu belo escritório,

Ele quer se exibir, quer se mostrar...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quarta-feira, 26 de junho de 2024

Lata de Almôndegas (Poesia Experimental 6)

Hum...

Nheco nheco pum!

Duas pelo preço de um!

O palhaço peidou na arena

Que cena!


Pandeiro novo tem bigode!

Vê se pode!

Nunca mais faço chamego

No seu rego!


Hum...

Nheco nheco vum!

Duas por dinheiro algum!

O rico cagou na calça

Notícia falsa!


Pastel de vento é bom!

O do marrom!

Eu faço logo um grude

Com bola de gude!


Hum...

Nheco nheco tum!

Duas pelo preço de nenhum!

Eu só falo putaria

Todo dia!


Hermetismo baiano

Culatra avessa

Almôndegas congestionadas!

Erotismo Sobrevivente (Poesia Experimental 5)

Sacanagem não tem mais palavrão

É só palavrão...

É masturbação no corpo alheio

Até que não se queira mais

E pronto...

Até eu que gozava com velhas revistas

Não tenho mais nem papel...

Toda traição agora faz parte

De algo que está na moda...

A inocência abriu a gaiola

E foi embora agora...

Os mangás ainda tem fãs

E hentais também...

Só sei falar monossílabos

Quase não sei o que é

Mas está tudo okay...

Águas muitas senhoras e senhores

Até nos afogarmos 

Em desertos cativantes...

Alguns memes para o jantar

Que será servido amanhã...

O guru perdeu a paciência

E mandou tomar no cu...

Acordamos mais cedo

Para novas ilusões...

Todos nós somos idiotas

Em redes sociais

Ovelhas de touca...

Descobri que a descoberta

É apenas isso...

Urubus felinos

São a alegria da casa...

A maneira mais certa

É sair correndo...

Todos os iguais

Possuem diferença...

Fato ou fake

Ambos matam...

Pastor foi proibido

Mas fumou a bíblia...

Eu quero viver em paz

Mesmo na guerra...

Ursos de pelúcia marcham em protesto

Comendo sabonetes...

Temos agora perucas genitais

Para a calvície pubiana...

A puta corou de vergonha ontem

Porque era amanhã...

As cigarras agora fumam cigarros

Até não poderem...

Escreveram um novo best-seller

Sobre farinha d'água...

Só jogaremos pérolas

Aos porcos...

Manu fode com três caras

Só brincando...

Vou no açougue do mercado

Relembrar velhos tempos...

Sem vodca nada feito

Nem respiro...

Sacanagem não tem mais palavrão

É só palavrão...

Rasgando Batons (Poesia Experimental 4)

Beba aí...

Até a boca ficar quase torta

Até a alegria se sentir morta

Um soluço aqui lá no meio

O que é bonito pode ser feio

O javali morreu em Zanzibar

Ela sambou em cima do altar

Coxinhas ofertadas e oferendas

Verdades são somente lendas

Um dedo de poesia mais a prosa

Quem não gozava agora goza

Quanto mais simples complica

Belos olhos verdes da Chica

Todo sonho já vem programado

A vida é aborto que deu errado

Somos menos que saltimbancos

Montamos em ginetes todos mancos

Cada vai comendo o que pode

Calcei meus sapatinhos de bode

Desenhou no papel pardo o Catatau

A tristeza veio chegando no carnaval

Ela escondeu seu segredo sob a saia

E foi acender a vela lá na praia

Só queremos teorias mais absurdas

Com ouvidos cegos e mãos surdas

Papel e lápis aqui para o jumento

Quem toca a clarineta é o vento

Qualquer engano agora nos seduz

E o maior desespero é a falta de luz

Bombaim fica na fronteira do Canadá

Não consigo dormir nem aqui e nem lá

O melhor pão é o que foi comido

E o pior dos amores é que foi devolvido

O nosso amor vai ser sob as cobertas

Com portas fechadas e janelas abertas

Rasgar os céus é como rasgar batons

Eu quero o amor em todos os tons

Beba aí...

terça-feira, 25 de junho de 2024

Esse Velho Aqui

Esse velho aqui,

Malcheiroso e louco,

Sonhador e ébrio,

Sonha que você tenha seus sonhos...


Esse velho aqui,

Que fala coisa com coisa,

Já viveu o suficiente,

Mas ainda assim quer mais...


Esse velho aqui,

Nas sombras do seu quarto,

Construiu um mundo,

Um mundo que você nem imagina...


Esse velho aqui,

Se puder escolher a morte,

Não morrerá dormindo,

Vai morrer em pleno carnaval...


Esse velho aqui,

Sabe que um dia você será velho,

Por isso deseja que seja feliz

Mesmo que a vida seja curta...


A vida é curta, muito curta,

Com os sonhos que acabam morrendo,

Com os dias que se matam,

Com os temporais que chegam...


Por isso viva cada dia,

Não tenha medo das noites

E se puder atender meu pedido:

Não se esqueça desse velho aqui...


(Extraído do livro "Leonardo e O Chão" de autoria de Carlinhos de Almeida).

 

Foi O Boi (Poesia Experimental 3)

O cabelo dela foi lambido

Mas quem foi?

Ah! Quem lambeu o cabelo dela?

Foi o boi! Foi o boi!


Me deram bolo na mão

Mas quem deu?

Ih! O bolo doeu muito?

Nem doeu! Nem doeu!


Pisaram bem no meu pé

Foi maldade!

Aonde tu tava andando?

Na cidade! Na cidade!


Borboleta não é passarinho

Quem é que disse?

Acho que fui eu mesmo

Foi tolice! Foi tolice!


Meu amor foi logo embora

Caiu no poço?

Foi quase agorinha

Mas eu era moço! Era moço!


Bebi tanto e tanto

Quase que o juízo escapole

Foi muito mesmo?

Foi quase um gole! Um gole!


Fiz uma careta

Parecia um fedelho

Fez no meio da rua?

Foi no espelho! No espelho!


O cabelo dela foi tava sumido

Mas quem foi?

Ah! Quem sumiu com o cabelo dela?

Foi o boi! Foi o boi!

Insegurança Elementar


 O cabelo da moda - caiu

O brinquedo novo - quebrou

A notícia inédita - sumiu

Não sei mais quem eu sou


Aquele meu sonho - partiu

O plano perfeito - falhou

O monstro da lagoa - surgiu

Não sei mais quem eu sou


Nosso campeão - desistiu

Aquele fogueira - apagou

A minha fome - é tão vil

Não sei mais quem eu sou


Meu coração - implodiu

O meu pássaro - escapou

Aquela doença - insistiu

Não sei mais quem eu sou


O amor eterno - desistiu

A minha certeza - vacilou

O teu tiro - me atingiu

Não sei mais quem eu sou


Minha dignidade - fugiu

Minha comida - acabou

O meu castelo - ruiu

Não sei mais quem eu sou...


(Extraído do livro "Águas de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 24 de junho de 2024

Meus Olhos Estão Em Cena

Meus olhos estão em cena, apenas isso

De resto meus ouvidos funcionam, quando quero

(O silêncio acaba sendo o melhor dos disfarces)

Manhãs quase frias agora são bem-vindas


Eu quis ser o herói do dia, apenas o herói

Mas não tinha capa e nem asas, nenhuma delas

(Nem sempre o medo vem junto com a covardia)

Alguns pequenos gestos precisam de força


Tentei quase agora quebrar uma pedra, uma só

A genética nos apronta, a estatística também 

(O faraó está cansado de tanto descansar)

Somos as cobaias mais inteligentes que existem


Só caminhos tortuosos chegam, alguns não

O nosso choro é feito mar, a mesma água

(Ainda é melhor do que ser um deserto)

Já nascemos desse jeito e não escapamos


Meus olhos estão em cena, apenas isso...


(Extraído do livro "Águas de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

domingo, 23 de junho de 2024

Pedra NasVenta

É a poliça! É o poliço! Seucorro!

Tartaruga me deu rasteira

Ele morreu de velho aos quinze

Samba no charuto! Samba!

Nordestino sulista adora mesmo

Um bom copo de água em pó

Pimpona tava estrepe! Agora não!

Gelo quente que é muito bom

Bunda grande pode dar discurso

Acho que uma vez fui gente! Só uma!

Margarida agora só gosta de rosas

Guarde sujeira das unhas pra depois

Frigideira de pobre é pra ovo! Pra ovo!

O morto saiu correndo da cena do crime

Dois litros de coca pra ele é brinquedo

Vou criar uma pônei na gaiola! Na gaiola!

Linguiça de alface agora está na moda

Assim como andar nu na rua também

Porco não é capitalista! Coitado dele!

Queijo com farofa é bom demais

Acabei vencendo em último lugar

Até cigarro barato está caro! Como está!

Aprendi a me mijar só de perna acima

O cabeludo é aquele careca que está ali

Só bebo cachaça no canudo! No canudo!

Só consigo chorar quando eu rio

Borboleta noturna é quase um morcego

Estava gordo que nem na capa! Na capa!

No front existem muitos fast-foods maneiros

Um é pouco e dois é bom e três é três

Malandro é o pato que usa sapato! Só sapato!

Deram uma rasteira na pobre centopeia

Ela se assustou e saiu voando rapidinho

Comemos sucrilhos em enterros! Em enterros!

Ele nasceu na Bahia  e nunca viu um coco

Vou beber Pedra Cinquenta daqui a pouco!

É a poliça! É o piliço! Seucorro!!!!


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sexta-feira, 21 de junho de 2024

Franguito com Furofa

Hoje não tem babico

Hoje não tem histora

O pobri não fica rico

Com ricu não tem meimora


Dente de maicaco

Pata de juimento

Quem aguenta saico

Ié teus parento


Tone já foi pro Bel

O chono já foi atrás

Num tem cana no céu

Vai beiber com Saitanás


Sombracelha de gairça

Bolacha de eilefante

Queim teim medo de reba

Num faiz traito iantes


Miquico num teim mai lomba

Neim sei si tu tem mai tuimba

Coirtaram a tuia troimba

Dainça ni braisa a ruimba


Musquito num teim toipete

Oilha lá a sailamandra

Quaise qui dei um buifete

Beim ni caira da mailandra


Moirto num dá beijico

Moirto num cointa histora

Neim faiz ninhum fuxicu

Sairará jái sartô foira!!!


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Pipirico

 

Éééééé...

Tá pensando o que, subambo?

No meio da manada tem coelho,

Vai comer fraldinha de fralda,

Seu pedaço de angu seco!

Se Rodolfo deu,

Pobrema é dele!

Era uma juntarada de manica 

Que só ele nas carça, bubaca!

Quanto mais eu me ferro, 

Até queu vivo, num sabe?

Beijo de porco, é rapadura...

Oh, quantas lágrimas

Eu tenho derramado...

Mais que poço, mais que poço!

O sul do norte me desnorteia, 

Mais que pudim de areia,

Que pudim chinfrim, seu moço?

Enfia a fama do nesse cu e voa!

Passa férias em Paris do Cariri,

Mas só de mula, certo?

Esqueci e esqueci mermo...

Sou um poço de esquecimento,

Um poço nom, um açude,

Orós é brinquedo pra mim...

Sou palavrudo, e daí?

Tem gente que xinga a mãe

Só na careta

E espragueja a madrinha 

Só no soco!

Quer dar? Dá logo,

Mirimba torta de beiço de macaco!

Daqui até lá, vou me cagar...

Caga aqui, caga acolá, caga aqui...

Três mais dois é oito, 

É sim, é sim!

O erro é meu, faço dele o que quiser!

Escolhe aí:

Foda-se ou vai se foder.

Meu nome é...

Num interessa, porra!

Um, dois, três,

Quatro, cinco, seis...

Dá uma porrada

Lá na cara do freguês!

Um, dois, três,

Quatro, cinco, seis...

Tá comendo bosta,

Come logo de uma vez!

Curupaco, 

Acertaram meu saco!

Seu pescoço de ganso,

Corno manso!

Vai beber cerveja

Na puta que te pariu!

Falou Perceu?

Tu se fodeu...

Bebida de pobre é cuspe.

Abre as pernas, camarão!

Tumba também é berço!

O peixeiro vende arroz,

Caganeira vem depois.

Num é ou é num?

Sá vaca safada!

Sá vaquita de arame!

Eu quero é menos...

Só me ofendo com ofensa.

Sofri um baque

E dei um traque.

Tá nervoso? Vai cagar!...

Nem é pau, nem é pedra,

Nem tem fim no caminho...

Nem tem bala, nem troco,

Vai ficando calminho!

Olha o milho, olha o milho!


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 20 de junho de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 272

Onde está a chave? Onde está? A chave que abre a cela que eu mesmo construí e ainda caprichei em sua insensível porta? Cadê o meu indulto? Cadê? Para o crime que não cometi que foi apenas ter nascido? Quem apagou a luz? Quem apagou? Quem apertou o botão e me deixou sozinho? O dia já chegou? Está aí? Foi essa cegueira triste que me enganou e não vi? Eu perdi minhas asas? Eu perdi? Será que a ferrugem do tempo acabou com elas? Alguém viu aí minha coragem? Alguém viu? É a coragem para enfrentar a morte em cada instante? Onde está a chave? Onde está?


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Esperar que o ônibus passe pelo ponto, esperar que o trem chegue na estação, que o barco venha logo para o cais. Esperar o tempo certo. Esperar que a fruta amadureça, esperar que a noite venha para descansar, que o sol chegue logo para iluminar. Esperar a hora exata. Andar e esperar que o sonho se torne verdade, que a mentira logo se atrapalhe, esperar em silêncio a hora de gritar. Esperar que a moda passe logo, que a maldade se canse e vá embora, que as novas cores surpreendam o dia. Esperar sim, por que não? Esperar que a piada termine para o riso vir, aguardar que a notícia boa seja um alívio, que o tempo seja menos cruel. Esperar a hora correta e não ligar mais para o cansaço...


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Jogo pedras na água como quem tenta conseguir voar. A água acaba imitando o céu e isso é tão bonito. Imagino seu sono nesta hora. Ela deve estar tão bonita como nunca mais vi. Respiro com a sofreguidão de quem correu muito. Não corri grandes distâncias, mas corri através do tempo, certamente. Tento alcançar alguma perfeição como um menino que faz barquinhos de papel ou como quem tenta sorrir para o espelho. Às vezes nem eu mesmo sei porque estou vivo, só sei que enquanto puder, permanecerei por aqui mesmo...


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Enganou-se e muito. Pensando que toda essa grana acumulada poderia ser gasta antes da morte. E que a mesma grana poderia ser garantia de felicidade para aqueles que deixou por aí. Enganou-se e muito. Achando que a roupa fosse mais importante que o corpo. E que na mansão existisse mais alegria do que no barraco. Enganou-se e muito. Achando que toda riqueza poderia lhe trazer mais contentamento do que o que fosse mais simples. Confundiu cultura com sabedoria. Enganou-se e muito. Acabou dando com a cara na parede confundindo amor com interesse. Não percebeu que se destaque no meio das pessoas pode ser motivo de vergonha. Enganou-se e muito. Pensando que a sua fama seria eterna. E que a morte esquecerá de olhar seu nome na lista. Enganou-se e muito...


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Cada lance tem seu perigo, cada história tem seu final. Eu estava aqui, agora estou ali. Cada verso tem sua rima, cada fevereiro tem seu carnaval. Eu estava voando, agora eu caí. Cada sol tem seu calor, cada chuva pode virar temporal. Eu me achei, eu me perdi. Cada flor se abriu agora, cada desejo tem seu funeral. Eu fui testemunha, eu nem vi. Cada dia tem seu bem, cada dia tem seu mal. Eu sei de tudo, mas nem compreendi. Cada carpideira tem seu choro, cada noite o seu bacurau. Eu estava gozando, agora sofri. Cada plano tem seu risco, cada encontro tem seu tchau. Eu estava aqui, agora estou ali...


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Até a hora que chegue a ideia, devo esperar? Inspiração, o próximo verso tem pressa e isso acaba me incomodando. Filas aborrecem sonhos, isto está mais do que provado. Cada frase de efeito esquece o caminho e vai parar no lugar errado. Quantos poetas perderam poemas magníficos pelo esquecimento? Muitos heróis desistiram de suas batalhas e os pássaros pousaram nos galhos para não mais voar. Alguns amores tinha seu prazo de validade mesmo parecendo que não eram. Até que chegue a ideia, devo esperar?


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Todo poeta tem um quê de insanidade, não se engane com isso. Até os mais comportados, aqueles que só falam de amor, gritam para o espelho quando sozinhos no banheiro. Os mais sérios fazem doer os músculos da face para conter seus risos. Tudo é aparente e assim será. O malvado tem medo do mal que cultiva. Os soldados são meros humanos sob seus uniformes. Muitos ricos não passam de miseráveis camuflados. Todo algoz tem seu tempo de condenado. E todo predador acaba virando presa. Toda insanidade acompanha o poeta. Bem feito, quem mandou chamá-la?

Sombra Malina

Sombra malina, inexata,

Que passa voando e me assombrando,

Com o gosto dos lábios de Renata,

Que nunca me beijou mesmo beijando.


Asa de um azar, fantasmagórica,

De tempos todos maus e agora idos,

Eu quero poder esquecer os tempos idos

Com essa minha alegria quase eufórica.


Fantasma que ainda habita em mim,

Como restos de uma cidade bombardeada,

Eu bem sei que os planos deram em nada,

Planta daninha crescida em meu jardim.


Eu botarei a cabeça no travesseiro,

Ajeitar a coberta e deitar assim de lado,

Quero uma noite sem sonhos, sono pesado,

Se não serei o último, fui o primeiro...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

A Eterna Luta Entre Bob Abóbora d"Água e Marcela Quase Nada ou O Pelicano no Dentista

E o rei Nud fazia nudes em rede televisiva

Enquanto Iara enchia a cara de licores subversivos

Que Dulce vendia em seu bar (que Deus a tenha)

A pele rosada do velho Elohim que o diga...

Eu cá como sempre uso minhas roupas rasgadas

Em anos já anulados em tempestades tropicais

Assim determinadas por assírios e babilônios

Que acabaram de chegar do santuário da Tijuca...

Vamos ver desenhos pornográficos mais modernos

Aonde um moralismo da podre extrema-direita

Acaba torturando de forma constante e contínua

Seu pobre pênis que está sob a calça jeans...

As asas da insanidade vaguearam em labirintos

Enquanto cientistas descobriram novos sintomas

Para que o temível complexo de Golgi 

Se transforme na nova idade dos dias de hoje...

As bruxas de Salem comiam testículos de aveia

Enquanto bebiam cervejas de filés de peixe

E faziam pinturas na parede com angu quente

Mostrando cores novas ao velho cego...

Não existe nem A e nem B no idioma camoniano

Que a imperatriz deixou cair da carruagem

Enquanto tinha pressa para ver a demolição

De meu velho coração que está quase tísico...

Enquanto o otimismo exagerado usa fraldas

O pobre acaba servindo de alvo vivente

Para que o playboy de alta classe média

Se divirta enchendo suas narinas de pó...

Os pôneis calmamente vociferam maldições

Enquanto as sardinhas dormem decapitadas

Em seus caixões de metal mais coloridos

Sonhos distantes para quem quer um fogareiro...

Mente insana em corpo mais insano ainda

Os cães agora dormem por compromisso

Enquanto os tempos apagam fogueiras extintas

E as suas cinzas servidas no café da manhã...

Os fantasmas se deleitam com doces de leite

Enquanto Gumercindos e Fredericos fixam

Leves canções por mais sujas calçadas

E as botinas marcham sem seus soldados...

Estamos felizes com os zunidos das flechas

Enquanto mamões pendurados desafiam

Carneiros que passaram por breve tosquia

E os donos dos dicionários mastigam capim...

No sanatório municipal havia casos detectados

Da mais pura e hostil sanidade possível

Colocando em risco os neuróticos doutores

Que mastigavam gardênias com absinto...

Moro num país subtropical amaldiçoado

Enquanto os cães lambem a pata se aprontando

Para seus discursos usuais e filosóficos

E batatas são assadas na água mineral...

Os pelicanos agora vão ao seu dentista

Repartir fraternalmente seu pão de cada dia

E discutir como Sartre conseguiu ventanas

Para o gênio que mora na garrafa de cachaça...

A bruxa toma conhaque com aspirina

Enquanto varremos as paredes da necrópole

E o poeta de cordel traz biscoitos de polvilho

Para o festival de cinema nom sense...

O garotão gigante dos bailes de beira de praia

Faz seus programas pela internet 

Enquanto dá seu testemunho na igreja local

Sobre como da podridão humana vale mais...

No fim daquele beco existe uma casa

Que não tem encabulação nenhuma de dizer

Que não usaram cimento para construi-la

Já que desabar faz parte do seu primeiro ato...

O velho pedinte ganhou um soco da cara

E ainda sorriu quando perdeu seus dentes

Enquanto caía na merda dentro do shopping...

Um vídeo viralizou nas redes sociais

O romance insólito entre uma cascavel

E um hipopótamo criado em aquário

Que falava fluentemente em francês arcaico...

Nas montanhas geladas do estado do Texas

Surgiu uma sensacional rede de fast food

Onde são servidos hambúrgueres de castor

Ao som de jazz russo com requintes de valsa...

Na hora do instante fatal um mudo gritou

Que queria comer amendoim empanado

Com molho de perfume de múmias coptas

Sobre um sol escaldante de meia-noite...

A mula mancou incontáveis vezes 

Enquanto comia tranquilamente bacalhau

Entre o bando de velhas cotovias

Cobertas de serragem vinda de Madagascar...

O vírus entrou logo na fila da vacina

Preocupado que estava com a saúde

Desde os tempos passados e imemoriais

Quando nem sabia que era o que era...

A grande peleja continua e continuará

Com sua fiel assistências de moscas

No bar mais infecto do pior dos lugares

Entre o infeliz Bob e a triste Marcela...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 300

Estações mais loucas, sim, mais loucas. Em que o poeta não tinha nada ou nada tinha, bem menos que hoje, quando mesmo o calor era frio... Mu...