Toda a nudez será desprezada
Velhos-novos tempos são estes
Em que mortos permanecem vivos
Centenas e centenas de porquês
Algumas palavras fazem faltas
Eu capricho no meu desespero
E ainda dançarei sob a chuva
O remédio tem um gosto amargo
E enquanto muitos tão dormem
Outros iniciaram as suas agonias
Da vida não se sabe coisa alguma
Da morte só alguns arremedos feios
Em algum lugar pirilampos bailam
E fadas observam seus finais fados
Palavras feias palavras bonitas são
Novelos de lã são para os gatos
E o que sobrou foram as vozes
A pedra vai quebrar finalmente
E o aço dos meus nervos enferrujará
Toda explicação é do dicionário
E toda maldição arranca aplausos
Sapateie logo nos cacos de vidro
E cante canções que ninguém entenda
O xerife acabou de chegar de Montana
E eu gostei mais do seu cabelo pintado
Brincarei com os bicos dos seus seios
Numa inocência tão morta faz tempo
Avisem-me quando chegar a hora
Até lá sentirei todos os cheiros diários
A solidão não consegue me nocautear
Já me acostumei com certas feridas
Mesmo sem eu haverão carnavais
Agora tudo não me importa tão mais
Enquanto corpos são apenas corpos
E toda mediocridade é sempre genial
Toda surpresa agora nos é monótona
E o samba-exaltação vai se calar
Porque os soldados estão vindo por aí...
(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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