domingo, 31 de março de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 257

Música alta no meio da noite. Música meia na alta da noite. Esferas brilhantes devem ser as estrelas. Ou vaga-lumes que acabaram embriagados depois de uma farra no matagal. Quero rir com alguma coisa mesmo que seja faltado humor. Quero ir em terras distantes mesmo que sejam logo ali. Escutarei alguns cães ladrando para incontáveis luas e escassos barulhos indetectáveis. Gatos desfilarão a nova moda de sempre enquanto espreitam presas inexistentes. Orfeu está dormindo agora e Morfeus passeia insone por algumas calçadas. Música alta no meio da noite, E só...


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Dança das cadeiras, é isto que é. Em variados ritmos e em determinados tons diferentes. Mas é o que é. Todos perdem, mesmo quando ganham. Todo prêmio acaba perdendo sua graça em um segundo depois. Essa é a verdade. Na arte a estética corre ladeira acima enquanto os rios observam sem nada saber. O brinquedo velho na mão da criança pobre vale muito mais.


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Eu gostaria de lhe convidar para um chá. Sem propósito algum. Não observar a beleza que todos dizem que tem. Sem malícia alguma, quase vazio como quem anda por andar. Eu gostaria de lhe oferecer mais um trago. Lhe falar alguma mentira. Dizer que as nuvens são todas de algodão, essa é a nova descoberta da ciência. Eu poderia lhe oferecer um cigarro. Mesmo quando ele nos mata um pouco mais, assim esqueceríamos um pouco da tristeza do mundo que acaba nos consumindo. Eu quebraria todos os protocolos e lhe daria apenas um beijo na boca...


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Não foi ela. Não fui eu. Não ficamos gritando para que o carnaval levasse um susto e chegasse mais cedo esse ano. Não foi ela. Não fui eu. Não batemos as asas até quebrá-las numa tentativa inútil de voo. Não foi ela. Não fui eu. Não demos nome a nada que não nos pertencesse se apenas muito mal temos nossos sonhos. Não foi ela. Não fui eu. Não acordamos ninguém com nosso riso descontrolado vindo dos segredos que temos para compartilhar eternamente. Não foi ela. Não fui eu...


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Siga meus passos se sentir vontade. Espie atrás de alguma coisa para onde vou. Coloque o ouvido atrás da porta para escutar meus segredos mais graves. Roube as senhas das minhas redes sociais e descubra o que ainda pretendo desse resto de vida. Mande mensagens no meu lugar ofendendo meus amigos sem propósito algum. Seja minha caçadora e me engula de uma vez por todas. Beba meu sangue como num filme americano de terror. Mas mesmo assim esteja comigo.


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Escuto o som mágico do metal batendo contra o vidro. Dia ou noite. Algumas vezes com palavras, outras não. Já existiram outros tempos melhores, mas mesmo assim vamos sobrevivendo. Ainda existe encanto no gosto, com ou sem modernidade naquilo que é. Quanto passos já foram dados? Talvez o suficiente para uma volta no mundo inteiro, tudo depende do tempo. E lá vão os pipoqueiros sempre sorridentes, mesmo quando não...


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Gosto do seus gritos, misto de desespero e de alegria que preenchem todo ar que está em volta. Do seus infinitos passos de todas as tribos possíveis. Gosto do seu riso, mesmo quando eu não tenha e mesmo assim acabo tendo. Dos seus olhares que não infundem medo ao mais medroso dos mortais. Gosto dos seus gostos que se não atingirem minha boca, irão atingir minhas narinas e serão a mesma coisa. É um reino onde todos acabam sendo os reis. Pena que essas pobres pernas não ajudam mais ir na feira como antes... 

Alguns Poemetos Sem Nome N° 256

Eu sou meu próprio arremedo. Quem provará ao contrário? Eu ando no meio das nuvens. Até quando será isso? As gotas da chuva são as lágrimas. Todas elas são salgadas? Já me contaram que existem algumas lágrimas doces. Serão as de amor? Não sei e quase não me importo. Haverá tantas combinações de opostos? Para cada dia basta o seu tal. Estarei aqui mesmo não estando? Todo carnaval é quase que eterno. Alguém me viu por aí?...


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As lápides têm pressa - de contar o máximo com o mínimo pois até o silêncio pode ser pouco. As lápides carecem de riso - uma certa solenidade pode ser exigida vez em quando. As lápides estão onde estão - a solidão coletiva que foi antes e agora será eternamente. As lápides possuem olhos - ao contrário do que se pensa e este é o nosso ledo engano. As lápides contam detalhes - elas não têm culpa se nós somos os distraídos. As lápides são detalhistas - um simples número poderá ser um enigma indecifrável. As lápides têm pressa...


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Se não era simples, não era sábio. Minha mãe foi a maior das mestras que já pude ter um dia. Até as bobagens que não eram e que me contou servem até hoje como grandes lições. Compartilhamos mais coisas do que a Biblioteca do Vaticano. Descobrimos milhares de terras sem sair do lugar. Alegrias sem medida com tão pouca coisa. Aventuras dadas com um simples passo. Até a dor podia ser tornar algo, pelo menos, interessante. Se não era simples, não estava valendo.


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Que ela me mate de quantos beijos puder me dar. Que me faça carícias até gastar minha pele. Me faça perguntas até que eu não saiba nem mais quem sou eu. Que comemore tantos carnavais forem os dias do ano e até mais alguns que ela mesmo inventou. Que aponte o dedo para o céu e me mostre mais que uma lua. E que me acorde no meio da noite sem motivo algum e para não dizer ou fazer nada. Me force a lembrar coisas que eu nem sabia mais que existiam. E me mostre as unhas como uma gata que enlouqueceu. Que ela seja sempre assim...


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Não haviam mais chuvas, só velhos filmes. E batalhas intermináveis de línguas com olhos eventualmente fechados. Todas as cores em uma só para puro deleite de eventuais expectadores. Apenas alguns momentos nos bastam. E uma simetria quase óbvia com alguma pitada a mais ou a menos. Todo amanhecer acaba tendo pressa, é um ginete enlouquecido que conseguiu fugir da tela. Eu era infeliz e não sabia. Todo modismo teve seu motivo caído do bolso, nem percebeu. Vamos comemorar vários gritos que nos sucederam e não mais...


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Estavam e não estavam. Somos todos humanos e antes da hora da poesia, a beleza acabou indo embora. Queriam e não queriam. Pensamos que a nossa vontade é soberana, eis o esquema que fazem para o rebanho pular no abismo por conta própria. Faziam e não faziam. Todo perdão só será dado de si para si mesmo, até quando nos matamos, acaba o réu sendo absolvido. Coloriam e não coloriam. Os olhos são artífices e neles estão as grandes obras-primas, mesmo quando desconhecidas ou ignoradas pelas próprios autores. Voavam e não voavam. O espaço nos anestesia, conta mentiras recheadas de bravatas, mas como tem medo da imaginação que o derruba. Estava e não estavam. Tanto aqui como lá...


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O cigarro vai se apagar e a fogueira também. Há muitas estrelas mortas que seu brilho ainda será novidade hora dessas. A rotina foi quebrada e o velho espelho de igual forma. O carro entrou na contramão assim como toda a História também. As palavras se confundem e os sonhos de igual jeito até se calarem. O belo e o feio dão as mãos e passeiam de forma tranquila e despreocupada. A felicidade e o convidado chegaram atrasados para a comemoração. O desejo e o nojo fizeram um acordo secreto de nunca se separarem. Nada é mais parecido com o fim do que o começo...

sexta-feira, 29 de março de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 255

Estrelas pequenas olham lá de cima

Em seu silêncio quase filosófico

De tantas noites que os chãos possuem...

Nuvens em suas lentas brincadeiras

Esperam a hora em que poderão dar

Seus pulos mais que fenomenais...

E o poeta com esses olhos de saudade...


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Capricharei mesmo sabendo que a folia

Ficou para trás faz algum tempinho...

Como os tempos são malvados para todos

E os relógios colaboram com suas maldades...

Como esse tic-tac nos impacienta e muito

Mesmo quando não podemos escutá-los...


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Escrever é como beber água: 

Simples assim...

Nenhuma sede é saciada

É apenas um engano...

Toda fome tem seu tempo

Depois ela se repetirá...

Poetas são apenas aqueles

Que se pudesse engoliriam rios

Já de olho de beber o mar...


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Tem tantos nomes por aí

Uns são bonitos e outros quase

Eu não sei se o meu é 

Só sei que eu gosto e muito

É daqueles que numa multidão

Muitos acabam levantando o dedo...


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Sinto-me tão humano

Que até minha bondade

Tem um quê de malvada


Sinto-me tão apaixonado

Que até o desamor

Acaba se rendendo 


Sinto-me sonhando tanto

Pois que nunca sei

Se estou acordado ou não...


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Nada novo sob o sol

Até as palavras mentem

Pois acabam inalteradas

Um bom dia sempre é

Silêncios podem ser lutos

Ou alegrias disfarçadas...


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Um dia a mais...

Um dia a menos...

Só eu posso decidir

O que é meu tempo...

Um dia a mais...

Um dia a menos...

quinta-feira, 28 de março de 2024

Tinha Pressa

Tinha pressa...

De sentar no banco dos réus

E gargalhar até a leitura da sentença...

Tinha pressa...

De provar o novo remédio 

Para ver se a nova doença chegaria...

Tinha pressa...

Para que o sinal logo fechasse

E a colisão com o carro fosse inevitável...

Tinha pressa...

Para ter estações invertidas

E algumas flores fossem colhidas antes...

Tinha pressa...

De parar de pensar logo de vez

Para sofrer um tanto menos qual muitos...

Tinha pressa...

De correr atrás de nada

Até que a ternura se extinguisse de vez...

Tinha pressa...

De ser mais um malvado

Mesmo que a sua natureza não o fosse...

Tinha pressa...

De apenas roubar no jogo

Sabendo ou não que é a mesma coisa...

Tinha pressa...

Mas apenas se esquecia

Que a morte é a mais apressada de todas...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quarta-feira, 27 de março de 2024

Quebraram O Papel

Quebraram o papel em mil pedaços

Tornaram-lhe um espelho de vaidades

Um espelho cheio de defeitos e caricaturas

Onde dizer o que não acontece ou não é

Vale muito mais do que a imaginação...


Rasgaram as pedras como doces

Ofendendo o popular também o erudito

Com as promessas vãs do tolo ego

Esquecendo que o tempo come quase tudo

Até o pobre do lirismo tornou-se enlatado...


Sequestraram todas nuvens que haviam

Para delas fazer meias feias da moda

Vamos obedecer a receita do programa

Vou acreditar em mentiras mais lógicas

E vamos nos transformar em mentirosos...


Palavras proibidas temos aos montes

Falar de nossas dores agora é censurado

Viramos os clowns de um circo vazio

Onde desejamos palmas mais irônicas

Até que a morte consuma qualquer um...


A máquina veio com defeito de fábrica

A água veio com muita sede no copo

A fome queria apenas comer a si mesma

E todas as necessidades vitais aumentadas

Porque agora a simplicidade não existe...


Quebraram o papel em mil pedaços

E nem perceberam o fogo lá na floresta...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

terça-feira, 26 de março de 2024

Passos do Cansaço

O que é parecido é igual

Ao igual que é diferente.

Na vida é quase normal

O que já ficou doente.

E tudo é só carnaval

Depende mesmo da lente.


Cansado de ficar cansado

Tudo é certo e é errado...


Pois toda a nossa história

Acabará como má contada.

E se não falhe a memória

A carta já veio marcada.

Nossa fama já é notória 

Foi peça sem ser encenada...


Cansado de ficar cansado

Não deveria ter despertado...


Deveria ter visitado países

Não deveria ter ficado aqui

E visto cores de mil matizes

Viver o tempo que não vivi

E achar que momentos felizes

Enquanto ainda eu não parti...


Cansado de ficar cansado

Nem estou mais desesperado...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

domingo, 24 de março de 2024

Simples

 

Nem sei como sou...

Mas deixe-me seguir em paz

(Mesmo nesta cidade louca)

Aproveitando o tempo

Que o tempo ainda me dá...

Serei como água?

Devo fazer parte das nuvens

E um dia cairei lá de cima

Voltando para a terra donde vim...

Serei igualzinho o fogo?

Iluminarei a escuro de noites

Como a pequena fogueira

Que vai virar cinzas...

Serei parecido com o vento?

Dançarei com as folhas mortas

Correndo pelas ruas desertas

Até que a calmaria me alcance...

Serei semelhante ao passarinho?

Ainda despertarei pelas manhãs

Executando meu trabalho

Até que a noite venha novamente...

Serei irmão gêmeo das marés?

Sou regido pelas luas

E encontro-me entre calmarias

E de várias ressacas dos agostos...

Serei anjo ou serei demônio?

Entre céus e abismos habito

Trazendo milhares de tentações

Como quem espera a folia...

Serei como todo final é?

Espero saber de onde vim

E para onde finalmente irei

E se valeu a pena ter vindo...

Nem sei quem eu sou...

Mas deixe-me seguir chorando

(Com tantos sonhos desfeitos)

Aproveitando o tempo

Que o tempo ainda me dá...


(Extraído do livro "Águas de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Musseré

Num biboque qualqué nu mei dinoite

Cordo xeim dimiji e tals e mals e bals

Véi is shit disipensa e vai cabriolando

Onde darão as ferpas dipé e dimenti?

Num infér qualqué sem Diá e neim 

Comujá dizia ningueim e porraninhuma:

Marimbandu dicu iépé! Iépé!

Caila noiti! Caila noiti! Caila!

Si ieu puidessi gora éira uns goli e unhaqui

Assiia, assiia, ia quinem Bolaum nupêgo!

Numavila seibosa numrein distanti

Mamadágua ruía sieu caifé, ruía!

Caifé cumbulacha, muinta e maisimai!

Pornôchicano viroimóda! Viroimóda!

Duminguié meufuringo! Ié meufuringo!

Iscrevu dinoiti, iscrevu didia, nuié minhatia?

Uxamã numichamô, quiorrô, quiorrô!

Tomidibuxéx e seirá muimaisexy, vaissim...

Peixi cainta minhagenti? Caintanom!

Peixi dainça umxoti? Claruquinom!

Intãoquequi peixi faiz? Naida...

Inapraca dicontramaum ieuvijão, ieuvijão?

InuMusseré dimanitoba, vituatoba...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sábado, 23 de março de 2024

Nada Passa Sozinho

Nada passa sozinho,

Tudo leva consigo um pedaço,

Um tasco, uma ponta, junto,

Que não voltará mais...


Toda lembrança é um risco

Uma marca, um corte,

Uma ferida que dói ou não,

Percebendo ou esquecendo...


Nenhuma exatidão existe,

Até as fotografias nos enganam,

As palavras se confundem,

O coração é o culpado disso...


Nada passa sozinho,

Tudo leva consigo um pedaço,

Um tasco, um gole, junto,

Mesmo se quem partiu fomos nós...


(Extraído do livro "Águas de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Vaidade

O velho espelho tornado em muitos

A pele lisa com várias rugas agora

Tempo malvado que destrói tudo...


A rosa que pulou e caiu das alturas

O pássaro que acabou na boca do gato

Brinquedo novo que perdeu a graça...


Pintura que acabou borrando a cara

Fortuna que não acompanhou o morto

Desencanto feito de retalhos de encantos...


A paixão foi uma fogueira que apagou

O desejo depois de satisfeito deu nojo

Não existem despedidas programadas...


Nada vence o tempo, nada o supera,

Toda novidade será apenas uma rotina

E Narciso será apenas mais uma lenda...


(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 21 de março de 2024

Autofagia

Matar-me todo

Matar-me sempre

Matar-me rindo

Os meus

Os nossos

Os ossos

Para ninguém...

Em tantas fomes

Todas sem nome

Tão mal e bem...

Desavisado

Desnorteado

Aquém e além...

Comer-me todo

Comer-me sempre

Comer-me rindo...


(Extraído do livro "Águas de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).


quarta-feira, 20 de março de 2024

Morta Face (Um Poema Etílico)

 


Morta face

Não tem disfarce

A vista turva

Bem lá na curva

Vamos amando

Ou chorando...


Mais uma dose de anis

Para esse infeliz...


Morto olhar

Está faltando o ar

Todo desamor

É bem pior que dor

Pois até o espinho

Pode dar um carinho...


Mais uma cerveja

Para que nada veja...


Morto desmaio

Do alto que eu caio

Caí e está caído

Morri depois de vivido

Depois de morto viverei?

Eu nunca saberei...


Mais um gole de cachaça

Uma dose de pirraça,,,


(Extraído do livro "Águas de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Só Um Canto

Só um canto sairá de sua boca,

Somente um, todo de monossílabos...

Os seus olhos não verão nada,

Ou imagem embaçada no espelho...

Os seus dias serão tão iguais,

Insípidos, inodoros, incolores,

Entretanto, prenhes de puro medo...

O ontem foi apenas fracasso,

O hoje, apenas uma mentira,

O amanhã será mais um pesadelo...

As pernas (sempre lindas) ficarão presas

E o caminho nada mais significará...

Você mal sabe qual é o seu nome,

Mas desconhece se é anjo ou demônio...

Só um canto, apenas mais um,

Como muitos que existem por aí...

Talvez encontrará um coro, talvez não...

Ou teria sido apenas um gemido?...


(Extraído da obra "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 18 de março de 2024

Nós, As Baratas

 

Nós, as baratas...

Não somos ratos,

Não temos argúcia para isso...

Não somos gatos,

Falta-nos habilidade para tal...

Não somos cães,

A fidelidade nos falta sempre...

Não somos pombos,

Nossos tiros saem errados...

Não somos serpentes,

Nossos tiros saem pela culatra...

Não somos demônios,

No Inferno não cabe tanta gente...

Somos baratas, só isso,

Sobreviventes aos pisões

Que se contentam com qualquer coisa...


(Extraído do livro "Águas de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

domingo, 17 de março de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 254

Até eu tive medo de mim mesmo. Não posso mentir. Não devo mentir. Meus sonhos não foram exagerados. Minhas vontades é que foram. Não eram desejos. Eram mais necessidades. Meus sonhos foram consumidos como velas depois de acesas. Minhas vontades já estavam presentes em meu ser. Meu sonhos acostumaram a serem mortos. Meus desejos sabiam que depois de satisfeitos me enojariam. Minhas necessidades seriam sinceras ao extremo. Até eu tive medo de mim mesmo. Não posso mentir. Não devo mentir. Já bastam as mentiras que faço na frente do espelho...


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Dá um sorriso aí. Mesmo que seja sem motivo. Uma tristeza disfarçada. Um sorriso daqueles sem graça, mas mesmo assim o dia merece. Domingo igual a tantos outros, pois não? Mas domingos. Pense em algo de bom que pode acontecer, entretanto, não exagere. O otimismo em demasia virou moda, modas passam um dia de forma quase desastrosa. Os domingos são o que são. Eu não gosto deles, mas tenho meus motivos. Dá um sorriso aí...


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Eis aqui o caminho  - siga-o

As desilusões lhe esperam - faz parte

A humanidade é isso - os homens são maus

Nem sempre o amor nos salva - ele tem espinhos

Quando a chuva cair aproveite - vamos dançar

Quando a peça acabar bata palmas - você também é plateia

Não se preocupe em acumular - não levaremos nada

Viva apenas o hoje - não existe um outro tempo...


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Um tiro no escuro

só vemos clarão

Atrás desse muro

só há ilusão

Nada é seguro

menos ainda o coração...


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É quase um silêncio

Alguns pássaros teimam

No nascer do dia

Mesmo o calor é frio

Aonde estaremos?

Cada detalhe vital

O ontem saiu correndo...


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Mar revolto esse...

Estamos em pleno agosto

Mesmo que não seja...

As mudas de planta

Agora estão fenecidas

E meus planos falharam...

Tirarei meus óculos 

E não precisarei mais...

Mar revolto esse...


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O gato pulou no quintal

Mas não foi pra caçar passarinho!

Mas não foi pra pegar borboleta!

Mas não foi pra machucar besouro!

Mesmo caçador que antes

Foi pra capturar aquele sol

E olha que o danado conseguiu!

Agora é só cochilar em paz...


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sábado, 16 de março de 2024

Fundo Musical

Fundo musical

Cigarro aceso jogado na grama

Alguns segundos para o ápice

O pardal ainda pousará um dia...


Felicidade invisível

Que não mostraremos à ninguém

Pequenos passos que não vou dar

Toda estrela é quase impossível...


Agudas ilusões

Para o mais sensível paciente

Que requer cuidados especiais

Que pode ou não se salvar...


Segundos contados

Os clowns fazem um brinde

Para a mais humana estupidez

Com seus unicórnios alados...


Desabafo inútil

A imortalidade num só instante

Ser um star que falta a bateria

Um caminho que se perde...


Fundo musical

As ondas de uma falsa maré

O bom-gosto mal-acabado

Discursos plenos de mentira...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

terça-feira, 12 de março de 2024

Dos Jardins Mortos

 

Água parada...

Bem-te-vis aposentados...

Uma genialidade vã

Para um futuro que abomino...

O passado me deixou

E o presente me devora...

Queimarei esse tarot...

A minha tara é inocente...

E as lantejoulas mentem...

Uma porta e duas janelas...

Chorar não é o suficiente...

Meu anjo está desmaiado...

Soltaram minha fera...

E sopraram todos os pós...

A medalha não tem reverso...

As cobras querem cerveja

Mas o veludo está em falta...

Meu motivo é nenhum deles

E está caprichado na teima...

Dores mudas e agudas

Para os pacientes crônicos...

A fita nos cabelos desbotou

E a rosa caiu no chão...

Pedras em suave desconsolo

Com uma calma exasperante...

Sem rimas nada feito...

Sem palmas que acabe a peça...

Rasgada minha fantasia...

Tão linda e tão vulgar...

Lagartas dançando quadrilha

E besouros fazendo decretos...

As borboletas enlouqueceram...

Nossa tristeza é homeopática...

Água parada apodrecendo...

Colibris tão malvados...


(Extraído da obra "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 11 de março de 2024

Eu Bem Sei (Miniconto)

Eu bem sei, não foi sua culpa, as coisas são para acontecer mesmo. Uns chamam isto - imprevisto -, outros fatalidade, outros ainda, destino. Mas por que eu deveria saber? Tudo é parecido com um barulho no meio da noite. Acorda quem deve acordar, depois passa, tudo continua com seu ritmo. Chegou a novidade! E na verdade, após o primeiro segundo, não é mais o que era... Isso cansou de ser dito por muitos. Não canso mais meu amor. Pena que você não pode me ver, meu amor, sombra passando por estas ruas que tive saudade quando vivo... 

Rosas e Sangue

Rosas e sangue

Carícias e vinho

Apenas um barulho estranho

Pelas entranhas da solidão...

Vícios e teima

Caretas e riso

Toda brincadeira acontece

Mesmo aquela de mau-gosto...

Humano e cruel

Patético e cínico

Uma estrela que se apagou

Águas foram de rio abaixo...

Espaço e prisão

Tempo e sufoco

Cada idiota com o seu papel

A ciranda tem que ser eterna...

Nirvanas e Céus

As inscrições estão encerradas

O marketing tão nos despreza...

Rosas e sangue

Carícias e vinho

Apenas um barulho estranho

Pelas entranhas da solidão...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

domingo, 10 de março de 2024

Quase Canibais

É o que somos

Mesmo quando impedidos

De falar isso publicamente

Comemos bichos

Comemos plantas

Comemos pedras

(Essas em maior quantidade)

É que fomos

Sem percebemos isso nunca

A nossa voracidade doentia

Que nos atiça

Que nos machuca

Que nos abala

(Como o chão num terremoto)

É o que seremos

Mesmo cegos de nossa maldade

Mesmo idiotas de carteira assinada

Não temos culpa

Não temos tempo

Não temos espaço

(Aí a terra que nos vai comer...)


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Três Vezes Seguidas (Miniconto)

Sozinha no banheiro sujo vomitou três vezes. Sozinha ali ou sozinha no mundo. Não deveria ter bebido tanto, mas não resistiu. Bebeu por que mesmo? A mente estava tão confusa que não lembrava... Foi comemorando alguma coisa? Ou foi por alguma tristeza que queria esquecer? Não sabia, aliás, não sabia de nada e pode ser até não lembrar de mais nada. Depois de uma pausa, espera paciente a quarta vez que acabou não vindo... 

E Até A Morte Morre...

Tudo que eu fiz eu não fiz

Neste generoso caminho de espinhos

Todos os são pesadelos bonitos

Em sua coreografia aperfeiçoada

Estar em qualquer lugar é possível

Mesmo quando o delírio nos atinge

Todos os tamanhos são apenas um

As vontades estavam de passagem

Só a fisiologia nos acerta os tiros

Não entender pode ser uma vantagem

É dúvida se o mar balança ou o barco

As folhas possuem sempre a mesma cor

Toda simplicidade é mais complicada

Nada sobrou após o final desta festa

Algumas palavras já fazem um discurso

Até a morte morrerá um dia desses...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Para Tudo e Todos

Para tudo

E para todos

Saudações do Inferno que é logo ali

Para isso

E para nada

É quase a mesmo coisa sempre

Para ontem

E para amanhã

A mesma ilusão sempre acaba funcionando

Para os vivos

E para os outros vivos

Minhas sinceras e humildes saudações

Para os gregos

E para os troianos

Eis o aviso que a guerra nunca acabará

Para os feios

E para os belos

Tomem cuidado com a data de validade

Para as flores

E para os espinhos

Sem as raízes nada mais poderá existir

Para os homens

E para os bichos

Não vemos o ar mas ele sempre existe

Para os versos

E para as estrofes

Sem os poetas nada pode se mostrar

Para tudo

E para todos

Saudações do Inferno que é logo ali...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Carliniana XXXV (Comum)

No bolso não tem nada,

Na alma, menos ainda...


Queria eu morrer da forma mais culta,

Conhecer toda e qualquer língua oculta,

Dormir e sonhar no seu colo de puta...


Meus dentes vão embora,

Esqueceram do adeus...


Esculpi seu nome aqui no meu braço,

Fiz um brinquedo deste meu cansaço,

Tive  fome e acabei comendo espaço...


Até esses meus fantasmas

Possuem medo de mim...


Toucas e solfejos são tão suficientes

Para andar sobre ares tão calientes

Enquanto as feridas são presentes...


Eis aqui o cheiro da terra,

O melhor de todos perfumes...


Quando faltar a luz soprem as velinhas

Se acabar a fala escrevam nas entrelinhas

Todas nossas tempestades estão vizinhas


Todo amor acaba insuficiente

Para preencher um coração...

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...