sexta-feira, 24 de junho de 2022

A Duração Mórbida do Tempo Que Ela Não Veio


... E você não veio...
Não trouxe mais luz para as tardes sombrias
Quando eu me desesperava entre paredes
Esquecendo até quem eu era
Trazendo o tempo nas mãos
Como quem colhe flores num jardim
Num jardim vagabundo e tão vivo
E me trazia notícias de um mundo lá fora
Enquanto eu respirava em meu túmulo...
Ninguém... Ninguém... Ninguém...
Não fugiu para ver o quase convalescente
Não correu o risco de risco nenhum
E nem me trouxe o seu riso bonito
E nem o seu choro mais bonito ainda...
Quanta saudade das bobagens
Que podíamos falar um para o outro
E dos desenhos que fazíamos
Com a fumaça dos cigarros...
Nossa inocência malvada
Que era feita só de encantos...
Você deitava na minha cama
Enquanto eu pensava em bobagens inconfessáveis...
Prometia que voltava no dia seguinte
Mas em  um deles não mais voltou...
Agora já é tarde... Muito tarde...
Para visitar o morto que continua vivo...
O cheiro mórbido da vida
Acaba incomodando você e eu também...
Apareça se puder, pelo menos uma vez
Já me cansei de pensar no vestido negro
E nos encontros de rua que você apenas sorri
E não podemos mais falar nada...
Apareça, nem que seja para me chamar de tolo
E sair batendo o pé, malvada...
... Mas você não veio...

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