Hoje não tem tristeza
Venderam todas ontem
Era dia de uma liquidação final
Os senhores do mundo cuspiram grosso
E aí deu até tempo de se chegar
É tudo uma estética quase banal
De falsos sorrisos e sutis divagações
Os anos se devoram continuamente
Em massacres convulsivos
Que o nosso esquecimento colabora
Ninguém quer mais inocência alguma
O medo temperou todas as bocas
E o carteiro dormiu demais da conta
Somos brinquedos sem sentido
A noite nunca foi nossa
Era um truque para que caíssemos
Na boca do mundo (peixe insaciável)
Dispenso toda e qualquer reclamação
Já que eu que deveria dar e não dei
Fiquei mansinho num canto qualquer
Me dê aí algumas libras de sonho
Que eu prometo que pago logo que puder
Façam de conta que não ouviram nada
E o poltergeist irá embora batendo o pé
Bato com a colher na borda do copo
E talvez isso resulte numa nova sinfonia
Estou aceitando sugestões
Qualquer uma possivelmente demente
Eu andei tão sozinho
Só sobraram-me os passos
Agora tentarei voar sozinho
Mesmo que na direção oposta
Todos vão pela correnteza
Mas não esperem isso de mim
Quase nunca o quase nunca resulta
Em algum resultado satisfatório
Deem-me qualquer bebida forte
Para me lembrar de leves arrepios
No espelho tudo continua o mesmo
Mas mesmo assim se inverte
Pode até ser assim na vida
Entre feridas e alguns afagos
Quasímodo é logo ali
Não tem erro algum
É só seguir a seta que chegamos lá...
(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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