sábado, 20 de março de 2021

Quasímodo É Quase Ali

 

Hoje não tem tristeza

Venderam todas ontem

Era dia de uma liquidação final

Os senhores do mundo cuspiram grosso

E aí deu até tempo de se chegar

É tudo uma estética quase banal

De falsos sorrisos e sutis divagações

Os anos se devoram continuamente

Em massacres convulsivos

Que o nosso esquecimento colabora

Ninguém quer mais inocência alguma

O medo temperou todas as bocas

E o carteiro dormiu demais da conta

Somos brinquedos sem sentido

A noite nunca foi nossa

Era um truque para que caíssemos

Na boca do mundo (peixe insaciável)

Dispenso toda e qualquer reclamação

Já que eu que deveria dar e não dei

Fiquei mansinho num canto qualquer

Me dê aí algumas libras de sonho

Que eu prometo que pago logo que puder

Façam de conta que não ouviram nada

E o poltergeist irá embora batendo o pé

Bato com a colher na borda do copo

E talvez isso resulte numa nova sinfonia

Estou aceitando sugestões

Qualquer uma possivelmente demente

Eu andei tão sozinho

Só sobraram-me os passos

Agora tentarei voar sozinho

Mesmo que na direção oposta

Todos vão pela correnteza

Mas não esperem isso de mim

Quase nunca o quase nunca resulta

Em algum resultado satisfatório

Deem-me qualquer bebida forte

Para me lembrar de leves arrepios

No espelho tudo continua o mesmo

Mas mesmo assim se inverte

Pode até ser assim na vida

Entre feridas e alguns afagos

Quasímodo é logo ali

Não tem erro algum

É só seguir a seta que chegamos lá...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Insalubre (Miniconto)

Insalubre era a casa dela (se é que podia ser chamada de sua ou ser chamada de casa). Qualquer favela tem coisa bem melhor. Sem porta, sem j...