sábado, 6 de março de 2021

Eu Mesmo Aponto O Dedo

Eu mesmo aponto o dedo

Não é mais necessário

Que o cursor aponte a seta para mim

Em direção ao meu peito

Para poder me matar

Meus erros são meus mesmos

Eu os trato com grande carinho

Porque foram bons professores

Meu choro não foi uma mentira

Apenas mais inevitável

Foi ter que me sentir humano

Nem pior e nem melhor

Apenas mais um entre muitos

Talvez futura lápide

Que fale somente o essencial

Quase um cachorro vadio

Continuo faminto mas há sintomas

De uma já moribunda alegria

Tudo passa nestes tempos

Até alguns substantivos inevitáveis

Quantos dedos não importam

É só pura questão de ter vontade

Toda tolice acaba desaparecendo

E a piada dos maus perde a graça

Ainda não esfriou o suficiente

Mas mesmo assim eu me abrigo

Sob a espessa coberta indeterminada

Das minhas próprias ilusões

Imagino o óbvio que grita de dor

Não cheguem muito perto

Até a dor pode ser contagiosa

Eu ainda continuo sendo carregado

No mesmo ventre de sempre

Dentro da mesma escuridão e água

Viver não é castigo nem é dádiva

É apenas uma circunstância

Que pode chamar atenção ou não

Eu sou a minha assombração

E sempre capricho no arrastar

De minhas eternas correntes

Não há mais insetos para lâmpadas

Me cubro de farrapos evidentes

Sejam eles de que classe for

Não diga que eu não presto

Disso tenho a mais absoluta certeza

Já vi isso em muitos muros

E até em paredes de banheiros

Seria até bom se batessem palmas

Quando esta farsa terminasse...

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