sábado, 6 de março de 2021

Malandriância

Virei manchete de jornal e nem tinha percebido isso. Só quando o povo me saudou como quem vê mais um fantasma. Nada mais, nada menos, eu sou o que era e mesmo assim não foi. Você acaba de ganhar uma embalagem vazia de sabonete. 

Tutu, tatá, somos inocentes como nossos dentes, nossa cara lavada na frente do espelho e nosso olho vermelho. Meu bigode colorido de nicotina, não desatina, é assim sim, não tem mais flor no meu jardim, me dê um soco, tem dó de mim.

Escapei por um triz de ser mais um número, pedir perdão pode ser pedir demais. Sou apenas mais um retrato que a internet mostra com uma careta. Está tudo tão bem, principalmente quando não está nem um pouco.

Sou uma fera, não me espera, engoli o verão, agora será a primavera. Não se espante, fiz um implante, um coração quase gigante. Que esse coração seja necessário. Não me importo, eu te suporte, pode me chamar de otário. Otário, otário e meio, há tanto bonito que acabou ficando feio.

Chuto a bola, sou rei do gol-contra. Um Pelé ás avessas, quase um Garrincha. A disputa por um pão velho já quase que começou. Caprichemos nos nossos uniformes que deixam a buda de fora. O que não tem remédio é o irremediável. Aumentem as fileiras aí.

Eu queria ser quase como um Chico, mas não sei contar as estrelas, só conto até cinco. A outra mão segura a madeira que me salvou, estou no meio do oceano e nem sei onde vou. Vou sempre em frente, o nosso tempo é um demente, é conhecido, nem é parente. Não creio em nada, sou um doente.

Me xingaram, mas eu não sei revidar. Os ratos já dançam seu tango com requintes de frevo. É tanta confusão que eu não se infarto ou derrameio, qualquer novidade não foi inventada. Não houve espinha na garganta porque faltou o peixe.

Mundo malvado, quase tarado, errei de porta, tava enganado. A lâmpada queimou, chamei um anão pra trocar. Até a nosso mentira é fácil de se enganar. Nem todo o descanso é de papo pro ar. Salve-se quem puder. Acreditar que se crê não é questão de fé. É de molejo, não sei se saio, não sei se vejo, chega pra cá, me dá um beijo.

Não tenho boné, mas mesmo assim já vou embora...

 

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