domingo, 28 de março de 2021

Nova Esfinge Destes Velhos Tempos


Devora-me ou te decifro

numa rotina cega sem tempo de pensar

sons muitos e mais até alguns

nesse meu quase medo de voar

Esgana-me até o nosso final

todas as formas são formas de matar

eu quero o meu cortejo pelas ruas

em que só eu possa me deitar

Não faço mais questão de nada

já se passou o tempo que podia desejar

meu desejo já se cansou sem sucesso

agora não há mais tempo de descansar

Fareja-me sua cadela sarnenta

qualquer lugar é comigo qualquer lugar

pode ser lá no alto do Everest

ou nas Marianas no fundo do mar

Minha geladeira cheia de vazios

as pontas de cigarros no chão sem eu limpar

eu só queria de volta o que já tive

e o que o destino malvado veio me tirar

As mãos me tremem por meus vícios

como o bebum pela primeira do dia

É mais um filho sem pai procurando DNA

é mais uma casa no beco procurando alegria

na promoção da semana litrões mais baratos

a maconha que o parsa lhe trouxe de boa

É só um deboche pelas coisas que não vai 

que nunca entenderá nem em mais mil anos

pois o vazio da alma supera todos os outros

os idiotas geralmente nunca têm medo

Devora-me ou eu te decifro

acabo de vez com essa marra toda...


(Extraído da obra "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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