terça-feira, 30 de março de 2021

Alguns Poemetos Sem Nome Número 98

 

Gota d'água, 

simples mágoa,

escorrendo pela parede

Pensamento,

tal lamento,

tecendo igual rede,

Eu que choro,

eu te imploro,

mata a minha sede,

O esforço,

o alvoroço, 

a fruta estava verde...


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Tudo cansa, até a esperança...

Já dizia o poeta em franco desespero, não podendo mais desenhar nas nuvens. Algumas desabaram (choveu muito), outras foram convidadas pelo vento à seguirem outros caminhos. Acaba ninguém ficando, mesmo quando parece que ficou. Eu que teimoso sou quero inventar nos melodias, mas faltam versos, ou ainda, alguns gestos que comovam até a mim mesmo. Vento frio, largue-me de vez à deriva como um barco de papel que o menino colocou numa correnteza sem olhar para trás...

Tudo cansa, até a esperança...


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Tio Zico na subida do morro

(dia quente de fim de ano)

colocava o embrulho pesado

no chão asfaltado daquela época

e com os dois dedos na boca

dava aquele assovio enorme

(tão alto rompendo o silêncio

que algumas tardes são)

Corríamos muito e muito!

Ao encontro daquela alegria

de coisas inéditas

para aumentar nosso natal...


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Eu me confundo com nomes, datas e rostos, isso acaba sendo até normal. A alma se monta não só de lembranças, mas também de esquecimentos. Uma grande pintura assim o é. A nossa alma é essa pintura, o vida forneceu as tintas, o destino nos pintou, a morte é o crítico de arte. Cabe a nós a moldura que é usada. E eu me confundo com nomes, datas e rostos...


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Aqui nesse terreno baldio

tinha o casarão da dona Adélia

E hoje são existem fragmentos

de um chão desbotado de azul

(morreram todos,

inclusive a casa)...

Ali naquelas ruínas antigas

funcionava a escola de minha infância

A vegetação toma conta de tudo

igual num filme de terror

(cessaram os passos,

o silêncio tomou conta)...

Só aqui mesmo

junto à minha pessoa estou

E mesmo quando nada existir

estarei vivo mesmo sob a morte

(pobre imortalidade

quase tão triste)...


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Quanto mais chove, mais eu seco por dentro. Esqueço dos milagres que um dia já presenciei. Há fogueiras de lixo feitas em esquinas de lugares pobres. E a ilusão que uma cerveja barata até pode nos dar. Eu sou como a fumaça que sobe com duras penas para um céu que nem ao menos tenho alguma certeza. De muitos poetas sobraram as palavras e os ossos. É bem mais que se possa exigir. Alguns só sobraram enigmáticos números ou até bem menos do que isso. Não queria relembrar de absolutamente nada. Principalmente dos machucados de lá e de cá. Talvez um dia eu enlouqueça de vez e fique dando discursos vãos para uma plateia vazia, sem vaias e nem aplausos. Quanto mais chove, mais eu seco por dentro...


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Natimorto

nasci morto

O sonho o sonho

Dispensadas as vírgulas 

e os acordos

Toda tentativa de perfeição

beira ao absurdo

mas não o supera

em magnificência

Primavera

Prima vera

O acordar o acordar

Dispensadas as formalidades

e os acenos

Todo acordo foi quebrado

e os votos de felicidades

mais um simples deboche...


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Aquários ou gaiolas - escolha. Entre o que não gosta de comer ou passar fome. Quer fabricar suas correntes ou prefere as já compradas prontas? Não se engane, a felicidade não está nem no que você tem e nem no que deixa de ter. Pobreza e riqueza são dois aspectos da mesma ilusão. Um vírus acaba com alguns dias ou vários anos. As circunstâncias vivem nos sinais fazendo malabarismos em troca de um trocado. Seus dentes novos e careados não deixam de se mostrar em sorrisos sem motivo. Amar pode ser entrar num labirinto e morrer lá dentro. Céus ou infernos - escolha logo...


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