Gota d'água,
simples mágoa,
escorrendo pela parede
Pensamento,
tal lamento,
tecendo igual rede,
Eu que choro,
eu te imploro,
mata a minha sede,
O esforço,
o alvoroço,
a fruta estava verde...
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Tudo cansa, até a esperança...
Já dizia o poeta em franco desespero, não podendo mais desenhar nas nuvens. Algumas desabaram (choveu muito), outras foram convidadas pelo vento à seguirem outros caminhos. Acaba ninguém ficando, mesmo quando parece que ficou. Eu que teimoso sou quero inventar nos melodias, mas faltam versos, ou ainda, alguns gestos que comovam até a mim mesmo. Vento frio, largue-me de vez à deriva como um barco de papel que o menino colocou numa correnteza sem olhar para trás...
Tudo cansa, até a esperança...
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Tio Zico na subida do morro
(dia quente de fim de ano)
colocava o embrulho pesado
no chão asfaltado daquela época
e com os dois dedos na boca
dava aquele assovio enorme
(tão alto rompendo o silêncio
que algumas tardes são)
Corríamos muito e muito!
Ao encontro daquela alegria
de coisas inéditas
para aumentar nosso natal...
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Eu me confundo com nomes, datas e rostos, isso acaba sendo até normal. A alma se monta não só de lembranças, mas também de esquecimentos. Uma grande pintura assim o é. A nossa alma é essa pintura, o vida forneceu as tintas, o destino nos pintou, a morte é o crítico de arte. Cabe a nós a moldura que é usada. E eu me confundo com nomes, datas e rostos...
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Aqui nesse terreno baldio
tinha o casarão da dona Adélia
E hoje são existem fragmentos
de um chão desbotado de azul
(morreram todos,
inclusive a casa)...
Ali naquelas ruínas antigas
funcionava a escola de minha infância
A vegetação toma conta de tudo
igual num filme de terror
(cessaram os passos,
o silêncio tomou conta)...
Só aqui mesmo
junto à minha pessoa estou
E mesmo quando nada existir
estarei vivo mesmo sob a morte
(pobre imortalidade
quase tão triste)...
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Quanto mais chove, mais eu seco por dentro. Esqueço dos milagres que um dia já presenciei. Há fogueiras de lixo feitas em esquinas de lugares pobres. E a ilusão que uma cerveja barata até pode nos dar. Eu sou como a fumaça que sobe com duras penas para um céu que nem ao menos tenho alguma certeza. De muitos poetas sobraram as palavras e os ossos. É bem mais que se possa exigir. Alguns só sobraram enigmáticos números ou até bem menos do que isso. Não queria relembrar de absolutamente nada. Principalmente dos machucados de lá e de cá. Talvez um dia eu enlouqueça de vez e fique dando discursos vãos para uma plateia vazia, sem vaias e nem aplausos. Quanto mais chove, mais eu seco por dentro...
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Natimorto
nasci morto
O sonho o sonho
Dispensadas as vírgulas
e os acordos
Toda tentativa de perfeição
beira ao absurdo
mas não o supera
em magnificência
Primavera
Prima vera
O acordar o acordar
Dispensadas as formalidades
e os acenos
Todo acordo foi quebrado
e os votos de felicidades
mais um simples deboche...
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Aquários ou gaiolas - escolha. Entre o que não gosta de comer ou passar fome. Quer fabricar suas correntes ou prefere as já compradas prontas? Não se engane, a felicidade não está nem no que você tem e nem no que deixa de ter. Pobreza e riqueza são dois aspectos da mesma ilusão. Um vírus acaba com alguns dias ou vários anos. As circunstâncias vivem nos sinais fazendo malabarismos em troca de um trocado. Seus dentes novos e careados não deixam de se mostrar em sorrisos sem motivo. Amar pode ser entrar num labirinto e morrer lá dentro. Céus ou infernos - escolha logo...
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