segunda-feira, 29 de março de 2021

Estrangeiro Daqui Mesmo

 Só preciso sonhar

O encanto de tudo cessou...

O fundo musical alegre acabou

E o silêncio pode ser uma resposta...

Lamento muito por essa cidade

Onde em latas de lixo e seus restos

São campos de batalhas

De muitos meninos pobres...

Ainda quero respirar

Pois a morte ainda não me fez 

A sua infalível visita...

Eu não irei apressar nada

Pois a ante sala da morte é a vida...

Eu me escondo nessa velha casa

Onde a maior ruína 

Ainda é a própria solidão...

Tenho mais dó dentro de mim

Pelos milhares que morrem agora

Do que da minha própria pobreza...

Eu não tive tantas histórias bonitas

Para serem guardadas e contadas

Mas outros podem ter tido e perderam...

Não vou para cais nenhum

Tenho a mais absoluta certeza

Que nenhum barco me espera

E mesmo que fizesse a inesperada viagem

Não haveria noutro cais em outro país

Ninguém à minha espera...

Eu passaria desapercebido

Como acontece por aqui também...

Os violões arrebentaram suas cordas

E os tambores agora cessaram...

Os contadores de histórias antigas

Desconhecem qualquer feito meu...

Eu sou apenas mais um saltimbanco

De alguma trupe que se acabou

Ou um trapezista que errou o pulo

E acabou adentrando no abismo...

Só preciso sonhar

O encanto de tudo cessou...

Sou apenas estrangeiro daqui mesmo...

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