domingo, 7 de março de 2021

Eu Me Faço Alguma Coisa

Faço que me faço quase alguma coisa. Eu sou o ontem com cara de hoje querendo ser amanhã. Não me puxe os cabelos que eu viro gente e aí caba sendo bem pior. Ocasiões escondidas de pura solidão e muita alegria. Tudo passa e até as dores dormem. Eu apontei o dedo pro alto pedindo mais uma e o garçom nem me viu. Eu queria aquela revista e completar meu álbum de figurinhas. Acordei com a tarde já caindo e quase caí de susto. A poeira ainda cega meus olhos e isto pode ser apenas um lugar-comum. Eu apenas pensei nuvens e a chuva reclamou seu lugar. A minha garganta foi atravessada por milhares de palavras que não disse. Os estalidos no silêncio me trazem tanto medo. Panos estampados e riscos coloridos de um sei lá o quê. São certos temperos necessários senão perigosos. A luz do lampião entortou meus olhos e o azul foi procurar seu céu. Cada riso tem seu alto preço. As areias queimavam sob meus pés. E o estar lá agora não tem mais significado algum. Talvez eu fique louco qualquer hora dessas e me anime de contar mentiras que facilmente enganarão o detector. Ou se eu mesmo preferir me jogo lá das pedras do alto e vou embora de uma vez por nenhuma. Não acenda mais a fogueira. Os meus reclamos são antigos e inevitáveis. Fizemos casinhas de lençóis e quase cometemos um quase-crime. Toda eternidade termina. Ou pelo menos nos dá as costas e sai caminhando. Eu tenho quase certeza de tal disparato. Respeito todas as regras que não precise cumprir. O comprimento da vida nem sempre é o mesmo. O mais certo pode ser o mais desastroso. Escapamos de uma armadilha por conta e risco de uma outra. Tragédias não possuem pátria e percorrem o mundo mais do que trágicas novidades. Foi engraçado que eu não achei tanta graça assim. A regra de ouro agora é outra. Não acerte dando a resposta errada. O gás acabou como um filho que morreu. A geladeira está vazia como qualquer alma. O caminho errado faltou nas prateleiras. Espero o sinal abrir para atravessar a rua. Eu fiz um trato com o risco e hei de cumpri-lo até o fim. Feito à mão algumas figuras de fumaça. Mais triste de que um palhaço. E nem eu mesmo notei esse importante detalhe. A urgência acabou ficando com preguiça e não saiu mais de casa para seu passeio diário. Esqueci de acender as estrelas e os pirilampos ajudaram-me a consertar tal equívoco. Estudo algum meio de não me destruir com falsa vontade. Toda história acaba sendo outra. Confetes e serpentinas são espalhados pelo vento de tolas convenções. Quero amar o suficiente até que o infinito se acabe...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).  

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