sexta-feira, 12 de março de 2021

Para Mim Bastava Ser Um Poema


A lápide caída

O epitáfio apagado

O falso sorriso do modelo

Perante a câmera fotográfica

E todos artifícios

Para tentativas inúteis 

Poderem dar certo

Toda lógica morre

Por uma procura insana

Todos reclamam 

Pelas palmas invisíveis

De um público sem adjetivos

O alvo errado

O tiro inexistente

O novo é apenas o velho

Que ainda não chegou lá

Toda matéria espera

Enquanto a alma se aflige

Com o que não tem

Farsa grande farsa

Mil vezes somente farsa

Achar que os sonhos

Nunca nos ferem

Morte grande morte

Mil vezes somente morte

A vida sem nos ferirmos

Porque ferimos

Se pudesse escolher 

Algum outro destino

Viraria um poema

Palavras não sentem dor

Apenas fazem doer

Palavras não se machucam

Apenas machucam

Ou também curam

Nunca morrem nunca

Mas ressuscitam sempre

De qualquer uma boca

Ou apenas flutuam

Em quaisquer ares por aí

O rio correndo 

A água caindo

Numa suavidade rude

De quem não para

Um brinde para todos

Qualquer riso serve

Não há nenhum porém

Na lápide caída

No epitáfio apagado...

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