terça-feira, 30 de março de 2021

Sem Poema Dessa Vez

 

Chega! Às vezes o próprio cansaço 

acaba superando a minha dor 

e encosto a cabeça no travesseiro

e acabo dormindo...

Agora, nesse exato momento,

tranco a porta do meu quarto

para que ela não possa entrar...

Fique aí do lado de fora, fantasia,

se tiveres um pouco de paciência,

coisa que eu não tenho mais...

Os sonhos estão espalhados

pelo resto da casa,

pode ficar brincando com eles...

Use-os como brinquedos novos

que ainda não saíram da embalagem...

Amor, não adianta tentar entrar,

a minha janela está fechada,

eu a fechei exatamente com medo

de que esperança viesse me tirar o sossego...

Chega! São várias noites insones

lembrando inutilmente de histórias bonitas

que nunca mais voltarão...

São várias dores que incomodam

e nem sei mais porque acontecem...

Apenas as cicatrizes continuam

servindo de enigmas que não sei decifrar...

O poeta está sem poema dessa vez...

Deixa eu descansar um pouco,

só um pouquinho mesmo,

acompanhado da triste amiga solidão...

Alguns Poemetos Sem Nome Número 98

 

Gota d'água, 

simples mágoa,

escorrendo pela parede

Pensamento,

tal lamento,

tecendo igual rede,

Eu que choro,

eu te imploro,

mata a minha sede,

O esforço,

o alvoroço, 

a fruta estava verde...


...............................................................................................................


Tudo cansa, até a esperança...

Já dizia o poeta em franco desespero, não podendo mais desenhar nas nuvens. Algumas desabaram (choveu muito), outras foram convidadas pelo vento à seguirem outros caminhos. Acaba ninguém ficando, mesmo quando parece que ficou. Eu que teimoso sou quero inventar nos melodias, mas faltam versos, ou ainda, alguns gestos que comovam até a mim mesmo. Vento frio, largue-me de vez à deriva como um barco de papel que o menino colocou numa correnteza sem olhar para trás...

Tudo cansa, até a esperança...


...............................................................................................................


Tio Zico na subida do morro

(dia quente de fim de ano)

colocava o embrulho pesado

no chão asfaltado daquela época

e com os dois dedos na boca

dava aquele assovio enorme

(tão alto rompendo o silêncio

que algumas tardes são)

Corríamos muito e muito!

Ao encontro daquela alegria

de coisas inéditas

para aumentar nosso natal...


...............................................................................................................


Eu me confundo com nomes, datas e rostos, isso acaba sendo até normal. A alma se monta não só de lembranças, mas também de esquecimentos. Uma grande pintura assim o é. A nossa alma é essa pintura, o vida forneceu as tintas, o destino nos pintou, a morte é o crítico de arte. Cabe a nós a moldura que é usada. E eu me confundo com nomes, datas e rostos...


...............................................................................................................


Aqui nesse terreno baldio

tinha o casarão da dona Adélia

E hoje são existem fragmentos

de um chão desbotado de azul

(morreram todos,

inclusive a casa)...

Ali naquelas ruínas antigas

funcionava a escola de minha infância

A vegetação toma conta de tudo

igual num filme de terror

(cessaram os passos,

o silêncio tomou conta)...

Só aqui mesmo

junto à minha pessoa estou

E mesmo quando nada existir

estarei vivo mesmo sob a morte

(pobre imortalidade

quase tão triste)...


...............................................................................................................


Quanto mais chove, mais eu seco por dentro. Esqueço dos milagres que um dia já presenciei. Há fogueiras de lixo feitas em esquinas de lugares pobres. E a ilusão que uma cerveja barata até pode nos dar. Eu sou como a fumaça que sobe com duras penas para um céu que nem ao menos tenho alguma certeza. De muitos poetas sobraram as palavras e os ossos. É bem mais que se possa exigir. Alguns só sobraram enigmáticos números ou até bem menos do que isso. Não queria relembrar de absolutamente nada. Principalmente dos machucados de lá e de cá. Talvez um dia eu enlouqueça de vez e fique dando discursos vãos para uma plateia vazia, sem vaias e nem aplausos. Quanto mais chove, mais eu seco por dentro...


...............................................................................................................


Natimorto

nasci morto

O sonho o sonho

Dispensadas as vírgulas 

e os acordos

Toda tentativa de perfeição

beira ao absurdo

mas não o supera

em magnificência

Primavera

Prima vera

O acordar o acordar

Dispensadas as formalidades

e os acenos

Todo acordo foi quebrado

e os votos de felicidades

mais um simples deboche...


...............................................................................................................


Aquários ou gaiolas - escolha. Entre o que não gosta de comer ou passar fome. Quer fabricar suas correntes ou prefere as já compradas prontas? Não se engane, a felicidade não está nem no que você tem e nem no que deixa de ter. Pobreza e riqueza são dois aspectos da mesma ilusão. Um vírus acaba com alguns dias ou vários anos. As circunstâncias vivem nos sinais fazendo malabarismos em troca de um trocado. Seus dentes novos e careados não deixam de se mostrar em sorrisos sem motivo. Amar pode ser entrar num labirinto e morrer lá dentro. Céus ou infernos - escolha logo...


...............................................................................................................

segunda-feira, 29 de março de 2021

Estrangeiro Daqui Mesmo

 Só preciso sonhar

O encanto de tudo cessou...

O fundo musical alegre acabou

E o silêncio pode ser uma resposta...

Lamento muito por essa cidade

Onde em latas de lixo e seus restos

São campos de batalhas

De muitos meninos pobres...

Ainda quero respirar

Pois a morte ainda não me fez 

A sua infalível visita...

Eu não irei apressar nada

Pois a ante sala da morte é a vida...

Eu me escondo nessa velha casa

Onde a maior ruína 

Ainda é a própria solidão...

Tenho mais dó dentro de mim

Pelos milhares que morrem agora

Do que da minha própria pobreza...

Eu não tive tantas histórias bonitas

Para serem guardadas e contadas

Mas outros podem ter tido e perderam...

Não vou para cais nenhum

Tenho a mais absoluta certeza

Que nenhum barco me espera

E mesmo que fizesse a inesperada viagem

Não haveria noutro cais em outro país

Ninguém à minha espera...

Eu passaria desapercebido

Como acontece por aqui também...

Os violões arrebentaram suas cordas

E os tambores agora cessaram...

Os contadores de histórias antigas

Desconhecem qualquer feito meu...

Eu sou apenas mais um saltimbanco

De alguma trupe que se acabou

Ou um trapezista que errou o pulo

E acabou adentrando no abismo...

Só preciso sonhar

O encanto de tudo cessou...

Sou apenas estrangeiro daqui mesmo...

domingo, 28 de março de 2021

Nova Esfinge Destes Velhos Tempos


Devora-me ou te decifro

numa rotina cega sem tempo de pensar

sons muitos e mais até alguns

nesse meu quase medo de voar

Esgana-me até o nosso final

todas as formas são formas de matar

eu quero o meu cortejo pelas ruas

em que só eu possa me deitar

Não faço mais questão de nada

já se passou o tempo que podia desejar

meu desejo já se cansou sem sucesso

agora não há mais tempo de descansar

Fareja-me sua cadela sarnenta

qualquer lugar é comigo qualquer lugar

pode ser lá no alto do Everest

ou nas Marianas no fundo do mar

Minha geladeira cheia de vazios

as pontas de cigarros no chão sem eu limpar

eu só queria de volta o que já tive

e o que o destino malvado veio me tirar

As mãos me tremem por meus vícios

como o bebum pela primeira do dia

É mais um filho sem pai procurando DNA

é mais uma casa no beco procurando alegria

na promoção da semana litrões mais baratos

a maconha que o parsa lhe trouxe de boa

É só um deboche pelas coisas que não vai 

que nunca entenderá nem em mais mil anos

pois o vazio da alma supera todos os outros

os idiotas geralmente nunca têm medo

Devora-me ou eu te decifro

acabo de vez com essa marra toda...


(Extraído da obra "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quarta-feira, 24 de março de 2021

Impossible

 

Eu ainda posso escutar "Roam" do b - 52s

enquanto bebo o café frio do que sobrou

destas minhas sombrias manhãs de muito sol...

Coloco todas as reticências possíveis

como quem anseia por mais um cigarro...

Sim e não e talvez tudo ao mesmo tempo...

Um soco na cara da velha gramática

e um adeus sem gestos e ir por aí...

Esqueci minhas asas num banco de jardim

e agora talvez seja tarde demais...

A sorte nunca foi lançada por não existir...

Faço um looping de sons como quem delira...

O que eu tenho? 

Talvez alguma maldição que me satisfaça

aos poucos como quem agoniza...

Não esperava nenhum começo

e certamente nunca saberei como foi o fim...

Muitos são os lances 

como num jogo de xadrez ou pular amarelinha...

O meu carrasco ri de forma contínua

mas mesmo assim não me fará mais chorar...

Alguns sonhos são apenas flashs

de um lapso da memória fraquejando...

Apenas algumas pérolas e ventos

alguns poucos e outros até demais...

Queria que aqueles teus olhos

me olhassem na escuridão do quarto

e palavras comum possuíssem outro sentido...

O risco não é quase nada

pois amanheço louco todas as manhãs

querendo quebrar todos os vidros

e uivei para a lua que já passou...

"Legal Tender" também lembra outras eras

em que desconhecer certo ou errado

era a lei mais comum de todas...

Meus óculos agora possuem armações

que estão meio tortas

e vejo uma partida breve ou não...

Gostaria de beijar a tua boca

mesmo que fosse o maior de todos os erros...


(Extraído do livro "Insano de autoria de Carlinhos de Almeida).

terça-feira, 23 de março de 2021

Poema Para Ser Lido de Madrugada

 

Eu vejo barreiras no incompreensível de mim mesmo

talvez como um cínico ou como um tolo

A questão das letras acabam embaralhando

em minha mente mais do que confusa

Confesso que bebi demasiadamente da vida

até que me viesse a vontade de vomitar...


Esqueceram o sol por aqui

e o coloquei no bolso

e distraidamente o roubei...


Todo um silêncio constrangedor

acabou fazendo da minha festa

mais um luxo tão barato...


Caí de cabeça num abismo quase que interminável

e sobreviver agora é como numa tragédia grega

churrasco grego servido em minhas ruas muitas delas

onde perambulava sem destino muito algum

antes que eu aprendesse que as tempestades

acabam se sucedendo por outras bem piores...


Eu não sei falar sem xingar

e mesmo com todo esforço

eu nunca serei um bom menino...


Posso então confessar um amor 

mas não estou acostumado com ele

que me parece um bicho estranho...


Vão se formando antigas ruínas em minhas retinas

e todas as minhas divagações acabam na verdade

uma verdade que fere mais que meu demônio familiar

não é mais hora para ter algum lamento tolo

está formado um grande círculo sem feiticeiras

em um novo Sabah que o domingo trouxe...


A ciranda já está formada

mas não aguento tantos giros

e minha cabeça então tonteia...


Já corre alta esse madrugada

e eu agora faço desenhos na fumaça

como se o cigarro fosse um giz...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Eu Tô É Bom

Bom até demais. Bebendo um pouco do sol que sobrou de ontem, esquecendo de algumas mazelas? Dessas que fazem todo bicho humano se esgoelar até chamar a atenção. Prestem atenção nas palavras, não troquem os ii pelos aa, nem meu senhor, nem minha senhora. 

Nada é mais constante do que a constância, fora qualquer um desses, poucos mais de antes. Nem me importo com as cinzas que dão, borralho aposentado desde que eu não me entendo mais por gente. Cada um no seu cada outro, a curiosidade salvou o gato.

Rapé, né, Beto? Pena que você cantou pra descer antes da gente tomar mais um, um mel ou aquela da promoção e quase tanto colesterol que matava qualquer pagão. Ninguém toma mais conta das mudas e eu omiti certas tristezas que ela nem merecia.

Estamos aí mesmo, é só me procurar em qualquer canto desse mundo de meu Cão. Toda história acaba tendo sua história, puxa a linha do casaco e acaba nu em ou sem pelo algum. Sem pelo e sem apelo. Pode rir até cair murcho como fruta que madurou demais. Tudo é um exagero, exageradamente exagerado, Cazuza nem me alcança.

Todo normal se transforma quando se bate palma, aí faltam até cabeças de cangaceiro para exibição em porta de igreja. Nove vezes fora, nove. Não me roube mais no troco que a vida já fez demais isso. Meu ano caiu no chão em várias milagres que a ciência dispensa. Eu sou um caso á pensar. É muito disse-me-disse para uma vulgaridade travestida.

Eu estou malacostumado e não carrego malas desde muito. Talvez eu estivesse na caravela e nem me notaram. Ri primeiro e isso é comparável à uma tragédia grega com alguns requintes baianos que nem Jorge fazia ideia. Já fui muita gente, menos o que eu fui. Algumas vezes sobram nomes, em outras nem isso. Vamos errar na gramática de propósito.

O morto se levantou e foi beber uma no boteco da frente do cemitério. Pediu solene como um paxá: - Me bota aí uma das que me matou e uma gelada! E bote na conta do Perceu, se ele não pagar, nem eu... E dali em diante os livros entraram em duvida se contavam mais algum coisa, era um história bem longa.

Só unhas, barba e rugas crescem com a regularidade da fome e isso pode ser escrito e comprovado. Falta nada, há latas suficientes pro nosso baticum. Eu não sou Bandeira, mas também tive um morro do Sabão.  Tenho até mais que isso! Velhas fantasias que esbanjavam até algum brilho.

Faces ruborizadas de um passarinho não-identificado em algum lugar algum. Alguns meninos correram numa carreira só com asas, anjos quem sabe. Nenhum telhado é suficiente para tanta curiosidade, nem há estilingues suficientes para tantos tiros assim.

Não tenho medo das redes, tenho é medo dos tombos, de um silêncio bem comportado de algumas ideias que se entrelaçam até não poder mais e acabam em águas meio que escuras e paradas. Ainda há belezas não-identificadas em cada pedaço de estrada, mesmo com tocaias de qualquer tamanho que se faça.

Eu fiz até alguns versos, mas me perdi entre eles como num labirinto e até acabei gostando e fiz deles uma morada insólita e inovadora. Não mais sairei da solitude de ideias que não podem ser atacadas e, por isso mesmo, muito menos destruídas por qualquer vento, por mais forte que ele seja ou não.

Faça chuva ou não faça sol, é a mesma coisa e não podemos escapulir do que exatamente há, isso não tem dúvida algum e não adianta recorrer disso. Há grandes mentiras que se escondem por detrás de pequenas verdades e isso passa desapercebido de todos nós, os grandes asnos.

Hoje eu tô é bom, me traga logo uma cana...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

domingo, 21 de março de 2021

É O Tempo, Soraya, É O Tempo!

 

É o tempo, Soraya, é o tempo!

É esse gosto amargo que nos surge de repente, fazendo que um gosto estranho desça garganta abaixo feito queda d'água, mais que o próprio choro. Esse pode ter tido algum motivo plausível, aquele não, veio e ficou encruado em nossa alma e de lá não quer sair nunca mais...

É o tempo, Soraya, é o tempo!

Que mesmo não sendo bruxo, sabe fazer muitos feitiços e acaba fazendo conosco, não percebemos, mas é a única verdade que não podemos refutar. Alguns sábios dizem que ele na verdade não existe, mas até o provarem, ele também os devorou sem que pudessem evitar...

É o tempo, Soraya, é o tempo!

Ele puxa a vida e a morte pelo braço, pobre coitadas, não possuem força suficiente para evitar o seu puxão e assim vão aonde ele quer ir, pisam em pedras que queriam evitar. O tempo nos machuca, o tempo nos cura, mas só não pode deletar nossas cicatrizes guardadas em nossa memória...

É o tempo, Soraya, é o tempo!

Que mesmo sendo a beleza, ao mesmo tempo não é pois carrega em si, a beleza das flores, mas esmaece a tinta das paredes, até que não sobre mais nada, apenas alguns pesadelos. Ele vem com seus bolsos cheios de esperanças vivas e suas mãos cheios de folhas amarelas...

É o tempo, Soraya, é o tempo!

O amanhã de ontem é o hoje, lógica inquestionável que nos agride sem nos tocar um dedo, não necessitamos de flechas ou lanças para que isso entre em nossas carnes em um golpe final. Não existe natureza que impeça nossa saudade, tudo não passa de um grande rio...

É o tempo, Soraya, é o tempo!

Quando chegamos ao quase fim, adquirimos as mais improváveis manias, a insensibilidade quase nos toma por inteiro e agora o paciente deita em seu leito de doente olhando algumas nuvens que na janela ainda podemos ver. Nem veremos nosso último suspiro...

É o tempo, Soraya, é o tempo!

E o verde azulado dos teus olhos não é mais o mesmo, agora eles não mais fixam a mesma fantasia de antes, seguem fixos em alguma escuridão que está chegando com o fim de mais um dia qualquer. Embale a boneca que ainda tens no braço e a coloque para dormir, minha velha menina...

É o tempo, Soraya, é o tempo!


(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sábado, 20 de março de 2021

Quasímodo É Quase Ali

 

Hoje não tem tristeza

Venderam todas ontem

Era dia de uma liquidação final

Os senhores do mundo cuspiram grosso

E aí deu até tempo de se chegar

É tudo uma estética quase banal

De falsos sorrisos e sutis divagações

Os anos se devoram continuamente

Em massacres convulsivos

Que o nosso esquecimento colabora

Ninguém quer mais inocência alguma

O medo temperou todas as bocas

E o carteiro dormiu demais da conta

Somos brinquedos sem sentido

A noite nunca foi nossa

Era um truque para que caíssemos

Na boca do mundo (peixe insaciável)

Dispenso toda e qualquer reclamação

Já que eu que deveria dar e não dei

Fiquei mansinho num canto qualquer

Me dê aí algumas libras de sonho

Que eu prometo que pago logo que puder

Façam de conta que não ouviram nada

E o poltergeist irá embora batendo o pé

Bato com a colher na borda do copo

E talvez isso resulte numa nova sinfonia

Estou aceitando sugestões

Qualquer uma possivelmente demente

Eu andei tão sozinho

Só sobraram-me os passos

Agora tentarei voar sozinho

Mesmo que na direção oposta

Todos vão pela correnteza

Mas não esperem isso de mim

Quase nunca o quase nunca resulta

Em algum resultado satisfatório

Deem-me qualquer bebida forte

Para me lembrar de leves arrepios

No espelho tudo continua o mesmo

Mas mesmo assim se inverte

Pode até ser assim na vida

Entre feridas e alguns afagos

Quasímodo é logo ali

Não tem erro algum

É só seguir a seta que chegamos lá...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quarta-feira, 17 de março de 2021

Nosso Drama

 

Experimente

Expire mente

Propósitos métricos?

Depósitos éticos

A valsa da velha e do menino

A trama inglória do destino

O trapo jogado na calçada

Depois de tudo - mais nada...


Exatamente

Exata mente

Filas sem sorte?

Tranquilas na morte

A mão trêmula e o crack

A inocência perdida e o ataque

O crime visto da sacada

Depois de tudo - mais nada...


Lugubremente

Lúgubre mente

Quando descansamos?

Quando menos esperamos

O espelho e o capricho

A comida pega no lixo

A memória viciada

Depois de tudo - mais nada...


Rapidamente

Rápida mente

Quem é o maior?

Quem for o pior

A doença nos aniquilando

Vamos comemorando

A carta marcada

Depois de tudo - mais nada...


Dramaticamente

Dramática mente

A maior rapina

Espera na esquina

Ruas só conhecem pés

Que andam ao invés

Nossa cova vilipendiada

Depois de tudo - mais nada...


Mentirosamente

Mentirosa mente

Apenas gente 

Apenasmente 

Um drama uma trama

Depois de tudo - mais nada...

terça-feira, 16 de março de 2021

Sol Impossível

 

Abro a janela e vejo

Como castigo aquele sol

É tão bonito! Mas tão cruel!...

Por que usas tua beleza

Para um dia só de maldades?

Por que iluminas esses exércitos

Que matarão inocentes?

Por que fazes brilhar de uma vez

Tantos metais sem compaixão?

Por que? Por que?...

Abro a janela e vejo

Com desconfiança aquele sol

É tão bonito! Mas tão debochado!...

Por que ris das imensas filas

Onde se amontoam miseráveis?

Por que esse semblante alegre

Quando são feitos os funerais?

Por que tantas vezes maltrata as terras

Matando plantas e gente também?

Por que? Por que?

Abro a janela e vejo

Como tristeza aquele sol

É tão bonito! Mas tão indiferente!...

Por que invades o meu quintal

Se nele não depositas nenhuma alegria?

Por que enches o meu peito

E nele quando partes só há saudade?

Por que tens tanta pressa

E sempre a escuridão toma teu lugar?

Por que? Por que?

Abro a janela e vejo

Como castigo aquele sol

É tão bonito! Mas tão impossível!...

Por que não mais me sorris

Como os que minha mãe desenhava?

Por que não me levas de volta

Atendendo meus pobres pedidos?

Por que não sabes responder para mim

Outra resposta que não seja não?

Por que? Por que?

Sol, tem vez vezes que quase te detesto...

domingo, 14 de março de 2021

Rio e Pássaro (Breve Mistura)

 

Eu que sou essa breve mistura...

Um rio que corre para o mar

Sem medir margens

No afã dos dias que irão terminar

Por onde passo vejo tudo à minha volta

E tenho história pro final contar

Virarei um dia água com espuma

Água que agora desconheço

Um azul risonho de meninos brincando

Na minha beira com conchinhas

Ou pesadelo profundo

De náufragos pelas noites

Mais de mil mortes...

Um pássaro que corta o ar vadio

Danço entre as nuvens

Vou rindo e rindo de todas as chuvas

Não há altura que não conheça

Sei de todos os fatos da cidade

Os gritos por todos ouvidos

Ou segredos mais inconfessáveis

Por enquanto cato minhas migalhas

Encho de canto qualquer arvoredo

Fugindo sempre do tiro do caçador

Até não evitar mais o inevitável

Então saltar pela última vez ao chão...

Eu que sou essa breve mistura...

Selva Social

 

Selva social...

Passe bem ou passe mal...

Quem tem dinheiro - come. Quem não tem? Tivesse nome. Um cordão de aflitos, entre nomes feios e bonitos. Quem não tem carro que vá a pé. Quem não vê milagres, não tem fé...

Selva social...

Diferente e tão igual...

O apartamento chique assaltado. O barraco na favela metralhado. Um batalhão de zumbis, são apenas andorinhas ou bem-te-vis. Quem não tem roupa, ande pelado. Quem não tem amor, não é amado...

Selva social...

Tempo calmo ou temporal...

O político ladrão aplaudido. O assalariado - mais um fodido. Um bloco de retirantes, somos todos delirantes. Quem não tem beleza que se mate. Quem não tem piedade, maltrate...

Selva social...

Insano ou normal...

Minhas preces atendidas - ganhei likes. A falta deles? São ataques. Uma alcateia de bundas de fora, quem não está que fique agora. Quem tem vergonha, esqueça. Quem não tem asas, que desça...

Selva social...

Particular ou geral...

Um poeta libertário - um burguês. Todo pesadelo vem no fim do mês. Outro batalhão de penitentes, quem não é que fique contente. Quem não tem celular, que se mate. Quem não tem nenhuma tara, que se trate...

Selva social...

Cachaça ou gadernal...

Uma nova arte - nasceu falida. Nossa pior experiência é a própria vida. Finjamos que estamos gostando, nosso fracasso vai comemorando. Quem não é nada, se foda. Quem não tem bomba, que se exploda...

Selva social...

Importado ou nacional...

Tantos conselhos - apenas cinismo. Em tempos que até a bondade é puro escapismo. Tudo se transforma, mas não muda, na hora do crime é um deus-nos-acuda. Quem quer aparecer poste a foto. Quem quer sobreviver, eu nem noto...

Selva social...

Enterro ou carnaval...

Vou ali e já volto - pegar uma meta. Na hora da treta tire o seu da reta. Vamos aprender a sabedoria do nada, há excesso de mau-gosto nessa piada. Quem quer fama, faça tudo sem pudor. Quem quer sexo, nem pense no amor...

Selva social...

Glúten ou integral...

Só selva... 

sábado, 13 de março de 2021

Um Viver

Não é fama

é trama

Não é juventude

é atitude...


Eu não sei dançar, mas danço

Eu não sei correr, mas não canso

Viver é ir até morrer de exaustão

Não existe o corpo, só coração...


Não é escada

é estrada

Não é beleza

é certeza...


Eu não sei cantar, mas canto

Eu não estou aqui, me encanto

Viver é ser apenas mais um louco

Não basta o corpo, é pouco...


Não é boato

é fato

Não é destreza

é certeza...


Eu não sei dormir, mas sonho

Eu não sei sorrir, tristonho

Viver é ser apenas um caminhante

Não basta o corpo, mas o instante...


Não é tempestade

é verdade

Não é começo

envelheço...


Eu não sei pedir, mas peço

Eu não sei terminar, começo

Viver é ser apenas um aprendiz

Não basta o corpo, mas ser feliz...


Não é baile

é detalhe

Não é espera

é quimera


Eu não sei correr, mas corro

Eu não sei viver, só morro

Viver é ser apenas um vivente

Não basta o corpo, doente...

sexta-feira, 12 de março de 2021

Para Mim Bastava Ser Um Poema


A lápide caída

O epitáfio apagado

O falso sorriso do modelo

Perante a câmera fotográfica

E todos artifícios

Para tentativas inúteis 

Poderem dar certo

Toda lógica morre

Por uma procura insana

Todos reclamam 

Pelas palmas invisíveis

De um público sem adjetivos

O alvo errado

O tiro inexistente

O novo é apenas o velho

Que ainda não chegou lá

Toda matéria espera

Enquanto a alma se aflige

Com o que não tem

Farsa grande farsa

Mil vezes somente farsa

Achar que os sonhos

Nunca nos ferem

Morte grande morte

Mil vezes somente morte

A vida sem nos ferirmos

Porque ferimos

Se pudesse escolher 

Algum outro destino

Viraria um poema

Palavras não sentem dor

Apenas fazem doer

Palavras não se machucam

Apenas machucam

Ou também curam

Nunca morrem nunca

Mas ressuscitam sempre

De qualquer uma boca

Ou apenas flutuam

Em quaisquer ares por aí

O rio correndo 

A água caindo

Numa suavidade rude

De quem não para

Um brinde para todos

Qualquer riso serve

Não há nenhum porém

Na lápide caída

No epitáfio apagado...

quinta-feira, 11 de março de 2021

Assim Seja

 

Esperar em cada dia

Mais a vida se escoando

Feito uma vasilha furada

Novos se tornando velhos

Velhos se tornando nada

Assim seja...


Perder todo seu sono

Vagando pela noite escura

A lâmpada está apagada

Os mosquitos zumbindo

A nova manhã desejada

Assim seja...


O nosso estômago vazio

Os dentes quase todos caídos

Toda beleza já está enfeada

Essa história já é conhecida

A farsa já está encenada

Assim seja...


Vamos ficar de cabeça baixa

Rezar contritos nossas ilusões

Vergonha da roupa esfarrapada

Ficamos esperando a alegria

A carta já está marcada

Assim seja...


É hora de nos embriagarmos

Até que embotem nossos sentidos

E a mente fique só atordoada

Vamos rir sem motivo algum

Da forma mais desesperada

Assim seja...


É cordeiro comendo cordeiro

Numa simples inversão natural

A arma agora está disparada

O vinho se transformou em água

A maravilha foi desprezada

Assim seja...


Assim seja...


(Extraído do livro "Só Malditos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Um Ar Pesado


Um ar pesado...

Onde andorinhas se escondem

Até de pedras não atiradas...

E os sonhos dormem em cavernas

Para que os soldados

Não possam vê-los...

Calçadas cheias e corações vazios...

De quantos trapos precisaremos

Para não esconder mais nossa nudez?

Os senhores da vida se desentendem

Enquanto a morte bate cartão de ponto...

Uns constroem castelos

enquanto outros os derrubam

O que faço eu?

Em meu canto solitário

Tento balbuciar algumas verdades

Mas a verdade é o mais amargo dos remédios...

Há tantos rumores por aí...

Novos pesadelos serão lançados no mercado

E com grande aceitação do público...

Esqueçam de uma vez o velho

Tantos erros como acertos...

É o novo caos e o quinto naipe...

É a inversão completa

De qualquer esperança 

Que um dia existiu...

O veneno já está pronto

Vamos servi-lo no café da manhã...

As ilusões preparadas

Para poder então nos engolir

Da melhor forma possível...

A munição não acabou

Na verdade ela nunca existiu...

Uma nova frenesi

Nos obriga em dançar

Até a mais completa exaustão...

O mascate veio nos vender

A nossa mais falsa redenção...

Um ar pesado...

Onde os pombos comem

As migalhas de nossa tristeza...

quarta-feira, 10 de março de 2021

Não Há Mais

Não há mais urubus na primavera

 E nem cigarras por falar nisso

As promoções acabam hoje

E qualquer uma das poéticas morreu

Somos tudo que funciona às avessas

E a execração não foi para o condenado

Não há mais girassóis girando

E a bela voz acabou se calando

Na hora que a canção suplicava

Os barulhos do dia agora são banais

Mesmo as bombas que caem sobre meninos

Ou estampidos tirando qualquer vida

Não há mais necessidade de óculos

Porque cegos já vêm de fábrica

Os nossos sentidos estão falidos

A teimosia anda sumida do mercado

E todos os idiotas de plantão

Vão trabalhar até nas suas folgas

Não há moeda sem três lados

Nesse tão intricado labirinto

Onde vencedores e vencidos

Irão acabar no mesmo lugar

Não são muito poucas as vezes

Que socos doem menos que beijos

Não há mais rapazes latino-americanos

Fazendo protestos quase inúteis

E se hoje se esconder é questão tática

Viver uma brincadeira de mau-gosto

Em que anjos e demônios se uniram

E participam do mesmo banquete

Não há mais lógica na própria lógica

Quando a questão é apenas outra

Quem poderá respirar agora sossegado

Quando os venenos bailam pelo ar?

Todas as filas servem para ensinar

Como se comportar na última delas

Não há mais reticências para se pôr

Não há mais um leve desespero

Todos eles acabaram ganhando peso

Numa estética que faz até o ar rir

Porque a dicotomia vive falhando

A sujeira não está debaixo do tapete

Porque os miseráveis não possuem um

Não há mais como proibir o proibir

Quando até velhos ídolos se quebraram

O barro de Adão acabou apodrecendo

E as costelas são servidas no jantar

Faço votos que encontrem algum lugar

Onde tudo isso tenha uma resposta

Não há mais porque me alongar

O cansaço chega o tempo todo

E afinal de contas sempre perdemos

Mesmo antes da corrida começar

E alguém posso levantar o dedo 

E dizer que não há mais nada...

domingo, 7 de março de 2021

Eu Me Faço Alguma Coisa

Faço que me faço quase alguma coisa. Eu sou o ontem com cara de hoje querendo ser amanhã. Não me puxe os cabelos que eu viro gente e aí caba sendo bem pior. Ocasiões escondidas de pura solidão e muita alegria. Tudo passa e até as dores dormem. Eu apontei o dedo pro alto pedindo mais uma e o garçom nem me viu. Eu queria aquela revista e completar meu álbum de figurinhas. Acordei com a tarde já caindo e quase caí de susto. A poeira ainda cega meus olhos e isto pode ser apenas um lugar-comum. Eu apenas pensei nuvens e a chuva reclamou seu lugar. A minha garganta foi atravessada por milhares de palavras que não disse. Os estalidos no silêncio me trazem tanto medo. Panos estampados e riscos coloridos de um sei lá o quê. São certos temperos necessários senão perigosos. A luz do lampião entortou meus olhos e o azul foi procurar seu céu. Cada riso tem seu alto preço. As areias queimavam sob meus pés. E o estar lá agora não tem mais significado algum. Talvez eu fique louco qualquer hora dessas e me anime de contar mentiras que facilmente enganarão o detector. Ou se eu mesmo preferir me jogo lá das pedras do alto e vou embora de uma vez por nenhuma. Não acenda mais a fogueira. Os meus reclamos são antigos e inevitáveis. Fizemos casinhas de lençóis e quase cometemos um quase-crime. Toda eternidade termina. Ou pelo menos nos dá as costas e sai caminhando. Eu tenho quase certeza de tal disparato. Respeito todas as regras que não precise cumprir. O comprimento da vida nem sempre é o mesmo. O mais certo pode ser o mais desastroso. Escapamos de uma armadilha por conta e risco de uma outra. Tragédias não possuem pátria e percorrem o mundo mais do que trágicas novidades. Foi engraçado que eu não achei tanta graça assim. A regra de ouro agora é outra. Não acerte dando a resposta errada. O gás acabou como um filho que morreu. A geladeira está vazia como qualquer alma. O caminho errado faltou nas prateleiras. Espero o sinal abrir para atravessar a rua. Eu fiz um trato com o risco e hei de cumpri-lo até o fim. Feito à mão algumas figuras de fumaça. Mais triste de que um palhaço. E nem eu mesmo notei esse importante detalhe. A urgência acabou ficando com preguiça e não saiu mais de casa para seu passeio diário. Esqueci de acender as estrelas e os pirilampos ajudaram-me a consertar tal equívoco. Estudo algum meio de não me destruir com falsa vontade. Toda história acaba sendo outra. Confetes e serpentinas são espalhados pelo vento de tolas convenções. Quero amar o suficiente até que o infinito se acabe...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).  

sábado, 6 de março de 2021

Eu Mesmo Aponto O Dedo

Eu mesmo aponto o dedo

Não é mais necessário

Que o cursor aponte a seta para mim

Em direção ao meu peito

Para poder me matar

Meus erros são meus mesmos

Eu os trato com grande carinho

Porque foram bons professores

Meu choro não foi uma mentira

Apenas mais inevitável

Foi ter que me sentir humano

Nem pior e nem melhor

Apenas mais um entre muitos

Talvez futura lápide

Que fale somente o essencial

Quase um cachorro vadio

Continuo faminto mas há sintomas

De uma já moribunda alegria

Tudo passa nestes tempos

Até alguns substantivos inevitáveis

Quantos dedos não importam

É só pura questão de ter vontade

Toda tolice acaba desaparecendo

E a piada dos maus perde a graça

Ainda não esfriou o suficiente

Mas mesmo assim eu me abrigo

Sob a espessa coberta indeterminada

Das minhas próprias ilusões

Imagino o óbvio que grita de dor

Não cheguem muito perto

Até a dor pode ser contagiosa

Eu ainda continuo sendo carregado

No mesmo ventre de sempre

Dentro da mesma escuridão e água

Viver não é castigo nem é dádiva

É apenas uma circunstância

Que pode chamar atenção ou não

Eu sou a minha assombração

E sempre capricho no arrastar

De minhas eternas correntes

Não há mais insetos para lâmpadas

Me cubro de farrapos evidentes

Sejam eles de que classe for

Não diga que eu não presto

Disso tenho a mais absoluta certeza

Já vi isso em muitos muros

E até em paredes de banheiros

Seria até bom se batessem palmas

Quando esta farsa terminasse...

Malandriância

Virei manchete de jornal e nem tinha percebido isso. Só quando o povo me saudou como quem vê mais um fantasma. Nada mais, nada menos, eu sou o que era e mesmo assim não foi. Você acaba de ganhar uma embalagem vazia de sabonete. 

Tutu, tatá, somos inocentes como nossos dentes, nossa cara lavada na frente do espelho e nosso olho vermelho. Meu bigode colorido de nicotina, não desatina, é assim sim, não tem mais flor no meu jardim, me dê um soco, tem dó de mim.

Escapei por um triz de ser mais um número, pedir perdão pode ser pedir demais. Sou apenas mais um retrato que a internet mostra com uma careta. Está tudo tão bem, principalmente quando não está nem um pouco.

Sou uma fera, não me espera, engoli o verão, agora será a primavera. Não se espante, fiz um implante, um coração quase gigante. Que esse coração seja necessário. Não me importo, eu te suporte, pode me chamar de otário. Otário, otário e meio, há tanto bonito que acabou ficando feio.

Chuto a bola, sou rei do gol-contra. Um Pelé ás avessas, quase um Garrincha. A disputa por um pão velho já quase que começou. Caprichemos nos nossos uniformes que deixam a buda de fora. O que não tem remédio é o irremediável. Aumentem as fileiras aí.

Eu queria ser quase como um Chico, mas não sei contar as estrelas, só conto até cinco. A outra mão segura a madeira que me salvou, estou no meio do oceano e nem sei onde vou. Vou sempre em frente, o nosso tempo é um demente, é conhecido, nem é parente. Não creio em nada, sou um doente.

Me xingaram, mas eu não sei revidar. Os ratos já dançam seu tango com requintes de frevo. É tanta confusão que eu não se infarto ou derrameio, qualquer novidade não foi inventada. Não houve espinha na garganta porque faltou o peixe.

Mundo malvado, quase tarado, errei de porta, tava enganado. A lâmpada queimou, chamei um anão pra trocar. Até a nosso mentira é fácil de se enganar. Nem todo o descanso é de papo pro ar. Salve-se quem puder. Acreditar que se crê não é questão de fé. É de molejo, não sei se saio, não sei se vejo, chega pra cá, me dá um beijo.

Não tenho boné, mas mesmo assim já vou embora...

 

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...