sábado, 29 de agosto de 2020

Tempo Triste

Sonho real | Cronicanto
Ponteiros pesadamente andam
devagar como nunca
e eu acabo tendo sono...
Não sei mais exatamente 
o que eu quero pois tudo
que eu quis, já perdi...
As novidades se repetem
e o meu foi tão demasiado
que por certo já passou...
Eu só me apavoro comigo mesmo
e me recuso a olhar no espelho
pois nele sinto a minha condenação...
É uma simples vertigem,
é uma febre que começa mansinha
ou um pequeno nada que incomoda...
Esperas que espero demais,
irritando minh'alma exausta,
sou eu quem corria com o vento...
Nas minhas asas trazia fantasias
que agora estão destruídas
por uma paixão que tudo queimou...
Insetos voam em torno da lâmpada
e me lamento que deixei aberta
a janela mesmo chovendo fino...
Ponteiros pesadamente andam
mais rápido do que nunca
e quem sabe acabo morrendo...

Eu Sou A Sombra de Mim Mesmo

A imagem pode conter: sapatos e atividades ao ar livre
Eu sou a sombra de mim mesmo
e não há caminho que eu vá sem conhecer,
Eu ando em todos os cantos, todos os países,
até que pare de respirar, até quando morrer...
E nestes dias que se seguem, sem pena alguma de nada e nem de ninguém, vamos chorando, todos nós, sem exceção alguma. Somos egoístas suficientemente para não consolarmos ninguém, nem nós mesmos...
Eu sou o meu implacável caçador
e faço muitas armadilhas, faço muitas delas,
Algumas são apenas simples alçapões,
outras são ainda um pouco mais belas...
E nessas noites que certamente virão, o perigo é aumentado e mesmo assim saio à noite. O que faço me expondo assim? Procurando sonhos, procurando muitos que deixei sob uma lua qualquer e sinto muita, mas muita falta mesmo...
Eu sou o juiz que bate o seu martelo
aquele que condena até o que é inocente,
Eu não tenho piedade nem mesmo de mim,
acredito que só acredito que sou gente...
E nesse tempo que não é tempo algum, que está fora de todos os relógios existentes, marco os encontros mais impossíveis possíveis. E minha fantasia ataca-me sem nenhum pudor. Eu já esqueci tudo aquilo que quis um dia e o amargo dominou-me todo o gosto que aparece para que eu possa provar...
Eu sou o palhaço que perdeu a graça.
e de suas próprias piadas não consegue mais rir,
Eu sou o viajante mais que vagabundo,
que chegou, mas não sabe o que está fazendo aqui...
E nesse sono que aos poucos me domina, os olhos começam à pesar, a mente escapa mais do que em minha loucura. Será a morte um grande sono ou um pequeno cochilo? Quem tiver a resposta, por favor, me diga. As minhas dúvidas acabaram de matar minhas certezas assim como o caçador que ainda sou...
Eu sou a sombra de mim mesmo
e não há caminho que eu vá sem conhecer,
Eu ando em todos os cantos, todos os países,
até que pare de respirar, até quando morrer...

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Feri-Me

Como ensinar seu filho a assumir os erros?
Feri-me até não poder mais,
até que a dor fosse tão pungente
que todas as palavras faltassem...
Feri-me até que nenhum socorro
não adiantasse para me salvar
e que a hemorragia se contivesse...

Com o amor que à tudo salva
e que foi meu motivo de desespero,
o amor - remédio para toda dor,
mas que foi apenas um veneno,
veneno cruel que mata aos poucos
e que para mim não houve antídoto...

Feri-me com toda a ternura do mundo,
que invadiu-me sem pedir licença,
que trouxe todo o encanto existente,
mas que mostrou-me a maldade que há,
a maldade que mata todos os jardins
e que faz todos os meninos chorarem...

Com o sonho que nos eleva ás nuvens,
que nos faz querer ir até às estrelas,
mas que depois dessa nossa embriaguez,
nos tira de lá e nos aponta que o abismo
aquele abismo mais do que escuro
é aonde terminaremos os nossos dias...

Feri-me com a minha própria vida,
temendo aquilo que não conhecia - a morte,
pergunta silenciosa sem resposta alguma,
desorientação de sábios e também de tolos,
caminho em que todos iremos percorrer,
do mais corajoso até o maior dos covardes...

Sim, feri-me até não poder mais...

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Improvável Fantasia

Menino triste foto de stock. Imagem de expressão, macho - 5266808
Porque
a boca se calou
e a vida perdeu o sentido
e uma ânsia de vômito encheu-me
a alma até transbordar
Eu só queria 
aquilo que não tive
dispenso sábias palavras
eu valem menos 
do que um café
Se tive culpa
não me perdoem
não estou pedindo isso
a cada dia morremos
de forma completa
Eu quebro
os vidros das janelas
para que o ar entre
e pelo menos asfixiado
eu não fique pelo menos
Escancaro a porta
como quem grita 
sem me importa
se ouvem ou não
agora tanto faz
Os que gostam
de palavras amenas
e versos doces
fiquem com todos eles
a vida nunca é assim
Cada minuto
eu sou de novo crucificado
mas bem que preferia
ser colocado num poste
em sábados intermináveis
Eu não sou um
na verdade sou três
o que teme morrer
o que não teme
e o que quer
Nada existe de real
o definitivo é ilusão
funerais e carnavais
são parecidos
em improváveis rimas
Pensar pode 
ser muito perigoso
quando a impotência
nos faz sinal
para que paremos
Eu queria sorrir
pelo menos um pouco mais
mas a boca está rígida
e olhos não colaboram
para tal feito
Deixe-me então 
caminhar tranquilo
sem pensar mais
nesta minha triste
e improvável fantasia
que eu rasguei...

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Construa Seu Monstro

Foto de O Monstro da Lagoa Negra - O Monstro da Lagoa Negra : Foto -  AdoroCinema
Construa seu monstro!
É tão fácil de construir...
Primeiro faça castelos, 
castelos frágeis de cair...

Os castelos são sonhos,
os sonhos serão esperança,
a esperança será alegria,
a alegria vai ser dança...

A dança trará o riso,
mas riso irá se acabar...
Aí começará o monstro
o monstro vai começar...

Eis o nosso monstro!
Tem mil olhos para ver...
Busca em vão pelas ruínas
o amor que não vai ter...

Engole todas as formas,
é insaciável com as cores...
Entra em todos os jardins,
sabe nome de todas flores...

Tem um par de grandes asas,
porém não aprendeu à voar...
Mas sabe contar as estrelas,
as que são do céu e do mar...

Um monstro bom e mal,
monstro monstro e gente...
Algumas vezes está são,
outras vezes está doente...

Construa seu monstro!
Com seu ar mais perverso...
Um monstro sem engrenagens,
só construído de versos...

terça-feira, 25 de agosto de 2020

Uns Mistérios


Marços e maios me fazem chorar 
da mais pura saudade,
agostos me metem medo,
mas julhos me dão a tristeza
mais do que profunda...

Ainda me lembro de tuas fugas
naqueles dias bem mais frios
em que ainda com as mãos cheias
ias visitar o mais solitário
e a tua inocência falava mais alto...

Em dias de poeira e desespero
andei por eras inimagináveis,
onde o bem e o mal se misturavam
mas que depois de tanto
ainda posso confessar de peito aberto
que minhas intenções eram as melhores...

Minhas camisas não tinham mangas
e eu expus toda a minha sinceridade
como quem não esconde as cartas,
mas agora bem sei mais que nunca
que a morte chega e até lágrimas seca...

Eu andei por todos os perigos possíveis,
me desviei dos mais impossíveis tiroteios,
me envenenei com os venenos mais fortes,
mas eis que ainda por aqui estou,
mesmo sem saber porquê e onde irei...

Usei as fantasias de todos os carnavais,
repeti todas as palavras do meu vocabulário,
dei gritos que eu mesmo chamo de versos
e nas noites mais vagabundas que se pôde ter
fui ao mesmo tempo carrasco e condenado...

Acabo acreditando em que nada acredito,
retirei o espinho da esperança de minhas carnes,
mas eis que a ponta dele quebrou lá dentro
e assim uma dor maior acaba consumindo
o resto se sanidade que ainda me resta...

Enfim...
Risos e choros sempre me seguem,
eis o que chamam de destino,
esse livro de páginas coladas
que ganhamos como presente único
de um aniversário que não é nosso...

(Extraído da obra "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sábado, 22 de agosto de 2020

Encargos Sociais

Sonhar com fila: qual o significado disso? Veja aqui e entenda ...
Tempestades sem nuvens, sem sequer águas. Ou pelo menos, alguns grãos de poeira. As portas se fecharam, as janelas se abriram. É mau tempo, minhas senhoras, meus senhores...
Cartão de crédito, cartão de débito, conta no banco, e-mail.
Destruição vindo aos montes, são várias as montarias. Ou ainda mais, velozes como a luz. Em uma nova Babilônia, as línguas são estranhas. Um grande espetáculo, meninas e meninos...
Número telefônico, grupo da net, rede social, selfies. 
Falsas notícias, pessoas canalhas. Ou ainda, se esforçando para o serem. A bondade é aparente, uma nova forma de espetáculo. Apenas um teatro, ladies and gentlemen...
Memes da hora, vídeos virais, roupa da moda, invenções.
Máscaras caídas no chão, moral mais ainda. Ou ainda andando na contramão, é o novo costume. Nossa nudez é garantida, a nobreza assim o quer. Estréia amanhã, respeitável público...
Esquerda, direita, fake news, fogo na floresta, genocídios.
Arte medíocre, não temos mais tempo para tanto. Ou ainda, desconhecemos as noções mais básicas. Somos apenas mais um rebanho, as raposas tomam conta do galinheiro. Comprem seus ingressos antecipados...
Homofobia, pedofilia, feminicídio, racismo.
Filas são velhos hábitos, é saudável se impacientar. Ou ainda reclamar da vida, sem fazer nada. A apatia é o prato do dia, vamos comê-lo inteiro, sem deixar migalhas. É a nossa grande queima de estoque...
Pandemia, academia, tudo pop, globalização.
Descartável não tão descartável, o efêmero é a nova eternidade. Ou pelo menos é o que aceitamos, de braços abertos em cruz. Um deus implacável nos aponta o dedo, mesmo quando não pecamos. Eis a nova atração, gregos e troianos...
Combo alcoólico, nova marca, valores inversos, corrupção.
Surdez mais que imediata, a da alma todos temos sem sabermos. Ou ainda isso é herança, herança nossa de velhos erros passados se repetindo. O inferno é o nosso próximo. Aprendam essa lição, putos e putas...
Falta de gentileza, falta de educação, sujeira, crueldade.
Tempestades sem nuvens, o céu está limpo. Ou pelo menos, parece que está. As bocas se fecharam, os olhos não se abriram. É mau tempo, minhas senhoras, meus senhores...

(Extraído da obra "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Malabarismo Temporal

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A roda do tempo roda
e não pára de rodar
a roda do tempo não termina
termina aonde vai começar...

Come a mata come o muro
Come o certo e o inseguro
Come o bicho come a gente
Come o igual e o diferente
Come o feio come o bonito
Come o calmo e o aflito
Como o comum o esquisito...

A rodo do tempo gira
e não pára de girar
a roda do tempo sem pena
sem pena de machucar...

Pisa na água e pisa no chão
Pisa no empregado e no patrão
Pisa em cima pisa em baixo
Pisa no que vejo no que acho
Pisa no velho pisa no moço
Pisa calmo ou com alvoroço
Pisa na obra ou no esboço...

A roda do tempo dança
e não pára de dançar
a roda do tempo até canta
canta cantigas de ninar...

Engana quem é certo ou errado
Engana quem corre ou é parado
Engana a reza quanto a praga
Engana quem alisa ou esmaga
Engana o alto do céus o abismo
Engana a sinceridade e o cinismo
No mais temporal malabarismo...

Flores Que Caíram

Menino triste - Jornal Joca
Flores que caíram
antes da hora da hora
de antemão
antevéspera
Flores arrancadas
da fria quente terra
eis meu amor e pranto
todo ao chão...

Flores que caíram
antes do dia do dia
de propósito
sem propósito
Flores violadas
para a vida morta
eis meu afeto fiel
como um cão...

Flores que caíram
antes da noite da noite
de repente
sem repente
Flores maculadas
para servir de nada
eis meu eterno guardar
até a exaustão...

Eu de Mim

Young Sad Boy Sitting On The Floor Stock Photo, Picture And ...
Eu de mim posso falar muito 
ou quase nada ou nada...
Depende de que dia estou, 
embaixo do sol mais quente
ou correndo de malvadas chuvas...
No palco da vida aplaudo de pé
ou grito vaias ou assobios
ou simplesmente vou embora...
Todas as mancadas que fiz
partiram de mim,
eu sou a origem dos meus sonhos,
o nascedouro dos meus pesadelos...
São meus pés que escolheram
as ruas escuras por onde passo,
os abismos de onde salto,
o que pode ser riso ou dor...
Eu mesmo abri os frascos
e dá lá tirei os meus venenos,
coloquei-os no copo e engoli...
Eu mesmo fiz todas as festas,
pulei em todos os carnavais
e decretei meus dias de luto...
Fui palhaço, saltimbanco,
vagabundo, maldito e carpideira,
acho que todos eles ao mesmo tempo...
Cultivei amores impossíveis,
verdadeiros roseirais sem rosas,
mas plenos de muitos espinhos...
Fui o mais inocente e o mais sórdido,
a fera que infunde todo o medo
e o anjo que galopa entre nuvens...
Guardei milhares de moedas para nada
em baús das mais velhas recordações
e acabei perdendo as chaves de todos eles...
Sou o passarinho de asa quebrada,
o demônio que chora de ternura,
o Judas feito de trapos no poste,
até aquilo que nem eu sei...
Luxo e lixo, ventura ou desgraça,
o cheiro do incenso ou dos dejetos,
a pressa e o relógio quebrado, 
incomparável e totalmente igual...
Eu de mim mantenho o sigilo,
mas coloco meus crimes pelos jornais,
na boca de todos os arautos
e nas previsões nefastas dos profetas
num Apocalipse particular ou não...
Eu de mim posso falar muito
ou ainda permanecer calado...
Talvez seja muito lembrado
ou passe a ser um nada quando partir,
seja motivo de bastante choro
ou receba a indiferença de todos, 
mas isso não importa tanto,
ou simplesmente não importa mais
como um dia há muito importou...
Eu de mim me amo e me odeio...

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Não Há Mais

brincando de roda (foto de Robert Doisneau) | Fotografia de rua ...
Não há mais borboletas anunciando estações
E não sabemos mais se são invernos ou verões
Ou se é chegado a hora de soltarem os leões

Só sei que há medo
E a vida é um simples arremedo...

Não há mais amores para podermos amar
Mudaram as melodias e não sabemos cantar
Não há espaço para podermos respirar

Só sei que há medo
E a vida é um simples brinquedo...

Não há mais rosas pois morreram os botões
Os fantasmas estão comemorando nos porões
O triste final de todas as nossas caras ilusões

Só sei que há medo
E a vida é um simples enredo...

Não há mais velas para esse tão imenso mar
Todo plano é bom até a hora em que irá falhar
Pois somos nós mesmos que iremos nos matar

Só sei que há medo
E a vida é um simples folguedo...

E O Sangue Escorre Pelas Cidades

Jornal Ação Popular | Portal de notícias do Vale do São Francisco
Acabo tendo pena de mim mesmo, mesmo que isso não seja o melhor que possa fazer...
É que os dias andam sujos, mais sujos do que esta metrópole onde estamos enterrados. Todos nós, sem exceção alguma, estamos mortos, mas de mal jeito. 
Não podemos escapar desses cheiros, mistura exótica do mau e do pior, chegando em nossas narinas, sem licença alguma. Todas as coisas possuem um odor próprio. Já notaram? E agora o cheiro do medo predomina sobre tudo e sobre todos.
Acabo tendo asco de mim mesmo, mesmo quando de forma involuntária me torna tão idiota como qualquer um...
Como um camaleão caricato me torno o juiz que condena tudo, menos as suas próprias sandices. Todos nós, atrelados estamos, na carroça das obrigações de uma sobrevivência de que de nada adiantará...
Não há mais piedade suficiente para tanto sofrimento, mas uma apatia vendida no mercado com descontos promocionais. Na corrida de pânico geral, todos atropelam todos. Já notaram? O mal acaba sendo inevitável e o bem apenas dispensável.
Acabo tendo nojo de mim mesmo, mesmo que tome todos os banhos possíveis e me perfume com o que há de melhor à venda...
Enquanto existirem tapetes e máscaras, tudo vai quase bem, a nudez da alma humana é mais imoral do que a da pornstar. E há palavras mais chulas em nossos hábitos do que aquelas que se escrevem em paredes de banheiros.
Não há mais novidades em tantas guerras, as novas doenças entram na fila esperando pacientes seus pacientes. Certos venenos acabam caindo bem melhor. Já notaram? Nessa disputa insana, os primeiros serão os primeiros e do segundo em diante todos acabam perdendo.
Acabo tendo medo de mim mesmo, mesmo porque sou o único que me ataca de verdade sem avisar, totalmente traiçoeiro...
Os espantalhos agora são dançarinos, sua dança surda no meio de milharais gigantes nos avisam spbre vendavais que ignoramos até que eles venham e destruam tudo. A cilada do óbvio é a mais perfeita de todas elas. 
Não há mais imobilidade que nos salve dos tiros, os projéteis são como mosquitos zunindo no quarto. O tamanho do predador e da presa pouco importam agora. Já repararam? Não temos mais espetáculo para assistirmos e o sangue escorre pelas cidades...

(Extraído do livro "Rubianan Decide" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Quase Insônia

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas e cão
Os insetos pelos cantos das paredes.
A velha mania de acordar cedo.
Por onde andarão as estrelas?
Devem ter ido dar algum passeio...
A tela do conhecido computador...
Num simples clique abro o mundo.
Pelo menos esse meu mundo...
Esta janela que esqueci de fechar.
De onde vem todo esse frio?
Talvez de uma de minhas almas...
Não tenho uma, tenho várias.
Elas desfilam ante meus olhos.
Um segundo muda os vários rumos.
Não conheço muitas palavras.
Mas acho que já é o suficiente.
Ando de mal com as minhas rimas.
Coincidências fazem mal para mim...
Eu tento não ser um vil canalha.
Mas esta tarefa dói os meus ombros.
Tampe os ouvidos quando eu berrar.
Eu não economizo a minha garganta.
Não construo muros com facilidade.
Mas aprendi derrubá-los numa lição.
Pontes também, essas gosto muito.
Inverti o curso natural das coisas.
Subo as águas ao invés de descer.
Os tentáculos do poder estrangulam.
Não somente um pescoço, mas todos.
Menos os poetas, somos protegidos.
A loucura é a maior das armaduras.
Eu sou um inventor de punhais.
Sentar no capim do caminho agrada.
Sempre existi ou só agora?
Meu corpo, minhas dúvidas...
Eu ainda gosto muito de gatos e pianos.
Não com a mesma frequência de antes.
Mesmo que tenha fugas constantes.
Minhas feridas estão no mesmo lugar.
Ontem mesmo eu as recontei.
O vento range a porta do quarto.
Se deitar, será que dormirei novamente?

(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

terça-feira, 18 de agosto de 2020

Absoluta Relatividade

Luzes acesas vermelhas
adjetivos não compreendidos
eu quero algumas explicações
mas não ouço nenhuma cor
Tempestades de areia
em desertos que não trilho
e a mais imensa das vontades
de permanecer no mesmo lugar
O mesmo canto tão monótono
de pássaros em douradas gaiolas
na mais absurda vontade
de ficar lá de porta aberta
Já faz tempo que não telefono
esqueci até o seu número
sou apenas mais um doente
cansado numa interminável fila
Tragam-me palavras inéditas
frases com um certo efeito
que possam até explicar
o que nem os olhos dizem
Curvas intermináveis de bundas
e a bondade adjetivada do noda
não sei o que quero mais
assim mesmo acabo querendo
Tatuei diversos símbolos na pele
e olho um por um diariamente
relembrando uma velha história
que esqueci sem mesmo querer
Os idiotas não trocam seu título
e os tolos ainda mais que estes
dançar sem música pode ser bom
mas olhar certas águas mais ainda
Eu dou partida no motor do carro
mas não sei se queria partir
as ruas agora são novas arenas
mas eu nunca fui um gladiador
Cheguei atrasado como sempre
ao meu próprio carnaval
e as cinzas acabaram queimando
o que havia sobrado de minha'alma
Prometo da forma mais solene
que irei ao meu próprio funeral
e permanecerei em silêncio
pelo tempo que for necessário
Maçãs mordidas e jogadas foras
cegueira comum de quase todos
não reparem nos crimes comuns
a anormalidade passa desapercebida
A sujeira vai se esconder sozinha
seria bom ter mais tapetes na sala
ou mais armários na cozinha
todos os disfarces são insuficientes
Deixem-me com meus cigarros
sem nenhum politicamente correto
olhando passar o resto do tempo
na sua mais absoluta relatividade...

(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Teoria da Contradição

Sonhos Significado: sonhar com Dado
Assim somos...
Quanto mais queremos, nos afastamos. 
A festa da vida é feita de muitas tristezas.
Grandes covardes são os heróis do dia.
E mentiras bem contadas funcionam...

Assim vamos...
Nos pesadelos nascem nossos sonhos.
Vivemos da rotina que acaba nos matando.
Quanto mais desamados, mais amando.
Grandes carinhos em meio aos espinhos...

Assim temos...
Muitas modas para velhos hábitos.
A sabedoria feita de tolas contradições.
Achamos que a guerra trará a paz.
Banalizamos o que há de mais importante...

Assim damos...
Qualquer inocência é corrompida.
Estranhos hábitos são adotados.
Qualquer explicação carece de lógica.
Enredos cegos para excelentes filmes...

Assim fomos...
O tempo sem pernas sempre corre.
Nem todas as águas são tão boas.
Fora de mim tudo é insondável.
Meu desejo é meu egoísmo em ação...

Assim vemos...
Nenhuma pergunta é pra ser respondida.
Qualquer paixão será mal resolvida. 
Para o rebanho suficientes desculpas.
Negarmos três vezes não nos traz arrependimento...

Assim pomos...
A ordem do dia é a mais completa desordem.
Nem todos os pássaros possuem asas.
Alguns abismos estarão nas alturas.
Madalena não se arrependeu pois não pecou...

Assim somos...
Quanto mais queremos, nos enjoamos. 
As maiores fogueiras, apenas cinzas.
Grandes canalhas habitam em castelos.
E mentiras bem contadas funcionam...

A Doce Fragilidade do Demônio

Súcubo | Charmed Wiki | Fandom
O sangue que saiu das feridas
aqui do meu pescoço
de onde você me mordeu
manchou-me a camisa
Você não é uma vampira
mas Lilith com certeza
ou mais uma forte candidata
O corte que você me deu
dói muito minhas carnes
foram suas unhas pintadas
e não a lâmina de uma faca
que brilharia na escuridão
Você não é o carrasco
(o carrasco é o destino)
e nem quer a minha morte
seu desejo é bem pior -
me ver feito um desesperado
gritando em todos os lugares
por seu nome sem resposta
Fere a minha pobre vista 
com sua mais bela imagem
mostra sua nudez impossível
como o mais cruel dos deboches
seus seios lindos e desiguais
seus olhos fora de uma linha reta
e sua maldade nada sutil
Pode xingar à vontade
seja vulgar como tantas outras
use seus venenos para se matar
Um dia eu já me importei
e hoje em dia não importo mais
De herói virei o vilão da história
e acabei até gostando disso
Eu sou até um pouco mais pior
que todos os moradores do inferno
eu me vi humano e bem perigoso
eu me vi humano e tolo e mesquinho
talvez tão malvado quanto você
Aquilo que você cuspiu no meu rosto
serviu-me melhor do que a chuva
suas ironias são apenas nada
já tive na vida outras bem piores
talvez a vida fosse a maior delas
Se me desesperar é seu objetivo
desculpe, isso é impossível
eu sou aquele que tem pesadelos
com a maior calma do mundo
aprendi que todos eles passam
ironicamente, acontece isso
até com qualquer um amor
Foge então para bem longe
meu doce e frágil demônio...

domingo, 16 de agosto de 2020

E Quero Todos Os Teus Azuis

Ganimedes | Wiki Mitho | Fandom
estrela de tamanho
sem tamanho
ando em marços e abris
como um desesperado
por tua boca
eu guardo cem mil segredos
em minha capa de vampiro
e rio e rio feito rio
porque de caça
me tornei o caçador
as tuas flechas
é que te ferem
eu saí ileso disso tudo
vem meu sem tempo
desesperado pelos altos
nada mais farei
senão dar-te pesadelos
galopes soltos
sem fiéis montarias
abjeto caminho
é o que seguimos
em tortas nuvens
sem luares
e prédios caídos
sem poços de cinza
cabelos quero
e algumas novidades sim
dispenso todos elogios
e condenações aplicáveis
suplico-lhe um tempo eterno
sem medo da felicidade
eu não morri ainda
aperto teu sexo
com o tamanho dos ventos
e me recuso a ir embora
tudo é mais que cedo
vermelho é o teu espelho
e quero todos os teus azuis...

Para A.

(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sábado, 15 de agosto de 2020

Simples Vidro

Como descartar vidro quebrado?
É apenas um simples vidro, meu amor, 
tome cuidado para não quebrar...
Um vidro chamado vida, meu amor,
que pode nos ferir ou até nos matar...

Um vidro enganador e engana sempre,
é um vidro raro, igual à esse não há...
Um vidro que guarda todos os sonhos,
ainda mais o que não iremos alcançar...

Um vidro que reflete tudo o que é possível,
o que existe por aqui e existe por lá...
Um vidro que marca todas as lembranças
todas elas tão difíceis de se apagar...

Um vidro caro e barato ao mesmo tempo,
não há moeda que o possa comprar...
Um vidro cúmplice das nossas loucuras,
que nos cansa e até nos tira nosso ar...

É apenas um simples vidro, meu amor,
tome cuidado para não quebrar...
Um vidro chamado morte, meu amor,
que um dia à todos nós vai cortar...

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Tem Sol?


A imagem pode conter: nuvem, céu e atividades ao ar livre

Tem sol?
Tem sim...
Só não sei até quando...
Até quando cobrirá nossas cabeças,
até quando invadirá nosso quarto
com todas as suas cores mágicas,
com seu bailado invasor,
nos tirando de quaisquer sonos,
assustando nossos pesadelos,
trazendo o dia ao nosso encontro...

Tem sol?
Inda tem...
Só não sei até quando...
O cansaço já vem batendo,
o cansaço da alma e do corpo
que vai envelhecendo aos poucos,
nada acontece como queremos,
alguma coisa é diferente,
é tudo uma preparação
para que nosso medo retorne...

Tem sol?
Tem não...
Talvez volte depois ou não...
O céu agora é um manto de luto,
o céu agora é uma colcha de estrelas
e eu, que antes andava pela madrugada,
que me esgueirava por becos vadios,
agora só posso me conformar 
de olhá-la pela minha triste janela,
fechar os olhos e dormir...

Tem sol?
Se tem, não sei...

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Ciência das Cores

Mão pintada imagem de stock. Imagem de cultural, alaranjado - 31746421
Tua nudez em brancos versos
lembraram-me de histórias que não vivi
mas que queria ter assim vivido
hoje, nada mais adianta, é tudo morto
porque a inocência corrompida 
nunca mais poderá ser revivida...
Eu fujo do amarelo deste sol
pois preferiria singelas margaridas,
nada disso mais me pertence
e mesmo estando aqui e vivo
a vida não me pertence mais
(aliás, acredito que nunca não)...
Não irei mentir (dessa vez pelo menos)
queria verdes discursos animados
contando um pouco dos meus sucessos
mas só houveram corridas ao abismo
que acabaram dando muito certo
e, no fundo, não era aquilo que queria...
Em tons de cinzas um tanto acanhados
participo deste meu teatro de marionetes
e acabo me esquecendo que o tempo
(esse mais que incorrigível fanfarrão)
poderia ser usado para tantas façanhas
que a rotina acabou matando sem dó...
Esqueça aquele vermelho que tive ontem
pois o medo acabou gelando minhas veias
todos somos assim uma hora ou outra
somos o oposto daquilo que juramos
e a nossa solenidade de nada serviu
à não ser manchar mais nossa reputação...
Minha mentira vestiu-se toda de lilás
(talvez como um rude luto sem lágrimas)
e manda-me cartas com uma esperança
que pode ser a mais perigosa possível
pois a ela pode ser apenas fatalmente
aquele tiro certeiro que saiu pela culatra...
Eu tento dourar as coisas mais banais
e assim vou mostrando a minha farsa
pois pareço apenas um menino bobo
que mostra aquele seu álbum de figurinhas
que não completou a sua coleção
e que não encontramos mais nas bancas...
O azul daquele meu terninho desapareceu
(a minha lembrança é visão que me persegue)
explodem bombas sobre um céu medroso
em tempos que não conheço nem a mim mesmo
e como um ilustre desconhecido caminho
sem medo de me encontrar com ela...
É tão normal as trevas que me cercam
(não há perigo, o perigo agora sou eu)
não deixarem confissão alguma de meus pecados,
mas se quiserem podem tomar nota aí:
eu conheci o segredo de todas as cores, todas elas...

(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

No Espelho

Menino Novo Que Penteia Seu Cabelo No Espelho Foto de Stock ...
No espelho vejo tudo, vejo nada, a vida escorrendo feito água, a vida correndo feito rio, vai dar no mar, mas não sabemos quando...
Revejo cada centímetro conhecido com estranheza, deve ser assim mesmo, até algumas palavras conhecidas me soam estranhas, isso do primeiro ao último momento.
No espelho vejo o mundo, vejo só a mim mesmo, um grande estranho, velho conhecido, com mudanças em cada segundo...
O que eu era, o que não mais serei, seu reflexo não é suficiente para iluminar o meu destino, triste destino, diferente e tão igual à tantos outros, tentativa e fracasso.
No espelho minha vontade, vontade alguma, de gritar feito uma fera, de me calar feito pedra, mas sou apenas os dois ao mesmo tempo...
Reflito como o vidro não reflete, como seria bom se nada fosse, se fosse tudo apenas diferente, mas nada deu certo e batia a minha cara na parede várias e muitas vezes.
No espelho eu sinto tudo, não sinto nada, a dor acaba se anestesiando e chamamos isso de nosso costume e até rimos ao deitar na cama de pregos...
Chego quase aos extremos, dar um soco bem forte na tua superfície, dar outro na cara dos canalhas que andam por aí, mas admito toda a minha fraqueza.
No espelho caio no riso, fico tão sério, repito essa dicotomia que é tudo o que temos, somos assim, beirando às raias da loucura, percebendo ou não...
Quase sinto os grãos de poeira invadindo minha janela escancarada, a do quarto e da alma, tudo se acumulará e não terá mais jeito de tirá-la, pelo menos de mim.
No espelho eu tenho tudo, não tenho nada, na verdade me sinto mais insignificante que um cachorro de madame, um vira-latas em desabrigo...
Tento fazer algo que preste, que valha a pena, lavar a louça, arrumar o quarto, varrer o chão, mas só consigo fazer alguns versos feios de genuíno desespero como são muitos.
No espelho vejo tudo, vejo nada, até parece que adivinho alguma coisa, mas foi apenas engano, um grande engano, pois estou morto e nem percebi...

(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...