quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 123


Faço poesia como quem rasga a velha fantasia, choro na praça, acabaram-se os motivos para sorrir. Quem quiser que ria, que brinque, cada um tem o seu normal. Lembro feito louco o que não volta, não adianta teima, não adianta birra, tido é inevitável. Minha modernidade é a velhice, velho castelo em ruínas, nem me lembro mais quem sou. Eu queria ser mais um herói, sou apenas mais um covarde, tantos andam por aí. O mundo é dos maus, não resta dúvida, essa é a natureza do que chamamos homem. Faço poesia como quem rasga a alma, se ela realmente existe, sobreviverá à tempestade chamada morte?

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O alarme não tocou
mas a cidade está sendo invadida!
Eis o sol teimoso como quê!
Não há aeronaves
mas milhões de passarinhos
agora sobrevoam nossas cabeças.
Cuidado! Cuidado!
Nuvens gordas agora
pulam alegres em bando...
Cuidado! Cuidado!
A alegria nos aborda
mesmo estando tristes...

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Eu te vi ontem. As ruas são assim mesmo. Trazem o que dói ou não...
Nos passos que o destino te deu pelo primeira vez pude rir. Os frutos que estavam no pé, deixaste lá e o que caíram no chão e apodreceram eram o que tinhas olhos. Nada mais então existe, até meus versos de desespero se esgotaram. Até aquele teu mar já secou, os rios são outras tantas veias secas sem mais nada. Só o meu circo continua como sempre foi antes, eu ainda acendo fogueiras em noites bem frias com alguma escuridão. Onde iremos? Podes ir, prefiro ficar aqui, também posso ser mal, é tudo apenas questão de lógica. Até o realismo pode ser fantasioso. Esperemos em silêncio qualquer final. Eu te vi ontem. As ruas são assim mesmo...

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Lilás em todos os matizes
O sol pra lá e pra cá
Bem debaixo de nossos narizes
Mas não queríamos enxergar

Tão óbvio como estar vivo
Como a maré a balançar
Balanço movimento motivo
Como respiro o próprio ar

As flores são as nossas atrizes
As folhas estão à bailar
Mesmo ignorando somos felizes
Pelo simples fato de sonhar

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Um tigre, dois tigres, três tigres. Todo complicado é bem simples. Andando rumo para tantas coisas que não precisamos. Foi nossa culpa tanta invenção. Foi minha culpa querer tanto. O menino nunca quis. Certeza é um espelho que o vapor da nossa ansiedade acaba embaçando. Deixem-me retroceder e dispensarei muitas velharias novas. O espaço que necessitamos é todo esse céu que aí temos.

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A menina envelheceu
Agora tem rugas e tem estria
O fogo se arrefeceu
Toda fogueira se esfria
Todo vivente morreu
Se a solidão faz companhia
Não procuro o que se perdeu
Minha alma é muito vadia...

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Qualquer andar é andar. E a crueldade de meus olhos tortos assim o sabem. Cada detalhe dessas ruas cheias de passantes me pertencem. Guardarei com um misto de zelo e ternura indiferente que até acaba doendo. Como dói tudo! Um cão sem dono é o que sou. Ou um passarinho que não sabe voar. Esqueçam a letra dessa música. Cansei de fazer essas pobres coreografias. As imitações baratas estão por aí. E muitas caricaturas para nossos pobres espelhos.

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