segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 132

Aqui ou lá? Onde está?

Toda guerra é estúpida 

e sem vencedores, todos perdem...

Toda riqueza é duvidosa

pobres ricos, ricos pobres...

Todo desamor é venenoso

mata ambos sem pena...

Toda desilusão acaba mal

tanto vivos, quanto mortos...

Aqui ou lá? Onde está?


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Palavras bonitas ou feias, pouco importa agora. Minha cara feia foi a única que pude ver no espelho. Não sei se agradeço ou não. Se fosse outra, não seria eu. Minha loucura mais que evidente, é tudo aquilo que possuo. Falo sozinho desconexidades que deixariam qualquer analista com os cabelos em pé. Eu me acostumei com tal fato. Meus sonhos mais impossíveis, é o que me resta. Os meus olhos continuam tortos e míopes e silenciosos, seu tempo é indeterminado, nem eu e nem ninguém sabe quando fecharão de vez...


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Eu não gostava de poesia. Por que haveria de mentir? Preferia os gibis que aprendi a ler quando criança, as histórias simples que papai e mamãe me recontava e eu não me cansava deles repetirem. Eu não gostava de poesia. Não sei se pela obrigatoriedade dos livros, mas eu não gostava. Mas gostei bem menos quando a tia me chamou na diretoria da escola, me deu aquele carão de me deixar avermelhado. Aí sim, fiz uma que não me lembro mais, mas ganhei o concurso e, por cruel ironia, não consigo parar...


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As mesmas ruas...

Todas elas são eternas!

O tempo engole as cores e as formas,

os homens matam as cores e as formas,

mas as ruas não conseguem nunca!

São nestas que invisivelmente

eu ainda sou a mesma criança

e meu pai dirige mansamente

aqueles nossos passeios...


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Infinitamente pelas tuas tatuagens vulgares

eu vou percorrendo mansamente a velha língua,

tudo cansa neste mundo,

menos a malícia que assassinou minha inocência...

Mesmo pobre e sem saúde, sou o medo em pessoa,

minha imaginação pode ferir ou até matar...

Como tenho vontade de rir e bem alto!

A estética sempre morre e morre feio,

a necessidade de um fundo musical já passou...


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Não tenho pena nem de mim...

Se tivesse, pararia de sonhar em vão,

não quereria mais nada

e esperaria a morte sem um gesto sequer...

Se quisesse, não tentaria parar de chorar,

não vale o esforço

se sabemos que é apenas o inevitável...

Eu sou como um passarinho

que tenta voar mesmo que atravesse

a linha de tiro de malvados meninos...

Não tenho pena nem de mim...


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Catam no lixo o que a sociedade nega...

É melhor jogar fora o que não se vendeu

do que dar para alguém que precisa...

A alegria alheia não nos interessa

é até melhor que eles sofram...

Como se houvesse diferença perante a morte

inevitável para todos os seres...

O corpo dos que fazem programa 

pertencem ao dinheiro que ganhei...

Para se ser apenas mais um covarde

não há idade, cor, gênero, raça que interessa...

Catam no lixo o que a sociedade nega...


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domingo, 27 de fevereiro de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 131


O pele-vermelha sem pele vermelha

de olhos estrábicos e machadinha de pau,

as penas pintadas de sei lá qual galinha...

Meu Deus! Roubaram meu carnaval...

Mais de meio século o rio já levou,

aquele rio tão feio, aquele rio malvado,

eu era tão feliz com tão pouca coisa,

por que me deixaram tão abandonado?


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Quando chegarão más notícias?

Elas chegam quase sempre...

Os homens lutam entre si?

Do primeiro ao último dia...

E quando isso vai acabar?

Todos nós esperamos por isso,

sobretudo os poetas...


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Eu quero viver de mais viver

não olhar um edifício sequer por perto,

o barulho dos carros doem meus ouvidos,

a fumaça das fábricas ferem meus olhos...

Me tragam de volta o que eu tive,

não pedi ninguém para levar,

quero as histórias em velhos sonhos,

tudo o que eu amava e foi embora...


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Era papel

depois foi tela

hoje é monitor,

era o céu

depois novela

hoje é desamor...


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Costume antigo esse, justificar o que não tem razão. Tenhamos pena de todas as guerras, todas elas, pequenas ou grandes. A distância não importa, quantas mortes acontecem por elas, todas elas são lamentáveis, todas preocupantes, mesquinhas e sem necessidade. Oremos pelos soldados nos campos de batalha e pelos pobres que morrem pela violência urbana.


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Não se meta em minha alegria,

não queira estragá-la,

ela é tão pouca e passageira,

mal dá pra encher meu prato...

Não censure meus maus modos,

eles são o que são,

são resultados do tempo

pelos caminhos que percorri...

Meus erros e meus acertos

são o que são - meus -

não há existe outro autor

e não há também outro carrasco...

Ainda consigo escutar os passarinhos,

esses que invadem as manhãs,

ficando meu pouco tempo

admirando tantas nuvens no céu...


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Ela era tão bonita!...

Eu sabia disso,

mas a timidez tapava minha boca,

nunca poderia confessar...

Eu fugia de seus beijos,

esses que não são por maldade,

que acabam sendo engraçados...

Estou aqui, estou vivo,

passados tantos anos e tantas marés

e, juro sinceramente,

queria tanto saber,

como estará a senhorinha

que você se transformou...


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sábado, 26 de fevereiro de 2022

Poema-Cansaço

Canso-me agora com qualquer coisa

sobretudo com o meu pulsar

Todos os sonhos como demoram

já cansei de tanto esperar...


A boa notícia que não veio

aquela carta que não quer chegar

O amor que voltou no caminho

até o tempo é tão devagar...


O tempo só possui a pressa malvada

de quem chega para me machucar

Machuca e vai embora rindo

nem se importa com o meu penar...


Estou cansado cansado demais

cansado até para poder me deitar

Quem sabe eu consiga dormir

para nunca mais acordar?...


In Lógica

 Lógica trágica

Fábrica mágica

O medíocre protegido é aplaudido de pé

Milagres banais bem de nada é aquilo que é

O paparazzi acabou mostrando a bunda

O talento é apenas um chocolate

Que derrete na boca da noite...

Uniforme desbotado

Alcoolizado embriagado

Todo pecado é quase uma redenção

Marginal vez em quando

Pássaro perdido do bando

Você carrega a razão

De que nunca vali nada mesmo...

Perigo eminente

Frequente indigente

Tenho mais de uma corda para ser enforcado

Língua pra fora fazendo careta

Baba escorrendo do canto da boca

Tragédia nascida dos antigos gregos

E um churrasco grego bem caprichado...

Um copo de suco

O japonês na academia

A verdade mentirosa, mas quem diria?

Do que você está rindo?

Do seu julgamento de Deus

Pra me deixar apenas feito um fodido

Ou até um fodido e meio?...

Um rock tocando

Me animo e eu não sei

Alguns xaxados eletrônicos ainda caem bem

Pelo direito natural de fazer qualquer merda

Em qualquer ocasião e qualquer lugar

Meus pecados são como minhas tatuagens

Nunca neguei minha monstruosidade...

Vento com delícia

Inocente malícia

Total liberdade de nossa linda cela

Vamos aguardar o fim de nossa novela

Com os passos do meu cavalo manco

Numa escuridão que beira ao branco

Eu acabei de chegar faz tanto tempo...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 130

 

Não é o mundo que gira, 

sou eu...

Giro até ficar tonto

e pronto...

A história não se repete,

eu que repito...

Já fui criança

e era bonito...

Foi tempo de alegria,

foi um dia...


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Ando por estradas de dúvida,

onde há muitas emboscadas e armadilhas...

É o encanto que me cega e faz que continue...

O ouro da fantasia me cega,

gosto de sair procurando todos abismos...

É a procura que me engole o tempo...

O tempo tem vários compromissos,

não fica muito tempo em suas visitas...

Um dia ele não estará mais aqui...


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Eu tento ser feliz como as rosas,

na estação das rosas,

mas acabo me enganando

e chego fora do tempo...

As rosas já partiram,

as folhas morreram, 

restaram apenas os espinhos...


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Toda história é mal contada,

sobretudo humanos dramas

Sou testemunha ocular disso

quando não entenderam 

os amores que um dia tive

Não! Não! Não 

era para estar aqui sozinho...


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Sou apenas um grande debochado,

meu ofício é rir perante o espelho,

desconheço se rugas são tristes,

se as marcas de sabonete e creme dental

na superfície do vidro são testemunhas

de dias não felizes que passaram...

Sou apenas um grande debochado,

faço caretas como um débil mental,

sem me preocupar com nada,

se os fracassos se repetirão hoje

ou se algumas notícias amedrontantes

se repetirão na maldita tela...


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Bate na lata a La Ursa

meninos descalços e donos do mundo...

Sua alegria é tão grande

para rirem até da morte...

É carnaval ano todo

e as moedas farão o milagre dos doces...

A La Ursa quer dinheiro,

quem não der é pirangueiro!...


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Sou o que sou...

Um dia morrerei

de falência múltipla dos sonhos...

Nesse dia será inútil

ligar pedindo a ambulância,

os paramédicos perderão 

seu mais precioso tempo...

Mas se quiserem

tirem suas fotos

e postem nas redes sociais...

Pode com certeza

se transformar num viral:

mais um pobre poeta que morreu

de falência múltipla dos sonhos...


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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Poética do Nada

Hoje choveu?

Talvez não...

Não sei...

Ainda não abri a janela do meu quarto...

Os sons enganam muito...

Estamos tristes?

Depende...

Pode ser...

A tristeza possui muitos nuances...

Alguns até engraçados...

Posso voar?

Talvez sim...

Nunca se sabe...

Minhas asas andam enferrujadas...

Há muito não voo...

Vai haver festa?

Pode ser...

Sempre há...

Mesmo sem ter alguma alegria...

Todos comemoram...

Está calor?

Acho que sim...

Todos dias têm...

Mesmo que sejam a nossa extinção...

Seremos cinzas...

Hoje choveu?

Acho que não...

Nem sei...

Meu peito continua ainda fechado...

O nada acaba me preenchendo...

Não Há Mais Dia (Agora Só Existem Noites)

Agora só existem noites... 

A festa acabou,

O barco partiu,

A tristeza sorriu,

Nada adiantou...


E perdido no meio da noite estava eu...


Agora só existem noites...

O sono bateu,

O álcool subiu,

O tolo sou eu, 

Todo mundo já viu...


E o perigo estava à minha espreita...


Agora só existem noites...

No carnaval de luto,

A tristeza sorriu

Do meu amor bruto

Que eu mesmo rio...


 Há coisas piores que a morte...


Agora só existem noites...

O olho fechou,

A dor me atingiu,

Ninguém se culpou,

Ninguém assumiu...


As rugas aparecem para todos os rostos...


Agora só existem noites...

O lamento ecoou,

A ferida se abriu,

A flor já murchou,

A folha caiu...


Antes que o sol venha preciso voltar para casa...


Agora só existem noites...

A alma acostumou,

Não sinto mais frio

E se a solidão chegou

Eu ainda rio...


Nem o caminho eu conheço mais...

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 129

concreto aço poeira

tentar viver? besteira...

a vida passando ligeira

por onde? esteira...

tudo é uma feira

seu valor? a carteira...


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copos vazios em cima do balcão

temos certeza de alguma coisa?

alguma filosofia nos salvará?

muitos mártires nas fogueiras

e quase nada (?) mudou...

flores arrancadas por brincadeiras

haverá aqui algum pedaço do céu?

os homens se fantasiaram de santos

mas os demônios continuam...

só o tempo ensina a desilusão

e mostra tudo como realmente é

viva os bêbados os loucos

os velhos e as crianças...


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eu vejo as marés 

um sobe-e-desce sem fim...

assim somos nós...

rimos e choramos

choramos e rimos...

até quando a nossa lua termine

e aí não teremos mais...


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Eu era aquele menino...

Ia para o sítio vazio brincar...

Fazia ele maior que o mundo...

Olhava com medo o túmulo

do pequinês que fizeram no jardim...

Tomei um susto 

com a cobra que vi lá em cima...

Olhava com inocência

Dalila só de calcinhas 

ela gostava de ficar assim...


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alguns segredos estão mais evidentes

por isso, não conseguimos ver...

tudo passou, menos certas memórias...

eu não sou Bukowski e nem serei...

seu sucesso marginal

não é o meu e nunca será...

agora, se perguntar qual o mais triste

de todos os poetas, esse sou eu...


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os bobos riem, os poetas choram

mas tudo no mesmo palco

um palco onde a plateia está vazia

todos somos atores...

cada um que apresente seu drama

exponha seus erros

e peça interminável perdão por eles...

quem sabe o carrasco tire folga?

há tanta sujeira sob os tapetes...


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Nestes bolsos do velho paletó

há relíquias sem preço...

Carnavais passados cheios de alegria

que há muito não tenho,

Esperanças mortas e ressequidas

como folhas ou pássaros,

Razões para viver enquanto der

mesmo sabendo que o tempo está pouco...

Nestes bolsos do velho paletó

escondi-me de mim mesmo...


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Poema Feito Confissão

Talvez com tanto tempo já corrido

ninguém mais o alcance

e para tudo o que aconteceu

uma cova rasa baste...

Eu sinto um rubor em minhas faces

apesar de estar tão frio...

Uma feira livre acontece aqui

e minha mente bambeia

como quem lá do alto

só aguarda cair finalmente...

Eu sou o pássaro infeliz

que esqueceu das asas para voar...

Que a boca fique fechada

que nem um cofre velho e enferrujado

com alguns muitos segredos

de que nada vão adiantar...

As estações acabam mudando

sem dar aviso algum...

Minha verdadeira e derradeira culpa

foi apenas ser humano

e cair de paraquedas

em cima de um campo minado...

Levanto os braços pedindo ajuda

mas essa ajuda nunca virá...

Pego papéis e faço cálculos

são muitos os meus planos

para uma felicidade talvez tardia

que nunca irá enfim acontecer...

Não é questão de pessimismo

é apenas questão de lógica...

Já atravessei por vários tempos

em que a maldade me visitou

como eram cruéis os moços

que nunca confessariam seus erros...

Tento falar novas palavras

mas os males continuam antigos...

Cansei-me de tentar ser o que não sou

usar máscaras que caem do rosto

colocar velhas fantasias rasgadas

que já não significam mais nada...

As cadeiras sumiram da calçada

pois o sossego foi embora com elas...

Eu sou apenas um reles sobrevivente

confessando os meus amores antigos

aqueles amores que ainda existem

mas que não aparecem mais na tela...

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 128

Eu encho meus pulmões da fuligem do dia, é mais uma simples comédia. Meus ouvidos são invadidos pelos gritos dos carros, tão desesperados estão. Como se acostumar com o normal quando ele não é normal? Eu peço mais uma dose de veneno no bar, pode ser que um outro mal invada meu corpo. Nossas almas já estão há muito invadidas, são essas maldades que tentamos justificar. Como ganhar uma corrida que inexiste num jogo de regras sujas? Eu faço uma oração enquanto Deus tapa os ouvidos, é um menino que finge cantar disfarçando enquanto olha para o outro lado. Eu não passo de um complicado quebra-cabeças, só no final notarei que sempre faltaram algumas peças. Todos nós viemos com defeito de fábrica? Eu encho meus olhos de saudades que não possuem cura...


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Qualquer dia desses eu me revolto... Rasgo a roupa que comprei em homeopáticas prestações que me atrapalham de qualquer forma minha vida miserável de assalariado idiota. Muitas modas já passaram, essa também passará... Qualquer dia desses eu me iro... Grito todos os meus segredos em praça pública para que todos ouçam sem sentir um pingo de pena de mim. Já existe tanta apatia nesse mundo, mais uma não fará muita diferença... Qualquer dia desse eu viro nuvem... Não quero mais pisar no chão e quando pisar irei me esconder entre outras águas até poder subir novamente. As pessoas de nada aproveitam e só se degladiam...


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Fechei o caderno, quebrei o lápis, joguei fora a caneta. Agora serei apenas um andarilho das palavras, não vou escolhê-las, elas que agora me escolherão. Farão de mim o que quiserem. O tempo sempre cansa, estou cansado. Cansado até de uma fé que não leva para lugar nenhum...


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Fomos o que fomos, opressores ou oprimidos. O tempo já passou, mas as marcas continuam, feridas profundas demais. A cura? Só a morte resolve determinadas questões. Não há inocência nos moços, somos apenas canalhas de cara bonita. Tudo o que temos de ruim nesse mundo é nosso, a podridão foi espalhada por nós, assim como os que vieram antes também o fizeram. Toda história é um círculo vicioso, um dia o mundo aprenderá isso da pior forma possível...


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Sonho cego,

música triste,

o coração tem apenas um pedaço,

sobrevivente...

Vamos bailar sobre os escombros

de nós mesmos...

Sonhar o amor 

que nunca tivemos e nem teremos...

Eu calo a boca num canto,

apenas um pássaro ferido,

a pedra do destino atingiu-me

em cheio... 

Mortos os sonhos,

só sobraram muitas cicatrizes...


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O carro colidiu,

O carro da nossa história

Onde viajavam nossos sonhos...

O prédio caiu,

O prédio de nossos desejos

Que nunca satisfaremos...

O espelho quebrou,

Não posso ver o choro

Que me acompanha sempre...


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Fiz tudo o que podia,

tentei fazer uma escada

que subisse aos céus...

Fui até a exaustão,

por amor (ou desamor?)

que não valeu a pena...

Tentei ser mais humano,

mas a minha maldade

não me deixou...


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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Talvez Seja Cedo

A cama forrada com um lençol verde

Nossos vícios convertidos em virtudes

Eu olho para o lado tentando disfarçar

E sentir um pouco menos o cheiro da podridão...

Todos os objetos desarrumados pelo quarto

Como se fosse o próprio mundo que temos

É o que tem para hoje, o que tem para agora

Crimes cometidos em todos os nuances possíveis...

Alguém que eu mal sei o nome dorme ao lado

Como se o sono adiantasse alguma coisa

Logo que acordarmos nossos fiéis pesadelos

Virão então tomar conta do nosso pobre tempo...

Mais uma morte e mais uma nova ideia

Sobre como será o nosso próximo espetáculo

Precisamos de palmas e precisamos de likes

Como os tarados que se masturbam compulsivamente...

Fazemos qualquer negócio ao alcance das mãos

Estalamos os dedos e a mágica então acontece

Bater de cara com a parede é a tarefa de casa

Sangrar nosso nariz é nossa mais fiel proposta...

Eu pagarei o michê com o dinheiro das compras

Cada um tem suas trinta moedas de prata

Não vamos mais esperar esperança nenhuma

Um grito quebrou todo o silêncio da madrugada...

Só posso sonhar com aquilo que não consigo

O meu bloco de sujo sai sambando pelas ruas daqui

Somos apenas cegos que afinal enxergam

Nossa mudez é expressa em veementes discursos...

Talvez ainda seja cedo demais e nem percebi

Vou tentar olhar para a parede e dormir mais um pouco...

 

domingo, 20 de fevereiro de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 127


Luto e luta,

festejo, enterro,

versos desperdiçados

em eternas contradições...

O herói de repente

se transformou em vilão...

Inverteram-se os papéis

do médico e do monstro...

Talvez seja assim,

quanto mais saudade, melhor...


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Não escolhi,

não há paraísos onde fugir,

nem satisfação garantida

ou alguma devolução...

A sorte desconhece meu endereço,

a solidão sabe de cor,

o desamor de vez em quando me visita...

Qualquer dia desses

eu tranco a porta

e jogo a chave fora...


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A menina tímida 

sonhava com todas as cores do mundo,

queria poder tê-las todas dentro de si...

O menino risonho

queria todos os sons possíveis

dentro de sua alma...

O poeta triste

acabou engolindo todos os versos

e faz que eles saiam de um em um...


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Sou cavaleiro de tantas águas

que já me esqueci de várias delas...

Sou autor de tantos absurdos

que até me admiro deles...

O medo acompanhou-me 

para todos abismos que fui...

Usei tantas fantasias

e agora não sei mais quem sou...

Amigo de tantas nuvens

vago pelos céus quase sempre...

Dormi noite passada 

entre as flores de um jardim...

Sou cavaleiro de tantas águas

que já me esqueci de várias delas...


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Minha mãe desenhava sóis na areia molhada,

eles deveriam estar sorrindo,

para que lá em cima, bem atrás das nuvens,

o sol pensasse que era sua imagem no espelho

e voltasse acabando com a chuva...

Meu pai me colocava ao seu lado,

no antigo automóvel preto,

íamos então passear gostando de passar

por aquelas ruas tão antigas

cheias de um silêncio quase solene...

Eu ficava ao lado do meu pé de laranja

que residia no antigo e pequeno jardim,

esperando por tantos e tantos sonhos,

que teimavam em nunca chegar

e que eu pensava estarem à caminho...


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Quase nua, 

bem na rua,

é a lua...

É a noite  guiando meus passos de vagabundo,

andando e andado por aí, pelo mundo...

Quase tal,

minha nau,

tão igual...

Os meus sonhos estão me perseguindo,

como aparições vão surgindo...

Faltam-me notas para minha canção,

me causando quase uma aflição...


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Olho para mim, dispenso espelhos,

o que eu sinto é o suficiente,

os medos até me ajudam,

para que possa me sentir gente,

até  determinadas tristezas,

podem me fazer contente...


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Espiral de Loucos

Nada mais, nada menos,

estas antigas feridas ainda me incomodam,

mesmo sem dor alguma,

antigas sombras feito fantasmas...


Eu danço com um buquê de girassóis,

pela feira livre

pedindo piedade dos que passam...


Nada tenho, nada quero,

exceto os velhos brinquedos que roubaram,

coleções de mim mesmo,

a alma pedaço por pedaço...


Eu rio sem qualquer explicação,

para mostrar

o que sobrou de meus pobres dentes...


Nada canto, nada calo,

somente saem berros da minha garganta,

quero poder acordar

todos os que estão mortos...


Eu faço muitas caretas,

estou na frente

de um grande espelho imaginário...


Nada respondo, nada pergunto,

a minha curiosidade pode ser perigosa,

o mundo de hoje

pertence a todos os idiotas...


Eu rolo no chão,

sou um porco

e cada um tem seu chiqueiro...


Nada como, nada bebo,

já me cansei de tantas correntes,

os portões e as portas

que sejam logo abertos...


Eu quero minhas asas,

sinto saudades

do tempo em que voava...




sábado, 19 de fevereiro de 2022

Um Real de Pão




Um real de pão

Um real de não

Um real de são


A miséria exclui opções de escolha

Ri da maioria e chora com poucos

A riqueza constrói para si uma bolha

Neste grande asilo cheio de loucos


Um real de pão

Um real de cão

Um real de vão


A justiça não justifica quase nada

O criminoso rico compra o advogado

O criminoso pobre entra na porrada

A razão acabou de escolher seu lado


Um real de pão

Um real de grão

Um real de mão


A covardia pode ter mais coragem

A mentira vive coberta de verdade

É um grande pesadelo esta imagem

Cartão postal dessa nossa cidade


Um real de pão

Um real de dão

Um real de tão


A pobreza anda com a roupa rasgada

A rua é sua mais verdadeira moradia

O preconceito transforma em nada

Qualquer coisa que seu valor teria


Um real de pão

Um real de não

Um real de chão...


(Extraído da obra "Palavras Modernas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...