quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Drogadição Poética da Realidade



E se me queimo e se me posso,se me teimo e se me coço, e se blasfemo e se me roço, nessa roda-gigante, depois e antes, sem tempo certo, de peito aberto, de muitas vidas, inteiras, maneiras, tão divididas, feridas...
E se me tomo e se me como, se me engulo, se anulo, se me engasgo, um só trago, um só gole, a vida escapole, a esperança mais nada alcança, já foi traído, já foi vendido, nada mais...
E se me cego e se me entrego, se não me entrego, se me estou quebrado, se tu me negas, eu faço as regras, quebro o pote, sem que me note, a alegria nem me notou, não sei quem sou...
E se me ataco e me tonteio, se sou velhaco, entre no meio, tudo é torneio, tudo é disputa, tudo é a puta que me acena, se me condena, se me consola, se me premia ou se me esmola, tanto faz, sou nada e ás...
E se me perturbo e se me adormeço, e se me masturbo, por um bom preço, e se me subo ou se desço, pois é na cova ou é no berço, me dê uma sova, ou seu endereço, é só pedir fim ou começo...
E se me torno doce ou se me fico salgado, e se eu trai e se fui enganado, e se me fingi ou se me fiz drogado, e se me saí coberto e se me saí pelado, e se me rir demais ou se me fiz sério, e se me soltei e se me fiz mistério, não sei, é por conta da onda, não sei se a terra é plana ou redonda...
E se me fingi de bom e se me fingi de mal, e sem sair do tom ou feito bacurau, e se me fiz de dia (era quase dia) e era carnaval, e se me ataco  e se me defendo, e se me faço um caco e se me vou moendo, o surdo escutando e o cego vendo, o mudo discursando sendo ou não sendo...
E se me junto com o malfeitor e se me desafio pelo meu amor, e se me descubro com meu cobertor, e se me fico rindo cheio de dor, e se me acinzento com o meu azul, se me faço lento e se me vou por sul, tudo morreu, até o tal de blue...
E se me queimo e se me posso,se me teimo e se me coço, e se blasfemo e se me roço, nessa roda-gigante, depois e antes, sem tempo certo, de peito aberto, de muitas vidas, inteiras, maneiras, tão divididas, feridas...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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