sábado, 12 de setembro de 2020

Alguns Poemetos Sem Nome Número 78

Eu ando na corda bamba como quem falta a corda, cai no ar tentando ser um gato e não consegue. Eu estou evitando me mirar em espelhos, eles são cruéis dando-me notícias que evito saber. Os dias são ruins e os tempos difíceis, a normalidade agora é quase impossível e o comum acabou virando o incomum. Eu tento mirar as estrelas através de barreiras de nuvens escuras, diferentes das que eu gosto de mirar vez em quando fazendo bonitos e distraídos desenhos. Eu quero um  pouco mais de alegria do que a talvez eu tenha direito, mas a tristeza é a mais pontual de minhas visitantes. As loucuras transformaram-se em um tédio que me sufoca e me envenena rapidamente que nem tenho tempo para pedir socorro. Deixe-me bailar em pleno ar mesmo que falte-me alguma mágica para isso...

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O que foi já foi
mas continua sendo
pois tudo permanece
eu é que estou morrendo

A luz vem lá de cima
mesmo como céu escurecendo
pois essa noite é em mim
e eu estou quase adormecendo

Não me desespero
mesmo com o medo crescendo
e com tantas maldades
que os meus olhos vão vendo

O que foi já foi
mas continua sendo
se a brasa arrefece
meu amor ainda está acendendo...

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Não exijo muito da vida
chamem o menino triste
para tocar flauta pra mim
chamem a bailarina sonhadora
para me acompanhar
juro que todas as minhas palavras
do mais puro dos afetos
surgirão sob o sol
e eu voarei junto aos pássaros
só peço que me perdoem 
se não voltar...

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Lamento como são a maioria das pessoas, esqueceram das coisas mais importantes em troca de ilusões malfeitas que desperdiçaram seu tempo para conseguir. Seus caixões são pequenos, suficientemente pequenos para caberem o que ainda lhes restava e não resta mais. Seus bolsos estão furados, o tempo faz isso com todos eles, se não distribuirmos o que temos de mais caro, a vida se incumbirá disso sem ser convidada. Sua beleza será jogada junto de sua mocidade em uma lata de lixo e o lixeiro virá fazer seu trabalho exatamente no dia que foi marcado. Sua fama será legado ao futuro e o futuro não sabe bem do que aconteceu, mostrando suas versões erradas de cada dor e de cada alegria. Lamento muito pelos tolos que acharam que o amor e a felicidade podiam ser vividas sozinhas. Lamento muito...

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Etílico como poucos
triste como muitos
a vida é apenas um movimento
que se obedece por teimosia
a fisiologia supera
todas as nossas pobres metas

Bárbaro como alguns
rude como alguns sós
a ternura me salva por um triz
dos venenos que fabrico
a esperança nos maltrata
com a melhor das intenções

Mesmo que não queira
ainda me lembro de atordoações
que foram até doces ou amargas:
a primeira tristeza 
e o primeiro beijo na boca
isso me é suficiente para a eternidade...

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Todo parto é doloroso

seja ele o parto dos seres
ou o parto das ideias

Toda obra consome 
o seu pobre criador 
mesmo que não aparente

Todo o tempo que corre
acaba nos levando
até onde não queremos

É isso e somente isso
que nossa linguagem 
acaba chamando de vida...

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Meu roteiro de seguras ilusões!
Guia-me pelo caminho que assim o queira,
não se incomode que eu sofra com isso, 
sofrer faz parte deste nosso árduo itinerário...

Meu engano de palavras tão gentis!
Desde há muito eu segui por este caminho,
mesmo sabendo dos perigos que encontraria,
perigos estes menores do que eu mesmo...

Hei de economizar algumas preciosas palavras!
Talvez em breve o meu silêncio enfim se acabe
e eu posso gritar finalmente o que não gritei
e mesmo que todos riam possa dizer: eu te amo...

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