Não mire dentro dos meus olhos, deixe que eu siga meu caminho em paz ou pelo menos naquilo que eu pretendo que seja. Nem eu sei se isso é pressa ou cansaço, paradoxos existem e muito. Eles possuem a profundidade de certas escuridões e poderão te devorar em questão de apenas alguns segundos...
Não me dirija a palavra, respeite este meu silêncio que solta gritos pelas ruas por paixões mais fúteis e impossíveis. Não sei se isso vale a pena ou não, errar é humano e eu ainda o sou. Mesmo quando a dor quase me fez um bicho feroz e desembestado por lugares de escuridão...
Não ligue para meus gemidos, sofrer é apenas passar o tempo enquanto estamos neste pesadelo chamado vida. Tudo não passa de um quebra-cabeças que só descobrimos que falta uma peça depois que o montamos com desnecessário cuidado. Quando menos se espera é que o tiro atinge o alvo...
Eu me esforço para ser o mais moderno possível, ganhar todos os "likes" que estiverem o meu alcance, ser a mais nova e efêmera celebridade, fazer minha imagem ser o viral do hora, do dia, da semana, do mês, do ano ou do até sempre.
Eu construo a nova língua, o novo gesto como quem debocha do que já existia como os pombos que defecam em cima das estátuas nas praças, como o cão de rua que levanta a perna traseira e...
Mas mesmo assim tenho medo de desaparecer...
Como desaparecem as pessoas em números de estatísticas das vítimas da fome, da guerra, da pandemia, desastres de incêndios ou qualquer coisa que cause alguma insincera comoção...
Não ligue para o cigarro que eu fumo e deixa um cheiro terrível na velha roupa, para o meu violão que arrebentou a corda sem que eu aprendesse a tocar, pro chiclete que eu pisei em cima e grudou na sola do meu tênis velho... Não ligue para a minha malícia sem explicação, minha curiosidade em ler as lápides ou os anúncios pregados nos postes...
Não ligue para o cheiro de cachaça na boca, para o perfume barato que eu comprei da revista, se sou desinteressante como toda pessoa é um pouco... Eu escrevo versos por vício, assim como a vida é mais um deles na nossa interminável lista que vivemos fazendo...
Só peço que espere assoviar uma canção já esquecida desse coração fora de moda...
(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).
Nenhum comentário:
Postar um comentário