quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Alguns Poemetos Sem Nome Número 80

Eu me faço em centenas de pedaços e me recomponho inúmeras vezes. Como um vidro mais ou menos mágico. Eu escolho palavras sutis para falar o que nem compreendo e acabo caindo de cabeça no asfalto quente. Como um mártir mais ou menos moderno. Eu tenho até alguns sonhos bonitos e ao acordar acabo vendo que a realidade é mais que um pesadelo. Como bombas explodindo sem avisar. Eu sofro mais do que cão de madame e tento abanar a cauda que não tenho. Com um matemático usando lógica para coisas ilógicas. Não há mais jeito pois o dia nasce...

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Só espere de mim
o pouco que posso lhe dar
Um resto de sorriso
que sobrou duma alegria morta
Alguns versos da canção
que esqueci a letra toda
A fumaça que sobe
quando a chama se apagou
Não espere mais nada
pois tudo é muito fugaz
e a vida mais ainda...

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Sem mar, sem abrigo, apenas um na noite mais escura. O possível mandou-me lembranças e diz que, qualquer hora dessas aparece por aí. Sem mar, sem espuma, apenas alguns traços. Quase que todos apagados duma saudade que perdeu seu nome e não encontrou mais. Sem mar, sem marola, parado feito um desenho. Nem a minha loucura foi suficiente para salvar-me desta aflição. O chão agora é de areia e os ventos fortes demais...

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Fumaça incômoda
que foi chamada
me diga logo:
por que a vida foi errada?

Não sei dizer
vou dizer não
pergunte logo -
ao seu coração

E se ele (pobre)
não puder dizer?
foi por este motivo -
perguntei pra você

Eu tenho pressa
vou logo embora
não fique triste:
eu respondo outra hora...

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Escuto barulhos de pássaros surgindo no imprevisível que surge. O dia clareia, mas só o dia. Muitos já com pressa, outros não. Faz parte desse enorme quadro. Uns acordados, outros dormindo até o próximo susto, outros dormindo outra vez. Vivos e mortos convivem, os fatos se esquecem, as consequências nunca...

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Eu sei que é contradição
quando eu contradigo
todas as coisas que digo
mas afinal eu nem ligo...

Nada assim permanece
tudo se transforma
a essência e a forma
depois de tudo se conforma...

Eu sei que sou contraditório
quando eu me contradigo
e sou meu amigo e inimigo
mas afinal eu nem ligo...

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Flores pisadas, amores machucados, os pêndulos e apanhadores-de-sonhos imóveis, cheios de poeira e sujeira de mosca. Papéis amassados na lixeira dos sonhos, poemas que não serão mais escritos. Embalagens vazias jogadas pelos cantos feito nós. Calor e frio numa disputa acirrada. O exterior quente, o interior frio. Vamos comemorar? Comemorar o que? Não sei. Apenas comemorar essa continuidade louca da vergonha que todos nós escondemos num esconderijo inútil.

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