segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Alguns Poemetos Sem Nome Número 79


Sem surpresas
somos apenas as presas
de uma constante involução
invertam-se o sim e o não

Sem verdades
somos os novos covardes
de uma manifesta inquietação
andemos para o pelotão

Sem estimativas
somos as mortes vivas
sem resposta para a questão
somos fantasmas lá no porão...

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É estranho constatar isso: as alegrias estão cada vez mais raras, estranhos cada vez a nossa presença. Talvez a verdadeira culpa disso seja nossa: perdemos o nosso tempo querendo alcançar sonhos que não aproveitaremos depois de conquistá-los; aceitamos desafios desnecessários que só oprimirão os outros contendores; destruímos tudo ao nosso redor por pura vontade de demonstrar que somos os piores. A casa caiu, a cidade desabou, as flores foram pisadas, tudo acabou e depois disso, apenas choramos...

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Muito ou pouco já vi
(é que não consigo me lembrar)
Muitos ou poucos lugares andei
(o cansaço não dá explicações)
Foram muitos amores ou nenhum
(o coração é que poderá dizer)
Escutei muitas canções ou nenhuma
(o final de tudo vem logo adiante)
Escapei ou não de armadilhas
(foram muitos pedaços que perdi)
Mas mesmo assim não sei o que restou...

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Talvez seja apenas isso: cair num sono perpétuo até não poder mais. Todos os ciclos repetindo-se sem se importar com o que está em volta. 
Talvez seja apenas isso: um arranjo de palavras mais ou menos exatas. Será apenas uma ilusão pensarmos que existe alguma dicotomia.
Talvez seja apenas isso: nada do que eu queria me interessa tanto agora. Toda hora é hora de partir e nenhuma hora de chegar está marcada.
Talvez seja apenas isso...

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Rasga o céu todas as cores
e a tempestade se aproxima
Onde iremos nos abrigar?
Caem as gotas como desencantos
ou um choro qualquer esquecido
Onde haverá algum refúgio?
Eu já passei por tantas delas
que mais uma pouco importará
O verdadeiro perigo
é quando o medo vai embora...

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Está em falta, uma razão sem razão invade praças e jardins. Nada que nos console, ser humano já é algo perigoso, ainda mais quando muitas mentiras são aceitas. No alto satélites e aviões cobrem no céu e uma chuva negra se aproxima com a rapidez de um pensamento por impulso. No chão o lixo jogado nos lembra debochadamente como somos cidadãos de bem. Tudo é falto, tudo é falso, como o anel barato que a puta velha exibe com o sorriso faltando vários dentes. Tudo conforme recomendam os manuais. Até a esperança não espera mais nada...

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Palavras palavras
palavras tantas
palavras santas
ninguém estava

Palavras palavras
e no entanto
não há espanto
ninguém gostava

Palavras palavras
palavras certas
palavras abertas
ninguém sonhava...

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