terça-feira, 30 de julho de 2024

Todos Os Segredos Quase Comuns

Cuidado ao quebrar as correntes

Até a liberdade pode ser

Uma forma disfarçada de prisão...


Declarar sua total inocência

Pode ser só a máscara

Que vai dar na mesma escuridão...


Cuidado ao tomar o remédio

Pois todo excesso conduz

À uma possível intoxicação...


Todo disfarce quando mal feito

Pode ser a causa

De nos perdermos na multidão...


Cuidado ao fazer tantos carinhos

Escadas tão arriscadas

Podem ir parar numa contramão...


Todos os segredos são banais

E o destino pode aprontar

Lhe fazendo sofrer por diversão...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 279

Andar como nunca andei. Antes com pés mesmo que cansados. Hoje somente com a alma. Dias e dias sem atravessar o portão para a rua. Perco muitas novidades. Mas a solidão acaba me trazendo outras tantas. Cada detalhe agora é percebido. Meus olhos são mais solidários. Não abandonam tanto como antes. Andar como nunca andei. Usando asas agora...


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Posso repetir? Algumas rimas que me aprazem tanto, eu as repetirei sempre e sempre. Não gostou? Pule as linhas, os parágrafos, páginas inteiras se tiver vontade. Não que assim eu desejo, virou força do hábito, um simples costume que não posso nem evitar. Feche o livro e faça dele o que lhe aprouver. Me sinto um cão vira-latas mesmo. As ruas estão aí...


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Ao primeiro passarinho que escutei hoje, meus sinceros respeitos. Para mim começou o dia, eis a verdade. Não são as notícias que vejo na internet que começaram ele. Não são os bons-dias que dei na rede social. Nem tão pouco os passos que dei em minha triste casa. Você já fez a sua parte, meu caro. Mais do que os passos apressados de tristes seres humanos em direção às fábricas que os mastigarão novamente. Meus sinceros respeitos, sempre...


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Faltou um nome para isso. Procurei com avidez no dicionário, foi em vão. Haviam milhares e milhares de palavras diferentes. Umas grandes, outras pequenas. Umas simples, outras mais complicadas. Usadas em ocasiões especiais, outras no dia-a-dia. Mas todas elas, apenas palavras. Faltou um nome para isso, um substantivo que valesse a pena, algo que simplificasse um pouco mais para designar; amor excessivo que sinto por você...


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Estático, fantástico. A fumaça sai do cigarro e aos poucos invade o ar. Sereno, ameno. Conformei-me com certas dores que afligem qualquer cotidiano. Escola, esmola. Todas as chances que a vida nos dá são soluções para problemas que ela mesma criou. Festejo, desejo. Os dois lados da mesma moeda são apenas mais uma farsa nesse jogo de improbabilidades. Prenda, venda. Nossa tolice acaba nos acompanhando por semanas e mais semanas como doença contagiosa. Espera, quimera. Qualquer fantasia vai acabar no próximo momento...


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Tome cuidado: Sua simplicidade em excesso acaba virando mediocridade como já virou moda por aí. Enxergue bem: Nem toda unanimidade pode aquilo que queremos e nem sempre a estética anda de braços dados com a atual moda. Use seus sentidos: Eles apresentam suas falhas evidentes, mas são aquilo que temos para não cairmos nas armadilhas de nossa própria pequenez que vem disfarçada. Seja humilde, mas não seja tolo; seja terno, mas cuidado com os machucados que a ternura pode causar...


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Fui surdo para meu próprio canto. Fui cego para a fantasia que construí. Não prestei atenção nas nuvens que passavam formando belos desejos. Desprezei as águas que corriam e esqueci que elas que me levariam ao mar. Fiz do meu andar por todas essas ruas apenas mais uma via-crúcis sob um sol mais ou menos ameno.

segunda-feira, 29 de julho de 2024

Naum Expricu

 


Naum expricu, naim teim expricação,

Sofá num é caima, isteira num ié coichão,

Escreivo eirrado, sóy mais um num taintão...


Coinfundo paica cum vaica, poirco cum leitaum,

Queim anda cum us pié taimbém comi cum a mão?

Voy lái nai hoirta veir si encontru um pié di limaum...


Baibaca ié u gaito qui num faiz traito cum caum

Pailanca nigra! Pailanca nigra! Beirranham feitu bizerrão

Pulanca ceiga! Pulanca ceiga! Tu ié um maundrião...


Qué dainçar xaxadu? Hoije vai teir um xaxadaum

Vair tê piinga di maindiga qui nem saimba nu aviião

Prepaira tuia roipa noyva pra boitá buinda nu chaum...


Poimbagira goista de miim miim chaimou de irmaum

As cairolas da ingrejinha neim faizem queistão

Di maistigar peidra juntu cum sucu de meilão...


Boito leitra ondi quisé boito aité nu teiu cuizão

Boito seibo nai caineleira aité tui tê indigestaum

Kazaki! Hazaki! Biribai num faiz questaum...


O paito caisou cum a paita teive aité comemoraição

Veinto di lái veintu de cái issu ié pá tu seiu mailandrão

Goiroroiba friia dai meido neista escuridaum...


Naum expricu, naim teim expricação,

Sofá num é caima, isteira num é coichão,

Taynayra ié taum gostoisa qui mi day muinto teisão...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Pintura Irreal

Tudo é quase sempre igual

As sílabas contadas métrica medida

O diferente é quase normal

Um quase carinho uma quase ferida


Eu berro porque não erro porque acerto

Estou sozinho com o mundo sempre tão perto

As paredes estão todas cheias de grafites

E nunca sabemos quais são os seus limites


Tudo é quase sempre igual

Um inseto voando quase desnorteado

O diferente é mais um temporal

Que caiu no futuro de um verão passado


Eu berro porque não grito porque me calo

Estou sozinho no chão de estrelas bem no alto

Toda minha vida não foi mais que um intervalo

Um grande susto, uma tragédia veio de assalto


Tudo é quase sempre igual,

Só o pintor, sem tela, sem tintas, sem cor,

Somente uma pintura irreal...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sexta-feira, 26 de julho de 2024

Chicrete Com Bagana

 

Ai, é assim e assim mesmo...

Loucura não dá em lata e nem em mamão

Eu sou condecorado com tampinha de garrafa

Meto a cara no potão de mel com da boa

Pode se chegar, malandreco, pode se chegar

Aqui até quando falta ainda tem pra todos

Por Nossa Senhora, por Nossa Senhora, juro

Arroz na batata é mais do que melhor

Como de arrebentar botão de calça

Já saí no jornal faz é tempo muito e demais

Meu nome não é Aparecido mas apareci

Comi veneno sem lata de mercado fechado

E peguei a reta mas fui pego na cancha

Parecia até bang-bang sem ter sangue

Mas era quem nem gêmeo de barriga

Loura ficou velha que nem uma pedra

Deve ter sido mais do que aborrecência

Petiz danado nem petisco acaba dando

Assoalho de teto é quase a mesma fuzarca

Gigi Alma-do-Cão dançou pelada pra net

E quase me enfartou só pela metade

O resto foi só na bazinga porque não sou

Bobo é o lobo que não abriu açougue

Mico-leão usou a tinta e tava errada

Sanfoneiro bom sabe dar pernada

A calada da noite anda tão tagarela

Que a minha maçã quebrou no meio

Mandinga de leitão não leva torresmo

Quem tá de dieta só pode comer vento

Falem mal mas não falem de mim

Beijinho de pedra é dois socos na cara

Malandro que é malandro não cospe dente

Merera não usa mais nenhuma trança

Zulila Panca não fede e nem manca

Gogó da ema anda cheio de tão gogo

Cracamicongo tá no benedilo azulinho

Injeção de banana na veio me faz tranquilo

Só fico torto toda vez que me entorto

Balão de casa é que só faz um milagre

Ai, é assim e assim mesmo...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

(In) Corpore

Necessidades vitais

Rodando a baiana

O menos é mais

O fim da semana

Faremos carnavais

É o nosso Nirvana

Folias de matagais

Nós temos bananas


Claro que sim, claro que não,

Para essa febre, não tem explicação


É tesão sem tesão

Seu corpo no meu

Mas por pura aflição

Sozinho mais eu

Acabou-se o pão

Quem foi que comeu

No meio da multidão

Ninguém mais me leu


Claro que sim, claro que não,

Dá tudo no mesmo, pela contramão


Meu destino é mau

Não tem dó de mim

Invadiu meu quintal

Queimou meu jardim

Cantou o bacurau

Prenúncio de um fim

Me sinto um clown

Gastei meu latim


Claro que sim, claro que não

Para dor moderna, velha expiação


Avisei ainda aviso

Nem chore nem pense

É mais que preciso

Ter mesmo nonsense

Pra que tanto riso

Não há quem compense

É fato conciso

A morte é que vence


Claro que sim, claro que não

Olha quem chegou, sem ter anunciação


Meu corpo no teu! Meu corpo no teu!...


(Extraído do livro "Palavras Modernas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quarta-feira, 24 de julho de 2024

Filosofia Pura

Uma coisa é uma coisa,

Outra coisa é outra coisa,

Será que uma coisa é outra coisa

E outra coisa é uma coisa?

Filosofia pura...


O boticário tem butico,

O butico é do boticário?

Filosofia pura...


Madalena não é má,

Nem é má a Madalena?

Filosofia pura...


Papagaio tá no gaio,

O gaio é do papagaio?

Filosofia pura...


Não me mexa na ameixa,

Na ameixa tem queixa?

Filosofia pura...


Nem todo dado é dado,

Mas todo dado é dado?

Filosofia pura...


Na patanisca ninguém cisca,

Na cisca ninguém cisca?

Filosofia pura...


O macaco tá um caco,

O caco tá um macaco?

Filosofia pura...


Não tem dolo no bolo,

Mas tem bolo no dolo?

Filosofia pura...


A Monique deu chilique,

O chilique é da Monique?

Filosofia pura...


Uma coisa é uma coisa,

Outra coisa é outra coisa,

Será que uma coisa é outra coisa

E outra coisa é uma coisa?

Filosofia pura...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

U-Caq

Vida dá um nó

É pó

E só...


Vida puta que véia

Ideia

Plateia...


Vida que nem bolacha

Tem taxa

Que graxa...


Vida que nem bota

Nem nota

Vai capota...


Vida que nem folha

Tome rolha

Tome trolha...


Vida que nem macaco

Eu sou craco

Eu me traco...


Vida que nem pinico

Tou rico

Nem explico...


Vida de macarrão

Pra lá de bão

Só indigestão...


Vida que nem pato

Caguei no mato

Usei sapato...


Vida que nem lampião

Peguei de mão

Sem opção...


Piripó piripé

Ai que chulé

Do seu Zezé...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Túnel No Fim da Luz

Água demais mata a planta

Nem sempre tesão é desejo

E nem sempre conheço o que vejo

Nem sempre a escuridão espanta


O mal é uma outra opção

Nem sempre o que queremos levamos

Todas as atrocidades vêm de humanos

Muita praga vem na forma de oração


Muitos talentos são mediocridade

Assim muito otimismo é só cegueira

Nem sempre a ventania levanta poeira

A grana nem sempre cobre a necessidade


A verdade fere pois é sempre cruel

Nem sempre pela manhã temos café

Há muitos mortos que ainda estão de pé

Dentro de nós habita inferno e céu


Eu pego o meu sonho e galopo por aí

Delirar é uma forma a mais de pensamento

Na tabela periódica invento novo elemento

Eu fui em São Sebastião e quase que caí...


(Extraído do livro "Águas de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

terça-feira, 23 de julho de 2024

Ante Meus Olhos

Alguns passaram porque não mais vi

(Mas devem estar por aí...)

Outros passaram porque partiram

(Será que nos veremos um dia?)


Não se enganem

A mente pode parecer fraca

Mas os olhos (mais fracos ainda...)

Colaboram para que a alma

Preserve com carinho todas as marcas...


Crianças que foram ontem

(Hoje são velhos como eu!)

Velhos que andaram em meus dias

(E hoje estão em outras paragens...)


Não falarei seus nomes aqui

(Permitam-me evitar mais choro...)

Mas guardo todos os eles

(Como preciosos tesouros

Nesta minha gaveta de sonhos!)


Vamos esperar esse reencontro

E um grande beijo para todos...


(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida). 

Faça de Conta

Faça de conta que o mundo é uma bola,

Que viver é mais do que uma esmola,

Que a morte é apenas mais um festejo

E que todo romance começa com um beijo...


Vamos rir, não vamos chorar,

Temos pés é para andar...


Faça de conta que toda dor um dia passa,

Que a solidão não persegue, apenas ameaça,

Que os espinhos cumprem apenas seu papel

E que o tempo não nos aflige, não é cruel...


Vamos aos céus, vamos voar,

Nossas asas ainda estão lá...


Faça de conta que nada tem final,

Que todos os dias têm seu carnaval,

Que para todo mal existe um remédio,

Até para o pior de todos - o tédio...


Vamos começar essa ciranda agora,

O tempo é implacável, não tem demora...


(Extraído do livro "Águas de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

domingo, 21 de julho de 2024

Discurso de Porra Nenhuma ( Para Políticos de Merda )

- Prezadas senhoras e senhores:

Faço minhas as palavras de Valença,

Vamos tomar remédio e inventar doença,

Estamos na época mais engraçada

Onde o melhor de tudo é mulher pelada,

Onde se morre de frente à lanchonete

E muita gente no café da manhã faz boquete.

Dito isto ainda tenho muito que falar,

Não existe diferença entre pensar e cagar,

Quanto pior será o que tem de melhor,

Isso desde o tempo da minha avó,

Aquela velha mais ridícula e safada,

Que valia bem menos do que nada...

Somos do tempo do maior consumo

Com lares piores do que bocas-de-fumo,

Se o marido da bota é o boto,

Vamos meter a cara no esgoto,

Churrasco de pastel, churrasco de pastel

Pra quem já vai foi daqui pro beleléu,

Eu não tenho nada com isso,

Se foi meu gato que fez o chouriço,

Se a porca manca está com  preguiça

E se o namorado dela virou linguiça...

Assim leiam logo a minha cartilha

Onde mostro que toda mãe já foi filha

E que todo cara que é agora zarolho

Tem esse problema bem no seu olho...

O mundo é muito bom pra se morrer,

Onde é ateu aquele que mais crê.

Conto com seus votos mais que certos,

Para satisfazer meus desejos mais abjetos,

Meus golpes mais do que sinceros, 

Minhas prezadas feras e meus prezados feros.

Conto com vocês como quem tem lombrigas

E também com a ajuda de todas as raparigas.

Tenham certeza que neste próximo pleito

Vou provar que o estado não é vaca mas tem peito...

E por último já terminando como quem morreu

Me expliquem o que eu falei se alguém entendeu...

Só isso tenho que falar sobre a nossa luta,

Agora podem bater palmas, seus filhos-da-puta!...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

IEla Tem Um Macaco Roxo

Iela tem um macaco roxo

Cu sem prega nariz mocho

Iela tem um macaco bão

Que tem problema de pressão

E só come banana com aveia

Coitadinho! Só caga na areia...


Iela tem um macaco azul

Que só dorme se for nu

Iela tem um macaco pente

Ele pensa que é gente

Ele acha que é a goiaba

Tarado! Fica olhando a raba...


Iela tem um macaco rosa

Que só fala quando goza

Iela tem um macaco chauvinista

Fica doido e vai pra pista

Já rasgou meu almanaque

Maluco! Bebeu meu conhaque...


Iela tem um macaco roxo

Tá ficando quase coxo

Iela tem um macaco bege

Tem manias de herege

Tem manias de fulejo

Tadinho! Só dorme no queijo...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

O Grande Timão Limão

Paco no paco

Bote a roupa que quisé

Encha a máquina de trolha

Tampe o cu com a rolha

Mete o napão no rapé!


Peco no peco

Faça um monte de bosta

Taque fogo nesse mundo

Me chama de vagabundo

Sai correndo de costa!


Pico no pico

Seja cheroso que nem gambá

Reze só de trás pra frente

Ganha porrada o valente

Que não vale um guaraná!


Poco no poco

Faça bico frente ao espelho

Pois a fera que escapole

Tem perna e bunda mole

E te come de joelho!


Pucu no pucu

Vida que nem boia estragada

Se bobeia a seca apanha

Cê tem fuça de piranha

Que já entrou na porrada!


O último não é primeiro! Acabou o meu dinheiro!

Cuidado! Aí vem o morcego-cristal!...


( Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sábado, 20 de julho de 2024

Propaiganda ( Num É? )

Vaicila, mas é mainero!

Meu soinho é morar num chinero!


Vou vender surdinha em pó,

Compra logo, ó minha vó,

Vou vender surdinha em sexta,

Compra logo, sua beista,

Vou vender surdinha em rama,

Compra logo, sá pirama!


Vaicila, mas tem teimpero!

Exaigerado, só num tem exaigero!


Vou vender feirro em cambuca,

Compra logo sá muluca,

Vou vender feirro em jamão,

Compra logo, que é bãom,

Vou vender feirro em tereco,

Compra logo, seu Maineco!


Vaicila, mas é liigeiro!

O caibrito ficô caibrero!


Vou vender manisca toirta,

Compra logo, fiinha de toirta,

Vou vender mairisco seico,

Compra logo, vem com beico,

Vou vender chamisco Roinaldo,

Compra logo, vem com caldo!


Vaicila, mas num é bainzeiro!

Tou seiquinho num aguaiceiro!


Eu tenho um fetiche! Eu tenho um fetiche!

Vou cagar sanduíche! Vou cagar sanduíche!


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Aqui Ó ( Samba na Poeira )

Eu bebi maseró! Eu bebi maseró!

Tenha pena de mim, tenha dó!


Água enferrujada não é ferruge, 

Tem boi que canta, não muge, 

Mais o que o dito cujo, o dito cuje...

Samambaia canto lá no pulejo,

Quanto mais tou cego, aí que vejo,

Aqui tá faltando de tanto sobejo!


Eu bebi pacotó! Eu bebi pacotó!

Mais que eu melhoro, fico pió!


Zabumba não bumba que bumba,

Cabou que eu peidei na macumba,

Elefante agora só dança rumba..

Manisco nem sabe o meu risco,

Se quero tomo é banho de curisco,

Pergunte aí pro seu Brunisco!


Eu bebi sapotó! Eu bebi sapotó!

Tenho gogueira tá lá no gogó!


Joyjoy ficou pelada, me deu tesão,

Eu queria ter manisco, peguei na mão,

Conceiça era agora sá Conceição...

Pitisco de pedra é um tal de tijolo,

Fumo enrolado é aquele tal de rolo,

Dasespero de pobre não é consolo!


Eu bebi galogó! Eu bebi galogó!

Vou pegar ventania pra dar nó!


Maria boceja dentro da cerveja,

Jãobatista foi entregue na bandeja,

Chá de poejo só se toma na poeja...

Quem come a pele, vai roer o osso,

Manguto véio é que faz bom moço,

Estica e encolhe até ficar bem grosso!


Eu bebi camonó! Eu bebi camonó!

Quanto mais ajunteio é que fico só!


Gato gordinho é só pra faquinha,

Eu vi Mariazona com a Mariazinha,

Bem pior que ter lepra é ter tinha...

Pirimbo ligêro não escapa é de nada,

Vai lá na tronqueira que é na entrada,

Gaimum não tem mais nem gaiamada!


Eu bebi fofoló! Eu bebi fofoló!

Se tu qué, aqui, ó!


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida),

Infarto da Lógica

Nossa lógica enfartou...

Beijos em vampiros

E abraços em tamanduás...

O capitalismo nos devora

Enquanto aplaudimos...

Quem mente merece

Todos os nossos troféus...

Um cafezinho aí

Para quem vai nos matar...

Velhos conceitos

Que constroem nossas ruínas...

Arranquem de uma vez

A asa dos pássaros...

Pisem nas flores

De todos os jardins...

Serviremos o almoço

Para o Minotauro...

Judas se aposentou

Por tempo de serviço...

A grana acabou

Na hora exata...

A mosca acertou

No prato da sopa...

Entremos na contramão

Rindo de funerais...

Vamos no xingar

Em praça pública...

Os veganos agora

Só praticam canibalismo...

Sem ter cachaça

Não consigo comer nada...

O crocodilo é emotivo

Até o final das contas...

Nossa lógica enfartou...

A ambulância chegou atrasada...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

É Quando O Dia?

É quando o dia?

Morrer ou não? Eis a questão!

Nem a lógica tem mais explicação...


Eu faço um brinde com cicuta

Dou um beijo na boca da puta

Me desespero na fila do pão

Eu faço gestos mais obscenos

Vou bebendo os meus venenos

Todo dia é um dia de cão...


Eu tenho um dia por orgasmo

Fico maluco e fico pasmo

Roendo unha de pé e mão

Eu babo a fronha e a camisa

Toda certeza é indecisa

Eu quebro pedras com a mão...


Danço xaxado feito um rei

Desaprendi o que não sei

Sem paraquedas no avião

Rimas tão fáceis e baratas

Eu me vendi por trinta pratas

Todo sofrimento foi em vão...


Como uma música mal cantada

Falta de graça mais engraçada

Vamos roer os ossos do barão

Rasgue essa merda dessa foto

Bata no poste com essa moto

Todo enterro é uma comemoração...


Foi sacanagem do meu destino

Trocar um velho pelo menino

Fumei mais um no pelotão

Sou como um piloto de fuga

Que corre menos que tartaruga

E mesmo assim sou campeão...


Vou me trancando no banheiro

O sexo dele vale dinheiro

Porque ele goza por aflição

Engula logo aquela mosca

Essa moda agora é tosca

Você caminha na escuridão...


Vá mentir pra puta que pariu

A casa cai e ninguém mais viu

Minha companhia é a solidão

Eu não sei mais nem o que quero

Só sei que este problema é severo

Quase precisa de extrema-unção...


É quando o dia?

Morrer ou não? Eis a questão...

Enquanto eu cato de grão em grão...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sexta-feira, 19 de julho de 2024

Não

Pode ser

Ou existe uma outra história?...

A árvore deixou de crescer

Pela falha da semente...

A nuvem caiu lá de cima

A terra precisa muito dela...

Quem ama deixou de se declarar

Por seu medo da decepção...

O caminho é o mais curto

Pois chegará somente ao nada...

Hoje os passarinhos falharam

Aos seus compromissos diários...

A morte tomou outra decisão

E sofreremos mais um pouco...

O rio acabou secando antes

E acabou desconhecendo o mar...

A mentira se alojou em mim

Mesmo que estivesse inocente...

Guardei aquela moeda no bolso

Mas era insuficiente para comprar...

Esqueceram do açúcar no doce

E o amargo veio sem hesitar...

Tranquei-me no meu quarto

E esqueci onde coloquei a chave...

Desconheço o que é alegria

Pois ela nunca me fez visita...

Pode ser

Ou existe uma outra história?...


(Extraído do livro "Águas de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 18 de julho de 2024

Tiro de Misericórdia

Perder o sono

De forma definitiva

Contar estrelas

E não carneirinhos

O que houve?

Olhei o espelho

E perdoei-me...


O inferno

É um quebra-cabeças

Agora percebi

Que faltava peça

E foi inútil

Montá-lo

Como eu fiz...


Serei famoso

Como todo idiota

Que não sabe

Que tudo

É um epitáfio

Que foge

Das mentes...


Meu cão

Em fatal erotismo

Mostra dentes

No ataque

Que dará

Aos ares

De tantos antes...


Pra que morrermos

Antes da canção

Se a imortalidade

Nos segue

Como sombra

Antes de tudo

Se apagar?...


Eu mirei

Em minha cabeça

E o tiro

Acertou

Na pobre alma

Apenas mais

Um tiro de misericórdia...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quarta-feira, 17 de julho de 2024

E Algumas...

Prova dos nove zeros fora...

Luxo lá e pobreza aqui...

Mudaram-se todas as razões...

Agora a bola corre atrás do jogador...

Muita pimenta e pouco açúcar...

Plantas simples em latas mais ainda...

Querer é só apenas querer...

Minha mente quase sempre mente...

Ordens expressas para carneiros...

Saio voando quantas vezes quiser...

Ando no labirinto em linha reta...

Os selvagens na selva agem...

Simplesmente complicado agora...

Dispenso os melões e as melancias...

Todo uso acaba trazendo um vício...

Verdades são mentiras arrependidas...

Eu sou o menor de todos os menores...

Desconheço tudo aquilo que faço...

Há guerras todos os dias do ano...

Manchetes de jornais tão ilusórias...

O charme dela me torna insone...

A profundidade da água faz pensar...

Antes de morrermos nós já estamos...

Um brinde para todas as máscaras...

Nosso vinho se transformou em água...

Minha lucidez ainda não chegou...

Repetirei o que a minha alma quer...

Entre reticências mais necessárias...

E algumas lembranças incômodas...

E O Poeta Morre...

E o poeta morre... Quando a palavra falha Quando corre da batalha Quando beija o fio da navalha... Sei que morrer também é ofício Mas então ...