domingo, 4 de dezembro de 2022

Se O Poeta Entrar no Céu

 


Quero entrar no céu tocando pandeiro

(se meu destino for ir para lá...)

Será permitido algum tipo de mentira

no meio de tantas nuvens?

Vou dizer que minha vida foi ótima,

sem muitos medos, pouquíssimas amarguras,

que nasci com um grande riso!

Falar também que não tive necessidades, 

que nunca fui traído por quem me amava

e nem por amigo nenhum, nunca, nunca...

Quero entrar no céu num dia do carnaval

(foliões possuem acesso ao paraíso?...)

Chegarei com a minha velha fantasia

a mesma que usei quase quase sempre

Disfarçando todos os tombos que levei

e se há alguma cicatriz maior na alma

Que ela não apareça de forma alguma

pois os anjos podem até não gostar

E eu como novato que sou por lá

Não gostaria de chatear ninguém...

Quero entrar no céu num dia ensolarado

(não posso evitar não gostar de chuva...)

Levarei comigo um bando de passarinhos

Vai que lá estejam eles em falta

Ou todos estejam ocupados (muito ocupados)

Junto com o famoso coro de anjos (muito lindos)

Será que lá poderemos brincar de esconde-esconde

No meio das nuvens que tanto admirei ?

Prefiro as nuvens que forem assim branquinhas

As nuvens cinzas deixo para o mundo...

Quero entrar no céu assim meio tímido

(afinal de contas, tímido é o que sempre fui)

Olhando tudo que existe em torno

É que eu sempre fui muito, mas muito curioso

Como naqueles dias em que corria

Para mexer nos elefantes da dona Dora

Os elefantes de porcelana sobre a penteadeira

Ou para mirar as coisas bonitas que estavam

Na antiga cristaleira da minha tia Beninha

Em tempos que até o próprio tempo esqueceu...

Quero entrar no céu rindo e rindo muito

(dessa vez ao invés de apenas chorar...)...


(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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