Quero entrar no céu tocando pandeiro
(se meu destino for ir para lá...)
Será permitido algum tipo de mentira
no meio de tantas nuvens?
Vou dizer que minha vida foi ótima,
sem muitos medos, pouquíssimas amarguras,
que nasci com um grande riso!
Falar também que não tive necessidades,
que nunca fui traído por quem me amava
e nem por amigo nenhum, nunca, nunca...
Quero entrar no céu num dia do carnaval
(foliões possuem acesso ao paraíso?...)
Chegarei com a minha velha fantasia
a mesma que usei quase quase sempre
Disfarçando todos os tombos que levei
e se há alguma cicatriz maior na alma
Que ela não apareça de forma alguma
pois os anjos podem até não gostar
E eu como novato que sou por lá
Não gostaria de chatear ninguém...
Quero entrar no céu num dia ensolarado
(não posso evitar não gostar de chuva...)
Levarei comigo um bando de passarinhos
Vai que lá estejam eles em falta
Ou todos estejam ocupados (muito ocupados)
Junto com o famoso coro de anjos (muito lindos)
Será que lá poderemos brincar de esconde-esconde
No meio das nuvens que tanto admirei ?
Prefiro as nuvens que forem assim branquinhas
As nuvens cinzas deixo para o mundo...
Quero entrar no céu assim meio tímido
(afinal de contas, tímido é o que sempre fui)
Olhando tudo que existe em torno
É que eu sempre fui muito, mas muito curioso
Como naqueles dias em que corria
Para mexer nos elefantes da dona Dora
Os elefantes de porcelana sobre a penteadeira
Ou para mirar as coisas bonitas que estavam
Na antiga cristaleira da minha tia Beninha
Em tempos que até o próprio tempo esqueceu...
Quero entrar no céu rindo e rindo muito
(dessa vez ao invés de apenas chorar...)...
(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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