terça-feira, 6 de dezembro de 2022

É O Que Tem Para Hoje

Temos cânticos bem desesperados

De profetas como um bando de aves de rapina

Está tudo tão mal explicado como sempre foi

E mesmo assim os aplausos são numerosos...


Enquanto isso os mercadores (centenas de moscas?)

Acordam do sexo malfeito da noite passada

E entre solenes bênçãos e ainda maldições

Sentem o frio sob seus pés nos quartos sujos

Voltarão para a mesma rotina de tentar vender

Até a própria alma que não mais possuem...


Onde estará o mar? Onde está o mar?

Está dentro do corpo daquela putinha

Que acabou de dar a sua última foda

Entre lençóis fedidos e restos etílicos?


O vento caminha com seus passos de morto

Tentando varrer os copos descartáveis

Pedaços (testemunhas oculares, isso sim)

A beleza foi enjaulada em velhas fotografias

Como velhas poesias que não foram escritas

Eis o campo ainda minado da última das guerras...


Alguém acaba de sair do último pesadelo

E a garrafa de café vira mais um oráculo

E os seus cigarros viram inocentes vítimas

Com os sinais de fumaça que nunca chegarão...


O metal de todas as máquinas treme de tesão

Cada uma delas irá comer um dia o seu burguês

E irá palitar seus dentes (mesmo quando não tenha)

Arrotando com a mais plena de todas as satisfações

Todos os finais são apenas histórias previsíveis

Todos os vermes ficarão contritamente agradecidos...


É o que tem para hoje, é o que tem, nada mais

Leia (se for alfabetizado, seu corno filho-da-puta)

Está escrito em giz um pouco algo irritante

Pelo proprietário do nobre estabelecimento...


Até que os cânticos desesperados novamente cessem...

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