sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Tempo do Zero

Foi no tempo do zero

Esquina do impossível

Quando o ouro era lixo

E o brilho valia alguma coisa

Centenas de gudes

No garrafão de vinho vazio

O barco vermelho

E o salva-vidas amarelo

Com o cavaleiro solitário

Sem soldados ou índios

Eis o trem em círculos

Numa eternidade de pilha

As varinhas-de-condão

E os trocados postos

Nas cuias dos pretos-velhos

Eu não gostava do meu corte

Mas de grandes maçãs

E biscoitos comprados no trem

Voltem logo sóis

Perdi mais tantas palavras

Que a saliva agora amarga

Os espadachins riram 

E os heróis usam capas de toalha

Chapéu de papel nós temos

Barcos para povoar o oceano

E gaivotas para o céu todinho

A velha cadeira azul

O pequeno travesseiro e o grande

Os muitos beijos inexistentes

Muitos mistérios aparentes

O índio de muitas penas

E a machadinha de madeira

E eu nem ao menos sabia

Que tudo um dia acaba...


(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Insalubre (Miniconto)

Insalubre era a casa dela (se é que podia ser chamada de sua ou ser chamada de casa). Qualquer favela tem coisa bem melhor. Sem porta, sem j...