Não fiz nada nada nada
Todos os meus esconderijos
São apenas mais subversivas tentações
Minhas taras mandam cordiais lembranças
Sem vírgulas sem rédeas sem cabimento
E tampouco pedidos de alguma desculpa
A casa está toda em um barulhento silêncio
Manhãs parecidamente mórbidas e tals
Eu uso eu mesmo como escudo
Morrerei certamente hora dessas
Malvada morte que não avisa nada
Deveria pelo menos soltar algum rojão
Malvada vida que não me deu
Pelo menos algum sincero sorriso
Me escondo no meio de tantas palavras
Como um velho que sou me abrigo
Num velho cobertor bem mais novo que eu
Onde andará aquilo que pelo menos
Me deu algum pedaço de alguma ternura?
Algumas luas e muitas estrelas
Ficarão bem legais na roupa do mago
E um cigarro com gosto de uva
Cairá muito bem feito uma oferenda
O que fazer na hora exata do risco?
Talvez algumas meias de lã e mais nada
Preciso limpar meus óculos
E atrapalhar o passeio de alguma formiga
Sem Severinas não existe capricho algum
Eis o grande enigma lançado ao ar
A esfinge tomará seu coquetel em silêncio
E as moscas em bando serão bombardeiros
Perdi meu cartão de crédito que nunca tive
No bloco do sujo ainda sou o rei
Conheço o som das latas uma por uma
Te importa essa minha constante tristeza?
Cada macaco no seu alho e só
Estavam todos esperando um gran finale
E eu nem ressuscitei no terceiro dia...
(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida.
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