quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Poema Terceiro

 


Não fiz nada nada nada

Todos os meus esconderijos

São apenas mais subversivas tentações

Minhas taras mandam cordiais lembranças

Sem vírgulas sem rédeas sem cabimento

E tampouco pedidos de alguma desculpa

A casa está toda em um barulhento silêncio

Manhãs parecidamente mórbidas e tals

Eu uso eu mesmo como escudo

Morrerei certamente hora dessas

Malvada morte que não avisa nada

Deveria pelo menos soltar algum rojão

Malvada vida que não me deu

Pelo menos algum sincero sorriso

Me escondo no meio de tantas palavras

Como um velho que sou me abrigo

Num velho cobertor bem mais novo que eu

Onde andará aquilo que pelo menos

Me deu algum pedaço de alguma ternura?

Algumas luas e muitas estrelas

Ficarão bem legais na roupa do mago

E um cigarro com gosto de uva

Cairá muito bem feito uma oferenda

O que fazer na hora exata do risco?

Talvez algumas meias de lã e mais nada

Preciso limpar meus óculos

E atrapalhar o passeio de alguma formiga

Sem Severinas não existe capricho algum

Eis o grande enigma lançado ao ar

A esfinge tomará seu coquetel em silêncio

E as moscas em bando serão bombardeiros

Perdi meu cartão de crédito que nunca tive

No bloco do sujo ainda sou o rei

Conheço o som das latas uma por uma

Te importa essa minha constante tristeza?

Cada macaco no seu alho e só

Estavam todos esperando um gran finale

E eu nem ressuscitei no terceiro dia...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida.

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