segunda-feira, 16 de julho de 2012

Antes do Vento


Antes que o vento chegasse. Era eu. Meu pai juntava as folhas em grandes montes. Não muitos. Mas grandes o suficiente para mim. E eu ia atrás. Após isso. O menino com a caixa de fósforos nas mãos e pedaços de papel colocava fogo. Era um deleite ver o fogo surgindo. E vê-lo aumentar e aumentar cada vez mais...
O que era o fogo? O fogo era a coisa mais linda que podia haver neste mundo. Era perigoso. Porque podia queimar e destruir. Mas o menino aprendeu isso desde muito cedo: coisas belas podem ser e geralmente são perigosas. O fogo queimava. Os sonhos queimavam muito mais. O fogo se extinguia. E os sonhos não...
 E a fumaça filha do fogo desenhava no céu que aos poucos escurecia. O que eram nuvens? Seriam a fumaça que ficou lá em cima e se transformou em água. O menino não sabia. Mas gostava da fumaça e das nuvens. E sonhava em pisar nestas quando seu corpo deitasse de vez.
Sim. Existia a morte. Mas a morte deveria ser um sono eterno que seria sonhos aos bons e pesadelos aos maus. Decerto seria isto. Porque mais não compreendia mesmo se quisesse compreender.
 Mas voltando ao fogo... Sim. O menino ia acendendo cada monte. Até que correndo voltasse à casa. E quase invariavelmente vinha o vento. O vento vinha. E este acabava todo o serviço. Todo ofício. De transformar folhas mortas em fogo. De transformar fogo em fumaça. Arder os olhos. Fazer as nuvens. E ser bem vindo em outro dia.
 Ainda hoje. Quando vê o fogo. O menino lembra daqueles tempos. A casa já se foi. O pai descansa o sono que agora se pensa diferente. E tanta coisa aconteceu. Algumas boas. E muitas ruins. As nuvens definitivamente não são de fumaça. Mas assim mesmo parecem com seu choro. Mas o fogo permanece. O mesmo fogo. Antes. Durante. E depois do vento...

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