sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Carliniana LXII (Secos)

O riso seco.

O olhar seco.

O coco seco.


Histórias para não serem mais contadas.

Gavetas para permanecerem fechadas.

Nuvens no céu que estão muito pesadas.


Tosse seca.

Garganta seca.

Fruta seca.


Tempestade feitas para barquinhos de papel.

Vidros disfarçados em diamantes baratos.

Medos diários com ineditismos forçados.


Corpo seco.

Copo seco.

Sangue seco.


A Dança de São Guido sendo desfile na avenida.

Um brinde à nova guerra que já foi declarada.

Um cardume de sardinhas que nada em lata.


Mangue seco.

Flor seca.

Humor seco.


Na carteira do pobre não tem uma moeda.

O remédio prescrito quase matou o  paciente.

Dormiremos na fila do SUS até amanhã.


Desodorante seco.

Pele seca.

Farinha seca.


O marinheiro agora tem medo de água.

Nas ruínas da minha cidade brotaram flores.

Estamos sorrindo mostrando os cacos de dentes.


Pólvora seca.

Cabelos secos.

Ossos secos...

 

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