sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Dança do Dia-a-Dia

Enrolou-se com as palavras depois da última cana

Esqueceu-se de todas as regras gramaticais

O álcool corre no seu labirinto de tantas veias

Bombeado pela velha máquina de muitos sustos


Foi ao cérebro pedaço de uma triste massa

E um carrossel começou a acontecer novamente

Não estava na vertical e nem na horizontal

Parecia com uma dança de São Guido moderna


O que dançamos? Por que dançamos? Quando?

Cairemos no chão para não poder levantar mais

Diremos que foi apenas parte da coreografia

Mas esse improviso nunca foi e nunca vai ser


Escolhemos as palavras mais sutis possíveis

Para que a tocaia do inimigo não nos pegue

Mas esquecemos que todo tiro pode ser certeiro

E ficaremos deitado sobre o asfalto para fotos


Abraçou-se ao brinquedo para poder se refugiar

De um inimigo que não conseguia nem mesmo ver

Mesmo que ele gritasse ou não gritasse também

Ternura e inocência são dois abrigos seguros


Acendeu seu inimigo mais letal e amistoso

Pensando que a fumaça também era uma nuvem

Eu já não sei mais aquilo que eu quero ou não

Só sei que cada dia não precisa nem de assassino...


(Extraído do livro "Pane Na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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