Quantos já passaram...
E eu pequeno não entendia
Por que vó naquela caixa grande
Em cima da mesa no salão
Com aquelas velas acesas
E aquele cheiro enjoativo de flores...
E depois daquilo...
Tantos e tantos e tantos mais
Que o sorriso sumiu de repente
E eu não podia nem mais vê-los
E quando perguntava por eles
Me disseram que foram pra outro lugar...
Era uma tal de Morte...
A irmã que nunca se deu com a Vida
Que nada fazia e fazia tudo ao mesmo tempo
Que todos diziam que após dela havia mais
Mas que nunca sei o que é até hoje
E ainda dá medo e muito medo mesmo...
Mas o mesmo tempo acontece...
De achar que já morri muitas vezes
Como um pobre cão deitado no meio da rua
Esperando o carro do lixo chegar
Enquanto as moscas pousam por cima
Nessa cidade que é cheia de túmulos...
Hoje os cemitérios devem estar cheios...
Alguns vão pedir perdão pelo que fizeram
Outros lembrarão do que já esqueceram
Outros ainda ganhar os seus trocados
Porque os mortos não comem mais nada
Mas os vivos ainda precisam comer...
Quantos já passaram...
E eu pequeno não entendia
Por que vó naquela caixa grande
Em cima da mesa no salão
Com aquelas velas acesas
E aquele cheiro enjoativo de flores
E não entendo até hoje ainda...
(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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