terça-feira, 16 de abril de 2024

Morbidez Imediata

E eu ando entre túmulos esquecendo minha morbidez imediata. E só me lembro daquilo que não podia lembrar. Rio sozinho dessa minha solidão quase sólida feito um muro de Berlim que ainda não caiu...

Estou cansado, tão cansado de mim mesmo como se tivesse mais de mil anos existindo e sofrendo...

E minhas recordações são espinhos profundamente doridos com algum tempero para poder disfarçar. A piedade para os velhos é um tiro como qualquer um outro antes mesmo do dedo puxar o gatilho...

Jogaram um balde d'água sobre as chamas da fogueira e se comprazem em vê-la agonizar antes da extinção...

Queria eu saber galopar entre nuvens e outros cristais de cores mais cintilantes como é qualquer uma utopia que não conhecemos. Se o caminho fosse conhecido seria apenas mais uma repetição de uma rotina que acaba enjoando também...

Cá estamos com nossa memória quase apagada por camadas e mais camadas da tinta do tempo que é da cor cinza...

E meus demônios passeiam depois do almoço para melhorarem sua digestão depois de tantos pecados nossos engolidos. Uma indústria de perdões acaba fazendo sua produção em massa como uma outra qualquer que exista...

Respiramos com a mesma dificuldade de sempre como se fumássemos cem cigarros de uma vez só...

E toda forma de censura é a castração do que há de mais belo, mesmo que não exista nada tão bom. Poetas engolem narcisos enquanto pedem humilhadamente likes por improváveis redes...

Mão estendidas como suplicantes que afinal somos mesmo quando pensamos que não...

E a cachaça desce de goela abaixo sob as formas mais impossíveis que nem ao menos notamos. A embriaguez do que não é nosso nos atinge mais que qualquer vírus sobre a face da terra e nem percebemos nossa morte na hora...

Procuro adjetivos no escuro e só achamos superlativos, alguns com alguma graça e outros sem nenhuma...

Tudo é tão mórbido e pálido como deveria ser...

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