sexta-feira, 5 de abril de 2024

Blues Sem Piedade

Não me encostem nas paredes velhas

Deste quarto sujo e mal arrumado

Não me falem de um tal feliz futuro

Porque até o presente já está passado


Para ser poeta precisa-se de dinheiro

Mesmo escrevendo frases de banheiro


Não estampem sorrisos em suas caras

O sorriso da maldade é mau igual ela

Não esqueçam da nova tragédia do dia

Enquanto o sol vai invadindo sua janela


Para ser poeta precisa-se da mídia

Mesmo quando isso é simples perfídia


Não coloquem a TV no último volume

Porque temos nosso sono muito leve

Há muitas noites que estou insone

E o nosso sono nem nos visitar atreve


Para ser poeta precisa-se ser canalha

Que seja desonesto e ganhe a batalha


Não se importem com as minhas feridas

O mundo hoje morre aos poucos com apatia

Assim como todo mundo também morrerá

Mas ninguém sabe ao certo qual dia


Para ser poeta precisa ser como suicida

Beijar a morte enquanto namora a vida...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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