Perdão, Florbela, perdão,
Mas em mim faltam dedos,
Não há sequer espaço,
A sua tristeza trouxe a morte,
A minha traz a vida,
Essa teimosa que me fere e ri,
Ri sempre...
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Era apenas uma procissão
Sem santos venerados no andor
Sem anjos de cabelos encaracolados
Sem faces contritas de arrependimento
Sem fé e sem porquê
Apenas com velas acesas quase acabando
Era a procissão da vida de qualquer um
Era apenas uma procissão...
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Fica só ao meu lado
E se te ferem as bobagens que falo
Nada falarei o tempo todo...
Fica só ao meu lado
E se meus gestos de ternura inúteis
Ficarei imóvel feito estátua...
Fica só ao meu lado
Sem a maldade de lá fora
Como naquelas tardes tristes que choviam...
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Eu trago comigo a dor do mundo
Como um cego pedindo esmolas
Como um violeiro no meio da feira
Como um bandido perdido na caatinga
Eu trago comigo a dor do meu país
A dor de todo continente
A tristeza de toda a raça humana
A expectativa de um milagre que não acontecerá
Eu trago comigo toda a dor do mundo...
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Devo estar louco
(Bem mais do que o habitual)
Deve ser delírio
(Da febre que não estou tendo)
Devo estar intoxicado
(Do álcool que não bebi
E da droga que não usei)
Ou apenas um sonho
Que restou entre escombros
Mas... Que saudade eu tenho
Daqueles olhos felinos...
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Não tenho nervos de aço
Até cenas tristes de novelas
Me machucam...
Envelheci com a maldade dos homens
Mas elas não tiraram
Minha pobre esperança...
E os meus sonhos?
Ah, esses esperam amontoados
No quartinho que chamo de peito...
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Me disseram
Que talvez eu morra escrevendo
Isso eu não sei...
Só peço que apaguem tudo,
Esqueçam tudo,
O futuro que não verei
Não me merece
Assim como não mereci o presente...
Será meu último riso de deboche...
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