sábado, 27 de abril de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 262

Perdão, Florbela, perdão,

Mas em mim faltam dedos,

Não há sequer espaço,

A sua tristeza trouxe a morte,

A minha traz a vida,

Essa teimosa que me fere e ri,

Ri sempre...


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Era apenas uma procissão

Sem santos venerados no andor

Sem anjos de cabelos encaracolados

Sem faces contritas de arrependimento

Sem fé e sem porquê

Apenas com velas acesas quase acabando

Era a procissão da vida de qualquer um

Era apenas uma procissão...


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Fica só ao meu lado

E se te ferem as bobagens que falo

Nada falarei o tempo todo...

Fica só ao meu lado

E se meus gestos de ternura inúteis

Ficarei imóvel feito estátua...

Fica só ao meu lado

Sem a maldade de lá fora

Como naquelas tardes tristes que choviam...


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Eu trago comigo a dor do mundo

Como um cego pedindo esmolas

Como um violeiro no meio da feira

Como um bandido perdido na caatinga

Eu trago comigo a dor do meu país

A dor de todo continente

A tristeza de toda a raça humana

A expectativa de um milagre que não acontecerá

Eu trago comigo toda a dor do mundo...


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Devo estar louco

(Bem mais do que o habitual)

Deve ser delírio

(Da febre que não estou tendo)

Devo estar intoxicado

(Do álcool que não bebi

E da droga que não usei)

Ou apenas um sonho

Que restou entre escombros

Mas... Que saudade eu tenho

Daqueles olhos felinos...


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Não tenho nervos de aço

Até cenas tristes de novelas

Me machucam...

Envelheci com a maldade dos homens

Mas elas não tiraram

Minha pobre esperança...

E os meus sonhos?

Ah, esses esperam amontoados

No quartinho que chamo de peito...


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Me disseram 

Que talvez eu morra escrevendo

Isso eu não sei...

Só peço que apaguem tudo,

Esqueçam tudo,

O futuro que não verei

Não me merece

Assim como não mereci o presente...

Será meu último riso de deboche...

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