segunda-feira, 29 de abril de 2024

Comê Na Cuia

Comê na cuia

Comê na tuia

Comê na nuia

Experimente o berimbau catreiro

Em todas as noites de pé de sapo!


Paca tatu

Paca tutu

Paca Dudu

Apertou bem em cima do coração

E agora só come com a sua mão!


Escritô ingrês

Escritô flancês

Escritô chiinês

Entrei na mão dupla e no entretanto

Saí voando que nem um pafaruso!


Bela não come

Bela não some

Bela não nome

Flop-flop é mandiga de puro rebotalho

Olha o minduim de um só por dez!


Pintelho de tora

Pintelho de mora

Pintelho de gora

O paiaço peidou na cara da manga-roisa

E acabou indo ali na feira internacional!


Pachico é o mico

Pachico é o Dico

Pachico é o tico

Macumba de rico é que pega mais fáci

Berena cumbambo caiu só no mambo!


Fumango é pula

Fumango é mula

Fumango é bula

O gato agora houve lá na sua houvedoria

A pia é mais pia com sua piedade de piá!


Um, dois, três, quatro,

Fome na bunda, comida pro rato!

Um, dois, três, quatro,

É quase dezembro, cachorro sem mato!...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Poesia Gráfica LXXXIV

T E U Z E L O

T E U G E L O

T E U P E L O

T E U C A B E L O

T U D O U M S Ó


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V E N E N O

V E M N E N O


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Q U E B R A D A 

E M C A C O S 

I N T E I R O S 

M Ú L T I P L O S

E U N E M S E I 


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O S P E L O S D E T A T I A N A

L A B I R I N T O S A F L I T O S

M E I O D E P E R N A S I N F I N I T O S

O N D E D E V E R I A I R E N Ã O F U I . . .


...................................................................................


C O N S U M A T U M E S T 

C O N S U M A T U M E S T E

C O N S U M A T U M P E S T E

C O N S U M A T U M T E S T E

C O N S U M A T U M Q U E S T


...................................................................................


S O C O R R E I - M E 

M E S O C O R R E

S Ó C O R R E I - M E

M E S Ó C O R R E 

S O C O R R O

S Ó C O R R O


...................................................................................


E M P A R A N A P O E M A

T E M O S V Á R I O S P O E M A S

E M P A R A N A P O E M A 

Q U E M M A N D A É O P O E M A

Alguns Poemetos Sem Nome N° 263

Coloque numa panela

Todos os gostos e todas novidades

(Novas novidades ou antigas)

Leve ao fogo brando

E depois de alguns minutos

Teremos uma porção plena

Da humana mediocridade

De todos os tempos...


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Eu não tenho verdades...

Até fujo delas!

Mas as feridas doem

E doem muito mesmo

E meu tempo é curto

Para poder enganar-me...


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Poetas cospem estrelas

Poetas vomitam sonhos

Sentam o rabo nas nuvens

Transformam insignificâncias

Em grandes eternidades

Como um deus furioso

Ou um demônio amigo...


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E a multidão histérica de esfomeados

Vibra pelo resultado do campeonato

Delira com o final da novela

Goza com a fortuna do reality show

Baba com as mentiras do sistema

Caga em cima dos valores humanos

Silencia e vai para o abate

Os abutres agradecem...


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Todas as quimeras atacaram-me

E isto de uma vez só...

Quando acreditei que sonhos

Poderiam ser realizados...

Quando acreditei piamente

Que humanos poderiam ser bons...

Quando acreditei na mudança

Em que o mundo poderia ser feliz...

Todas as quimeras atacaram-me

E acabei sucumbindo...


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Tem horas que estou no céu

Tem horas que estou lá não

Às vezes voo ao léu

Em outras na escuridão

Na boca sabor de mel

Amargo no coração

Tem horas que estou no céu

Tem horas que estou lá não...


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Finais felizes que não tive

Eram apenas só finais...

Amores que não tive

Nunca podemos tê-los...

Sonhos que me feriram

Todos eles acabam ferindo...

Eu mesmo sou meu paradoxo

E não há saída para isso...


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As recordações são papéis 

Que acabaram amarelando

E a escrita acabou se apagando

O tempo não tem culpa de tão coisa

É sua tarefa comer todas as pedras

Para que virem grãozinhos de areia

Fazer que os versos sejam esquecidos

E que mais nada sobre

Nem a morte sobra em suas mãos...

domingo, 28 de abril de 2024

Soneto de Uma Maré de Silêncio

Maré de silêncio - simples grito

Um grito preso, nunca infinito!

O sonho, fatal e decorrente pesadelo

Que em minhas insônias sem zelo!


Monstro nas sombras - sempre fatal

Que surge invasor no meu quintal...

Pergunto: que mal eu afinal te fiz?

Como todo humano queria ser feliz...


Espero enfim que o sono venha...

Quem sabe dormir seja talvez fugir,

E o monstro volte para sua brenha,


Não se incomode mais se estou aqui,

Que coloquei esta foi a nova senha,

Antes que de vez possa eu partir...

sábado, 27 de abril de 2024

Soneto de Desespero

Eu que me desespero sem desesperar

Entre espinhos reais e rosas que não vejo,

Que me acostumei de diariamente chorar

Mesmo que para isso não haja ensejo...


Sou pessoa do meu tempo, não tem graça,

Escravo da mentiras de todos os dias,

De que não adianta ter alguma pirraça,

Cabeça cheia para minhas mãos vazias...


Poeta que bate a cabeça nas paredes,

Não conseguirei sair do vil anonimato,

Escravo do dinheiro, palhaço das redes,


Sou menos do que um homem, simples rato,

Onde a morte é a fonte de todas as sedes

E a tristeza é o meu único e real fato...

Alguns Poemetos Sem Nome N° 262

Perdão, Florbela, perdão,

Mas em mim faltam dedos,

Não há sequer espaço,

A sua tristeza trouxe a morte,

A minha traz a vida,

Essa teimosa que me fere e ri,

Ri sempre...


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Era apenas uma procissão

Sem santos venerados no andor

Sem anjos de cabelos encaracolados

Sem faces contritas de arrependimento

Sem fé e sem porquê

Apenas com velas acesas quase acabando

Era a procissão da vida de qualquer um

Era apenas uma procissão...


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Fica só ao meu lado

E se te ferem as bobagens que falo

Nada falarei o tempo todo...

Fica só ao meu lado

E se meus gestos de ternura inúteis

Ficarei imóvel feito estátua...

Fica só ao meu lado

Sem a maldade de lá fora

Como naquelas tardes tristes que choviam...


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Eu trago comigo a dor do mundo

Como um cego pedindo esmolas

Como um violeiro no meio da feira

Como um bandido perdido na caatinga

Eu trago comigo a dor do meu país

A dor de todo continente

A tristeza de toda a raça humana

A expectativa de um milagre que não acontecerá

Eu trago comigo toda a dor do mundo...


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Devo estar louco

(Bem mais do que o habitual)

Deve ser delírio

(Da febre que não estou tendo)

Devo estar intoxicado

(Do álcool que não bebi

E da droga que não usei)

Ou apenas um sonho

Que restou entre escombros

Mas... Que saudade eu tenho

Daqueles olhos felinos...


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Não tenho nervos de aço

Até cenas tristes de novelas

Me machucam...

Envelheci com a maldade dos homens

Mas elas não tiraram

Minha pobre esperança...

E os meus sonhos?

Ah, esses esperam amontoados

No quartinho que chamo de peito...


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Me disseram 

Que talvez eu morra escrevendo

Isso eu não sei...

Só peço que apaguem tudo,

Esqueçam tudo,

O futuro que não verei

Não me merece

Assim como não mereci o presente...

Será meu último riso de deboche...

Teoria do Vinagre

Fernando foi uma boa pessoa,

Já Policer, não foi, é,

Enquanto eu sou apenas espanto,

Tristeza e um algo de certeza...


Poesia, vício,

Poesia, sacrifício,

Poesia, precipício...


Bandeira, deus à sua maneira,

Acabou a comida, é a vida,

Tem gato, não tem mato,

O carro voou e me atropelou...


Poesia, espasmo,

Poesia, sarcasmo,

Poesia, orgasmo...


Rimbaud dançando xaxado,

Escrevendo certo deu errado,

Guará iremos uivar pra lua,

Renan é todo o amanhã...


Poesia, labirinto,

Poesia, absinto,

Poesia, instinto...


Não preciso de likes ou bikes,

Kauã me dê aí algum disparate,

Só quero almas e talvez palmas, 

Antes que um cenário solitário...


Poesia, picardia, 

Poesia, teimosia,

Poesia, boemia...


A minha lucidez não tem vez,

Ou pedra ou pluma, regra nenhuma,

A regra é amar ou é gozar?

Fazer o que se quer ou ser mané...


Poesia, fantástica, 

Poesia, fanática,

Poesia, elástica...


Eu pedi água e me deram vinagre...


(Para os poetas Antônio Carlos Policer, Renan Milano Carvalho, Willian Guará e Kauê Disparatado, com carinho).


sexta-feira, 26 de abril de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 261

Perdi o sono.

Perdi a briga

Comigo mesmo.

Um soco no espelho.

Um soco na cara.

Meus sonhos fugiram?


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Onde estávamos? Num choro certeiro...

Onde estamos? Agulha no palheiro...

Onde estaremos? Num monte de pó...

Talvez tenhamos um par de asas...

Nunca se sabe... Nunca se sabe...


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Toda poesia tem um quê de quê...

Que persegue os sonhos

Que alcança as nuvens

Que traz beleza em todos os cantos

Que enche de esperança

Que puxa a ternura pelos pés

Toda poesia tem um quê de quê...


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Ela era vulgar tomando cerveja num boteco

Vulgar também rebolando com o excesso de álcool

(E Deus sabe lá com mais o quê)

Estamos morrendo sem ao menos notarmos?

Ah! Que saudade que eu tenho...

Daquelas tardes que ela vinha escondida

Para chorarmos juntos e também brincar...


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O maior suicídio é o da alma

Não toca sequer um dedo no corpo

Dispensa manchetes sensacionalistas

Não desespera os familiares

Não produz carpideiras eventuais

Não desobedece regras religiosas

Dispensa imaginação mórbida

O maior suicídio é o da alma...


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No meu último carnaval (se assim puder)

Dispenso a fantasia de índio com machadinha

Ou aquela de palhaço todo de vermelho

Quero ir com aquela fantasia de tirolês

Com calças curtas e suspensórios de lantejoulas

Com camisa rosa de tecido brilhante

De meias bem compridas e coloridas

Com as botinhas ortopédicas que usava

E sobretudo aqueles óculos que escondiam

O mesmo sorriso de ainda inocência do mundo...


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Papai tinha dois rádios antigos

Um de madeira elétrico grande

Que faltava um botão e podia dar choque

Um outro azul de plástico que era Philips

Mas encima de uma tábua solene

Uma tábua atravessada num outro móvel

A Philco de madeira preto-e-branco 

Em que via a Vila Sésamo quando podia...


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quinta-feira, 25 de abril de 2024

Baile de Tanatos

 


A vida é um baile, é um baile,

Só isso...

Os poetas são loucos, são loucos,

Se não forem loucos,

Não são poetas...

O corte é profundo, dói, é profundo,

Deixamos de sermos humanos

Quando a dor alheia não aflige

E viramos o rosto...

O gosto é amargo, tão, é amargo,

O ninho caiu lá do alto, o ovo quebrou,

Todo sonho acaba nos enganando,

Resta apenas a cicatriz...

Toda a vitória é um engodo, um engano,

O troféu não significa nada e nada,

Nós seres humanos, tolos...

A vida é um baile, é um baile,

Só isso...


(Extraído do livro "Águas de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 260

 

O poeta roubou sua própria alma

Colocou-a no bolso e saiu por aí

Pobre poeta desastrado!

Não viu que ela caiu de um bolso furado...

Ainda bem que alguns passarinhos

Acabaram pegando e levando para outros céus...


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Talvez meu coração de passarinho

Em algum tempo possa mais não bater

E eu parta como vim - triste e sozinho

Como qualquer um não vá querer


Talvez seja uma lâmpada que queime

Sem ao menos querer assim avisar

E mesmo que a vida teime e teime

Mas a morte venha ocupar o seu lugar...


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Me perdi no tempo

Não há controle dos dias

Eles passam e nem comprimentos

Estejam tristes ou com alegrias


Existe tanta fome!

Existe tanta sede...

Enquanto muitos caminham

Outros descansam na rede


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Eu acho que sou poeta

Devo ser sim...

Quando estou triste

Ou nas poucas vezes que não estou

Tento expressar isso com palavras

Mesmo que isso falhe

Ou ninguém acabe lendo...


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Tantas canções existem...

Outras estão num cemitério...

Tantos sorrisos morreram...

Outros jazem pelo asfalto...

Há palavras por mim desconhecidas...

Assim como eu mesmo me desconheço...


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Essa menina brinda com Coca-Cola!

Esse menino acende mais um cigarro!

Nada mais teremos que fazer

Enquanto o coração ainda pulsa

E a fábrica dos pulmões funcione até a pane...


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Tu viu? Eu não...

Viu nuvens dançarem tango?

Viu a praça gargalhar sem medida?

Viu mortos levantarem para o último adeus?

Viu guerras cessarem por simples vergonha?

Viu burgueses confessarem seus erros?

Viu as pedras tropeçarem em si mesmas?

Tu viu? Eu não...

Carliniana XL (Overdose de Overdose)


Lava de um vulcão para fazer sorvete

Explicações cabíveis para não entender

Milhares de palavras que eu não sei falar

Tenho muita pressa para não fazer nada

Toda dança tem seus próprios tropeções

A mídia é um inimigo que me faz carinhos

A púbis dela é parecida com um labirinto

Só prometa aquilo que não poderá cumprir

Toda mosca tem um vidro que é predileto

Cada lamento é menor que um grão de poeira

Acabei de fazer justamente o oposto que queria

Lampião agora vende CDs piratas na feira

Nem sempre o sempre cumpre o seu papel

Diga-me com quem andas porque sou curioso

Não há mais fatos consumados que no consumo

Toda nudez tem uma justificativa plausível

Meus versos são tão canalhas como eu sou

Não conheço nada do tempo além de sua aflição

Já vi e escutei coisas feitas de apenas delírio

Está na hora do jantar e só não tem comida...

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Carliniana XXXIX (Melancolia Aflitiva de Todos Os Dias)

Aguentar a fumaça

Aguentar a trapaça

Aguentar a pirraça

Que os meus próprios dias

Acabam indicando para sobreviver...


Esperar a ferida

Esperar a partida

Esperar a descida

Quando meus olhos se fecham

Para não ver mais esta escuridão...


Desvendar a espera

Desvendar a quimera

Desvendar a atmosfera

Quando tudo em torno sufoca

E até o oxigênio acaba nos ferindo...


Tudo é apenas um carrossel

Mas estamos tontos para poder girar...

terça-feira, 23 de abril de 2024

Puesia

E ieu mai pirdido qui achadu

Escrevu mierda escrevu sim

Meu coraiçaum jiá bati erradu

E vumitu cum cheiru de jaismim


Iá puesia ié uima poirca taraida

Qui coime aingu cheirandu floires

Ie a noissa vidia num vaile naida

Si escaipam entrededus tantus amoires


E eu mai pirdido qui achadu

Iscreivu e meimu voimi afogandu

Toido pueta ié umdisgraiçadu

Pairecendo umoinstro acordaindu


Puesia! Ióh, puesia! Puesia!

Caiguei naimão, juguei napia!


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).


domingo, 21 de abril de 2024

Carliniana XXXVIII (Síndrome)

Espero então não esperar mais nada

Cacos de sonho cortam mais que vidro

O desamor me espera na próxima esquina

Os domingos são segundas antecipadas

A ternura deu um soco em minha cara

E a vida é um bulliyng pode me acreditar

Manchetes explosivas falam de alegria

Enquanto abaixamos a cabeça para pastar

Não coma não beba isso só faça aquilo

Não vista isso não use isto só fale aquilo

Essa é a nova cor mesmo que não seja

Gaste seu tempo para não lugar nenhum

Pensar é mais perigoso que roleta russa

sábado, 20 de abril de 2024

Quase Maldição 1 ou É Tão Comum

Eu sonho sonhos com explicação inexplicável

Parecendo um drogado que usou droga nenhuma

As febres chegam como penetras de uma festa fuleira

Enquanto o cupim se banqueteou com o dicionário

Todo morto de certa forma nunca esteve tão vivo

Ah! Aflição que queria ter e ainda não tive nem terei

Malévola reprise de novela que me faz resofrer

Eu fiquei com meu pau na mão olhando o horizonte

Enquanto páginas velhas desfilavam ante meus olhos

Reconheço tudo até aquilo que não me lembro mais

Eu me escondo em coisas tão óbvias que dão pena

Nesse exato momento alguém está dando um suspiro

Só a fantasia consegue nos salvar da mesmice

Fazendo impossibilidades como dar gosto para a água

Meu cão conhece muito mais filosofia do que eu

Em compensação se mudo uma letra mudo tudo

Dia desses qualquer consigo minha carta de alforria


(Extraído do livro "Só Malditos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sexta-feira, 19 de abril de 2024

15

Acordei quase pouco atrasado

Para o cometa que passaria ali

Pelo fim dessa manhã anoitecida

Estranho a mim mesmo em espelhos

Enquanto um burguês desnorteado

Faz profecias em yoruba clássico

Pelas ruas insanas da velha Paris

E o menino vende flores lilases

Que a menina avidamente come

O real destino é não ter algum

Moedas chacoalham em bolsos sujos

E a família reparte as velhas sobras

Não quer ser mais incômodo ainda

Agora sobram pérolas e faltam porcos

Meu sotaque nordestino é caprichado

A cultura nacional cabe na vasilha

As bruxas se esconderam nos bunkers

Fogueiras tímidas são digitadas

E a novinha trai o corno por algum pix

Farinesi é a agora a nova moda eterna

E batalhões de saltos altos invadem

O que restou de alguns meros escombros

Me intoxico cada vez mais de eu mesmo

Só que me viciei tem dois dias seguidos

Fragmentos poéticos agora sujam o ar

E versos aleijados dançam a polca

E certos nomes são apenas nomes

Dois contos de pão agora é normal

Orcas caribenhas e vegetarianas

Coleção de velhos maços de cigarro

Os velhos óculos quase quebraram

Só estão faltando certos detalhes

Os talheres estão arrumados no chão

Enquanto conhece todas as iniciais

O caos será somente de onomatopeias

E balões de puro material caseiro

O arroz que eu comi já estragou

Verdades não possuem sequer idade

O meu quinze faz muito que aconteceu

Mas mesmo assim acontece diariamente...

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Carliniana XXXVII (Tutti)

Tudo que acaba, termina,

Ondas na praia, qualquer lugar,

As nuvens caem, não são folhas,

São águas, assim temos de chorar...


Tudo, tudo, um imenso encanto,

Todo som ou ruído, é um acalanto...


Todo sonho parte, vai embora,

Só sabemos que não mais voltará,

Cada folia é mais uma folia,

E todo nosso carnaval vai passar...


Tudo, tudo, descomunal ciranda,

Tempo escravo que nos comanda...


Todo beijo, apenas uma lembrança,

Todo carinho, impregnado de ternura,

Um cão latindo na mais cheia lua,

Toda claridade, mesmo que escura...


Tudo, tudo, toda chama acesa no velário,

Falsa esperança de um poeta solitário...

Carliniana XXXVI (Propriedade)


Caminho entre tempestades azuis

Num jardim de borboletas ferozes

Cada palavra deve ser bem pesada

E cada gesto bem medido portanto

Nunca escaparemos dessas cercas

Sem algum ato mais louco e heroico...

Gigantes não esperam por pedras...

E nem o prato do dia sempre é melhor...


Enlouqueço com certos detalhes

Até que minha paixão me imploda

E todas as cores que escolhi sumam

Afinal de contas faltaram as contas

E os meninos agora foram na rua

Espero chegar um novo carnaval...

Toda velhice já foi juventude...

E meus bons modos são grotescos...


Duelo com minha própria sombra

Até que o copo e o prato esvaziem

E a velha casa crie brancas asas 

E o improviso seja mais estudado

As lentes não estão mais salgadas

E o carro corre noturno pela cidade...

Nenhuma piedade acende velas...

E cada nascimento é novo funeral...


Estalo os dedos esperando faíscas

Enquanto estrangeiros entre terras

Me pesadelo feito o novo mártir

De uma causa um pouco desconhecida

Como um jornal velho do futuro

Que teima em falar só verdades...

Acabei de engolir um pouco de poeira...

Nenhum mal me aflige de forma alguma...

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Vale do Anoitecer

Quando chega a noite,

Quando morre o dia,

Quando chega o sono

E nem há mais ave-maria...


Eu penso nesta solidão,

Mais solitário do que um cão...


Quando a fome maltrata,

Quando a impaciência manda,

Se apagou a fogueira

E acabou a nossa ciranda...


E toda resposta é apenas não

E todo o sonho foi apenas vão...


O xarope não passa tosse,

O remédio a doença não cura,

A chama não ilumina o caminho

Dentro dessa noite tão escura...


Um centavo pode valer um milhão,

Uma vida inteira pode não ter razão...


Mas mesmo assim eu corro desesperado,

Procurando entre escombros um motivo,

De mesmo com tantas coisas amargas,

Mas uma razão para continuar vivo...


Para a vida não há amor, há paixão,

Para a morte não há explicação...


Quando morre a noite,

Quando irá anoitecer,

Quando chega o sono

Neste vale do anoitecer...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

A Lua Esta Lá (Miniconto)

Falava mais através de gestos do que por vocábulos. Apontava mais para o nada como qualquer outro. Era mais enganado por si mesmo do que por qualquer um outro. Responsável pela maioria de seus erros, principalmente os que escondeu de si próprio mesmo quando os colocava expostos em praça pública. Está onde deveria pelo menos ter estado fisicamente, entre os mares de seu choro e os lados de seu suor, sem falar dos rios de sua indecisão. Isso importou o que? Quem souber que o responder, pois a lua continua onde sempre esteve...

terça-feira, 16 de abril de 2024

Morbidez Imediata

E eu ando entre túmulos esquecendo minha morbidez imediata. E só me lembro daquilo que não podia lembrar. Rio sozinho dessa minha solidão quase sólida feito um muro de Berlim que ainda não caiu...

Estou cansado, tão cansado de mim mesmo como se tivesse mais de mil anos existindo e sofrendo...

E minhas recordações são espinhos profundamente doridos com algum tempero para poder disfarçar. A piedade para os velhos é um tiro como qualquer um outro antes mesmo do dedo puxar o gatilho...

Jogaram um balde d'água sobre as chamas da fogueira e se comprazem em vê-la agonizar antes da extinção...

Queria eu saber galopar entre nuvens e outros cristais de cores mais cintilantes como é qualquer uma utopia que não conhecemos. Se o caminho fosse conhecido seria apenas mais uma repetição de uma rotina que acaba enjoando também...

Cá estamos com nossa memória quase apagada por camadas e mais camadas da tinta do tempo que é da cor cinza...

E meus demônios passeiam depois do almoço para melhorarem sua digestão depois de tantos pecados nossos engolidos. Uma indústria de perdões acaba fazendo sua produção em massa como uma outra qualquer que exista...

Respiramos com a mesma dificuldade de sempre como se fumássemos cem cigarros de uma vez só...

E toda forma de censura é a castração do que há de mais belo, mesmo que não exista nada tão bom. Poetas engolem narcisos enquanto pedem humilhadamente likes por improváveis redes...

Mão estendidas como suplicantes que afinal somos mesmo quando pensamos que não...

E a cachaça desce de goela abaixo sob as formas mais impossíveis que nem ao menos notamos. A embriaguez do que não é nosso nos atinge mais que qualquer vírus sobre a face da terra e nem percebemos nossa morte na hora...

Procuro adjetivos no escuro e só achamos superlativos, alguns com alguma graça e outros sem nenhuma...

Tudo é tão mórbido e pálido como deveria ser...

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...