domingo, 30 de abril de 2023

Um Só

Talvez as velas apaguem por si mesmas antes de chegar ao seu final. Seu João-Bobo virou um lobo e quase deu roubo. Trouxe o milho para a pipoca? Deixe ali no canto e vamos voar um pouco pelo menos. Na volta bebamos um litro de uísque cada um e treinemos algumas novas pragas para rogarmos em Praga.

Eu faço caretas como quem não quer mais nada. O bebê não quer mais beber e isso não me importa. O talco agora serve para coreografias em dias de esmerado exagero. Caralho! Fui na esquina e quando voltei esqueci de mim mesmo lá e agora não irei mais me buscar. Minha preguiça tem ares de gato.

Recebo notícias de morte todos os dias e acabo achando normal demais. Modismos mais velhos do que certas louças. Jabuticabas quase olhos tão bonitas. Acabo tendo muitas penas e decido fazer delas uma coleção. Me sinto um roedor em que faltam roupas para poder roer. Tenho saudades de certas insatisfações.

Repetir nem sempre é crime. Biscoitos são responsáveis por certas satisfações. Hoje comeremos pratos cheios de água. Pedras são definidas por solenes arremessos. Toda rua tem seu louco e até um pouco mais. Eu sempre fui tão eu até que os ventos me levem daqui como algo que não sei o que é.

Se minha mente ensandecer mais um pouco será apenas mais um passo. Invento palavras o tempo todo sem me esforçar para isso. Esqueci minha cartola no fim do mundo e estou com preguiça de buscar. A perfeição não me deu nem seu autógrafo. Abro a arca do tesouro que nem uma lata de cerveja.

Dois dedos de café e alguns sorrisos desaparecidos. Não sou tão exigente assim para pedir cordões de ouro e outros. Minhas mãos estão vazias e minha alma de igual forma. Tudo é mera questão de espera e meus ancestrais sabem muito bem disso. Qualquer hora chega a hora e o bilhete já estava comprado.

Quero lenços já não mais existentes. Pode ser aquele que usava no bolso do terninho. Meus brinquedos farão fileira para me receber. O que não foi feito acabou sendo de outra maneira. Quem não sabe disso? Até os que não sabem. Nunca mais serei convidado para um sorvete em tardes que quase esqueci.

Todos agora estão bebendo sem ter sede. É tão sem graça como sempre acabou sendo. Atrás do trio elétrico só não vai quem tem medo de tomar choque. A panela do feijão pegou depressão. Sofrer agora acabou virando apenas um lugar comum. Que os alquimistas que o digam. Eu sou um só...

 

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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