domingo, 30 de abril de 2023

Tem Água

Tem água...

Nos olhos do poeta vesgo

Que perdeu de vista sonhos

Que maldisse à si mesmo agora

Que rogou uma praga quase agorinha...


Tem água...

No desespero quase surdo

De quem dorme numa calçada

Enquanto os carros vão passando

Numa cidade igualmente desesperada...


Tem água...

No maior vazio de todos

Que fica no fundo do abismo

Que eu mesmo acabei saltando

Quando fui procurar um dia você...


Tem água...

Caindo lá de cima

Estragando aquele passeio

Que um dia esperei com vontade

E agora não tem importância mais...


Tem água...

Não tem...

Esses meus olhos já secaram...

Um Só

Talvez as velas apaguem por si mesmas antes de chegar ao seu final. Seu João-Bobo virou um lobo e quase deu roubo. Trouxe o milho para a pipoca? Deixe ali no canto e vamos voar um pouco pelo menos. Na volta bebamos um litro de uísque cada um e treinemos algumas novas pragas para rogarmos em Praga.

Eu faço caretas como quem não quer mais nada. O bebê não quer mais beber e isso não me importa. O talco agora serve para coreografias em dias de esmerado exagero. Caralho! Fui na esquina e quando voltei esqueci de mim mesmo lá e agora não irei mais me buscar. Minha preguiça tem ares de gato.

Recebo notícias de morte todos os dias e acabo achando normal demais. Modismos mais velhos do que certas louças. Jabuticabas quase olhos tão bonitas. Acabo tendo muitas penas e decido fazer delas uma coleção. Me sinto um roedor em que faltam roupas para poder roer. Tenho saudades de certas insatisfações.

Repetir nem sempre é crime. Biscoitos são responsáveis por certas satisfações. Hoje comeremos pratos cheios de água. Pedras são definidas por solenes arremessos. Toda rua tem seu louco e até um pouco mais. Eu sempre fui tão eu até que os ventos me levem daqui como algo que não sei o que é.

Se minha mente ensandecer mais um pouco será apenas mais um passo. Invento palavras o tempo todo sem me esforçar para isso. Esqueci minha cartola no fim do mundo e estou com preguiça de buscar. A perfeição não me deu nem seu autógrafo. Abro a arca do tesouro que nem uma lata de cerveja.

Dois dedos de café e alguns sorrisos desaparecidos. Não sou tão exigente assim para pedir cordões de ouro e outros. Minhas mãos estão vazias e minha alma de igual forma. Tudo é mera questão de espera e meus ancestrais sabem muito bem disso. Qualquer hora chega a hora e o bilhete já estava comprado.

Quero lenços já não mais existentes. Pode ser aquele que usava no bolso do terninho. Meus brinquedos farão fileira para me receber. O que não foi feito acabou sendo de outra maneira. Quem não sabe disso? Até os que não sabem. Nunca mais serei convidado para um sorvete em tardes que quase esqueci.

Todos agora estão bebendo sem ter sede. É tão sem graça como sempre acabou sendo. Atrás do trio elétrico só não vai quem tem medo de tomar choque. A panela do feijão pegou depressão. Sofrer agora acabou virando apenas um lugar comum. Que os alquimistas que o digam. Eu sou um só...

 

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sábado, 29 de abril de 2023

Fardo Pesado Em Ombro Leve

Minha garganta se espanta com tanta Fanta:

O suicida apertou o botão errado

Para o vaso chinês ser quebrado

Lá vem o novo sujeito educado

Caprichando em seu palavreado:

O rato roeu o hot-dog do rei de Roma...


Mary só me fere porque assim prefere:

São chuchus passados no ovo

O temporal é a alegria do povo

Nem todo velho um dia foi novo

Lá vem aquilo que não absorvo:

Em casa de blogueiro o espeto é de rede...


A espada fez uma força danada subindo escada:

Os meus vícios são todos tão normais

Gosto de me embalar com os carnavais

Isso quando o menos pode ser até mais

Estava assim escrito pelos quintais:

Cesteiro que faz um cesto, faz mais um...


Norma queria aquela norma de qualquer forma:

Colher toda as flores que achasse de uma vez,

Esquecer toda a resposta que fosse um talvez,

Esperar que algo demorasse mais de um mês

Pois estava escrito numa pedra que um dia fez:

Nem tudo que reluz é reluzente...


Minha Fanta se espanta com tanta garganta:

O suicida olhou para o outro lado

O desastre tem encontro marcado

Passamos nus pelo arame farpado

Assim como disse o triste soldado:

Para bom entendedor meia palavra bosta...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sexta-feira, 28 de abril de 2023

Exegese do Nada Para o Nada

Em pios surdos para o surdo

falei:

Com subiremos aos céus

se de lá nos expulsaram?

Fatos marcados em branco

temos:

A mentira nos persegue

pedindo seu autógrafo...

As pedras brotando do chão

tropecei:

O sangue que escorre do nariz

traz mais vergonha que dor...

Quase noite e o medo chegou

estremeci:

Quem poderá impedir a invasão

deste exército de malvados?

Tenho apenas mais uma pergunta

farei:

Para onde iremos todos nós

depois que este choro acabar?...

Blues Para Todos Os Idiotas

Prefiro fazer certas poses que não digam nada a ter batida com a cara na parede por inteira culpa e responsabilidade...

Pedi para o músico tocar 

Mais lentamente 

Com a velocidade de todos colibris

No dia mais agitado de todos...

Não me oporei a ferir-me com espinho se a rosa me der um pouco do seu perfume, segredo guardado a sete chaves em seu castelo...

Cruzei os meus dedos

Pedindo em vão

Que a chuva cessasse de uma vez

E os passeios não morressem...

De quem é esse rosto que vejo agora neste maltratado espelho? Parece-me um velho cansado que acabou de cruzar o mundo inteiro...

Pobres pés estes meus

Ainda não pararam

Mesmo quando sua caminhada

Seja apenas nesta vazia casa,,,

Escutei alguns boatos que o mundo iria se acabar. Desde que me entendo como gente, sei que o mundo se acaba para quem morre,,,

Todo fato pode inverter

O vilão está solto

O herói foi para a cadeia

Isto já é notório e conhecido...

Como baratas em completa confusão, as paredes como fugas e ao mesmo tempo cárcere. Não somos assim? Sempre seremos, não mais do que isso...

O tambor já tocou

Deu qualquer hora

Acendam charutos e tragam cachaça

Chegou Exu, chegou Exu!...

quinta-feira, 27 de abril de 2023

Game Cover

A vida é um remédio sem doença

Não cura nada, mas acaba adoecendo

Por mais que seja grande a minha crença

Acendo a vela, mas acaba escurecendo


Vamos cantar,

Mesmo que não entendamos,

Disfarça que não choramos,

Vamos cantar...


A vida é uma partida sem resultado

Estávamos torcendo, mas pra quem?

Só vamos esperar ao inesperado

Muito além do mal, muito além do bem


Vamos dançar,

Mesmo não sabendo os passos,

Com as glórias e os fracassos,

Vamos dançar...


A vida é como uma quinta estação,

Não sabemos qual é o seu exato clima,

É bomba que não houve ainda explosão

É poema ridículo sem nunca ter tido rima


Vamos festejar,

Mesmo que para isso não haja ensejo,

Que seja apenas mais um louco desejo,

Vamos festejar...


A vida é como uma tatuagem malfeita

Um nome desses que acabamos xingando

A imperfeição bem mais do que perfeita

Que faz até o riso ficar assim chorando


Vamos sonhar,

Mesmo que o sonho fira e nos agrida,

Que a chegada se assemelhe à partida,

Vamos sonhar...


E a morte...? 

Heróis da Desistência

Preparo um bolo sem os ingredientes certos, já desisti de fórmulas e receitas. Tanto sem fala em certeza e nada acontece do jeito que deveria ser. Sonhos jogados na pia e ilusões no vaso. Comédia de mau-gosto para todos que assistem.

O anjo caiu de cabeça no asfalto, óbito fulminante de alguma maneira que nada surpreende...

Esqueço de meus compromissos, um à um, com maestria que pode me restar. Meu caso é grave, doutor? Sim, você tem ilusões em demasia, isso pode ser algo muito perigoso.

Esqueci o caminho que vai dar em Roma. Aliás, diga-se de passagem, não tenho nem um real pra comprar de pãozinho na padaria da esquina. Não sei se os dias é que são difíceis ou são as noites que metem mais medo ao coração de todos os homens.

Tudo vai como antes, só o tempo é teimoso demais com suas novas cores inventadas...

Um novo cometa cometerá desvarios em rota de colisão com a terra. Só que os cálculos estavam errados. Talvez quando cair já esteja eu na minha milésima encarnação. Tudo traz preocupação, eu bem sei, até a nova espécie de vírus desenvolvida num laboratório.

O destino tem cara séria. Todas vezes que ri está tendo uma crise, deve ser medicado prontamente. Dia sim e outro também uma nova dor surge do nada e uma nova lágrima acabou de ser fabricada, isso sim. 

O prato está vazio para desespero geral. A carteia idem, não são tempos difíceis, são apenas o que são, numa metafísica de faz arrepiar o cabelo de todos os mortos, inclusive eu, você e de todos os viventes.

 que é isso que eu escuto? Ecos do meu próprio coração em ritmo de samba-enredo? Se for, avise aí que ainda não chegou o carnaval...

Uma cachaça, duas cachaças, três cachaças... O suficiente para embebedar o metal de todas as máquinas que cumprem sua sina de pular em abismos. Insanidade de montão e ruídos inexplicáveis pela casa vazia.

Vertigens em excesso, tal qual a do burguês que descobre ter um filho honesto e uma filha decente. Tal qual quem ganhou na loteria, mas esqueceu de jogar. Na hora de dar o palpite o oráculo teve uma severa crise de amnésia e agora só semana que vem. Faltou tempero na bebida.

Uma mosca teve crise existencial e foi na justiça exigir seus direitos de não ser mais lanche...

Contém uma grama, pode pesar e tirar a dúvida. O pregador comprou todos os pregos para pregar suas mentiras. Agora falta no mercado para nossos angus. O cachorro no choco e a galinha late, Minha memória é extraordinária. Nunca confundo nada. 

Mas o anjo caiu de cabeça no asfalto, sacudiu a poeira e retornou aos céus...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 20 de abril de 2023

Selva, Selva, Selva

Um pedaço de tempo engolido aos poucos

Como um menino faz com um pedaço de pão...

Não há nova novidade ainda por enquanto!

Eu desperto na calma tranquilidade enganosa

E repito mil vezes aquilo que não queria falar...

Dói o corpo, mas dói mais a alma, ah, como dói!


Eis a falsa ciência

Eis a falsa decência

Eis a falsa inocência!


Os gurus hoje estão de folga e não há conselhos

Até o medo teve seu medo e foi saindo correndo...

Velhos tempos novos de tanta crueldade e engano!

O maior perigo de todos é não enxergar o perigo

A TV engole o barraco e vai lambendo seus beiços...

Deliciosa carne de ovelha para almoço e jantar!


Eis a doce demência

Eis a doce carência

Eis a doce prepotência!


São nas filas que são encenadas tragédias gregas

Sem heróis porque agora só temos temidos bufões...

A curva agora é reta e a reta agora é uma curva!

Cada detalhe é para ser passado desapercebido

Nem a morte consegue afrontar toda a ganância...

Que morram todos os miseráveis por essas sarjetas!


Eis a amarga sapiência

Eis a amarga prudência

Eis a amarga paciência!


(O avião caiu na selva e infelizmente salvaram-se todos...)... 

quarta-feira, 19 de abril de 2023

Da Arte de Bater Na Lata & Outras Sandices Alegres

Não há domínios para soltos corações.

O fim de toda coisa é a mesma imortalidade.

Qualquer espaço já é o suficiente...

O tiro no menino foi testemunhado.

Frases secas possuem certas razões.

Guardo todos os dias em meus bolsos...

Os soldadinhos de brinquedo contam passos.

Os olhos dela eram de um azul interminável.

Joguei o medo na lata de lixo mais próxima...

O gato foi enterrado no quintal baldio.

Até eu já tive um pé de laranja lima.

A Singer enlouquecia com minha proximidade...

Eu desenhava o que não consigo explicar.

Os ventos seguem tantas naves espaciais.

Onde eu coloquei a minha varinha de condão?...

Peço desculpas para todos os jilós existentes.

Fiz muitas cenas dignas de ganhar um Oscar.

Por que o gênio só atende três pedidos?...

Pequenas lagartixas dão enormes corridas.

Meus bocejos causam inveja aos leões.

A bailarina torceu o seu pé na apresentação...

Vêm aí os bebedores de café e comedores de batatas.

Bolos feitos com capricho por velhas tias.

Nunca mais contarei piadas sérias...

Algumas palavras cansaram-se e partiram.

Tardes não são manhãs e não são noites.

Nunca mais encontrarei motivos alguns...

Quero ir ver a la Ursa de bem pertinho.

Mas para isso vou nas asas de um camelo.

Iara cai na sarjeta sempre que enche a cara...

Um carro passou no carnaval com gente nua.

A porrada comeu na festa daqui de casa.

O inconsciente coletivo só fala besteiras...

Não há domínios para soltos corações.

O fim de toda coisa é a mesma imortalidade.

Qualquer espaço já é o suficiente...


 (Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

terça-feira, 18 de abril de 2023

Onde Por


 Curiosidades

Da mente que mente

Da chama que chama

Do estado fechado

Eu estou...

 

Animosidades

Do fato que bato

Da estrela que tê-la

Do caminho que espinho

Eu falei...

 

Periculosidades

Do rito que grito

Da estrada para o nada

Da apatia para o dia

Eu faço...

 

Espaçosidades

Da espera de uma quimera

Da razão sem emoção

Do espaço do fracasso

Eu venho...

 

(Extraído do livro 'Manual Prático de Poesia Absurda para Desesperados" de autoria de Carlinhos de Almeida).

O Que Foi?


 Minha insistência é grande feito pedra

Enquanto meus olhos ainda existirem

(De pequenas ilusões morrem muitos...)

Mesmo estando quente faz muito frio

As bolas de gude acabaram sumindo todas

(As bordadas foram as que mais...)

Pequenos pássaros fazem um carnaval

Enquanto memoráveis batalhas acontecem

(Qualquer peito já será o suficiente...)

No mais simples dos estalos de dedos

O carro acabou entrando pela contramão

(Minha teimosia batuca na lata de doce...)

Até meus ossos acabam sentindo fome

Mesmo que a vida acabe sendo amarga

(Olhar para trás é exercício de retórica...)

São tantos números e todos tão limitados

Como planos para um futuro inexistente

(Enquanto os cães sobem nos telhados...)

Algumas gotas de luxúria já me bastam

Enquanto curta aquele meu som maneiro

(Em qualquer caminho eu acabo me perdendo...)

A simplicidade é a mais verdadeira complicação 

Em dez segundos se pode matar muitas coisas

(Fingir é também uma forma de dizer a verdade...)

Vamos criar asas para virarmos umas bolachas

Apenas um pouco de cinza nos é necessário

(Quantas tocaias acabaram sendo invertidas...)

Muitos setembros não valem sequer um agosto

Um meio copo já está pela metade ou mais

(Algumas letras acabam virando abismos...)

 

(Extraído do livro 'Manual Prático de Poesia Absurda para Desesperados" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Registrado em Cartório

 

Quando se acabarem todas as sombras

Eu não poderei olhar mais para você

Aí poderei descansar finalmente de uma vez

Como quem acabou voltando para casa...

 

O bolero da minha fantasia (sol e luas)

Possuía todas as lantejoulas do carnaval...

 

O tempo me atendeu e voltou para trás

A mansidão das estrelas veio me ajudar

Nenhum caco de vidro ousou me ferir

E do deboche não está mais em meu riso...

 

Acabarei mudando meu nome no cartório

E talvez me arrisque a mudar o meu destino...

 

Pulo vários abismos como se fosse amarelinha

E agora certos enigmas tem muita pena de mim

Quero recortar-me como figurinhas de crepom

Enquanto chuto tampinhas no final da festa...

 

O chicote acabou caindo da mão do feitor

E o baticum durará pela noite até amanhecer...

 

(Extraído do livro 'Manual Prático de Poesia Absurda para Desesperados" de autoria de Carlinhos de Almeida).


Festa na Festa

 

Foi o sabiá que me ensinou a assobiar

Com sua sabedoria que ninguém sabia

Foi a cobra que me ensinou a cobrar

Se não ensinasse o que de mim seria?

 

Plantas na varanda

Flores no jardim

Tal eterna ciranda

Dentro de mim...

 

Foi o carnaval que me ensinou a carnavalar

Com seus brilhos que mais ninguém o tem

Foi o mar meu mestre que ensinou a marear

Com brilhos que estão no meu mais além...

 

Sonhos na memória

Amores no quintal

Continue a história

Sob esse temporal...

 

Foi a nuvem que me orientou como voar

Quais os países que eu não conheço

Foi a festa que ensinou como festejar

E que até a alegria tem o seu preço...


(Extraído do livro 'Manual Prático de Poesia Absurda para Desesperados" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 17 de abril de 2023

Essa Sim, Eu Danço

 

Apenas nomes

A seta apontada para o nada

Em que mil e uma cores

Acabam fazendo um balé

 

Eu que fui forasteiros em muitas terras

Derramo meus olhos feito chuva

Enquanto minhas asas me salvam

De mim mesmo

 

Não! Não é nada

Somente a pior de todas as dores

Talvez pelo amor que morreu

Ou pelo sonho perdido na noite

 

Acendo uma grande fogueira

E observo sua fumaça detalhadamente

Para descobrir algum enigma vadio

Que possa confortar de vez minh’alma

 

Num dia qualquer destes fiz um poema

Em que as palavras me feriram

Enquanto meus pés sangraram

Até que não pudesse mais andar

 

Os peões deixaram o tabuleiro vazio

(O jogo agora está acabado!)

Mas meu peito ainda grita

Enquanto te procuro sem pista alguma...


(Extraído do livro 'Manual Prático de Poesia Absurda para Desesperados" de autoria de Carlinhos de Almeida).

 

Raras Exceções

 

Diamantes feitos de giz

Espelhos fadados ao esquecimento

As férias que são cansativas

A beleza mais feia do mundo

O engano mais sensacional

A verdade que costuma mentir

Meu gol diminui-me os pontos

Fiquei correndo na rua à toa

Ser bom e mau ao mesmo tempo

Quase nunca consigo dormir

O fogo é tão bonito de se ver

A fome traz más recordações

Vestir-se de anjo é apenas vestir-se

Nossos crimes nunca morrem

Suportemos humilhações com risos

E sorrisos em ocasiões especiais

Sejam quais moscas que forem

A fidelidade das hienas nos comove

Marte prepara-se para uma festa

Todos os limites ficaram limitados

Os pirilampos desapareceram do mercado

A apatia agora sofre consigo mesmo

 


(Extraído do livro 'Manual Prático de Poesia Absurda para Desesperados" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Conte-Me Nada, Esconda-Me Tudo


 Cortar as pernas da cobra

                                               é pura maldade...

Asas de avião batendo

                                         em rumos de outros céus...

Meu êxtase momentâneo

                                               tem durado séculos...

 

Perdi todos os meus vícios

Menos o vício de viver...

Perdi meu gesto mudo

Não sei mais onde vou parar...

Escutei sons que davam medo

Sobretudo as batidas cardíacas...

 

Tiraram os dragões dos altares

                                                        por pura diversão...

As bailarinas de cancã sorriram

                                                         mesmo na tristeza...

As baratas andam pelos cantos

                                                         contando suas histórias...

 

Achei minha razão jogada fora

Enquanto ria sem ter um motivo...

Fiz alguns diversos eufemismos

Para as dores que me afligiram...

Cada segredo possui uma corda

Para enforcar a si mesmo...


(Extraído do livro 'Manual Prático de Poesia Absurda para Desesperados" de autoria de Carlinhos de Almeida).


Salto Mortal Nas Nuvens


 Pensamentos abstratos são moscas

Eu estou delirando como sempre estou

E nem mesmo febre alguma eu tive...


Invento tudo aquilo que não poderia

Porque se não brinco mais de corpo

Algumas palavras já são o suficiente...

 

O leão fez piruetas bonitas no circo

Enquanto usava a sua imaginação

Para poder jantar o domador...

 

Fiz do meu jardim o mais novo dos países

Onde as borboletas são as bailarinas

E os colibris dão conselhos tão úteis...

 

O céu fala comigo, fala sim!

Todas as manhãs são bons-dias

E todas as noites um simples adeus...

 

Aproveito para galopar estrelas

Tanto as do céu quanto as do mar

Isso agora pouco me importa...

 

(Extraído do livro 'Manual Prático de Poesia Absurda para Desesperados" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguém de Alguém

 

O que entendo, o que não entendo,

Milhares de palmas para um absurdo,

Dei apenas mais um salto mortal,

A solidão beijou-me na boca profundamente,

Eis uma música que desconheço seu idioma,

Campos de grandes girassóis bem azuis,

Minha respiração totalmente ofegante,

Nunca mais seremos mesmo os mesmos,

Guardo em caixinhas várias mágicas inéditas,

Tiros de canhões em campos de batalhas,

O vidro de meus óculos está quebrado,

Dez centavos faz uma significativa diferença,

Eu queria apenas mais um gole da bebida,

Alguns amores modernos mais necessários,

Perfumes baratos de banal promoção,

Toda putaria do mundo somente num gesto,

Como estão sujas minhas pobres mãos,

Eu desenho obras-primas em papéis velhos,

Minha verticalidade se tornou horizontal,

Tenho áudios declarando-me um canalha,

Num quarto de motel nas quartas-feiras,

Sábados especiais para o lixeiro levar sonhos,

Joguemos cartas como quem lança dardos,

Atrapalho-me com muitos pormenores,

O que entendo, o que não entendo...


(Extraído do livro 'Manual Prático de Poesia Absurda para Desesperados" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Luz Vermelha (Enquanto Besteira)

Luzes mandando parar

Enquanto os carros entram na contramão 

E acabam batendo

(Espetáculo digno de nota, senhores!...)

Nacional comoção...


Sexo em banheiro público

Entre dois rapazes que nunca se viram

Pudor público quebrado

(Há quem chame isso de amor!...)

São novos tempos...


Coletividade cega num falso programa

Jogo de cartas marcadas

Diamantes de vidro

(Para a caridade, não, nunca, jamais!...)

Ovelhas para abismos...


Umas canções diferentes

Cantadas no idioma da vulgaridade

Num mesmo tom

(Não sabemos em qual direção, não!...)

Maldades arquitetadas...


Espadas preparadas para a batalha

Uma guerra insana

Soldados-meninos em desespero

(The Money is God, my dear boys!...)

Esquecemos o choro…


(Extraído do livro "Manual Prático de Poesia Absurda para Desesperados" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Não Tinha Um Dia

Nasceu, viveu, morreu...


Um edifício desabou em local ignorado

O amante não compareceu ao encontro marcado

No desfile de modas o modelo desfilou pelado...


Nasceu, viveu, morreu...


O milionário morreu de infarto fulminante

Acertaram um tiro na cabeça de pior traficante

 Às vezes o anterior vem na frente do adiante...


Nasceu, viveu, morreu...


O nobre cidadão teve ímpetos de roubar

Salvar pode ser mais cruel do que matar

Para muitos a calçada se tornou um lar...


Nasceu, viveu, morreu...


O religioso pediu dólares aos fiéis pregando

Orações foram feitas aos ricos empresários

Todas as exibições mostram apenas o avesso...


Nasceu, viveu, morreu...


A fome se alastra qual uma erva-daninha

A indústria inventou seus novos problemas

Todos os defeitos são apenas o que são...


Nasceu, viveu, morreu...


(Extraído do livro "Manual Prático de Poesia Absurda para Desesperados" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 231

A porta está fechada

Que enigma há do outro lado?

Atrás da janela fechada

Alguns suspiros encarcerados

Há um muro bem alto

Poucos podem dar um pulo

Há olhos fechados ou abertos

Neles - saudade e ou solidão...


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Cansei-me de cansar com cansaço

Todos os meus passos na areia apagaram

Prometo nunca mais fazer perguntas

Hei de calar o menino vez por todas

Por onde andam as nuvens? Fiquem por lá...


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Os meninos rodam

A roda é mágica

A ciranda eterna

Nenhuma saudade cessa o riso

As fogueiras nunca se apagam

Parecem estrelas caídas na noite

No mais eterno SãoJoão...


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Vinguei-me de mim mesmo...

Por que escolhi sonhos impossíveis

Que só serviram para ferir-me?

Fui o culpado de todas as minhas lágrimas

Mesmo não sendo autor de muitas delas...

Por que escolhi amores malvados

Que só me causaram o caos no peito?

Fui culpado de todas as estrelas do meu céu

Ficarem sem sua luz...


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Um gole,

mais um,

o copo está pela metade

e sinto minha cabeça tontear...

Um trago,

outro trago,

meu pulmão reclama

sem poder se defender...

Uma tristeza,

uma saudade,

e mesmo pensando insistentemente

ainda não descobri porque estou aqui..


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Era apenas um pássaro teimoso,

saudava todos os dias como se alegres fossem,

mesmo que assim não fossem,

todos os dias tem um quê de tristeza e imperfeição...

Era teimoso, muito teimoso sim,

não como uma ave, mas como um poeta,

como os que enxergam beleza onde podem olhar...


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Através daquele vidro

eu via coisas há muito esquecidas,

brinquedos queridos e quebrados,

cenas bonitas e apagadas...

Como envelheci!...

Mas o menino ainda insiste

Como a brasa sob a cinza

que ainda não se apagou...


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Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...