domingo, 31 de julho de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 185

Estamos parados. A fila é interminável e nos agoniza. Talvez dê meio-dia e a fome chegue. Não há silêncio e não há justificativa para falarmos também. Não há pobres e nem há ricos. Somente humanos e nossas iguais necessidades. Não há velhos e nem há novos. Somente tolos e nossa mais tola inteligência. Esperamos ser atendidos e o sonho demora para não chegar. Somos únicos e quase gêmeos. Todas as dores são iguais e nem percebemos isso. Todas as lágrimas são salgadas e escorrem para baixo. Estamos parados. A fila é interminável e nos agoniza...


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Hoje é um dia como qualquer outro... Todos os relógios agirão como ontem e como amanhã... Hoje é um dia como qualquer outro... Novas bombas cairão sobre as cidades... Hoje é um dia como qualquer outro... Alguns terão luto e os outros farão uma festa... Hoje é um dia como qualquer outro... Para uns o primeiro choro e para outros o último suspiro... Hoje é um dia como qualquer outro... Alguns perderão a inocência e outros nunca mais a encontrarão... Hoje é um dia como qualquer outro... Nada existe, mas tudo permanece... Hoje é um dia como qualquer outro... 


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Eu permaneço nesta minha teimosia de viver. Mesmo quando os dias são insossos e desprovidos de qualquer encanto. Será por que? Não me perguntem, não sei a resposta. Qualquer lugar é abrigo para os meus medos e nele assim estarei. As sirenes das fábricas não tocam aqui perto e isso pode ser pelo menos um consolo. Minha mente ficará um pouco menos atordoada. Bastam-me alguns pássaros vadios para meus quase cegos olhos. Agora sou mais simples do que antes, todo final é assim mesmo.


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Ando com as mãos nos bolsos e a cabeça baixa. Prefiro não me distrair. A solidão me basta, mesmo não estando sozinho. Que caminho percorrerei? Não sei, dispenso alguma resposta, por mais sensata que ela possa me parecer... Devo parar ou não? Não sei, ninguém soube como isso verdadeiramente é até os dias de hoje. Sinto apenas como se todas as feridas que tive doessem novamente, todas de uma vez sem se importar como tempo que elas aconteceram. Eu só tenho as palavras, essas são insuficientes para alguma coisa. Gritar ou sussurrar são a mesma merda. Dar uma de maluco? Seria apenas mais um desperdício inútil... E só quero apenas andar com as mãos nos bolsos e a cabeça baixa antes que alguma tempestade se apresente...


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O sinal de trânsito abriu, o sinal da escola tocou, o barco já partiu, só a saudade ficou, na minha tristeza ainda existem os rastros do que passou. Nada sobrou do que foi antes, palavras proferidas já se calaram, nem a violência dos amantes, as juras de amor não mais prestaram, as fogueiras que iluminavam a noite se apagaram. A ferida na carne se abriu, o meu amor já morreu, o anjo do céu já caiu, a sombra passou e ninguém percebeu... afinal, quem sou eu?


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Ele chegou quase agora. Não sei em quais caminhos a noite se passou. Sua mente vem embotada, não somente com álcool, mas também das cenas que acabou vendo. Madrugada de não sei quantos desesperados tentando esquecer sua tristeza em vão. Vai direto para a cama, antes passa pela cozinha, depois tranca a porta do quarto. Completo silêncio agora. Mais um dia passará. Eu sou apenas um velho inútil e solitário, meu filho. Logo irei embora, sem ao menos dizer um adeus...


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Mágico, todo momento, até o que escorre entre os dedos. Perigoso, todo desejo, sobretudo o que está tão longe. Mortal, toda ilusão que nos cega, principalmente a que ama abismos. Deixe-me respirar mais calmamente, tenho corrido mesmo quando estou parado. A minha impaciência fita as paredes, espero que elas desabem. Não amo as tragédias, simplesmente elas são inevitáveis. O pó se acumula por todas as improbabilidades, por isso, irei economizar pelo menos alguns adjetivos.

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