quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Redescoberta

Verão, olhos, estendido, sol, braços, fechado, criança, sorrindo,  desfrutando, feliz.
Olho pontualmente todos os dias
Todas as palavras passadas e possíveis
Com uma surpresa que antes não tive...
Saboreio cada palavra
E sinto um gosto inédito
mesmo esquecendo porque estão ali...
Assim como os segundos
As palavras são enigmas 
Mesmo quando velhas conhecidas...
As lágrimas não!
Seu gosto lembra o mar
Nos dias mais frios que pude viver...
Dias de ressaca, muitas delas,
Mas mesmo assim ainda bonitas
com tantas espumas pra se ver...
As palavras seriam quais espelhos?
Sim, espelhos são a marca de um inédito,
Quando nos vemos, já não somos mais...
Vejo as rugas que prosseguem,
Invasoras de que tento me defender,
Mas vencedoras da guerra do tempo sim...
Os ponteiros não param, 
Andam com seu pavor costumeiro
Na direção ao objetivo que não alcançarão...
Tudo é quase que infinito
Sobretudo a minha saudade
E um desespero decorrente dela...
Cada poema uma flor e uma ferida aberta,
Todo desejo um plano bom que falhou,
Os alvos foram feitos para serem errados...
Em que casinha se escondeu o coelho?
Noites de frio que eu me alegrava
Porque a inocência ajuda aos que nada têm...
Eu consigo pelo menos respirar mais um pouco,
As águas ainda não conseguiram me afogar,
Acho que ainda sou e permanecerei humano...

sábado, 26 de setembro de 2020

Meio-Dia

Quem empinou o sol a pino? | VEJA
Meio dia... sol sobre nossas cabeças...
as sombras se acabaram...
estamos completamente sós...
mesmo quando estamos em bando...
cada um é cada um... só isso...

Meio-dia... tudo e nada pra se fazer...
todos os cães quase ladram...
ficamos inteiramente tontos...
ainda que não bebamos nada...
é a nossa mente... que nos mente...

Meio-dia... as cidades enlouquecem...
os carros são novos dragões...
que atropelam os corpos...
cada acidente é apenas mais um...
uma morte nova... apenas isso...

Meio-dia... máquinas estão rugindo...
os estômagos estão vazios...
a miséria completa a si própria...
o vampiro desesperado se suga...
a morte não é dor... é o fim dela...

Meio dia... meio sol... meio tempo...
o meio do que vai acabar...
vem a tarde e virá a noite...
nada sabemos da madrugada...
talvez venha a manhã... repetição...

Meio dia...

A Dança do Cão

Tilda Swinton e Dakota Johnson dançam com os seus demónios | Cinema |  PÚBLICO
Toca no rádio
toca no carro
passa na televisão
cai sobre os prédios
engole a vida
gargalha o Cão
Sacode os ossos
sacode a cabeça
uma total comoção
estamos vendidos
estamos perdidos
não há salvação
Mata os índios
mata os bichos
é moda da estação
desrespeita os velhos
corrompe os novos
vence por exaustão
Requebra as ancas
requebra a bunda
sem educação
numa loucura careta
por simples moda
apenas drogadição
Estuda o que diz
estuda os gestos
cisca no chão
o comercial da vida
o comercial da morte
sem outra opção
Estupra a menina
estupra o menino
estoura o balão
Se oferece na esquina
se oferece na Net
não tem direção
quem tem grana
quem paga mais
custa um milhão
A boca implora
a boca precisa
de ter refeição
mendigos nas ruas
pombos na praças
linda composição
Envenenem o dia
envenenem o sol
encerrem a questão
façam o que querem
matem os sonhos
desaprendam a lição
Toca no rádio
toca no carro
passa na televisão
cai sobre os prédios
engole a vida
como dança o Cão...

(Extraído do livro "Palavras Modernas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Coração Fora de Moda

Pin em Quadros Antony A.B
Não mire dentro dos meus olhos, deixe que eu siga meu caminho em paz ou pelo menos naquilo que eu pretendo que seja. Nem eu sei se isso é pressa ou cansaço, paradoxos existem e muito. Eles possuem a profundidade de certas escuridões e poderão te devorar em questão de apenas alguns segundos...
Não me dirija a palavra, respeite este meu silêncio que solta gritos pelas ruas por paixões mais fúteis e impossíveis. Não sei se isso vale a pena ou não, errar é humano e eu ainda o sou. Mesmo quando a dor quase me fez um bicho feroz e desembestado por lugares de escuridão...
Não ligue para meus gemidos, sofrer é apenas passar o tempo enquanto estamos neste pesadelo chamado vida. Tudo não passa de um quebra-cabeças que só descobrimos que falta uma peça depois que o montamos com desnecessário cuidado. Quando menos se espera é que o tiro atinge o alvo...
Eu me esforço para ser o mais moderno possível, ganhar todos os "likes" que estiverem o meu alcance, ser a mais nova e efêmera celebridade, fazer minha imagem ser o viral do hora, do dia, da semana, do mês, do ano ou do até sempre. 
Eu construo a nova língua, o novo gesto como quem debocha do que já existia como os pombos que defecam em cima das estátuas nas praças, como o cão de rua que levanta a perna traseira e...
Mas mesmo assim tenho medo de desaparecer...
Como desaparecem as pessoas em números de estatísticas das vítimas da fome, da guerra, da pandemia, desastres de incêndios ou qualquer coisa que cause alguma insincera comoção...
Não ligue para o cigarro que eu fumo e deixa um cheiro terrível na velha roupa, para o meu violão que arrebentou a corda sem que eu aprendesse a tocar, pro chiclete que eu pisei em cima e grudou na sola do meu tênis velho... Não ligue para a minha malícia sem explicação, minha curiosidade em ler as lápides ou os anúncios pregados nos postes...
Não ligue para o cheiro de cachaça na boca, para o perfume barato que eu comprei da revista, se sou desinteressante como toda pessoa é um pouco... Eu escrevo versos por vício, assim como a vida é mais um deles na nossa interminável lista que vivemos fazendo...
Só peço que espere assoviar uma canção já esquecida desse coração fora de moda...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).


Alguns Poemetos Sem Nome Número 81


Eu fiz uns traços
eu fiz uns riscos
no céu e no chão
no chão um sol
no céu nuvens de algodão
mesmos com os pés
agora pregados
Eu juro!
um dia vou embora daqui...

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Faço que nem malabarista
lidando com minhas decepções
todos nós somos meros artistas
fazendo nossas pobres encenações...

Uma máscara esconde o rosto
sem possuir quaisquer explicações
mesmo que isso não tire o gosto
de nossas desesperadas ilusões...

Queima a alma e a carne corta
na mais malvada de todas as ações
tenha cuidado e feche a porta
não há sequer mais interrogações...

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Cada surpresa pesa 
solene em meu peito
porque as más são mais numerosas
Acabou o gás
acabou a luz
acabou o pão
acabou a vergonha...

Cada esperança dói
o medo vem de brinde
é consequência natural nossa
Acabou o amor
acabou o sonho
acabou a razão 
mal restou a vida...

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Nos céus eu danço
como a faísca perdida
do metal no esmeril...

No chão eu danço
como a brasa espalhada
da fogueira na noite...

Na água eu danço
como a luz vinda de longe
do espelho solar...

No nada eu danço
como o repente do nada
dos versos tristes...

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Como sopram
os ventos
as palavras
as notícias
as ideias
Gestos simples
de pura afeição

A água no copo
o vidro que brilha
em esperanças
que ainda 
quero ainda ter

Sem regras
com a forma que melhor
puder em simples
e pura mais dança
Eu vento para
todos os possíveis lados
sem ter mais porquê
me esconder...

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Estrangeiro daqui mesmo
estranho tantos sóis 
que ainda não conheço

Sem folia
sem folia 
sem folia

Triste no meio dessa festa
mesmo sem ir embora
tudo tem o seu justo preço

apatia
apatia
apatia...

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Ando pelos corredores da vida
feito cego
Pelas ruas da minha existência
feito surdo
Implorando aquilo que não aceitam
feito mudo
Eu lembro de esquecimentos
que doem muito
E mesmo assim tudo ri de mim
como sempre
Ando como um sonâmbulo
ou na corda bamba

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É tudo um jogo
competição 
entre borboletas
e beija-flores
entre estrelas
e pirilampos
É tudo um jogo
competição
entre palavras
e gestos
entre luzes
e olhares

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segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Confessio

Papeis de parede 2560x1600 Urso de pelúcia Céu Menino Costas Sentados  Crianças baixar imagens
Confesso descaradamente que nenhuma pergunta que fiz foi respondida de forma satisfatória. Nem sonhos e nem cabelos encaracolados me bastaram para que a dor passasse.
Para cada dia basta a sua própria nuvem para que tudo esteja arruinado. Chegar em segundo lugar é perder. O quase é o grande aniquilador de todos os nossos sonhos.
Já tive bem mais medo que agora e prestava mais atenção em todos os enfeites que podiam haver. Tudo que é ruim tem a cor mais forte e a tinta que foi executado com a melhor qualidade.
Cada amor afia sua lâmina para que a dor seja menor e a morte mais rápida. A indiferença supera a crueldade. A tristeza poderia ser contagiosa e nunca é e nunca será;
Eu sou mau como qualquer um e possuo as provas mais contundentes deste feito mais que vulgar. Já ri de tombos e já ri de desesperos que não eram os meus.
Os calendários são paisagens de filmes de terror e eles acabam se repetindo em todas as sessões da tarde. O amanhã é uma ilusão inexiste que vai se sucedendo antes que a exaustão chegue. Qualquer lugar que nos escondermos não estaremos livres de nós mesmos.
Nem dragões poderão ilustrar a minha história e as donzelas em perigo estão em falta neste mercado sujo. Nenhum razão convence que o sofrimento leva à algum lugar e mesmo assim há quem insista.
Cada espinho tem um sabor diferente e todos esses sabores são amargos ao seu mais extremo. O otimista é todo aquele que sua dignidade não foi à prova e joga todos os problemas alheios no colo de Deus. Orações de aflição estão sempre no final da fila e faltam alguns minutos para terminar o expediente.
A apatia é uma estratégia como qualquer outra e nos faz tão cínicos como qualquer cidadão de bem. O álbum de figurinhas nunca será preenchido mesmo se juntarmos todas as nossas moedinhas e querermos muito. 
Toda loucura é apenas uma mudança de perspectiva e os anéis caem facilmente de todos os dedos. Marchamos em direção às nossas necessidades e nem damos conta disso. Mudar um nome é mudar a ordem dos números e nunca paramos para observar isso.
Qualquer erro pode ser fatal para os que querem exatamente isso e tudo o que dá certo é passageiro demais. A cama dos esquecidos é menos confortável do que a dos faquires e mesmo assim deitamos.
Confesso que ri junto com alegria e que isso foi por puro esquecimento e recolhi a esmola que me deram com deboche. Nada mais tirarão de minha boca ou somente os poucos dentes que me restam. Sair andando é uma estratégia como qualquer outro e sempre sem olhar pra trás...

(Extraído da obra "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

domingo, 20 de setembro de 2020

Um Certo Cansaço

4 consequências da criança dormir tarde - Melhor com Saúde
Deixa que eu te diga o que penso:
estou muito, mas muito cansado...
Deixa que eu te diga o que sinto:
talvez seja melhor ir embora...
Esse cansaço não leva ao desespero,
é um cansaço desses que andam
Mas que gostariam de poder parar,
um cansaço que pede esquecimento...
Para esquecer das coisas ruins,
abro mão das coisas boas...
Afinal de contas, fazendo as contas,
não sei quais delas foram mais...
Mas veja bem, as boas quando acabam
se transformam em saudades
e mesmo que nem todas elas seja más,
todas acabam doendo pouco ou muito...
Deixa que eu te diga um simples fato:
em um certo tempo todo tempo se vai...
Isso é a como se fosse a sombra
para todos os lugares que vamos...
Não sei se é cedo ou se é tarde
para tirar qualquer uma conclusão,
todas elas acabam nos afligindo...
Dizem que a vida passa diante 
de nossos olhos como num filme,
mas se for assim o meu é preto-e-branco,
é feito de todo o mais simples
que um dia já quis e hoje não quero mais...
Não quero mais que passe a chuva
e aquele sol bonito venha logo...
Eu não pedi um e nem outro...
Assim como as flores são as pessoas
tudo que é vivo conhece a morte
a maioria dos amores também são...
Deixa que eu te diga o que penso:
estou muito, mas muito cansado...
De que? Talvez de mim mesmo...
E talvez agora só queira dormir...

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Alguns Poemetos Sem Nome Número 80

Eu me faço em centenas de pedaços e me recomponho inúmeras vezes. Como um vidro mais ou menos mágico. Eu escolho palavras sutis para falar o que nem compreendo e acabo caindo de cabeça no asfalto quente. Como um mártir mais ou menos moderno. Eu tenho até alguns sonhos bonitos e ao acordar acabo vendo que a realidade é mais que um pesadelo. Como bombas explodindo sem avisar. Eu sofro mais do que cão de madame e tento abanar a cauda que não tenho. Com um matemático usando lógica para coisas ilógicas. Não há mais jeito pois o dia nasce...

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Só espere de mim
o pouco que posso lhe dar
Um resto de sorriso
que sobrou duma alegria morta
Alguns versos da canção
que esqueci a letra toda
A fumaça que sobe
quando a chama se apagou
Não espere mais nada
pois tudo é muito fugaz
e a vida mais ainda...

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Sem mar, sem abrigo, apenas um na noite mais escura. O possível mandou-me lembranças e diz que, qualquer hora dessas aparece por aí. Sem mar, sem espuma, apenas alguns traços. Quase que todos apagados duma saudade que perdeu seu nome e não encontrou mais. Sem mar, sem marola, parado feito um desenho. Nem a minha loucura foi suficiente para salvar-me desta aflição. O chão agora é de areia e os ventos fortes demais...

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Fumaça incômoda
que foi chamada
me diga logo:
por que a vida foi errada?

Não sei dizer
vou dizer não
pergunte logo -
ao seu coração

E se ele (pobre)
não puder dizer?
foi por este motivo -
perguntei pra você

Eu tenho pressa
vou logo embora
não fique triste:
eu respondo outra hora...

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Escuto barulhos de pássaros surgindo no imprevisível que surge. O dia clareia, mas só o dia. Muitos já com pressa, outros não. Faz parte desse enorme quadro. Uns acordados, outros dormindo até o próximo susto, outros dormindo outra vez. Vivos e mortos convivem, os fatos se esquecem, as consequências nunca...

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Eu sei que é contradição
quando eu contradigo
todas as coisas que digo
mas afinal eu nem ligo...

Nada assim permanece
tudo se transforma
a essência e a forma
depois de tudo se conforma...

Eu sei que sou contraditório
quando eu me contradigo
e sou meu amigo e inimigo
mas afinal eu nem ligo...

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Flores pisadas, amores machucados, os pêndulos e apanhadores-de-sonhos imóveis, cheios de poeira e sujeira de mosca. Papéis amassados na lixeira dos sonhos, poemas que não serão mais escritos. Embalagens vazias jogadas pelos cantos feito nós. Calor e frio numa disputa acirrada. O exterior quente, o interior frio. Vamos comemorar? Comemorar o que? Não sei. Apenas comemorar essa continuidade louca da vergonha que todos nós escondemos num esconderijo inútil.

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quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Mesmo

Rapaz com pintura facial — Stock Photo © luislouro #131226396
Mesmo que a máquina não funcione
e a luz do sol  nos abandone,
que tudo não passe de um clone
e venha logo um malvado ciclone...

Mesmo que a chama não mais acenda
e que a verdade se torne lenda,
que Judas seja posto de novo à venda
e a nossa vida se torne uma prenda...

Mesmo que nos percamos na estrada
e que ela afinal não desse em nada,
que o palhaço chorasse quando da piada
e não fosse previsto o tombo da escada...

Mesmo quando uma estrela do céu caísse
e o balão então não mais subisse.
que o desamor viesse e me agredisse
e a nossa luta fosse apenas uma tolice...

Mesmo que não se fechasse mais o corte
e não existisse mais a nossa sorte,
mesmo que nada mais o peito suporte
e tudo apenas aponte para a morte...

Mesmo que eu fosse o mesmo não seria
e foi-se embora minha alegria,
que tudo que me resta é uma agonia
e os olhos fechados e a casa vazia...

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Alguns Poemetos Sem Nome Número 79


Sem surpresas
somos apenas as presas
de uma constante involução
invertam-se o sim e o não

Sem verdades
somos os novos covardes
de uma manifesta inquietação
andemos para o pelotão

Sem estimativas
somos as mortes vivas
sem resposta para a questão
somos fantasmas lá no porão...

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É estranho constatar isso: as alegrias estão cada vez mais raras, estranhos cada vez a nossa presença. Talvez a verdadeira culpa disso seja nossa: perdemos o nosso tempo querendo alcançar sonhos que não aproveitaremos depois de conquistá-los; aceitamos desafios desnecessários que só oprimirão os outros contendores; destruímos tudo ao nosso redor por pura vontade de demonstrar que somos os piores. A casa caiu, a cidade desabou, as flores foram pisadas, tudo acabou e depois disso, apenas choramos...

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Muito ou pouco já vi
(é que não consigo me lembrar)
Muitos ou poucos lugares andei
(o cansaço não dá explicações)
Foram muitos amores ou nenhum
(o coração é que poderá dizer)
Escutei muitas canções ou nenhuma
(o final de tudo vem logo adiante)
Escapei ou não de armadilhas
(foram muitos pedaços que perdi)
Mas mesmo assim não sei o que restou...

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Talvez seja apenas isso: cair num sono perpétuo até não poder mais. Todos os ciclos repetindo-se sem se importar com o que está em volta. 
Talvez seja apenas isso: um arranjo de palavras mais ou menos exatas. Será apenas uma ilusão pensarmos que existe alguma dicotomia.
Talvez seja apenas isso: nada do que eu queria me interessa tanto agora. Toda hora é hora de partir e nenhuma hora de chegar está marcada.
Talvez seja apenas isso...

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Rasga o céu todas as cores
e a tempestade se aproxima
Onde iremos nos abrigar?
Caem as gotas como desencantos
ou um choro qualquer esquecido
Onde haverá algum refúgio?
Eu já passei por tantas delas
que mais uma pouco importará
O verdadeiro perigo
é quando o medo vai embora...

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Está em falta, uma razão sem razão invade praças e jardins. Nada que nos console, ser humano já é algo perigoso, ainda mais quando muitas mentiras são aceitas. No alto satélites e aviões cobrem no céu e uma chuva negra se aproxima com a rapidez de um pensamento por impulso. No chão o lixo jogado nos lembra debochadamente como somos cidadãos de bem. Tudo é falto, tudo é falso, como o anel barato que a puta velha exibe com o sorriso faltando vários dentes. Tudo conforme recomendam os manuais. Até a esperança não espera mais nada...

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Palavras palavras
palavras tantas
palavras santas
ninguém estava

Palavras palavras
e no entanto
não há espanto
ninguém gostava

Palavras palavras
palavras certas
palavras abertas
ninguém sonhava...

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sábado, 12 de setembro de 2020

Alguns Poemetos Sem Nome Número 78

Eu ando na corda bamba como quem falta a corda, cai no ar tentando ser um gato e não consegue. Eu estou evitando me mirar em espelhos, eles são cruéis dando-me notícias que evito saber. Os dias são ruins e os tempos difíceis, a normalidade agora é quase impossível e o comum acabou virando o incomum. Eu tento mirar as estrelas através de barreiras de nuvens escuras, diferentes das que eu gosto de mirar vez em quando fazendo bonitos e distraídos desenhos. Eu quero um  pouco mais de alegria do que a talvez eu tenha direito, mas a tristeza é a mais pontual de minhas visitantes. As loucuras transformaram-se em um tédio que me sufoca e me envenena rapidamente que nem tenho tempo para pedir socorro. Deixe-me bailar em pleno ar mesmo que falte-me alguma mágica para isso...

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O que foi já foi
mas continua sendo
pois tudo permanece
eu é que estou morrendo

A luz vem lá de cima
mesmo como céu escurecendo
pois essa noite é em mim
e eu estou quase adormecendo

Não me desespero
mesmo com o medo crescendo
e com tantas maldades
que os meus olhos vão vendo

O que foi já foi
mas continua sendo
se a brasa arrefece
meu amor ainda está acendendo...

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Não exijo muito da vida
chamem o menino triste
para tocar flauta pra mim
chamem a bailarina sonhadora
para me acompanhar
juro que todas as minhas palavras
do mais puro dos afetos
surgirão sob o sol
e eu voarei junto aos pássaros
só peço que me perdoem 
se não voltar...

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Lamento como são a maioria das pessoas, esqueceram das coisas mais importantes em troca de ilusões malfeitas que desperdiçaram seu tempo para conseguir. Seus caixões são pequenos, suficientemente pequenos para caberem o que ainda lhes restava e não resta mais. Seus bolsos estão furados, o tempo faz isso com todos eles, se não distribuirmos o que temos de mais caro, a vida se incumbirá disso sem ser convidada. Sua beleza será jogada junto de sua mocidade em uma lata de lixo e o lixeiro virá fazer seu trabalho exatamente no dia que foi marcado. Sua fama será legado ao futuro e o futuro não sabe bem do que aconteceu, mostrando suas versões erradas de cada dor e de cada alegria. Lamento muito pelos tolos que acharam que o amor e a felicidade podiam ser vividas sozinhas. Lamento muito...

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Etílico como poucos
triste como muitos
a vida é apenas um movimento
que se obedece por teimosia
a fisiologia supera
todas as nossas pobres metas

Bárbaro como alguns
rude como alguns sós
a ternura me salva por um triz
dos venenos que fabrico
a esperança nos maltrata
com a melhor das intenções

Mesmo que não queira
ainda me lembro de atordoações
que foram até doces ou amargas:
a primeira tristeza 
e o primeiro beijo na boca
isso me é suficiente para a eternidade...

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Todo parto é doloroso

seja ele o parto dos seres
ou o parto das ideias

Toda obra consome 
o seu pobre criador 
mesmo que não aparente

Todo o tempo que corre
acaba nos levando
até onde não queremos

É isso e somente isso
que nossa linguagem 
acaba chamando de vida...

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Meu roteiro de seguras ilusões!
Guia-me pelo caminho que assim o queira,
não se incomode que eu sofra com isso, 
sofrer faz parte deste nosso árduo itinerário...

Meu engano de palavras tão gentis!
Desde há muito eu segui por este caminho,
mesmo sabendo dos perigos que encontraria,
perigos estes menores do que eu mesmo...

Hei de economizar algumas preciosas palavras!
Talvez em breve o meu silêncio enfim se acabe
e eu posso gritar finalmente o que não gritei
e mesmo que todos riam possa dizer: eu te amo...

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quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Noturno Sem Noite

tempo de aparências ou tempo de insegurança?
Esfrego as mãos nos olhos por simples e puro hábito, não adianta, a irritação só aumenta. Não sei mais ler os signos como fazia antes e todas as mágicas já falharam. Não quero mais varinhas de condão e a velha capa está pendurada armazenando poeira.
Quanto mais comum, mais estranho sou...
Não por sadomasoquismo, mas por pura frequência, as dores não mais me surpreendem. Camas de pregos, tapetes de viro e balas acertadas no alvo são o que mais comum existe. A maior das surpresas é quando tudo vai bem...
O tempo nada envelhece, a tristeza sim...
Os demônios estão tristonhos, já não podem mais exercer seu ofício, algo bem pior agora anda sob o sol e paga seus impostos regularmente. Tudo agora obedece as regras, as regras são as mais malvadas possíveis...
O meu cérebro falhou, é defeito de fábrica...
Em cadeia nacional os canalhas mostram que são também céleres tolos. Uma coleira invisível nos leva aonde ela quer, geralmente damos inúmeras voltas no quarteirão e não chegamos em lugar algum, somos palhaços sem fantasia e sem rosto pintado...
Amargo, salgado, azedo, o doce acabou...
O faraó perdeu a alma que não temos, manda pedir sinceras desculpas. E promete que logo que for possível nos mandará alguma se os correios não entrarem em greve e os fabricantes não falharem nas encomendas...
Pedintes, sujos, famintos, somos quase todos...
Completamos nossos cursos de covardia, penduramos os diplomas na parede da sala de estar, agora sim, somos cidadãos de bem. Já podemos virar o rosto com tranquilidade para o outro lado e irmos em direção ao nada...
Igrejas, escolas, cadeias, puteiros, apenas variações...
Faltou-me mais um pouco de loucura e por isso mesmo enlouqueci de vez. O otimismo segurou minha garganta e a apertou até que eu perdesse os sentidos e quase não voltei. Quando o comum e o incomum se misturam começa a grande contenda...
Se falo a verdade, corro um perigo perigoso...
Eu me sobrecarrego das drogas mais perigosas e mortais, coloco a munição e espalho muitos tiros. Não sei quantos desamores matarei, mas acertarei alguns. As paixões são ótimas instrutoras e eu fui um aluno bem aplicado...
O veneno entrou em minhas veias e morreu...
Meu analista quando me vê, sai correndo e se esconde logo. Sou excêntrico demais e detesto certas unanimidades, não consigo, é mais fácil carregar pedras de cem quilos o dia todo em tardes de verão. Encaro com seriedade todas as brincadeiras...
Está tudo escuro em volta de mim...
Não sei se é noite ou se é dia, por isso mesmo assim me arrisco em fazer um noturno sem noite...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Poor Poet, Poor Poetry

menino pensando Foto de LUIS | Olhares - Fotografia Online
Minha poesia é quase
gêmea de mim,
toda sem jeito,
tímida assim...

É a poesia dos que sofrem,
dos que sabem amar
e mesmo que seja lugar-comum
é a dos que sabem chorar...

Minha poesia é quase
silencioso grito,
que vive presa,
mas é o infinito...

É a poesia dos enganados,
dos que sofrem a traição
e a saudade deixou as marcas
que não sairão mais não...

Minha poesia é quase
sonho concreto,
nascida da paixão
sem afeto...

É a poesia de um desespero,
andando na madrugada,
que já perdeu quase tudo,
não tem mais nada...

Minha poesia é pobre,
é incompleta,
ela sempre foi e é
como o poeta...

Minha poesia...

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Um Fato

Arquivos autodidata | Alto Astral
Um fato
todos os rios - para o mar
mas onde está o mar?
Não sei...
não sabemos...
mas a lei da gravidade funciona...
a lei do impulso obedece
ao tempo,
tão cedo ou tão tardio...
O inimigo está à espreita
quem é?
São muitos
mas o meu principal sou eu...
Eu tudo complico
e nada simplifico
Só desejo o que não posso ter...
E as necessidades básicas
acabam rindo de mim...
As minhas noites
já são sem estrelas
acho que estão aqu
i no bolso...
Mas o bolso já furou
espalhei todas pelo caminho...
Eu durmo sozinho
acordo várias vezes assustado
sou apenas mais um
ou quem sabe nenhum?
Mas de uma coisa,
apenas uma
que não existe nada fora de mim...
Cores sombrias
e cores vivas,
a sordidez de um anjo
e a bondade de um demônio
tudo cabe em mim
e nesse caber que transborda
um dia encontrarei o mar
Esse mar que sempre quis
mas me apavora
esta escuridão que procurei
com olhos bem abertos
para não tropeçar...
Os sábios calarão suas bocas
as filosofias se recolherão
à sua nada evidente pequenez
e tudo não passará
de um simples fato...

terça-feira, 8 de setembro de 2020

Lua Louca

Lua cheia – Wikipédia, a enciclopédia livre
lua nua
lua rua
minh'alma ainda é tua...

num lençol de passado cobria-me das moscas
a minha inocência contribuía com ideias toscas
de límpidas as minhas lentes se tornaram foscas
eu sangrava até não sobrar mais nenhuma gota
nasceu a paixão e eu não sei se garoto ou garota...

lua nua
lua rua
a realidade é crua...

num espelho pude fitar todos os profundos abismos
eu suportei a dor com o maior dos meus cinismos
sem ter equilíbrio tive que fazer muitos malabarismos
ando tão esquecido que monto no cavalo sem sela
a vida é uma grande mentira bem pior que a novela...

lua nua
lua rua
e o espetáculo continua...

apertei o gatilho e dei cem tiros de uma só vez
qualquer pesadelo não é pior do que o fim de mês
o sim nos salva o não nos mata e tortura o talvez
ter um prato de comida agora merece uma reza
a virtude acabou tudo agora vale quanto pesa...

lua nua
lua rua
é tudo uma grande falcatrua...

um zumbi deve ser mais bem consciente do que eu
perdi a razão assim como a noite perdeu seu breu
somos a comida das feras nesse moderno Coliseu
esperamos castigos um pouco bem mais amenos
enquanto nos preparam os mais sutis dos venenos...

lua nua
lua rua
o palco vazio ninguém atua...

existe um novo tipo de morte em cada uma esquina
cada um pede sua esmola com a vasilha de margarina
se tenho que me afogar que seja ao menos na piscina
eu não fiquei louco agora porque louco eu já nasci
só consigo acreditar nas coisas que eu nunca vi...

lua nua
lua rua
minh'alma ainda é tua...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Antigas Novidades

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Qualquer dia desses mergulho de cabeça numa fotografia dessas bem antigas e volto no tempo...
O motivo? Essa saudade que me aperta a garganta feito nó de gravata mal dada que acaba parecendo uma forca... Não que eu use mais gravatas, isso também são outros tempos...
Qualquer dia desses brigo com o relógio e aplico-lhe uns bons de uns tapas...
Por que? Já viu a maldade que ele faz com a gente? Tudo se torna tão distante que não dá mais pra ver nada... Surge um desespero porque estamos sempre sós em qualquer lugar...
Uma horas dessas eu quebro o espelho em mil cacos, ele me pega todo esse deboche que até hoje fez comigo...
Qual deboche? Dessa descrição interminável de que tudo o que é bom acaba partindo, que tudo que amamos desaparece... Desaparece em nuvens lá no alto que nunca poderemos alcançar...
Saio por aí, pelo mundo e ninguém me encontra mais, podem me procurar em tudo quanto é lugar...
Sumo pra quê? Pra conhecer terras que não conheci, algumas por oportunidade, outras por medo mesmo... Esse mesmo medo que a velhice acabou destruindo mesmo sem querer...
Esqueço as juras que fiz, mas por sobrevivência do que por questão de mau-caráter, pode anotar aí...
Que juras são essas? Aquelas que fiz brigando com minhas paixões que acabaram (desleais que são) ferindo-me... Mais do que milhares de espinhos e milhares de facas também...
Qualquer dia desses acho alguém mais louco do que eu e que tenha feito uma máquina do tempo...
O motivo? Essa saudade que me dá uma vontade danada de andar pra trás pra poder resgatar sonhos... E conseguir de volta aquelas antigas novidades...

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Apenas Isso

Rosa Morta Fotos do acervo - FreeImages.com
A rolha foi para o alto
feito um furioso projétil
e o riso acompanhou o brinde
era grande nosso contentamento
mas a alegria acabou indo embora
foi apenas um brinde
apenas isso...

A luz nos atacou de repente
entrou em nosso quarto
e despertamos para o novo dia
éramos cheios de tantas esperanças
e queríamos realizar nossos sonhos
foi apenas um dia
apenas isso...

A água caiu bem lá de cima
molhou nosso rosto
afugentando essa calor malvado
fazendo abrir todas as flores
as mesmas flores que afinal morreram
foi apenas uma chuva
apenas isso...

Os meninos correram ligeiros
e a bola rolou no campo
e o chão sob seus pés descalços
sentiu-se mais vivo do que nunca
até que a partida então acabou
foi apenas um jogo
apenas isso...

O verso chegou com suas asas
pousou em minha alma
e doeu tanto pelo amor perdido
como nenhuma dor deve doer
mas eis que nem o poeta ama mais
foi apenas um amor
apenas isso...

Apenas isso...

Poema Quase Idiota

Foto de Chorando Pierrot e mais fotos de stock de Adulto - iStock
Ver a transcendência
daquilo que não vi
e sentir o líquido
quase não-líquido
em velhas paredes novas
Eu sinto uma febre
que queima sem queimar
escapando de minh'alma
pedindo finais menos tristes
como não deveria ser
Estrelas! Flores!
Eu sonhei com tudo ontem
e nem mesmo eu sei
se quero mais ou não
ou se foi apenas uma marca
Assim sou e assim somos
em caminhos desconhecidos
que irão dar em algum lugar
ou em lugar algum
mas isso pouco importa
É tarde... é muito tarde...
esse réquiem pode
ser para mim ou não
eu mesmo não sei bem
se isso se chama vida
Tudo se transforma
e talvez esse seja o segredo
de algo restar (talvez)
e que seja esquecido
como certas feridas sem cicatriz...

sábado, 5 de setembro de 2020

Masque Chicletes

Boy Blowing Bubble Gum High Resolution Stock Photography and Images - Alamy
A poeira zunia mais um pouco, era acompanhante de um solitário vento, desses vermelhos que não se fazem mais. Mudaram os ventos? Sim, mudaram faz tento. Não há mais aqueles ventos que nos traziam ideias mais felizes, mesmo quando morriam ali mesmo. 
Os ventos são outros, são frios como o hálito de uma morte esperada, mas adiada. Ou então mornos como os que saíam de profanas bocas nos dizendo disparates que faziam amarelar nossas desprevenidas faces que não enrubesciam por costumeiro pudor.
Moscas agora não voam mais em círculos como antes. Seu voo agora nos aflige como os rasantes de bombardeiros de uma velha guerra que ainda não acabou. Eu me irrito, todos se irritam, mas falar sobre isso agora tem alguns ares de um indecente tabu.
Todos tem sua espécie de razão, até os tolos e olhos são responsáveis por tal façanha. Os canibais também usam fio dental, sempre é bom ter etiqueta. Disfarces agora são muito recomendados pelos programas matinais que invadem nossas sagradas salas.
Um círculo, dois círculos, três círculos, o menino observa as bolhas de sabão, mas imortais do que certos modernismos que sem precisar de moeda alguma, acabam ficando cada vez mais caros.
Minhas narinas estão invadidas, é uma perpetuidade que não consigo escapar mesmo se me desespero. Eu tento disfarçar procurando algum sentido nos rabiscos de muros e paredes, mas são histórias de livros fechado que nunca conseguirei ler.
Nesta minha caverna de tijolos e cimento com algum toque de modernidade eu volto para minha brutalidade delicada. Meus quilômetros ainda são muitos, mas o tempo manda em meus passos. Se tropeçar e cair no meio do caminho, poderei gritar apenas com alguns monossílabos, isso até que é meio reconfortante.
A poeira acumula em lugares cada vez mais insólitos. Poderia escrever uma nova enciclopédia sobre coisa alguma se assim o quisesse. Mas o tédio que a novidade traz quase que me infarta, mas melhor não, infartos agora não estão muito na moda.
Qualquer dia desses, serei tomado de uma coragem inédita e não sorrirei mais com esse otimismo idiota que dizem fazer tão bem, mas no final apenas ocupa espaço. O belo e o feio navegam nos mesmos mares e ambos possuem asas e praticam suas ações quase juntos.
Temos uma sociedade às avessas. A musicalidade agora pertence aos carros de anúncio, encartes de mercados são didáticos, as tristezas alheias agora só podem ser memes que viralizarão até que algo pior aconteça. Beethoven tocando no carro do gás sim.
Eu olho minhas marcas com certa indiferença, o tempo é o grande destruidor de possibilidades, aquele que embaça nossas vistas e acaba com nossas probabilidades de fazermos sonhos virarem pedras. Toda dor acaba um dia, menos a saudade, é claro.
O vento deve ter parado, não escuto mais suas obscenidades interessantes como antes, talvez seja isso que aconteceu ou outra opção mais nefasta. Não importa, existiram perigos maiores que um dia enfrentei ou então, corri deles. Tudo nesta vida é tão simples como mascar chicletes...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Algum Alguém


Eu, algum alguém, nada mais além...
E nestes dias de frio,
não sei se choro ou se rio,
o que me faz mal ou me faz bem...

Os sapatos estão apertados,
devem também estar gastos,
foram muitos dias andados,
alguns alegres, outros nefastos...

Eu, algum alguém, nada mais além...
E só feito cão vagabundo,
a minha casa é todo o mundo,
o que ele tem e o que não tem...

Esses céus estão nublados,
as chuvas logo irão cair,
meus pensamentos misturados,
não estou aqui, não estou ali...

Eu, alguém alguém, nada mais além...
Vêm se aproximando um calafrio,
vontade de me atirar em um vazio,
meu fará mal ou me fará bem?...

(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...