Há uma luz atravessando a janela,
Com seus múltiplos passageiros de pó.
Ela entra pela sala bem ligeira.
Ilumina as flores de um dia antes no jarro.
E quase que pega um gato que dorme no canto
Quantas luzes ainda farão isso?
Não sei, ninguém sabe, não há como saber
Como é a surpresa inconstante dos dias.
Alguns passos pelo caminho adiante
E meus pés já começam à doer.
Não como saber o fim de coisa alguma,
Mas o tempo mostra marcas sensíveis
De como tudo pode ter sido muito bom
Mesmo quando dor e incerteza vieram.
É assim mesmo, sempre há de ser,
Existem palhaços e também carpideiras.
Como é abafado aqui dentro!
Mesmo assim fechei as janelas pelo frio.
O tempo nos deixa meio que tontos,
Não sabemos quando avançar ou recuar,
É aquilo que uns chamam de destino
E outros ainda inventam novos nomes.
E preferi deixá-los sem nome algum
E a isto é que às vezes se chama versos.
Tragam-me logo um café.
O suicídio lento da fumaça é iminente,
Mas existem outros mais rápidos por aí,
Não os vôos do alto de prédios,
Não os pulos para a frente dos autos,
Estes são vulgares numa grande lista.
Sentar-se em frente à tela submissa
É ter requintes de crueldade consigo mesmo.
Não sei quanto tempo durará tudo.
O relógio traz expectativas conflitantes
E emoções fortes não são o meu forte.
Quero como todos os homens
Que nada acabe, mas assim não o é.
Acabará tudo num dia sem final
E talvez ainda sobre a luz pela janela
E o gato dormindo em seu canto...