Nada do que eu sonho dorme comigo. E me faz os afagos que preciso. O que acaba. O que deixa o gosto na boca. Ou a marca na areia. Tem mais pena do meu choro. Os meus dias que se acabam mais piedosos foram. Porque levaram consigo os males que trouxeram. O espinho foi mais terno. A verdade menos feia. E a crueldade da negativa mais pena teve de mim. Ela não quis que o sonho me entranhasse pelas veias. Com promessas que nunca acontecerão.
Nada que me emociona me consola. E as tintas que marquei além dos olhos só torturam. Escapou entre os dedos. Saiu do alcance das mãos. Tudo que talvez merecesse. Ou pelo menos eu me esforçasse para ter. Não me diga que me ama. Ninguém ama nem a si mesmo. Se tudo tivesse realmente justificativa seria bem mais fácil. Mas só nossos pecados possuem perdão. E nossas intenções são as melhores.
Nenhum espelho possui brilho a mais. E nenhum discurso convence mais que o silêncio. Não me diga que foi sem querer. Coisas só acontecem porque as pedimos. E só as orações mais loucas chegam aos céus. O sossego nunca é bem vindo. E junto ao plano vem a falha. E a sensatez perdeu o horário do avião.
É noite agora. Sempre foi noite. Mesmo quando meus olhos confundiram-na com o dia. As cortinas se fecharam. E mesmo falando o que pensava. Isso de pouco adiantou. As verdadeiras verdades são ignoradas. Ou quando muito incomodam.
Você nem me viu. Eu espreitava cada detalhe e achava lindo. Nem eu mesmo me vi. Porque me escondia de mim mesmo. E dos sonhos que me perseguiam. Como sombras. Pacatas sombras que esperavam meu triste fim. Nem me escutou. Eu fiz uma canção de desespero. Com notas dissonantes. E belos brilhos. Eu fiz um livro. Onde cada palavra escondida era um pedido de perdão. Mas sei que ele não será atendido. Quando muito escutado. Se assim for.
Você nem me viu. Nem me verá. E mesmo assim estarei presente. Fracassado mas presente.