quinta-feira, 25 de setembro de 2025

E Saiu Dançando...

Apesar dessa tristeza, do copo quebrado,

Da noite mais escura, do olhar de lado,

De todos os desafios que ainda existem

E de todos aqueles males que insistem


Apesar de toda aquela pobreza extrema,

Da parte mortal de qualquer um poema,

Da cara suja e da vergonha descarada

E de nunca ter significado quase nada


Apesar do olho com mais que um cisco,

Do campo de batalha, de seu todo risco,

De que esse ano não terá samba-enredo

E que acabaram quebrando o brinquedo


Apesar de não ter mais a moça da janela,

De não saber mais nenhuma notícia dela,

De ter más previsões vindas do estrangeiro,

E de ter fome, mas não ter nenhum dinheiro


Apesar de até o meu menino ter enlouquecido,

De todo sonho que era novo ter envelhecido,

Das rimas toscas que foram assim sucedendo

E aquela manhã mais fria foi se escurecendo


Apesar de não ter mais nada pra poder falar,

De ser bem melhor ficar em silêncio e escutar,

De morder a língua e aguentar toda essa sede,

De querer dormir e virar a cara para a parede


Era mesmo fim de festa e ainda assim saí dançando...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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