Apesar dessa tristeza, do copo quebrado,
Da noite mais escura, do olhar de lado,
De todos os desafios que ainda existem
E de todos aqueles males que insistem
Apesar de toda aquela pobreza extrema,
Da parte mortal de qualquer um poema,
Da cara suja e da vergonha descarada
E de nunca ter significado quase nada
Apesar do olho com mais que um cisco,
Do campo de batalha, de seu todo risco,
De que esse ano não terá samba-enredo
E que acabaram quebrando o brinquedo
Apesar de não ter mais a moça da janela,
De não saber mais nenhuma notícia dela,
De ter más previsões vindas do estrangeiro,
E de ter fome, mas não ter nenhum dinheiro
Apesar de até o meu menino ter enlouquecido,
De todo sonho que era novo ter envelhecido,
Das rimas toscas que foram assim sucedendo
E aquela manhã mais fria foi se escurecendo
Apesar de não ter mais nada pra poder falar,
De ser bem melhor ficar em silêncio e escutar,
De morder a língua e aguentar toda essa sede,
De querer dormir e virar a cara para a parede
Era mesmo fim de festa e ainda assim saí dançando...
(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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