sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ser peixes. Temos abismos de variados tamanhos com alguns de poucos centímetros. E o pequeno poderia ter sido maior do que o mundo. A morte é apenas uma continuação da história em outro volume...


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Esperemos o bom resultado, mesmo que ele não venha, faz parte da nossa luta. Esperemos a ternura chegando, mesmo que ela demore demais, cansaço também faz parta do jogo. Esperemos o sonho batendo na porta, mesmo que o medo nos aflija, até a covardia pode ser uma forma de coragem. Esperemos que a chuva caia, mesmo quando isso signifique frio, apagar o fogo das florestas depende dela...


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Cela sem porta é onde estamos presos. Pena sem data prevista de término. Assim estamos. Máscaras sem disfarçar nada. Doença sem apresentar sintomas. Assim estamos. Céu sem altura alguma. Abismo sem profundidade. Assim estamos. Ternura desprovida de qualquer carinho. Medo que nos leva adiante. Assim estamos. Loucura sem sinal evidente. Tolice travestida de sanidade. Assim somos...


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Não há valsa triste, desculpe-me poeta. Os instrumentos estão calados, eu nem quero saber mais de choro. Rir sim. Por que não? Molhar o rosto? Nunca mais... Talvez molhe com alguma chuva que me pegou de surpresa no meio da rua. Iminente susto, só isso. Nessa hora, talvez eu abra as velhas asas e saia voando sem destino certo...


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Mil poemas eu fiz... Não sei se por necessidade, por hábito ou vício. Olho as paredes como um detetive, talvez descubra uma história mais bonita do que a minha. Vejo as juras que as árvores sofreram, sofreram sorrindo, a dor do amor até compensa. Dispensarei apenas ler as lápides, a minha um dia bastará. Mil poemas eu fiz... Ou até mais...


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A poesia é uma grande intrometida, é sim! E se disfarça com vários nomes. Se mete nas prescrições  dos médicos, aí ela se chama - esperança. Faz parte dos discursos inflamados dos políticos honestos, seu nome é outro - solidariedade. Entra nas receitas de bolo que as mães herdaram das avós, recebendo outro nome - ternura. Se esconde nos risos e nas falas das crianças brincando, podemos então chamá-la - inocência. E ainda, no grito do soldado ferido mortalmente no front, com o nome de - despedida... A poesia é uma grande intrometida, é sim! Um velho camaleão que adora brincar...


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Nada mais velho do que o novo. Acabaram de inventar o que já havia antes. A crueldade ainda continua andando sobre a terra. A paz esqueceu de pousar sobre nossas cabeças. Os rios continuam pois é a sua tarefa até secarem. Pelo mesmo motivo, os poetas nunca descansam...

quinta-feira, 28 de novembro de 2024

Mando e Desmando

Mando e desmando

Faço e não faço

Estou dançando

Em pleno espaço...


Acabou o suco

Quem poderá nos salvar?


Rindo e não rindo

Faço e não faço

Estou caindo

Em pleno espaço...


Meu cão latiu

Quem estará chegando?


Corro e não corro

Faço e não faço

Subindo o morro

Em pleno espaço...


O pirilampo voou

Quem agora é o sol?


Choro e não choro

Faço e não faço

O papel não decoro

Em pleno espaço...


Com tantos desmandos

O que a vida quer de mim?...


(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 321

Monto teu corpo pedaço à pedaço

Como um menino monta um quebra-cabeças

Componho todos os teus nuances

Como um paisagista que acordou inspirado

Escolho tuas cores uma à uma

Qual um pintor com a mais infinita alegria

De minha alma sairás suave ou não

Como um escultor que enxerga o amanhã

Como um cantor que solta a voz

Mesmo quando ninguém o escute

É isto que consigo fazer agora e sempre

Mesmo quando a obra sejam versos...


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Sem sombra de dúvida

Sem mero acaso

Não há passeio algum

Para esta jornada

Chamada vida

Aqui estamos todos

Sem nenhuma exceção

Para darmos o melhor

Mesmo quando o preço

Seja - a morte...


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Eu sou o fantasma do que era

Com minhas angústias e aflições

Eu sou a madrugada fria

Em que o silêncio dá mais medo

Eu sou o medo de cada guerra

Que cada manchete anunciou

O tombo e o riso e a maldade

Que acaba sendo tal cotidiano...


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Era uma hora qualquer...

E as nuvens assim gritavam

Querendo anunciar a chuva

Que certamente cairia...

Era uma hora qualquer...

E o luto quase festejava

Porque repetia lições

Que teimávamos não aprender...

Era uma hora qualquer...


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- Não insista! - Gritei para mim mesmo

Enquanto meus pés iam sangrando

Caminhando atrás do arisco amor...

- Pare, seu idiota! - Avisei zangado

Para o desejo teimoso e arriscado

Que ia ignorando todo o abismo...

- Vá rindo, bobão! - Falou o espelho

Enquanto ia mirando o meu rosto

Esperando mais um dia ir morrendo...


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Espero asas, senhor, espero asas!

Como quem não sabe a rota de fuga

Mas que tanto necessita dela!

Espero sonhos, senhor, espero sonhos!

Igualzinho quem sonha mesmo acordado

Pois sem sonhos não se pode viver!

Espero amores, senhor, espero amores!

Pois sem amores serei apenas arremedo

Daquilo que nunca quis realmente ser!

Espero asas, senhor, espero asas!

Como quem já ganhou todos os céus

Mas ainda precisa ir buscá-los!...


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Vou me perdoar pelos erros que cometi,

Cada um dos que fiz foi com a intenção de acertar.

Vou esquecer todos os amores que não tive,

O amor nunca acaba, só se transforma.

Vou desprezar cada nova ruga que aparece,

São como os passos por essa longa estrada.

Vou tentar dançar mesmo sem saber os passos,

Quem sabe uma hora eu acabo acertando?

sábado, 23 de novembro de 2024

Momo Sapiens


Pensa que sabe, mas não sabe

Pensa que quer, mas não quer

Pensa que tem, mas não tem


Poesia sem qualquer graça

De dedos sujos na tela...


Acha que é rei, mas é escravo

Acha que é feliz, mas é triste

Acha que é esperto, mas é otário


Mosca pousando na merda

E depois na comida...


Se sente bonito, mas é tosco

Se sente bom, mas é malvado

Se sente o campeão, mas é perdedor


Anomalia que se espalha

Destruindo tudo que vê...


Morre de fome, mas desfila

Morre de inveja, mas é enganado

Morre de sono, mas não dorme


Carnaval provido de pleno luto

Morte desfilando na avenida...


(Extraído do livro "Pane Na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 320

Mistura de misturas misturada

Eis a cabeça do poeta entrenuvens

Não tem sossego em hora alguma

Não tem paz em nenhuma entrerua

As palavras lhe abordam

E os sonhos sussurram aos seus ouvidos


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Se perguntarem por mim diga que não sabe

Se indagarem se tem me visto fale que não

Que não sabe de nada e não me vê faz tempo

Que até ia perguntar pela mesma coisa

É que eu ando meio que distraído

Fugindo da maldade dos homens

E brincando no meio das nuvens...


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Eu nunca fui rio.

Eu nunca fui mar.

Eu nunca fui céu.

Tudo que escrevo tem a pequenez

Das pobres pedras vadias

Que percorrem o mundo

(Suas ruas)

Mesmo quando este

Não é nada demais...


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Filosofia cheia de incertezas

Fórmulas milagrosas do nada

Esmoleres de apertos de botões

Nada ensina o imprevisível

Disfarçar a realidade não adianta

Só o tempo sabe o que diz...


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Todos os dias acabam implorando para serem diferentes, mas acabam sendo tão iguais. Com seu começo mais ou menos enganoso, fazendo promessas que nem sempre cumprem. Preparando planos que acabarão falhando. Carros andam na rua e não sabemos se a máquina apenas obedece ou quem as conduz. Toda tragédia tem sua data, não há um dia que estas falhem. Frio ou quente, tanto faz, o tempo não se importa com isso. Os coveiros trabalham cansativamente, mas trabalham. Copos serão enchidos e vazios em sua rotina. Todos os dias acabam implorando para não serem tolos, mas os homens é que são...


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Todo perto acaba sendo longe demais para essas pernas que um dia me obedeceram, mas hoje teimam que não. Agora não conheço mais os passos na areia da praia que tanto gostava, nem da feira do bairro com sua confusão que apreciava. Tudo continua existindo, certamente que sim, mas talvez eu não e nem me dei conta disso...


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Escolho as palavras dos versos que talvez nem sejam lidos, isto perdeu sua importância. Os poetas não conseguem engolir as palavras, acontece o milagre e elas acabam indo se transformar os versos. E os versos são mais eternos do que se possa pensar...

Tempus Viatoribus

 

Não saber

que não sabe

que não sabe...


Uma canção estranha

Uma febre tamanha

Uma grande façanha...


Não saber

que não sabe

que não sabe...


Numa triste calçada

Numa torpe caçada

Numa bruta cilada...


Não saber

que não sabe

que não sabe...


Eis a tal selva urbana

Eis a tal fúria humana

Eis a tal febre insana...


Não saber

que não sabe

que não sabe...


O carro está quebrado

O destino está traçado

O recado já está dado...


Não saber

que não sabe

que não sabe...


Viajo o tempo inteiro

Janeiro após janeiro

Esperando o fevereiro...


Não saber

que não sabe

que não sabe...


(Extraído do livro "Pane Na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Cuscuz Na Farinha

É, é, é cuscuz na farinha

Raça humana - erva daninha

Vou comer churrasco grego

Pra despachar meu carrego

Vou vender salgado velho

Assim desse jeito eu avermelho

Cadê aquela minha muda?

Ah, ontem foi deus-nos-acuda...


É, é, é cuscuz na farinha

O melhor refrigerante - coxinha

Só bebo água se for pelo nariz

Vai rolar um pagode lá na Matriz

É desgosto ao gosto do freguês

Tomar banho só uma vez por mês

Cadê o toucinho que tava aqui?

Foi dar um passeio de javali...


É, é, é cuscuz na farinha

Agora o Apocalipse - é fichinha

Só queremos o que não queremos

Ficou o barco quebraram os remos

Foram-se os dedos ficaram os anéis

Vamos lotear o céu para os fiéis

É o rato que corre atrás do gato?

Seja inteligente pra comer mato...


É, é, é cuscuz na farinha

Raça humana - erva daninha...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Zumbis Vivos

Solos de rock com pitadas de tango.

Augustos sanfoneiros tocando réquiens.

Muambas do Paraguai na feira livre.

Mamulengos discursando na capital.

Sonhos injetados no sistema venoso.

Gostaria de canibalizar suas nádegas.

Poemas de autoajuda em pedras-pomes.

Velhos atores com as suas novas caras.

Partidas de baseball realizadas no front.

Cafés instantâneos para óbitos súbitos.

Tristezas vendidas em nossos delivery.

Drones de gelatina sabor morango.

Clipes reais de cenas mais irreais.

Gatos viciados em comer melancia.

Platão explicando o mito da caserna.

Perfumes com odor de banheiro público.

Joviais sorvetes de mármore de Carrara.

Plantações improváveis e solitárias.

Becos improvisados para quase nada.

Muitos sinônimos para iguais fatalidades.

Urbanidades de todas as selvas falidas.

Siga a seta e pule finalmente no abismo.

Desceremos aos degraus do underground.

Múmias dando entrevista na televisão.

O nunca nunca mais apareceu por aqui.

Salgados somente com muito açúcar.

Borboletas quadradas jogando bola.

Eu vou dar corda no celular à carvão.

As melecas já foram devidamente polidas.

Como ontem hoje só temos zumbis vivos...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Em Alguma Estrela

Espirais para não se acender.

Comercial de fósforos antigo.

Prazer mórbido de algum erro.

Estática quase em um êxtase.

Fobia frequente de si mesmo.

Pulo certeiro na cerca de arame.

Vendedores de errada certeza.

Fato consumado para consumo.

Discurso agradavelmente falso.

Documentário sobre coisa alguma.

Beleza vulgar de fiéis padrões.

Emoção inusitada da véspera.

Falso orgasmo do cotidiano.

Injustiça em letras garrafais.

Poetas que só erram docemente.

Nova demência para a moda.

Cachos agora finalmente lisos.

Beijo final na boca do carrasco.

Sentença de morte festejada.

Casamatas feitas de papelão.

Dinossauros rezando novenas.

Embriagado com sua saliva.

Morto em plena fila da morte.

Defumador aroma de plástico.

Passarinhos com acrofobia.

Masturbação na sessão da tarde.

Pernilongos usando próteses.

 Virgindade por um dólar.

Darwin acordou com a macaca.

Bolachas de barro para lanche.

O menino vomitou espadas.

O guerreiro morreu correndo.

Gostamos de elefantes e sabiás.

A marcha é efetuada de costas.

A briga dos compadres deu samba.

Chocolates azuis são melhores.

Desmaios são para os burgueses.

O homem foi criado por engano.

Bom costume de arrotar peidando.

O gago narra partidas de futebol.

Espinhas de peixe agora enlatadas.

Mendigos agora andam de Uber.

A pornstar pregou na igreja.

Tudo pela metade pelo dobro.

A pomba da paz ganhou um tiro.

O remédio foi feito para adoecer.

Interessa o que a baiana não tem.

Livros são para colocar farinha.

Os esquimós foram para o Saara.

O analfabeto discursa em latim.

O galo só canta depois de meio-dia.

Essa comédia é uma coisa séria.

Enlouqueceu e foi mamar no gato.

Qualquer novidade não me avise.

Cavou sua cova com um palito de dentes.

Papel quase higiênico feito de lã.

Em alguma estrela está fazendo frio...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sábado, 16 de novembro de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 319

 

Vinte minutos para fazer um lanche.

Quinze minutos para ver as notícias.

Dez minutos para poder sentir raiva.

Cinco minutos para ter um sonho.

Três minutos para gozar de fama.

Um minuto para contar uma mentira.

Trinta segundos para perder um amigo.

Um segundo para poder se apaixonar.

Tudo é apenas questão de tempo...


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Deixe-me com meus muitos erros

Que poderão um dia serem acertos 

Deixe-me com minhas zangas e cismas

Fazem parte de mim e não posso evitar

Deixe-me com a minha sã teimosia

Amor não é coisa que se pode escolher

Deixe-me também com essa mania de voar

Já nasci com asas para isso mesmo...


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Foi num dia desses por aí

Que eu tentei fazer alguns versos desesperados

E ninguém entendeu, nem eu mesmo entendi...


Foi num dia desses por aí

Que eu te amei quando não era para amar

E você riu de mim e até eu mesmo ri...


Foi num dia desses por aí

Que eu mesmo achei que ainda estava vivo

Todos também acharam, mas eu morri...


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Permitam-me um pequeno poema

Para mais um dia com chuva

Onde não posso sair de casa

Pois tenho medo de cair na rua

Chuva com suas lágrimas de ofício

E com suas goteiras irritantes 

Nessa velha casa e na velha alma

Permitam-me calar mais uma vez...


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Cada figura desejada

Comida por meus antigos olhos

Tortos como estão hoje

Porém menos cansados...


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E essas olheiras são caminhos onde me perco

Só para poder me encontrar...

E essas curvas são onde eu derrapo

Mas para poder assim voar...

Nos dias de sol eu te encontro

E nos dias de chuva também...

Eis aí uma boa pergunta:

Como você consegue me fazer tão bem?


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Mais de meia-noite

Nunca quase meio-dia

Eu faço parte da turma

De pirilampos, corujas

E algum morcego também

E queremos comer 

Esse bolo bem redondo

Que é a lua cheia!

Desesperança


Quero morrer logo,

Quero morrer já,

Não com o desespero dos suicidas,

Mas com a calma dos que não têm mais nada...


Sem bandeiras,

Sem fronteiras,

Sem meta e sem posse alguma...


Velho como a parede que cai,

A parede que está sob o teto que desmorona,

O teto que desmorona sob a chuva covarde,

A chuva covarde que cai deste céu desgraçado...


Sem enfeites,

Sem ternuras,

Sem amanhã e sem ontem também...


Quis viver um dia,

Quis sorrir um dia,

Mas o choro é mestre de todas as coisas

E faz questão de estar presente nelas...


Sem epitáfio,

Sem explicação,

Sem pecado e sem perdão...


Queria morrer logo,

Queria morrer já,

Talvez com o desespero dos tolos

E com a calma dos que não têm mais nada...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 318

Quando haverá sol novamente?

Quando haverão outros dias?

Poderei sorrir mais uma vez?

As guerras deixarão de acontecer?

O homem deixará de explorar outro?

Belas canções poderão serem feitas?

Os carnavais ficarão de uma vez?

A tristeza irá embora daqui?

Quando parará essa chuva malvada?

Quando? Quando? Quando?


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Todos morremos todos os dias

Junto com o amor que foi embora

Pela traição de quem se dizia amigo

Com a má notícia mostrada

Com a lágrima que caiu no rosto

Foi o golpe que acabou nos ferindo

O tapa que ganhamos sem merecer

O caminho em que nos perdemos

Todos morremos todos os dias...


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Nunca duvide da dúvida

Haverão dias bons e dias ruins

Nunca maldiga da sorte

Ela é simplesmente o que é

Não conte nunca as estrelas

Isso acaba nos viciando

As nuvens são bons brinquedos

Nunca duvide da dúvida...


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A boca fechada

Os olhos abertos

Para a escuridão da noite...


O que eu mais queria?

Beijar essa tua boca

Até nosso pleno cansaço...


A boca fechada

Os olhos fechados

Para a minha escuridão...


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Nada mais que uma poesia torta

Feito meus olhos de tanto tempo

Olhos que olham em silêncio

Como estarão em meu funeral

(Fechados de uma vez agora com sono)...


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Pois a presença da tua ausência

Dói bem mais que um espinho.

E esse medo me faz correr tanto

Mesmo que não saia deste lugar.

Um labirinto pior que o de Creta

É onde a minha alma percorre.

Como ouso tanto desse jeito

A querer voar como os pássaros?...


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Somos das cavernas

Mesmo sob o plástico e o concreto

Somos tão arcaicos

Ainda que com toda a tecnologia

Somos muito cruéis

Até quando falamos docilidades

Somos tão idiotas

Sobretudo quando damos as cartas...

Dança do Dia-a-Dia

Enrolou-se com as palavras depois da última cana

Esqueceu-se de todas as regras gramaticais

O álcool corre no seu labirinto de tantas veias

Bombeado pela velha máquina de muitos sustos


Foi ao cérebro pedaço de uma triste massa

E um carrossel começou a acontecer novamente

Não estava na vertical e nem na horizontal

Parecia com uma dança de São Guido moderna


O que dançamos? Por que dançamos? Quando?

Cairemos no chão para não poder levantar mais

Diremos que foi apenas parte da coreografia

Mas esse improviso nunca foi e nunca vai ser


Escolhemos as palavras mais sutis possíveis

Para que a tocaia do inimigo não nos pegue

Mas esquecemos que todo tiro pode ser certeiro

E ficaremos deitado sobre o asfalto para fotos


Abraçou-se ao brinquedo para poder se refugiar

De um inimigo que não conseguia nem mesmo ver

Mesmo que ele gritasse ou não gritasse também

Ternura e inocência são dois abrigos seguros


Acendeu seu inimigo mais letal e amistoso

Pensando que a fumaça também era uma nuvem

Eu já não sei mais aquilo que eu quero ou não

Só sei que cada dia não precisa nem de assassino...


(Extraído do livro "Pane Na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Monotonia Em Último (De)Grau


Mas o espelho do espelho do espelho

É apenas mais uma paixão...


Brindemos com champanhe sem álcool

Discursos malvados e aveludados

Tropecemos em pedras imaginárias

Em procissões sem padroeiro algum...


E o dia que era o dia do dia

Tinha toda uma escuridão...


Inventemos uma festa que seja qualquer

Para que o luto não nos engula

Façamos de conta que essa tal conta

Tem alergia a qualquer matemática...


E o só estava só porque era só

Como tudo o que morre...


Como folhas que querem sair voando

Mas esqueceram de suas asas

E que ao tentar somente uma vez

Acabam amortalhando o chão...


E eu era o bicho do bicho do bicho

Só não sei de qual raça...


Sigamos com o carro na contramão

Esquecendo todas as feridas

Como idiotas que sempre fomos

Querendo carnavais sob temporais...


Sempre o Capeta do Capeta do Capeta

Nesse Inferno que temos aqui...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Eu Não Tenho Culpa

Eu não tenho culpa...

Se erro mais do que acerto

Ora, sou apenas humano

E até as máquinas erram

Em seu monótono percurso...


Eu não tenho culpa...

Se amo mais do que odeio

Ah, o amor faz parte de mim

Enquanto o ódio é um forasteiro

Que eu anseio que parta...


Eu não tenho culpa...

Se o meu desejo é impaciente

Oh, eu queria ser tranquilo

Como as águas de um lago

Mas até ele mexe se venta...


Eu não tenho culpa...

Se sou apenas uma peça

Sim, uma simples e pobre peça

De um quebra-cabeças

Que nunca consegue ser montado...


Eu não tenho culpa...

Se desejo dançar e rir alto

É, desejo te beijar até a exaustão

Não só a minha e a sua também

Até o final dos tempos...


Eu não tenho culpa...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 317

Não fui eu! Não fui eu!

Não fui culpado se o amor morreu

Se o carnaval acabou indo embora

Se o espelho não sorri mais pra mim

Não fui culpado se a flor murchou

Se as folhas caíram no chão

E se a poeira invadiu todos os cantos

O culpado foi o relógio malvado...

Não fui eu! Não fui eu!

Eu juro que não fui eu!...


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Dias claros como qualquer

Insetos humanos para seu afã

Quando a felicidade vai chegar?

Amanhã! Amanhã!


Dias seguintes a escuridão

A vida é a nova a morte a anciã

Quando poderemos descansar?

Amanhã! Amanhã!...


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A ideia

Sem plateia 

Apenas isso

A imaginação

Sem sedução

Apenas isso

Um cata-vento

Catando o vento.


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Peguei uma tesoura sem desejos

Desejadamente desconhecida

Fiz todos os dias sem ensejos

E acabei recortando - minha vida...


Apenas muitos anos aparentes

Tudo não anda corre apenas demais

Depressa ligeiros tão frequentes

E tudo pelo caminho - ficou lá atrás...


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Quando era menino fazia perguntas

E tinha muita pressa pelas respostas

Queria saber como as nuvens subiam

Queria saber como os rios não cansavam

E se os lagos eram rios com preguiça

Queria saber de onde vieram as perguntas

Hoje faço diferente - não pergunto mais

E velho espero de forma quase serena

As respostas baterem em minha porta...


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É tudo apenas a mesma rotina - como o respirar

As necessidades básicas chegam logo gritando

Mas se recusam a tirar suas muitas máscaras

É tudo apenas a mesma rotina - o sanguíneo pulsar

As necessidades não-necessárias de mansinho

Mostram seus rostos e teimamos em desconhecer...


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Parece uma lenda, isso sim

Havia um homem no meio da multidão

Que se recusou em ser igual aos outros

Que não queria fazer tudo sempre igual

Mas até um dia que notaram isso

E aí, pobre coitado, acabaram imitando

E os outros que ficaram iguais a ele...

Miséria's Blues

Fila de espera do SUS

Cortejo de uns urubus

Mesmo vestidos todos nus

Os miseráveis tocam blues


Com rimas tão insistentes

Perdemos todos os dentes

Deixamos o caldo entornar

Nossa moral já foi viajar


Os fantasmas não fazem bus

Da nossa virilha sai pus

Temos mostra de tantos cus

Os miseráveis tocam blues


Com rimais tão anormais

Nas selvas mais sociais

Votamos nos opressores

Neste show de horrores


Acabaram até os angus

São pingas para cajus

Cantores mais jururus

Os miseráveis tocam blues


Com rimas mais coloridas

Fodemos as nossas vidas

Sabemos isto e fazemos

E nem cova nós temos


São buracos de tatus

Desumanos maracatus

Morreram todos anus

Os miseráveis tocam blues...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...