terça-feira, 31 de dezembro de 2024

In(Vastidão)

Nada é vasto,

Tudo é ali,

O próprio Universo uma piada.

Só mais um sopro

E a vela da vida se apaga...

Só mais um chute

E o jogo está começado...

Mais um vento forte

E o barco abandonou o cais...

O tiro foi disparado,

A boca roubou o beijo,

O ás foi posto em jogo...

Nada é inesperado,

O final da novela é o que é,

O enredo já foi escrito.

Siga as instruções da bula

Para não se envenenar...

Coma o que puder

Pois é o que tem...

Não tenha medo

Pois você é o próprio...

Tudo aquilo que existe

Poderá até nos matar

Mesmo o que dá a vida...

Nada é vasto,

Tudo é ali...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Tanto Pra Fazer

Tanto pra fazer...

Ir dar uma volta pelas nuvens. Aquelas mesmas amigas que iam sem rumo pelos céus até a hora que de lá caíssem trazendo vida ao chão...

Tanto pra fazer...

Rir todos os risos que nunca ri. O mesmo riso que acaba afugentando toda a tristeza, não deixando que a mesma more mais em meu coração...

Tanto pra fazer...

Esperar que chegue pelo menos mais um carnaval. Que seu barulho enlouqueça minh'alma de uma vez por todas e que eu só possa então enxergar a alegria...

Tanto pra fazer...

Correr e brincar com todos os meninos. Não esperar recompensa alguma pela ternura, já que ela por si mesmo é tudo aquilo que precisamos por aqui...

Tanto pra fazer...

Amar todo amor possível que existir. E conhecer tudo que ele pode nos proporcionar mesmo assumindo seus riscos possíveis mesmo com vida ou morte...

Tanto pra fazer...

Reconhecer que vida e morte são dois lados da mesma moeda. E viver sem temer nenhuma delas aproveitando todo tempo possível que tenho para aquela sem me desesperar por esta...

Tanto pra fazer...

Escrever todos os versos possíveis. E uma poesia em cada ato que acontecer, é assim o destino de todos os poetas e não será modificando, não importando se eles continuarão ou não...

Tanto pra fazer...

E a eterna dúvida se sim ou não...


(Extraído do livro "Teoria do Medo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

domingo, 29 de dezembro de 2024

Corruptio

Cordas e correntes

Mais nada não

Grades sem celas

Traidor irmão...


O Estado devorando o povo

O velho envelhecendo o novo

A puta nua de salto alto

O mesmo golpe para o incauto!


Café só amargo

Não há salvação

Aquilo que é desejo

Não tem explicação...


A mídia enganando a massa

O destino uma grande trapaça

O rico rasgando o dinheiro

O pobre é quem chora primeiro!


Lagartos e serpentes

Mais nada não

De um lado o mau

De outro o bom ladrão...


(Extraído do livro "Pane na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Aquela Rua Chamada Saudade

Aquela rua que não tem tamanho,

Que é tão grande e é tão pequena,

Que percorre todos os países 

E que engole todas as outras ruas...


Todas as casas são suas,

Todos os becos são seus

E os carros que passam,

Os cães sem donos também...


Aquela rua que nunca teve nome,

Que pode ser chamada de várias palavras,

Que debocha da cara do tempo

Pois nem esse pode lhe afetar...


São seus os carros que passaram,

Suas todas as chuvas que caíram

E os passarinhos que voaram,

Os gatos que vivem sonolentos também...


Aquela rua que nunca teve um dono,

Nunca teve ninguém e teve todos,

Que testemunhou todos os carnavais,

As procissões e todos funerais também...


Ela pegou todos os rostos para si,

Fez pose em todas as fotografias tiradas,

Amarelou todas as tintas das paredes

E distanciou todos as paixões mais fortes...


Aquela rua que é do meu tamanho,

Que não é nada e é o universo inteiro,

Que testemunhou todos os fatos

E que ganhou o nome de saudade...


(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Carnaval Fora de Épica

Emojis tatuados em plásticas nádegas

Anúncios de uma redenção inexistente

Esferas quadradas em suaves insinuações

No botequim da vida vai começar o samba

E o triste enredo seremos todos nós...!


Orquídeas maculadas em tramas brutos

Provas de fogo em céleres afogamentos 

Zumbis usando crachá para nobre ofício

Eis a nova novidade de mais antiguidade

Relógios de ferro em brasas nos pulsos...!


Pensamentos clandestinos tão perigosos

Farrapos comprados em ricas boutiques

Enquanto alguém come sua merda ao vivo

E esfrega o resto no rosto de quem filma

Documento expresso de como se é imbecil...!


Registros tácitos dessa nossa tolice aguda

Inveja do fracasso servido em bandejas

Nada mais feliz do que a nossa infelicidade

Esquecemos que esquecemos que esquecemos

Meu demônio desperta por todas manhãs...!


Materiais bélicos para nossa falsa cura

Vampiros burgueses que só querem mamar

O chão sujo do quarto do meu desespero

Manhãs com mania de serem sempre noites

Mickey Mouse desfilando na feira de Acari...!


Sexo inocente de primos na sala de jantar

Gaviões fazendo curso para serem pombos

Saiotes de pregos para dançarinas de vidro

Cocares de neon para moças de família

Ele cuspiu no prato que nunca comeu...!


Pilatos lavou suas mãos com sua urina

Prova surpresa totalmente aguardada

Tudo aquilo que aprendi que não saberei

No botequim da vida vai começar o samba

E o triste enredo seremos todos nós...!


(Extraído do livro "Pane na Casa de Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

domingo, 22 de dezembro de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 328

 


O lado esquerdo

A mão esquerda

O coração

As nuvens calmas

A tempestade

Eterna dúvida

A minha ternura

A paixão...


...............................................................................................................


Não tenho o corpo fechado

Mas tenho a alma aberta

Meu peito não guarda muitas alegrias

Porém meu coração sempre esteve lá

Não posso escolher meus dias

Mas posso rir em qualquer um

Não sou dono de minhas necessidades

Todavia eu mando em meus sonhos

Não controlo a vida e a morte

Mas mando no medo que tenho delas...


...............................................................................................................


É quase poesia, é quase...

Além do muro existia fantasia

E eu queria voar além dos céus

Como passarinho que nunca fui...

É quase poesia, é quase...

Atrás da porta existia a dúvida

Se seria imortal ou não

Mas isso pouco me importava...

É quase poesia, é quase...


...............................................................................................................


E vamos torcendo para o mocinho

Mas nem sempre ele vence no final...

E queremos um final feliz feito novela

Mas a vida quase sempre é diferente...

E no fundo desejamos que a festa não acabe

Mas tudo acaba uma hora terminando...

E tentamos prender nosso choro

Mas a água obedece a lei da gravidade...

E queremos que as frases bonitas aconteçam

Mas são somente algumas palavras...


...............................................................................................................


Para onde vai esse barco chamado corpo?

Sai do cais todos os dias rumo à tempestade...

Esse pássaro voa sempre em que direção?

Vai para a armadilha que o prenda na gaiola...

Esse amor toma que rumo quando acontece?

Para a casa do impossível onde ele mora...


...............................................................................................................


Para a elite deixo meus sinceros pêsames

Correram tanto para perder a corrida

Comeram tanto para não terem mais corpos

Aprenderam tanto para não saberem nada

Moraram tão bem para depois apodrecerem

Tiveram mais e mais nada irão levar

Ganharam o mundo e perderam sua alma

Para a elite deixo meus sinceros pêsames...


...............................................................................................................


Mesmo aquele que não conheço

Merece ser chamado de meu irmão

Tem os mesmos tipos de dores

Chora e ri como todos assim fazem

Possui as mesmas necessidades

Veio um dia e irá em outro

Não sabe se continuará ou não

Independente daquilo que acredita

Mora no mesmo mundo que moramos

Mesmo aquele que não conheço

Merece ser chamado de meu irmão...


Pane et Circenses

O circo pega fogo

Mas desta vez o clown não fica alegre

Mesmo quando tudo parece

Ser motivo de algum riso...


Fogo na mata

Fogo na rua

Fogo no rabo

Sem nenhum cessar-fogo...


A mentira rende mais

Não importa quem foi atingido agora

A crueldade atinge os céus

E alto e abismo são parecidos...


Fogo na água

Fogo na favela

Fogo na goela

Sem nenhum cessar-fogo...


A máquina já veio com defeito

A culpa é da fábrica ou talvez não é

Quem corre primeiro para a fonte

Talvez possa usá-la como espelho...


Fogo na saia

Fogo nas calças

Fogo na estrada

Sem nenhum cessar-fogo...


A mediocridade rende mais

O único coletivo que há é o ônibus

A elite e a ralé andam sempre juntas

Máscaras é o que nos protege...


Fogo no fogo

Fogo no ar

Fogo na terra

Sem nenhum cessar-fogo...!


(Extraído do livro "Pane na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 327

Talvez eu me fira mais do que deveria, mas os machucados possuem uma atração quase que irresistível para serem o centro das atenções. Talvez minhas reclamações sejam repletas de exageros, mas ser humano me leva para esse caminho, esse tipo de cegueira ainda não me atingiu. Talvez eu queira ter o que não é meu destino, mas de outra forma eu desistiria, desistir não pertence a minha natureza, a teimosia sim. Eu sou apenas aquilo que sou...


...............................................................................................................


Peças de um tabuleiro de xadrez - somos nós

O que é o tabuleiro?- o mundo

Qual é a partida? - a vida

Qual é o final do jogo? - a morte

Quem cai primeiro? - pobres peões

O que nunca acontece - o empate...


...............................................................................................................


Nunca abrirei mão de rir, mesmo que a tristeza esteja aqui bem do meu lado. Não deixarei de comemorar os carnavais, ainda que minha alma esteja de luto. De forma alguma recusarei voar, asas quebradas pouco importam para isso. Eu sou o último dos últimos, mas nem isso acaba me afetando...


...............................................................................................................


E o cara achava que era esperto, mas era um tolo. Com seu novo espelho de tela de sei lá quantas prestações achava que sabia tudo. Perdeu seu tempo, otário! Fez tudo que as instruções do manual mandavam... Era um boneco, isso sim! Um mamulengo de feira, preso por cordinhas. Não escolhe o que come, o que bebe. Não sabe em quem vota, quem mente ou quem fala a verdade. E o cara achava que era vivo, mas morreu faz tempo...


...............................................................................................................


E os quadros pelas paredes e o ledo engano - pensamos que pensamos. Não nos é dado vontade alguma, se a temos, não basta só isso. Querer nem sempre é poder, pode ser apenas chorar. E as senhas todas guardadas. Mas nada é mais seguro, nossos compromissos pesam toneladas. E o que não tem peso algum, tem sido nossa cruz mais pesada. E os quadros pelas paredes e o ledo engano - quem garante que amamos?


...............................................................................................................


Meu coração cheio de qualquer coisa, menos de alegria. Medo? Talvez sim, talvez não. No meio da madrugada, meu maior perigo sou eu mesmo... Solidão? Talvez sim, talvez não. Eu ando acompanhado de meus sonhos, eles me falam muito... Tristeza? Talvez sim, talvez não. O costume entorta até os ossos, todo luto acaba virando folia... Raiva? Talvez sim, talvez não. Gostaria de morder aquela pedra, antes que ela me morda... Meu coração cheio de qualquer coisa, menos de alegria...


...............................................................................................................


O que é que tem no fundo desse peito? 

Um cadáver chamado coração...

O que é que tem no fundo dessa alma?

Um abismo que eu mesmo é que fiz...

O que é essa sombra que lhe persegue?

A minha saudade que nunca parte...

O que é? O que é? O que é?...

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Carne Quase Crua

Carne quase crua e ainda pulsante

Frêmito de um desejo que nem tive

Estamos todos gritando em coro

Numa poesia sem algum valor algum

Quantas vezes esconderam os ases

O último sempre será apenas último

Repito palavras engraçadas de luto

Enquanto a mente não pega o fio

Eu mesmo me estrangulo diariamente

E toda joia acaba não tendo valor

Meus ossos guardados numa caixa

Não me lembro de mais coisa alguma

Recordar é apenas então recordar

Lamentos em nada compensam algo

Todo cinismo parece bem comportado

O elogio pode ser um soco na cara

Apertem um botão e deletem tudo

Como quem manda um míssil letal

Meu cão é manso e assim morde

Branca de Neve agora no fast-food

O amanhã não sabe se vem ou não

O paciente quer tomar uma cachaça

Faremos um novo festival de moscas

Erramos e acendemos o farol de dia

Quero me drogar com meus sonhos

E fazer uma novo dança de chuva

Com gotas feitas de cacos de vidro

Carne quase crua e ainda pulsante...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

O Oitavo Selo

Todo solo, todo selo,

O bem e o mal,

O sal, o sal, o sal,

Não há apelo...


Nasci na quinta,

Morri domingo,

Uma nova tinta,

Eu me vingo...


Todo malo, todo palo,

O quem e o cal,

O tal, o tal, o tal,

Não há abalo...


Subi descendo,

Desci subindo,

Eu vou descrendo,

Me dividindo...


Todo colo, todo calo,

O zen e o tal,

A Gal, a Gal, a Gal,

Não me paro...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

 

segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Crucificação à Moda da Casa

 

Crucificado na parede. 

O bicho que deu no poste. 

Nada pior do que a sede. 

O jacaré sem Lacoste. 

Espera, espero. 

Quimera, quimero.


Burgueses travestidos.

Tiros zoam em meus ouvidos.

A macha, o macho.

Não sei, eu só acho.

Eu nem tenho qual lado.

Nem o gato faz miado.


Perfume barato francês.

Aprendeu peidar em inglês.

Já saiu de moda.

Essa vida é foda.

Sinto muito, falo pouco.

Penso muito, fiquei louco.


São tantas expressões.

Mataram os corações.

O cão agora é pardo.

Eu nem sei mais, me acovardo.

Ninguém tem pena.

Estamos em cena.


São três horas, quase sete.

Voei pra lua, de patinete.

Andei de mula, fiquei contente.

Caí de boca, perdi um dente.

Perdi o tino, ganhei o jogo.

Irei sambar, meio do fogo.


Crucificado na esquina. 

O bicho que deu no poste. 

Nada melhor que a estricnina. 

Pois ninguém me note. 

Espera, espero. 

Quimera, quimero.


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

domingo, 15 de dezembro de 2024

Talvez Voei

Talvez voei e nem sei...


Voei sem sair do chão

Voei com a alma e o coração

Desenhei símbolos mágicos n'areia

Uivei tanto pra lua cheia...


Talvez voei e nem sei...


Voei sem nem ter asa

Voei na rua e no quintal de casa

Abracei os que me eram estranhos

Me tornei de todos os tamanhos...


Talvez voei e nem sei...


Voei quando fui pular da ponte

Voei amanhã, voei hoje e voei ontem

Até naqueles versos que nunca fiz

Mesmo na tristeza já fui feliz...


Talvez voei e nem sei...


Voei longe e voei nos teus braços

Voei livre e voei preso em muitos laços

Fui ao acaso mas com muito esmero

Com toda minha calma e desespero...


Talvez voei e nem sei...

Nem sei... Nem sei...


(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 326

E são muitas as ruínas que possuem os corações. São gestos abandonados, cemitérios de todas as matizes. Não tenhamos medo algum sobre tal lúgubre ambiente. Afinal de contas, somos fantasmas de nós mesmos...


...............................................................................................................


Eu sou um pássaro! Eu sou um pássaro! Gritava meu peito de forma involuntária. Pois queria voar, mas não podia. O chão é o meu limite, assim como o é de todos nós, homens... Eu sou um sonho! Eu sou um sonho! A pobre mente ia pelo avesso, mesmo que a fisiologia declarasse o inverso. O tempo provava o contrário disso tudo...


...............................................................................................................


Queria eu que o mundo pudesse ver minhas palavras. Mas sua cegueira não permite tal coisa. Os homens só enxergam montanhas, esquecem que elas são feitas de pequenas pedras, como esta que sou. Queria eu que o mundo escutasse meu canto quase silencioso. Mas sua surdez impede isso. Querem milhares de decibéis, mesmo quando isso nada diga...


...............................................................................................................


Além do muro, a tristeza, o medo, a dúvida. O que há do outro lado? Além da vida, o tudo, o nada, nunca se sabe. Quem tem a chave para tal enigma? Além do rio, outras terras, até os fins. O que acontece se ele acaba? O mar acaba tomando conta de tudo...


..............................................................................................................


Corvos em matilhas, lobos voando, espelhos que falam, o poeta delirando. Fados felizes, amnésia recordando, tragédias sem gregos, o poeta delirando. Celulares queimados, o viciado gritando, viajar para o passado, o poeta delirando. Portões batendo, o coração pulando, a gaiola fechada, o poeta delirando. Repetir mantras vazios, o dia-a-dia torturando, eu tremo e não é de frio, é o poeta delirando...


...............................................................................................................


Puro deleite, o nada, melhor que a dúvida, essa nos aflige. Casa abandonada, paredes cheias de teias, nossa memória aguardando ser habitada. Tudo passa, não tem explicação, a explicação é essa...


...............................................................................................................


Tudo é dança, tudo é dança,

Um pedaço de alma, um bocado de esperança

Por isso nunca deixemos de dançar,

Dançam as nuvens no céu e as ondas no mar

Dança quem ri e quem chora,

Quem fica e quem vai embora,

Dança quem ama e quem nunca amou,

Quem vive beijando e quem nunca beijou,

Tudo é dança, tudo é dança,

Um pedaço de nada, um bocado de esperança...

sábado, 14 de dezembro de 2024

Canibais de Nós Mesmos

Canibais de nós mesmos

Comemos a carne do nosso tempo

Para as coisas mais vãs...


Colaboradores do caos

Inventando alguns verbos novos

Que não dizem mais nada...


Causa de nossa insônia

Somos responsáveis pelo barulho

Que invade a madrugada...


Somos carrascos gentis

E sabemos afiar essas lâminas 

Para enfim nos decapitar...


Preparamos a cicuta

Com todo o cuidado e atenção

Para usar uma só dose...


Vendilhões do templo

Acabou dando cupim na cruz

Só serve para o fogo...


Canibais de nós mesmos

Comemos a carne do nosso tempo

E ainda lambemos os beiços...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

De Gatos & Baldes

Acender o cigarro de papel 

No fogão porque o isqueiro acabou.

Ver o dia nascer aos poucos

Porque deu vontade de ir ao banheiro.

Estar desesperado em silêncio

Porque gritar acaba não adiantando.

Tomar o resto de Coca-Cola

Pois não haverá nada para o café.

Querer engolir todo mundo

Mas a tela do PC não admite que pule.

Tentar esquecer de vez o ontem

Pois na dor todos os dias são iguais.

Um louco faz sinais pela rua

Para um sinal de trânsito que inexiste.

As putas devem estar com sono

Assim como bichos noturnos vão dormir.

Alguma vez acho que fui feliz

Mas isso não é coisa que se perceba.

Meu cão dorme no chão da sala

E ele deve ser bem mais sábio do que sou.

Às vezes quebramos os tabus

Como vidros que vão caindo pelo chão.

A parceria dos meus pecados

Rendeu-me um grande tempo perdido.

Todo automóvel é automóvel

Até que seja mais um monte de ferro-velho.

A maior doença que temos

É aquela que é chamada de sanidade.

Tudo que chamamos vida real

Foi copiado de uma novela mais barata.

Frases de caminhão e banheiro

Podem explicar os mais variados enigmas.

Ela é mais do que aquele vento

Que varre folhas mortas que jazem no chão.

Narciso agora tem nova doença

E acaba passando mal quando se mira.

Agora essas nossas esferas

Estão vindo quadradas da fábrica.

Essas minhas novas superstições

Acabam sendo realistas quase ao extremo.

Quero ver se acho algum motivo

Para permanecer vivo pelo menos por enquanto.

O gato está bem quietinho

Enquanto não começam a encher o balde.

Acender o cigarro de papel 

No fogão porque o isqueiro acabou...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 325

E o silêncio fazia parte desse meu ritual. Gritem manhãs que ainda estão vivas. Ao tempo caberá transforma-las em tardes e as tardes se tornarão noites e, finalmente, as noites serão madrugadas. E estas, tão silenciosas como estou agora...


...............................................................................................................


Apontou os dedos para as vitrines como um idiota. Estava cansado, sobretudo cansado. Não queria nada daquilo, mas queriam por ele. O tempo que lhe pertencia de sua curta vida, não era mais. Era do capitalista malvado que também era dono das vitrines que o faziam um idiota.


..............................................................................................................


Não se engane. Há remédios para quase todos os males, menos para a saudade, a tristeza e a solidão. Com esses três males sua alma se encherá de vazio. Não tente encontrar saída para o labirinto chamado vida. Apenas vá andando por ele, até onde puder. Talvez os três males não tenham cura, mas suas dores sejam amenizadas.


..............................................................................................................


Eu tentei fazer o impossível e quase consegui. Reuni todos os meus sonhos e fiz deles uma multidão em uma grande praça vazia. Com o que sobrou de minha antiga ternura fiz surgirem flores antes de sua estação. Com as nuvens pintei obras-primas com as matizes mais inéditas. Consegui rir no meio do choro e fiz um carnaval fora de época...


..............................................................................................................


Não tinha nem mesmo um cigarro. Por isso visitou as cinzas do cemitério de seu cinzeiro. Não tinha nem ao menos um café. A água lhe trazia vida, mas não o prazer que queria. O portão só estava encostado, mas ir para a rua era ruim para suas pernas não mais firmes depois do AVC que não foi tratado. Outros pássaros também estão assim? Com suas gaiolas abertas, mas sem asas para voar?


...............................................................................................................


Soldado na guerra não dorme. Os barulhos da guerra não deixam dormir. Soldado na urbe não pensa. Pensar pode ser pior do que um tiro certeiro e fatal. Soldado na fila não sorri. A tristeza é o único prato do seu dia-a-dia miserável. Soldado vivente não sonha. A esperança pode lhe carcomer mais que a ferrugem faz com os metais. Soldado que enxerga não corre. A fatalidade é o mais rápido dos seres e sempre lhe alcança. Soldado na guerra não dorme...


...............................................................................................................


Ah! Como eu queria estar contigo nessa hora. Mesmo quando essa madrugada que nos cobre é um véu negro que faz nosso luto. Nosso luto? Sim, nosso luto mesmo quando nos enganamos pensando que é festa, mas não é, nunca é. Queria dividir contigo da mesma bebida, ainda que ela entorpecesse nossa mente e tirasse nosso tino de forma total. Percorrer com as minhas mãos de malícia teu corpo, pedaço por pedaço, até não ter mais nada para conhecer. Colar a minha boca na tua boca até que existisse uma saliva somente. Quem és? Transformei-me de dois para só um ser, mesmo que completo e maldito. Ah! Como eu queria estar contigo nessa hora. Dois malditos se tornando um só...

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Tribos & Estribos

A nudez vestida

A cidade sitiada

O talvez da vida

Mais nada...


Prezado cidadão deste mundo errado:

Qual dia de feira é o real dia de feira?

Quem inventou essa nova brincadeira?

Quem fechou a porta com o cadeado?


O peito deserto

A seta apontada

Ninguém perto

Mais nada...


Prezado cidadão deste mundo errado:

Quem acendeu a tal primeira fogueira?

Quem abriu nossa janela para a poeira?

Quem perdoa mais do que seu pecado?


A dor pungente

A carta marcada

Igual diferente

Mais nada...


Prezado cidadão deste mundo errado:

Quem notou que mesmo vestido está pelado?...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

Suave

 

Suaves e calmos dedos deslizam pelas teclas do piano...

A rosa se abriu

O jardim já floriu

O pássaro voou

E o céu alcançou...


Os olhos brilham atrás das lentes dos seus óculos...

O poema se fez

Com toda fluidez

O sorriso brotou

A estrela brilhou...


Um sorriso brota timidamente em seu rosto sério...

Começa a festa

Alegria manifesta

A tristeza acabou

A música tocou...


Suaves e calmos dedos deslizam pelas teclas do piano...

Mais eterno

Que moderno

Toda poesia

De inacabável dia...


(Para Renan Milano Carvalho, sempre amigo).

domingo, 8 de dezembro de 2024

Não Espere

Não espere felicidade alguma. Se for parte de seu itinerário, ela virá; se não for, irá para outros lugares. A nossa ânsia nos entristece mais ainda e isso não é nada bom...

Enquanto isso, tente ficar feliz com o que tem ao alcance das mãos. Nossos sentidos gostam de nos enganar, talvez estar da melhor forma possível é aquilo que nem percebemos...

Não exija pontualidade dos sonhos. Sonhos são como são as nuvens, estão todos longe. Se nossas asas funcionarem para chegar perto deles, irão funcionar...

Não pense que os aviões são alguma solução plausível para isso. Eles atravessam rapidamente pelas nuvens sem tocá-las, assim também fazemos quando insistimos com o que não é nosso...

Não insista no primeiro amor que surgir. O verdadeiro amor parece mais com um camaleão, muda sempre suas cores. Ele sempre se esconde entre as folhas, nunca se sabe qual seu tamanho e qual tempo ele precisa para seu bote certeiro...

O amor é dono de toda a circunstância existente e poderá usar a mais inesperada. Não depende de quem ama, já que ele é quem dá as cartas e ele, só ele, sabe o resultado antecipado do jogo...

Fuja depressa de qualquer paixão que se aproximar. Mesmo fria, ela poderá lhe queimar com gravidade. Sua inocência é maldosa e mesmo quando não queria nos ferir, acaba assim fazendo...

A paixão é uma arma que está carregada (que já em si é perigosa) e que se torna mais perigosa na mão de quem está. Todos somos meninos com a arma da paixão em nossas mãos, a fatalidade espera a hora de começar o inevitável...

Suporte a sua dor com o menor desespero possível. Nossas dores são somente nossas, isso é mais do que inevitável. O médico pode nos ajudar prescrevendo o remédio mais eficaz, mas a cura não pertence a ele. Se nada fizermos, nada acontece...

Mas tome cuidado com o grande vilão que sempre aparece - a apatia. Ela acaba fazendo que a nossa dor tome proporções inexistentes. Na verdade, dores são dores, todas são parecidas, mas nenhuma delas é igual...

Não espere viver para sempre. Ninguém vive, essa é a verdade mais nua e crua que existe. Somos humanos, não somos pedras e, mesmo estas, podem se acabar. A morte faz parte da vida, assim como a vida faz parte da morte...

Ambas andam de braços dados, pelo mundo. Não são inimigas, apesar da diferença entre elas. Só há um remédio para a morte, essa que nos dá tanto medo - a lembrança dos que irão depois, mas também irão...

Não espere, apenas continue...


(Extraído do livro "Teoria do Medo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Para Nós

Para nós a loucura injustificada

Para nós a gritaria calada

Para nós o mundo todo e mais nada

Para nós! Para nós!


O bêbado caído na esquina

A menina cheia de cocaína

Os sonhos jogados na latrina

Para todos nós!


Para nós a maldade institucionalizada

Para nós a tocaia formada

Para nós a fama mais desgraçada

Para nós! Para nós!


A fome de mais de três dias

O roteiro de todas putarias

A brasas que estiverem mais frias

Para todos nós!


Para nós a síndrome do vira-latas

Para nós aquelas trinta pratas

Para nós vivermos dentro de latas

Para nós! Para nós!


O pássaro já pousou morto

O argumento foi apresentado torto

Espinhos para a zona de conforto

Para todos nós!


...


(Extraído do livro "Pane na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida),

sábado, 7 de dezembro de 2024

Triste Verticalidade

Mesmo subindo

...

...

...

descendo...


Quanto mais prédios

menos pertos dos céus...

Quanto mais ricos

somos mais miseráveis...

Quanto mais inteligentes

estamos mais tolos...


Mesmo vivendo

...

...

...

morrendo...


Quanto mais tecnologia

vivemos nas cavernas...

Quanto mais solidários

aumenta nossa apatia...

Quanto mais sonhando

temos mais pesadelos...


Mesmo voando

...

...

...

caindo...


Quanto mais gritando

ficamos calados...

Quanto mais coloridos

mais ficamos cinzas...

Quanto mais famosos

somos desprezados...


Mesmo protegidos

...

...

...

desamparados...


Quanto mais quentes

mais ficamos gelados...

Quanto mais contentes

aí é que choramos...

Quanto mais na folia

é que temos mais luto...


Mesmo comendo

...

...

...

esfomeados...


Quanto mais festejamos

é o nosso velório...

Quanto mais sanidade

mais enlouquecidos...

Quanto mais nosso amigo

nosso maior traidor...


Mesmo subindo

...

...

...

descendo...

descendo...

descendo...


(Extraído do livro "Pane Na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

 

Poesia Gráfica LXLI

A MINHA POESIA REDONDA É QUADRADA A MINHA POESIA QUADRADA É REDONDA A MINHA ÁGUA SOBE MORRO ACIMA O MEU PÁSSARO VOA PELO CHÃO O MEU AMOR ME ...