Uma daquelas caixas grandes de papelão, sabe? De vez em quando entrava até nela por brincadeira. Onde ficava? Na verdade, nem me lembro, devia ser no quarto dos meus pais antes de papai construir o meu. O que ela guardava? Aqueles meus brinquedos que o tempo levou. Eu tenho saudades de muitos deles, aliás, acho que todos, até os que fogem da minha memória. Mas dois em especial: Aquela espada de plástico amarela em estilo medieval e aquele barco vermelho, estilo rebocador com seu bote salva-vidas amarela que tinha um apito. Se eles não existem mais, pelo menos estão guardados aqui dentro de mim...
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A grande estrela silenciosa dispensa fundo musical. De forma discreta ou não olha tudo em torno. Usa o mar como espelho quando nuvens não lhe atrapalham. Nuvens! Estão por todos os lugares, vagabundas que são em seus altos. Dá boas vindas para todas as novidades e adeus para todos os mortais que fecharam os olhos de uma vez. Mesmo quando parece não estar, permanece lá em sua rotina. Eis ele - o sol.
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E o espelho foi invejoso suficiente e também inquieto. Não tirava fotografias, não precisava. Tinha em si milhares de imagens, mesmo as repetidas, não se importava. Sempre foi e sempre será. Um espelho sob a claridade, é um espelho. Um espelho na escuridão, continua sendo. Não possuem medo de nada. Se quebrados, apenas se multiplicam...
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Não iremos nos calar, nunca, nunca. Aquele que deveria nos proteger é o que nos agride. Aquele que deveria nos salvar é o que nos mata. Tudo não passa de um suicídio terceirizado... Não iremos nos calar, nunca, nunca. Aquele que damos o poder é o que nos rouba. Aquele que deveria nos liderar é que nos faz perder pelo caminho. Nunca sabemos quem é o mais tolo... Não iremos nos calar, nunca, nunca. Aquele que deveria nos salvar é quem acende a fogueira. Aquele que deveria nos esclarecer é o que nos desnorteia. Um preço alto para grandes desastres... Não iremos nos calar, nunca, nunca...
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Eu sou aquele que dá cores para as flores. Que traz encanto para abandonados jardins. O que dá motivos para simples pedras. O que traz para as lembranças velhos brinquedos. O que coloca comida na vasilha do cão. O que abre a gaiola para o passarinho. Todos os dias faço a medida dos riachos. E quase cheguei ao cálculo exato das estrelas. Brinco em todas as nuvens. Se sinto sono acabo dormindo nelas. Sou o rei de um carnaval sem rei. E de uma folia que não tem explicação. Escuto todas as gotas de chuva que caem e também todas as folhas que caem mortas. Eu sou o que chamam de poeta. Eu sou aquele que dá cores para as flores...
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Um beijo nos tigres, uma carícia nas quimeras. Um salto ornamental pelos abismos, um pulinho lá em outras eras. Uma fruta que cai do pé, uma goteira lá no telhado. Uma paixão que derruba tudo, um plano que deu errado. Um cisco no olho, uma lágrima que escorre. Um aviso desprezado, uma sombra que corre. Um enigma descoberto, uma carícia escondida. Uma fantasia rasgada, a dança de morte e vida. Um feitiço mais inocente, o quinto dia de carnaval. Uma espera impaciente, fizemos sem ser por mal. Os últimos vinte anos, o que sobrou dos vinte dias. O que se esconde entre as flores, o santo sem romarias. O brilho dos teus cabelos, o capricho do laço de fita. O anjo que vai embora, o demônio que faz visita...
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E a friagem entra pela janela que não consegue mais ser fechada. O peso da lágrima sentida é inevitável. Não há grito que supere o meu silêncio. Todos os carrosséis acaba chegando no mesmo lugar. Toda cicatriz representa uma dor. Só a saudade pode explicar algo ou alguma coisa. A mesa está posta já faz tempo. E as cartas já vieram todas marcadas. E os dados viciados também...
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