sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

De Gatos & Baldes

Acender o cigarro de papel 

No fogão porque o isqueiro acabou.

Ver o dia nascer aos poucos

Porque deu vontade de ir ao banheiro.

Estar desesperado em silêncio

Porque gritar acaba não adiantando.

Tomar o resto de Coca-Cola

Pois não haverá nada para o café.

Querer engolir todo mundo

Mas a tela do PC não admite que pule.

Tentar esquecer de vez o ontem

Pois na dor todos os dias são iguais.

Um louco faz sinais pela rua

Para um sinal de trânsito que inexiste.

As putas devem estar com sono

Assim como bichos noturnos vão dormir.

Alguma vez acho que fui feliz

Mas isso não é coisa que se perceba.

Meu cão dorme no chão da sala

E ele deve ser bem mais sábio do que sou.

Às vezes quebramos os tabus

Como vidros que vão caindo pelo chão.

A parceria dos meus pecados

Rendeu-me um grande tempo perdido.

Todo automóvel é automóvel

Até que seja mais um monte de ferro-velho.

A maior doença que temos

É aquela que é chamada de sanidade.

Tudo que chamamos vida real

Foi copiado de uma novela mais barata.

Frases de caminhão e banheiro

Podem explicar os mais variados enigmas.

Ela é mais do que aquele vento

Que varre folhas mortas que jazem no chão.

Narciso agora tem nova doença

E acaba passando mal quando se mira.

Agora essas nossas esferas

Estão vindo quadradas da fábrica.

Essas minhas novas superstições

Acabam sendo realistas quase ao extremo.

Quero ver se acho algum motivo

Para permanecer vivo pelo menos por enquanto.

O gato está bem quietinho

Enquanto não começam a encher o balde.

Acender o cigarro de papel 

No fogão porque o isqueiro acabou...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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