Acender o cigarro de papel
No fogão porque o isqueiro acabou.
Ver o dia nascer aos poucos
Porque deu vontade de ir ao banheiro.
Estar desesperado em silêncio
Porque gritar acaba não adiantando.
Tomar o resto de Coca-Cola
Pois não haverá nada para o café.
Querer engolir todo mundo
Mas a tela do PC não admite que pule.
Tentar esquecer de vez o ontem
Pois na dor todos os dias são iguais.
Um louco faz sinais pela rua
Para um sinal de trânsito que inexiste.
As putas devem estar com sono
Assim como bichos noturnos vão dormir.
Alguma vez acho que fui feliz
Mas isso não é coisa que se perceba.
Meu cão dorme no chão da sala
E ele deve ser bem mais sábio do que sou.
Às vezes quebramos os tabus
Como vidros que vão caindo pelo chão.
A parceria dos meus pecados
Rendeu-me um grande tempo perdido.
Todo automóvel é automóvel
Até que seja mais um monte de ferro-velho.
A maior doença que temos
É aquela que é chamada de sanidade.
Tudo que chamamos vida real
Foi copiado de uma novela mais barata.
Frases de caminhão e banheiro
Podem explicar os mais variados enigmas.
Ela é mais do que aquele vento
Que varre folhas mortas que jazem no chão.
Narciso agora tem nova doença
E acaba passando mal quando se mira.
Agora essas nossas esferas
Estão vindo quadradas da fábrica.
Essas minhas novas superstições
Acabam sendo realistas quase ao extremo.
Quero ver se acho algum motivo
Para permanecer vivo pelo menos por enquanto.
O gato está bem quietinho
Enquanto não começam a encher o balde.
Acender o cigarro de papel
No fogão porque o isqueiro acabou...
(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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