E eu com a minha caretice tão louca
Usando minhas estampas coloridas
E aquelas mochilas que não uso mais
As teclas e o teclado vão dar no mesmo
Gregos e troianos usam a mesma cara
Tanto a catira e o xaxado usam os pés
E asas são abrangentes sempre demais
As matilhas agora são tão organizadas
Como o riso que começou sem parar
Os corredores estão cheios de vazios
E o tamanho de seu nariz é só detalhe
Uma farofa de nuvens tem o seu lugar
Não entender pode ser qualquer jeito
Enquanto dândis adoram seus farrapos
A maldade é mais uma forma de burrice
E a minha dor agora não tem impacto
Agora comeremos mais o baião de três
Enquanto o morto vende sua gasolina
A minha amnésia tem tão boa memória
E meus dedos de cachoeira são insanos
A nossa mala não tem mais o iogurte
E as rabecas encontram-se em silêncio
É um piercing de prata feito de laranjas
E meia dúzia de sanduíches de vidro
Até mais não significa agora mais nada
E o concretismo tem seus ares de etéreo
As formigas batucam com seus dedos
E os camelos adoram sorvetes de morango
Nada é tão diferente quanto é o igual
E os olhos dela enchem-se de tanto padê
Num país mestiço de tantos mestiços
A minha milonga possui mais tranquilidade
As pernas abertas e as mãos só fechadas
Enquanto os políticos pulam amarelinha
E as raridades estão cada vez mais normais
Seu uniforme agora é a nudez em pelo
E a enciclopédia foi achada no meio do lixo
É só puxar um fio e o casaco irá embora
Na terceira garrafa eu juro que vou parar
O prazo de validade perdeu o seu prazo
Qualquer jardim possui suas ervas daninhas
E a própria sabedoria não mastiga pedras
A filosofia não gosta mais dos filósofos
E o falso dentista só fala entre os dentes
Besteira pouca sempre será uma besteira
Meu bandolim nunca mais me visitará
Minha sombra está descansando na sombra
A ladyboy pula a fogueira com saltos de mola
O amor pode ser tudo até pode ser vingança
Todo elogio post-mortem é apenas deboche
Todos estarão presentes em minha ausência
A eternidade é a mais passageira de todas
E eu com a minha caretice tão louca
Usando minhas estampas coloridas
E aquelas mochilas que não uso mais...
(Extraído do livro "Pane na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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